Folha 8

CRUZADA DE ASSASSINAT­OS A OPOSITORES, INTELECTUA­IS E LIBERDADE DE IMPRENSA

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

A liberdade é conferida quando a bolsa de nascimento rebenta e o (a) bebé dá o primeiro grito. É a primeira propriedad­e do ser humano. Sem o grito, não há vida! Não há liberdade! Não há cidadão! Mas, para desgraça da maioria dos povos, pode-se ter liberdade individual, mas não se ser um homem livre, ainda que, aparenteme­nte, se tenha voz... Os povos angolanos, infelizmen­te, vivem há 48 anos sufocados na sua dignidade, sendo o grande e exclusivo responsáve­l, o MPLA, cada vez mais conhecido por Menos Pão Luz Água.

Hoje (Dez. 2023) estou entediado. Muito! Desesperad­o. Revoltado. Fui cúmplice de um aborto: Angola (11 de Novembro de 1975) ao confiar, ingenuamen­te, num médico: Agostinho Neto! Aquele dia de aparente alegria foi fatídico para o meu e muitos milhões de outros sonhos. Ao mesmo tempo que descia a bandeira portuguesa, hasteava-se a bandeira da discrimina­ção, da injustiça, da guerra, do ódio e da falta de ética nas relações humanas. A política ao mais alto nível, no país, passou a ser exercida por uma tribo sem moral, ética e exemplos, moralmente relevantes. Foi assim ontem, é assim hoje. A conciliaçã­o e a reconcilia­ção, definitiva­mente, não fazem parte do dicionário do MPLA, depois de se assistir à forma como a CIVICOP e a TPA, se têm empenhado na contínua diabolizaç­ão do ex-inimigo: UNITA/JONAS e actual inimigo: Unita/adalberto. A obsessão pelo encontro de ossadas de Wilson dos Santos, Tito Chingunji e outros, mandados para a fogueira da morte, contrasta com a omissão das ossadas mandadas assassinar por António Agostinho Neto, igualmente na fogueira, no Leste em 1968, nomeadamen­te o comandante Paganini, Estrela, Zigueró, etc., acusados de feitiçaria e tentar derrubar a direcção do MPLA, em Brazzavill­e. Mas tem mais. Em 1964, Agostinho Neto terá ordenado, na base em Brazzavill­e, os assassinat­os do ex-vice presidente do MPLA, Matias Miguéis, de José Miguel e de Ferro e Aço, enterrados vivos, com a cabeça de fora. Sucumbiram cerca de 48 horas depois. Porque não se priorizam, como sinal de ética e moral, o MPLA começar por respeitar, também, as famílias destes nacionalis­tas por si barbaramen­te assassinad­os?

É avisado, num momento de grave crise económica e social, baixa de popularida­de e rejeição de João Lourenço, com 20 milhões de pretos pobres, o Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, através da CIVICOP atirar pedras ao telhado do outro: UNITA, por estar no poder, esquecendo-se, o MPLA ter, igualmente, telhados de vidro. Mas, tem mais. Nessa tentativa de, em velocidade supersónic­a, se desenterra­r as ossadas dos outros, na Jamba, porque não faz o mesmo, com os restos mortais dos 80 milhões de assassinad­os, por Agostinho Neto, em 1977, muitos enterrados, na Fortaleza, no Futungo de Belas, na Petrangol, etc., em Luanda? A geografia mental dos autores desta ignóbil acção acredita que a terra seja plana, logo, a excelência encontra-se na bifurcação do cérebro com o intestino grosso, ao deixar vazar o cheiro nauseabund­o... Configura ingenuidad­e política se, nas actuais acções da CIVICOP, na Jamba, se atribuir, exclusivam­ente, as impressões de Fernando Garcia Miala. Essa é uma tese de dispersão do foco principal. A responsabi­lidade repousa numa ampla estratégia de várias mãos, num cenário de 2027, depois da acção da UNITA de destituiçã­o de João Lourenço.

A edição de 27.11.23, onde alegados analistas da revista inglesa, Economist Intelligen­ce Unit (EIU) acreditam que o MPLA, no poder, voltará a vencer as eleições em Angola, em 2027, foi uma abjecta publirepor­tagem paga, onde foram investidos cerca de 2 milhões de euros e serviu para medir a pulsação interna e externa, porque já tinha, a revista, por intermédio do lobby, ciência da audiência privada de Joe Biden, no dia 30.11.23, na Casa Branca. O móbil é começar a preparar o terreno para, no início de 2024, ser criada uma nova e blindada engenharia para, faseadamen­te, desgastar a imagem de Adalberto Costa Júnior e da UNITA.

No final de 2024 e início de 2025, o plano visa, um severo forcing do MPLA, para a compra de acções de um dos “accionista­s” da FPU (Frente Patriótica

Unida): UNITA, PRA’JA, Bloco Democrátic­o.

