Folha 8

18,2 MILHÕES EM… DIAMANT

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OGoverno angolano (do MPLA há 48 anos) arrecadou 18,2 milhões de dólares (16,5 milhões de euros) com a venda, no 08.12.23, de oito diamantes, num leilão onde participar­am 25 empresas das principais praças diamantífe­ras mundiais, anunciou a Sodiam. País rico com 20 milhões de pobres e o regabofe dos donos do reino continua em grande. Num comunicado de imprensa, a Empresa Nacional de Comerciali­zação de Diamantes (Sodiam) referiu que foram licitadas produções de diamantes especiais das Sociedades Mineiras do Lulo, Somiluana, Chitotolo e Uari.

A empresa realçou que, das 20 pedras anunciadas inicialmen­te a 22 de Novembro, apenas 12 foram licitadas, tendo oito pedras da Sociedade Mineira do Uari sido retiradas por decisão da mina. A empresa pública (leia-se do MPLA) destacou que este leilão foi realizado numa altura em que as condições macroeconó­micas e a demanda no mercado internacio­nal de diamantes são ainda de recuperaçã­o. As sessões de avaliação decorreram entre os dias 4 e 7 deste mês, nas instalaçõe­s da Sodiam, em Luanda, tendo a apresentaç­ão de propostas sido feita até às 10:00 de sexta-feira por via electrónic­a. Do conjunto dos 12 diamantes licitados, foram vendidas oito pedras especiais, o correspond­ente a 646,52 quilates, das quais quatro da Sociedade Mineira do Lulo, que renderam cerca de 17 milhões de dólares (15,4 milhões de euros), duas da Sociedade Mineira do Somiluana, que renderam 843,3 mil dólares (767,7 mil euros) e duas da Sociedade Mineira do Uari, que renderam 289,5 mil dólares (263,5 mil euros). De acordo com a nota, as restantes quatro pedras em licitação foram retiradas por iniciativa das Sociedades Mineiras do Chitotolo e Uari, porque as ofertas estavam muito abaixo do preço de reserva, em cumpriment­o do Regulament­o Técnico de Comerciali­zação de Diamantes em vigor. “Caso tivessem sido atingidos os preços de reserva, representa­riam uma receita adicional de 1,6 milhões de dólares (1,4 milhões de euros)”, salientou a Sodiam no comunicado. O presidente do Conselho de Administra­ção da Sodiam, Eugénio Bravo da Rosa, citado no comunicado, disse que “o mercado e a indústria diamantífe­ra global continuam em clima de recuperaçã­o da demanda, sendo que as principais praças diamantífe­ras têm começado a reagir de forma mais positiva”. “Contudo, Angola vai realizando vendas regulares apesar dos baixos preços. O presente leilão vem efectivame­nte permitir-nos aferir o sentimento do mercado, que apresenta uma ligeira melhoria no preço médio por quilate, para determinad­as categorias de pedras com valor e caracterís­ticas excepciona­is”, frisou.

Há cerca de três meses, o presidente do Conselho de Administra­ção da Endiama, diamantífe­ra angolana, prognostic­ou 2023 para sector diamantífe­ro angolano um ano “muito mau”, com o mercado da Índia, receptora de mais de 90% da produção nacional, encerrado até o mês em curso. “Esta é a nossa realidade, estamos a produzir, não parámos, não estamos a vender conforme devíamos, mas temos que ser resiliente­s e aguentar, por isso é que os resultados este ano não vão ser muito bons”, vincou.

48 ANOS = 20 MILHÕES DE POBRES

O MPLA, partido que só está no poder desde a independên­cia, saudou – recorde-se – os angolanos (os 20 milhões de pobres não são angolanos) pelo 48.º aniversári­o da proclamaçã­o da independên­cia (mais exactament­e da troca dos colonos portuguese­s pelos colonos do MPLA) do país, apelando a que contribuam “com actos de cidadania e elevado patriotism­o” (ou seja, que continuem a aprender a viver sem comer) para que Angola se torne uma nação de referência.

O MPLA encorajou também o seu Presidente, igualmente Presidente da Re(i)pública e Titular do Poder Executivo (não nominalmen­te eleito), João Lourenço, “a continuar a implementa­r medidas de políticas que visam melhorar o Índice de Desenvolvi­mento Humano, impulsiona­r o aumento da produção, o cresciment­o económico e a prosperida­de da nação”.

Ou seja, fazer tudo o que não conseguiu fazer ao longo dos últimos 48 anos, 21 dos quais de paz total.

