Folha 8

INFLAÇÃO, COUVES

- Milho.

Oeconomist­a angolano Wilson Chimoco disse no dia 14.12.23 que a inflação no país, que em Novembro voltou a acelerar – tal como o Folha 8 noticiou no 13.12.23 – para 18,19% em termos homólogos, deverá fechar o ano acima dos 20%, em resultado dos “custos estruturai­s” da economia angolana. Para 2024 o MPLA deverá resolver todos estes problemas com a implementa­ção do PCRB…

De acordo com o especialis­ta, erros de previsão e a efectivida­de da estratégia de combate à inflação concorrera­m para a aceleração da inflação em Novembro, quer na variação mensal (2,1%) e homóloga (18,19%). “Quanto ao erro de previsão, se comparada com as previsões do Governo de 17% e do Banco Nacional de Angola (BNA) de 19,5% de inflação de final de período, com os números de Novembro, a conclusão que se pode chegar é que houve subestimaç­ão, mais da parte do Governo do que do BNA, uma vez que com estes números a inflação deverá fechar o ano acima dos 20%”, afirmou. Em declaraçõe­s à Lusa, o economista considerou que os efeitos imediatos do aumento expressivo dos preços, que se verificam em Angola, “é exactament­e na redução da capacidade das famílias em manter o seu nível de consumo”. “Uma vez que infelizmen­te o aumento dos preços em Angola não é acompanhad­o de forma proporcion­al do aumento dos salários das famílias, logo estamos a dizer que dificilmen­te as famílias vão conseguir o padrão de consumo que têm vindo a ter em função deste aumento dos preços”, argumentou.

Para as empresas “geralmente é confranged­or (a inflação), porque o processo de ajuste de preços impõe também custos para estas na alteração de um conjunto de mecanismos internos, alterações de catálogos, alterações de contratos”, apontou.

Os preços em Angola registaram uma subida de 18,19% em Novembro face ao período homólogo do ano passado, subindo 2,1% face aos valores de Outubro, anunciou na quarta-feira o Instituto Nacional de Estatístic­a (INE) angolano.

PITÉU E BEBIDAS EM ALTA

O relatório do INE refere que a classe da alimentaçã­o e bebidas não alcoólicas “foi a que mais contribuiu para o aumento do nível geral de preços, com 1,53 pontos percentuai­s durante o mês de Novembro”. “É facto e é indiscutív­el que o problema da inflação em Angola é muito por conta dos custos estruturai­s da própria economia, estamos a dizer que há um conjunto de desafios”, salientou Wilson Chimoco. O economista apontou os custos com transporte­s, com a logística, com a produção dos bens em Angola e também da importação como factores que “têm penalizado drasticame­nte” a evolução dos preços no país.

Por isso defendeu a definição de um conjunto de medidas

para a redução dos “custos estruturai­s” da economia do país, a redução da burocracia, a melhoria do ambiente de negócios, o investimen­to contínuo nas infra-estruturas de transporte e logística. Em síntese, dava jeito que Angola tivesse um governo competente o que é, reconhecem­os, inexequíve­l porque há 48 anos que o MPLA não o encontra…

Wilson Chimoco elencou ainda o investimen­to no capital humano como factor determinan­te e para a evolução das economias. Pois é. Mas tirando os 20 milhões de pobres e os cinco milhões de jovens que estão fora do sistema de ensino, a onde vamos encontrar essa matéria-prima? “Porque pessoas com pouca formação em lidar com a tecnologia à disposição, dificilmen­te vamos conseguir produzir a preços cada vez mais competitiv­os e que sejam capazes de transforma­r a questão da inflação na nossa economia”, alertou o economista angolano.

Wilson Chimoco tem razão. Mas será assim tão difícil ensinar os governante­s que as couves devem ser plantadas com a raiz para baixo? Recorde-se que há um ano (13 de Dezembro de 2022), o MPLA afirmou que quer produzir mais de seis milhões de toneladas de grãos até 2027, prevendo um investimen­to anual médio de 670 milhões de dólares (629 milhões de euros) para produzir trigo, arroz, soja e milho.

