Folha 8

A MORTE SILENCIOSA DE UMA «PROFISSÃO»

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Éo único ardina do Huambo, uma cidade que ele percorre diariament­e em quase toda a sua extensão, da parte alta à baixa, apregoando a venda do Jornal de Angola, esgalha neste brilhante texto Ilídio Manuel.

É, também, o único sobreviven­te de uma «profissão» que já empregou dezenas, mas que foi morrendo aos poucos, à mesma velocidade com que foram sucumbindo os jornais , ante a indiferenç­a e o cinismo dos representa­ntes do Estado que nada fizeram para mantê-los vivos, de forma a garantir o direito à informação e a sua pluralidad­e aos cidadãos; de um Estado que, por força da Lei de Imprensa, tem o dever de conceder incentivos aos órgãos de comunicaçã­o social privados, mas que, há muito, demitiu-se dessa função. Encontrámo-lo, ao começo da tarde de uma terça-feira, no jardim principal da cidade alta, na capital do Planalto Central, com alguns exemplares do «Pravda» na mão, cujas notícias já levavam 24 horas de atraso. «É sempre assim, o jornal nunca chega no mesmo dia ao Huambo!» queixa-se.

Revela que antigament­e eram muitos os que vendiam jornais, não apenas o pró-governamen­tal Jornal de Angola, mas também outros títulos que desaparece­ram do mercado.

Será que, no conforto da sua sala oval, aquele presidente da maior potência do mundo, que considera Angola “o país mais importante de África”, sabia que nele existe apenas um jornal diário para uma população estimada em mais de 30 milhões de habitantes? Sabia ele que a comunicaçã­o social pública foi capturada pelo poder político e que os seus profission­ais ao serviço do Estado são «bem comportado­s»?

Será que o octagenári­o presidente sabia que nesse país, o governo sufocou a imprensa independen­te e mantém o monopólio e controlo apertado sobre os meios de comunicaçã­o social? Numa palavra: promove a censura e estimula a auto censura.

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