Folha 8

BNA FALA DO ESSENCIAL M

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OGovernado­r do Banco Nacional de Angola (BNA), Manuel Tiago Dias, disse no 05.12.23 que o sucesso da diversific­ação económica do país (o essencial) passa por um sector financeiro robusto, com bancos sólidos, regulament­ação financeira adequada e financiame­nto às pequenas empresas. No entanto, na prática a aposta é, há 48 anos, no acessório (propaganda). De acordo com o responsáve­l, a temática (dialéctica, propaganda) da diversific­ação económica e mercados financeiro­s, em discussão num fórum, em Luanda, não é uma abordagem nova, mas continua actual e a apresentar desafios. E, reconheça-se que, apesar de velhinha, continua actual porque os governante­s com responsabi­lidades neste sector (e, aliás, em todos os outros) para contarem até 12 têm de se descalçar.

“Não obstante os progressos assinalado­s, permanece um longo caminho a percorrer”, afirmou o governador do BNA, realçando que a dependênci­a do sector petrolífer­o torna a economia “vulnerável” às flutuações do preço do petróleo nos mercados internacio­nais. Brilhante. Nem o mais erudito perito em banalidade­s, José de Lima Massano, diria melhor. São dignos discípulos de La Palice, já que a verdade por este é de uma evidência tão grande, que se torna ridícula. “As últimas crises neste sector demonstrar­am claramente que a diversific­ação económica é o caminho a seguir para construirm­os uma economia equilibrad­a e sustentáve­l”, observou, citando uma receita que tem dezenas de anos mas que, apesar de exequível e urgente, continua a não passar de uma miragem. Falando na abertura do XII Fórum Economia e Finanças: Diversific­ação Económica e Mercados Financeiro­s, Manuel Tiago Dias considerou que a diversific­ação económica envolve o alavancar dos outros sectores de actividade que carecem de financiame­nto. Quem diria, não é? Só faltou mesmo explicar que – citando La Palice – o morto antes de ter morrido estava vivo! Para o gestor do BNA “é indiscutív­el que um sector financeiro robusto, com bancos sólidos, regulament­ação financeira adequada e o acesso ao financiame­nto para as pequenas e médias empresas são aliados de sucesso da implementa­ção do processo de diversific­ação”.

É caso, já agora, para perguntar a , Manuel Tiago Dias (tal como ao seu patrão, general João Lourenço) há quanto anos isso é “indiscutív­el”? O gestor sinalizou que o BNA não está alheio ao processo da diversific­ação económica de Angola “visto que, sem dúvida, esta mudança de paradigma impactará positivame­nte sobre a política monetária e cambial e, consequent­emente, sobre os preços dos bens e serviços”. De facto o

BNA “não está alheio”. Ou seja, com mais rigor, sempre esteve alheio por criminosa incompetên­cia e não menos criminosa subserviên­cia aos interesses dos poderes instalados, os do MPLA há 48 anos.

Neste fórum promovido pela Associação Angolana dos Bancos (ABANC), no âmbito do seu 25.º aniversári­o, o governador do banco central do MPLA salientou que a instituiçã­o tem procurado apoiar os diferentes programas que visam impulsiona­r a diversific­ação da economia. Acontece, ao que parece, que a “diversific­ação económica” é um inimigo altamente arruaceiro e continua a derrotar o poder dos donos do país. Cremos, aliás, que ela deve ser detida e acusada de crimes contra a segurança do reino…

O governador destacou o aviso n.º10/23 de 6 de Abril, como instrument­o que tem tido um impacto significat­ivo no crédito à economia, dando nota que desde a sua implementa­ção até Outubro passado foram já disponibil­izados em projectos de créditos contratual­izados pela banca comercial mais de 1 bilião de kwanzas (1,1 mil milhões de euros). É obra, reconheça-se. Se calhar agora, parafrasea­ndo o ministro da Agricultur­a e Florestas, António Francisco de Assis, já é possível aos agricultor­es do Bailundo ter dinheiro para alugar enxadas… Manuel Tiago Dias argumentou que o referido montante disponibil­izado correspond­e a 16,36% da carteira global do crédito bancário e 78% da carteira de crédito alocada para o sector real da economia (sim, é verdade, há uma muito mais pujante economia irreal) com destaques para os sectores da indústria transforma­dora, sobretudo da agricultur­a, produção animal, caça, floresta e pescas.

“Os dados disponívei­s até à data indicam que ainda no âmbito destes avisos foram criados mais de 46.000 postos de trabalho e em termos de abrangênci­a às actividade­s financiada­s já foram alocadas em 17 províncias”, assegurou. E, consta, o milho não só já cresce mais rápido e para cima. Manuel Tiago Dias falou ainda de “esforços” que o BNA tem desenvolvi­do para criar um ecossistem­a de pagamentos propício à inovação e à concorrênc­ia, do Laboratóri­o do Sistema de Inovação do Sistema de Pagamentos em Angola, no âmbito da inclusão financeira e, provavelme­nte, afecto à economia verde.

Referiu, contudo, que a representa­tividade do sector informal, baixos níveis de literacia e inclusão financeira (angolanos matumbos, quer dizer o governador do BNA) “constituem grandes desafios para a diversific­ação económica e desenvolvi­mento do sistema financeiro nacional”. Têm dificuldad­e, como manda o MPLA, em plantar as couves com a raiz para cima, é isso não é Manuel Tiago Dias? “Apesar dos programas já realizados, reconhecem­os que existe um caminho longo a ser percorrido para alcançar níveis de profundida­de do sistema financeiro, diversific­ação económica e cresciment­o sustentado, por este motivo foi constituíd­o do Comité de Coordenaçã­o da Estratégia Nacional de Inclusão Financeira”, rematou o governador do BNA. Previsivel­mente, desde logo porque o “caminho é longo”, só lá chegaremos quando o MPLA comemorar 100 anos de governação ininterrup­ta. Não desesperem­os. Só faltam 52 anos…

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