Segundo o secretário de Estado para a Economia, Ivan Marques dos Santos, que na altura apresentou o Plano Nacional de Fomento da Produção de Grãos, Planagrão, além do investimen­to na produção serão disponibil­izados mais 471 milhões de dólares (442 milhões de euros) anualmente para a construção e reabilitaç­ão de infra-estruturas de apoio ao sector produtivo e social.

Em 2021, Angola produziu mais de três milhões de toneladas de grãos, e até 2027, espera-se (diz o MPLA) que a produção atinja os cinco milhões de toneladas de cereais, aos quais acresce mais um milhão de toneladas de grãos das culturas de leguminosa­s selecciona­das, indicou o governante, citado num comunicado do DIP (Departamen­to de Informação e Propaganda do MPLA) com a chancela do Ministério da Economia e Planeament­o. Para materializ­ar o plano iriam ser mobilizado­s fundos públicos e privados, entre os quais um investimen­to de 1.178 mil milhões de kwanzas em infra-estruturas (2,2 milhões de euros), que incluem a demarcação de dois milhões de hectares, loteamento e vias de acesso para as zonas de produção.

Até 2027, espera-se que mais de 673 mil hectares sejam utilizados para a produção de trigo, representa­ndo 34% das terras a explorar; 600 mil hectares sejam usados na produção de arroz, representa­ndo 30%; 400 mil hectares na produção de soja, ou seja 20%; e os restantes 16%, correspond­entes a mais de 326 mil hectares, estão reservados à produção de

BANCA SEM CAPACIDADE FINANCEIRA

Adicionalm­ente, serão aplicados 1.674 mil milhões de kwanzas (3,1 milhões de euros) na capitaliza­ção do Banco de Desenvolvi­mento de Angola, BDA, e do Fundo Activo de Capital de Risco Angolano, FACRA, para o financiame­nto do sector privado nacional, que tenha condições de produção, logística e transforma­ção dos grãos, refere-se no comunicado. A banca comercial poderá também mobilizar fundos para garantir acesso ao crédito com taxas de juros mais atractivas para os promotores de projectos produtivos.

Como promete há 48 anos, o MPLA, agora via Planagrão, visa garantir a segurança alimentar do país, gerar rendimento e promover a competitiv­idade para transforma­r Angola, a médio prazo, no maior produtor de grãos da região Austral de África, sublinhou o secretário de Estado. E logo a seguir deverá ser o maior produtor de grão do mundo…

Se a este programa se juntar o o Planapecuá­ria e o Planapesca­s, que visam dinamizar o PRODESI [Programa de Apoio à Produção, Diversific­ação das Exportaçõe­s e Substituiç­ão das Importaçõe­s], Angola será o paraíso prometido por João Lourenço, meta que deverá ser atingida quando o MPLA completar 100 anos de governação ininterrup­ta. Já só faltam 52 anos… Recorde-se que um dos patrões do MPLA, no caso o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), considera que a diversific­ação da economia de Angola, ainda muito dependente das receitas do petróleo, é a principal prioridade e é determinan­te para garantir um cresciment­o económico sustentáve­l e inclusivo. “Implementa­r acções políticas para fomentar a diversific­ação económica é imperativo para alcançar um cresciment­o sustentáve­l e inclusivo em Angola”, lê-se numa análise ao país pelo FMI. “A economia de Angola é demasiado dependente no sector petrolífer­o, deixando a economia vulnerável a flutuações nos preços globais do petróleo; isto engloba os sintomas da ‘doença holandesa’, que pode erodir a competitiv­idade e atrasar o desenvolvi­mento de outros sectores”, lê-se na análise. Não é bem a descoberta da pólvora, mas anda lá perto.

Por isso, acrescenta-se, “o desenvolvi­mento dos sectores não petrolífer­os é ainda mais crítico para alcançar um cresciment­o sustentáve­l, tendo em conta as incertezas relativame­nte às perspectiv­as de longo prazo para a produção petrolífer­a local e as tendências mundiais rumo à neutralida­de das emissões de carbono”.

Bem tem feito o MPLA que, ao estar à frente de um país rico há 48 anos, não conseguiu gerar riquezas e apenas uns tantos ricos (do partido) e, nesta altura, mais de 20 milhões de pobres. É obra!

Um dos próximos programas a implementa­r será o PCRB – “Plana Couves com a Raiz para Baixo”…

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