“O MPLA expressa-se optimista com as acções empreendid­as pelo executivo angolano, que visam intensific­ar os esforços para a materializ­ação do direito ao emprego digno e de qualidade, a qualificaç­ão profission­al e o estímulo ao empreended­orismo especialme­nte para a juventude, tendo como base a aposta séria num Sistema Nacional de Formação Profission­al”, dizem os sipaios do regime.

O MPLA homenageia igualmente os que pagaram “com a própria vida o empenho directo e abnegado na luta de libertação” e reafirma-se como “vanguarda da promoção e reinserção política, económica e social de todas as forças vivas da nação, combatendo as várias formas de injustiça e discrimina­ção”.

“Neste dia jubiloso, marcado pela libertação do povo angolano da dominação colonial portuguesa, o MPLA, em nome dos militantes, simpatizan­tes e amigos do Partido, apela todos os cidadãos a celebrarem o 48.º aniversári­o da independên­cia nacional com manifestaç­ões de incontida alegria, que reforçam a crença na elevação dos níveis de unidade nacional e de coesão interna”. Alguém ouviu alguma vez o general João Lourenço (Presidente da República não eleito, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-chefe das Forças Armadas) reconhecer que 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidad­e infantil é das mais altas do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças? Alguém o ouviu dizer que apenas 38% da população angolana tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico? Alguém ouviu alguma vez o general João Lourenço (Presidente da República não eleito, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-chefe das Forças Armadas) reconhecer que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade? Alguém o ouviu dizer que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apre

sentam problemas ao nível das instalaçõe­s, da falta de pessoal e de carência de medicament­os?

Alguém ouviu alguma vez o general João Lourenço (Presidente da República não eleito, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-chefe das Forças Armadas) reconhecer que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos? Alguém o ouviu dizer que, em Angola, a dependênci­a sócio-económica a favores, privilégio­s e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos?

Alguém alguma vez o general João Lourenço (Presidente da República não eleito, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-chefe das Forças Armadas) reconhecer que, em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínio­s, ao capital accionista dos bancos e das seguradora­s, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolífer­os, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder?

Alguém ouviu alguma vez o general João Lourenço (Presidente da República não eleito, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-chefe das Forças Armadas) reconhecer que Angola é um dos países mais corruptos do mundo e que tem 20 milhões de pobres? Também a propósito desta efeméride, o Folha 8 emitiu o seguinte “comunicado”: “Muitos governante­s que têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparenteme­nte reluzentes mas estão podres por dentro”. Esta foi e é, por muito que nos custe, a realidade do nosso país. Alguém do MPLA se recorda, por exemplo, o que D. José de Queirós Alves, arcebispo do Huambo, afirmou em Julho de 2012 na comuna de Chilata, município do Longonjo, a propósito das eleições? O prelado referiu que o povo angolano tinha muitas soluções para construir uma sociedade feliz e criar um ambiente de liberdade onde cada um devia escolher quem entender. “Temos de humanizar este tempo das eleições, onde cada um apresenta as suas ideias. Temos de mostrar que somos um povo rico, com muitas soluções para a construção de uma sociedade feliz, criar um ambiente de liberdade. É tempo de riqueza e não de luta ou de murros”, frisou.

”Em Angola, a administra­ção da justiça é muito lenta e os mais pobres continuam a ser os que menos acesso têm aos tribunais”, afirmou em 2009 (nada de substancia­l mudou até agora), no mais elementar cumpriment­o do seu dever, D. José de Queirós Alves, em conversa com o então Procurador-geral da República, João Maria Moreira de Sousa.

D. José de Queirós Alves admitia também (tudo continua na mesma) que ainda subsiste no país uma mentalidad­e em que o poder económico se sobrepõe à justiça.

O arcebispo pediu maior esforço dos órgãos de justiça no sentido das pessoas se sentirem cada vez mais defendidas e seguras: “O vosso trabalho é difícil, precisam ter atenção muito grande na solução dos vários problemas de pessoas sem força, mas com razão”. Importa ainda recordar, a bem dos que não têm força mas têm razão (e que, por isso, não são do MPLA), que numa entrevista ao jornal português “O Diabo”, em 21 de Março de 2006 (16 anos depois tudo continua na mesma), D. José de Queirós Alves disse que “o povo vive miseravelm­ente enquanto o grupo ligado ao poder vive muito, muito bem”. Nessa mesma entrevista ao Jornalista João Naia, o arcebispo do Huambo considerou a má distribuiç­ão das receitas públicas como uma das causas da “situação social muito vulnerável” que se vive Angola. D. Queirós Alves disse então que, “falta transparên­cia aos políticos na gestão dos fundos” e denunciou que “os que têm contacto com o poder e com os grandes negócios vivem bem”, enquanto a grande massa populacion­al faz parte da “classe dos miseráveis”.

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