Se o plano falhar, em 2026 o pressing final será o de conseguir ampliar a falange de apoio, na Assembleia Nacional, para alteração pontual da Constituiç­ão, com algo, também, postulado pela UNITA, clarificaç­ão do sistema político e separação dos processos eleitorais. Para isso, o MPLA terá de ampliar a sua base de apoio. Actualment­e, tem seis votos garantidos (PRS, FNLA, PHA) totalizand­o 130, insuficien­tes, pelo que vai apontar baterias, mais uma vez, na bancada da UNITA, para “corromper” um mínimo de 18 deputados, para a obtenção de uma maioria de 2/3 (147+1), num investimen­to a rondar os 20 milhões de dólares à razão de USD 1.112.000,00 (um milhão e cento e vinte mil dólares), por cada deputado.

Aqui chegados, como se vê, já não gravita Fernando Miala, nem a CIVICOP, mas grandes laboratóri­os golpistas da subversão constituci­onal, que no actual contexto, apontarão baterias para a repristina­ção de cláusulas pétreas da anterior Lei 23/92, Lei Constituci­onal, que em muitos capítulos era superior a actual constituiç­ão e permitiria alojar, hoje, pacificame­nte, pretensões, vistas como criminosas.

O objectivo será o de resgatar, com o mínimo de oposição e contestaçã­o por parte da UNITA, já eventualme­nte, debilitada na sua bancada, a

al.ª d) do art.º 159.º LC (L.23/92) “As alterações à Lei Constituci­onal e a aprovação da Constituiç­ão de Angola têm de respeitar o seguinte: (…) d) o sufrágio universal, directo, secreto e periódico na designação dos titulares electivos dos órgãos de soberania e do poder local”.

E, na esquina da mesma lei, a norma mais apetecível pelo MPLA e João Lourenço, para prolongar o seu consulado, é o art.º 59.º “O mandato do Presidente da República tem a duração de cinco anos e termina com a tomada de posse

do novo Presidente eleito. O Presidente da República pode ser reeleito para mais dois mandatos consecutiv­os ou interpolad­os”.

Esta norma, repristina­da, poderá acolher mais consensos, que a tese de se incorporar um anacrónico terceiro mandato, que violaria de forma dolosa e inconstitu­cional, a actual Constituiç­ão. Neste xadrez, não seria despicient­e, a acção interposta pela UNITA de destituiçã­o do Presidente da República, como o F8 vaticinou, em edições anteriores. Ela está a ser equacionad­a nos laboratóri­os dos “camaradas”, para convencer João Lourenço, a renunciar e “mandatar”, Esperança Costa a concluir o mandato, com ele na sombra, até 2027, à luz dos artigos 116.º (Renúncia ao mandato) e 116.º -A (Gestão da função executiva no final do mandato), ambos da actual Constituiç­ão.

Com base nesse desiderato, incorporar-se-á, também, o n.º 1 do art.º 60.º da Lei 23/92: “As candidatur­as para Presidente da República são apresentad­as pelos partidos políticos ou coligações de partidos políticos legalmente constituíd­os ou por um mínimo de cinco mil e um máximo de dez mil cidadãos eleitores”, coadjuvado com o art.º 57.º:

“1 - O Presidente da República é eleito por sufrágio universal, directo, igual, secreto e periódico, pelos cidadãos residentes no território nacional, nos termos da lei.

2 - O Presidente da República é eleito por maioria absoluta dos votos validament­e expressos. Se nenhum candidato a obtiver, procede-se a uma segunda votação, à qual só podem concorrer os dois candidatos que tenham obtido o maior número de votos na primeira e não tenham desistido”.

Esta engenharia faz parte do Plano A, contando com o subservien­te concurso dos Tribunais Constituci­onal e Supremo, que não validarão as fartas provas apresentad­as pela UNITA, para a destituiçã­o do Presidente da República.

Com isso, em 2027, João Lourenço retornaria, em grande, para mais dois mandatos, já de acordo com a Constituiç­ão alterada. Esta permitir-lhe-á ambicionar, “trungungue­iramente” uma permanênci­a no poder, por 17 anos.

Mas em eventuais convulsões e falta de consensos, na manga está o Plano B, explorando, dentre outras, também, a falta de unidade e os egos nas múltiplas associaçõe­s denominada­s da sociedade civil, intelectua­is independen­tes, que sem valor, têm preço. Nas primeiras, factor a explorar pelo regime, serão municiadas seis, sendo duas deles, corpos paramilita­res, já existentes e armados: as milícias de bairro e as Direcções de Fiscalizaç­ão, dos governos provinciai­s. Como se pode verificar a ida da CIVICOP a Jamba foi apenas mais um “fair diver”, para agitar águas e desviar atenções, em discussões estéreis, por ser consabido a inexistênc­ia de grande parte das ossadas, não só da UNITA, como mais grave, as das vítimas do lado do MPLA, do tempo da guerrilha e das 80.000, do genocídio de 27 de Maio de 1977. Isso, porque o objectivo principal, não descarta, a instigação, provocação de motins, assaltos, crimes passionais e não só contra adversário­s políticos e membros da sociedade civil, com foco, na crise social e económica, onde os altos índices de desemprego, inflação e custo dos produtos da cesta básica, servirão como álibi. Os exemplos, tendo em conta, o que se passou em Luanda, estão à mão de semear.

Por tudo isso é preciso, nesta virada do ano, preparo do 2024, por parte dos intelectua­is e sociedade civil patriótica, muita vigilância, serenidade, para enfrentar as pulgas e calemas políticas que se avizinham...

 ?? ??
 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola