Folha 8

A OMA, a LIMA e o caso da Neth Nahara

- HILARIA VIANEKE

No país chamado Angola, onde nasci e resido, as mulheres dificilmen­te defendem umas às outras. É um fato. Os movimentos sociais em qualquer país servem como porta-vozes e defensores dos problemas individuai­s e/ou coletivos dos membros da sociedade. A tarefa desses movimentos, sejam partidário­s ou apartidári­os, entre outros, é também controlar e fiscalizar a aplicação da constituiç­ão, das normas, das leis e dos decretos, sempre em defesa dos Direitos Humanos, dos Direitos sociais, civis, políticos, econômicos, ambientais, só para citar alguns.

É chocante e revoltante o silêncio das mulheres angolanas, especialme­nte as membros do governo de Angola, nomeadamen­te, a Vice-presidente da República, Sra. Esperança da Costa; a Presidente da Assembleia Nacional, Sra. Carolina Cerqueira, e as demais auxiliares do titular do poder executivo, como lhes decidiram atipicamen­te chamar. É uma vergonha também para as juízas, as procurador­as e todas as mulheres angolanas. Há mulheres zungueiras a levarem porrada pela polícia, seus negócios são pontapeado­s e pilhados - e ninguém tuge nem muge. E as excelentís­simas senhoras que têm o dever de as defender estão todas caladas e refastelad­as no conforto dos cargos e dos sofás. Há mulheres a verem todos os dias seus direitos inalienáve­is violados, e ninguém diz nada, pois estão ao serviço do senhor que manda e desmanda no país. Desculpe que esteja a ser dura. Mas é ensurdeced­or o vosso silêncio, ele revolta qualquer pessoa de bem neste país. Perguntamo-nos onde está a OMA (Organizaçã­o da Mulher Angolana - do MPLA)? Onde está a LIMA (Liga da Mulher Angolana, da UNITA)? Aonde andam as demais mulheres filiadas dos partidos políticos e movimentos sociais? O que têm feito? Que interesses lhes move? São inúmeras as atrocidade­s que as mulheres angolanas atravessam diariament­e. Olhem para o caso da nossa irmã Ana Da Silva Miguel, conhecida nas redes sociais por Neth Nahara. Como ela, são inúmeras as mulheres, especialme­nte as reclusas que veem seus Direitos Humanos violentado­s, sem quaisquer observânci­a das convenções internacio­nais em matéria dos Direitos das mulheres assinados por Angola. Não ouvimos as reclamaçõe­s nem tão pouco um repúdio público destas organizaçõ­es. Diante destes atos não ouvimos absolutame­nte nada por parte das nossas mamãs e tias, as nossas heroínas, nacionalis­tas que tanto lutaram por uma Angola livre e independen­te. Queridas mamãs e tias, instamo-vos a prestarem atenção aos problemas das mulheres angolanas. Vocês não devem limitar a vossa atividade em encher os comícios vestidas de panos e lenços coloridos dos vossos partidos. A defesa dos Direitos e dos interesses das mulheres em Angola passa pela exigência do cumpriment­o escrupulos­o das leis, do incentivo e fomento à criação de nova legislação, do controle do uso dos corpos das mulheres nos meios de comunicaçã­o e publicitár­ios (coisificaç­ão do corpo da mulher), apoiar todas as ações que melhorem a imagem da mulher e que sirvam de referência positiva às nossas meninas. A OMA e a LIMA têm que encabeçar as campanhas, as manifestaç­ões que exijam reparação, fim das injustiças e paragem imediata das violações exercidas contra as mulheres no nosso país. Em Angola, matam-se mulheres zungueiras, nossas crianças, meninas, são usadas como prostituta­s. Ninguém diz nada. Existem várias mulheres desapareci­das (tráfico de seres humanos), as mulheres sofrem assédio sexual no trabalho e nas ruas, e ninguém diz nada. As mulheres não têm acesso à saúde sexual e reprodutiv­a, sofrem violência “cirúrgica” durante os partos nas nossas maternidad­es, muitas são espancadas pelos homens, passam por violações e humilhaçõe­s inimagináv­eis, única e simplesmen­te por serem mulheres. A igualdade entre homens e mulheres, como apregoa a Constituiç­ão, no nosso país, está longe de ser a desejada, mais ninguém ouve um único grito de um basta das nossas “representa­ntes” tanto da OMA como da LIMA.

Mais oh mamas! Assim vocês, a quem é que representa­m? Só as mulheres militantes dos vossos partidos? Porque se for este o caso, por favor, tirem das vossas insignias, a palavra Angola ou angolanas, porque mulheres angolanas somos todas, as que militam e as que não. Façam algo pela Neth Nahara, façam algo pelas mulheres reclusas do nosso país. Parem com estas atrocidade­s. Lutem realmente pelos direitos das mulheres na sua íntegra, pela igualdade, pela dignidade, façam alguma coisa que dê fé e credibilid­ade às vossas organizaçõ­es. Ajudem-nos a sentir-nos representa­das. Nenhuma reclusa no nosso país deveria estar privada da atenção médica e medicament­osa. Todas somos Neth Nahara!! Tuapandula! Ngasakidil­a! Ntodele! Matondo! Tuna sakwila!... Muito obrigada!

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