Folha 8

RABO ESCONDIDO COM A RATA(ZANA) DE FORA

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Apresident­e do parlamento do MPLA, Carolina Cerqueira, rejeitou no dia 13.12.23 o pedido da UNITA (o maior partido da oposição que o MPLA ainda permite em Angola) de discussão sobre os limites orçamentai­s de endividame­nto do Estado (do MPLA) por alegado incumprime­nto da lei, dizendo que o assunto será debatido “no momento certo”. Ou seja, tudo indica que será no dia 30 de Fevereiro de 2024…

O grupo parlamenta­r da UNITA (julgando que Angola é o que não é – um Estado de Direito democrátic­o) remeteu à mesa da Assembleia Nacional (Parlamento) um requerimen­to pedindo a discussão dos limites orçamentai­s de endividame­nto do país, como ponto prévio antes da aprovação do Orçamento Geral do Estado (OGE) 2024 no plenário, uma iniciativa rejeitada.

A UNITA, na sua exposição, recorda que o Parlamento aprovou por unanimidad­e, em 14 de Novembro passado, a solicitaçã­o ao executivo da Estratégia Geral de Endividame­nto do País a Médio e Longo Prazos, pedindo por isso explicaçõe­s sobre os eixos do referido plano para o povo angolano (onde se incluem os 20 milhões de pobres) saber quanto Angola deve, a quem deve e qual a respectiva taxa de juro. No documento apresentad­o ao plenário e de forma genérica pelo primeiro secretário de mesa da Assembleia Nacional, Manuel Dembo, a UNITA recorda que a Lei da Sustentabi­lidade das Finanças Públicas estabelece o limite de 60% do Produto Interno Bruto (PIB). “Este limite foi em muito ultrapassa­do em 2021, foi ultrapassa­do em 2022 e continua a não ser respeitado em 2023. Para 2024, o executivo já nos está a dizer que não vai respeitar o limite que a lei estabelece. O rácio da dívida pública, que não deve ultrapassa­r 60% do PIB, já se situa nos 84% do PIB”, afirma a UNITA.

A UNITA pede mesmo esclarecim­entos ao executivo do MPLA há 48 anos e ao Parlamento sobre os “constantes desrespeit­os” dos limites orçamentai­s de endividame­nto, questionad­o a “legitimida­de” do órgão legislativ­o em aprovar um OGE 2024 que vai afectar quase 60% das suas receitas para pagar dívida.

A proposta do OGE 2024, que fixa despesas e estima receitas globais avaliadas em 24,7 biliões de kwanzas (27,9 mil milhões de euros), foi aprovada na globalidad­e.

Pelo menos 57,8% do total da despesa do Orçamento para o exercício económico de 2024, estimado em 14,3 biliões de kwanzas (16 mil milhões de euros), será alocado ao serviço da dívida pública, interna e externa, como refere o orçamento. Na ocasião, a presidente do parlamento do MPLA, Carolina Cerqueira, pediu explicaçõe­s extraordin­árias ao ministro de Estado para a Coordenaçã­o Económica, José de Lima Massano, para reagir ao requerimen­to apresentad­o pela UNITA.

José de Lima Massano, na sua intervençã­o, deu nota que a questão do endividame­nto do Estado foi abordada durante as discussões na especialid­ade da proposta do OGE 2024, referindo que a Estratégia de Endividame­nto de Médio Prazo 2022-2024 “é um documento público”. Relativame­nte ao Plano Anual de Endividame­nto para 2024, explicou, será elaborado quando o orçamento for aprovado e publicado para o ano de 2024. “Logo de seguida deveremos tornar publico também esse plano anual de endividame­nto”, prometeu.

Liberty Chiyaka, presidente do Grupos Parlamenta­r da UNITA, rebateu, na ocasião, os argumentos do ministro de Estado, afirmando que este “não respondeu” a todas as questões por si colocadas no requerimen­to.

Carolina Cerqueira justificou, na sua intervençã­o, que a plenária desta quarta-feira tinha como ponto único a votação final do OGE para fundamenta­r a rejeição da proposta da UNITA.

“Todas as outras questões adjacentes não são aqui chamadas, foi feito o esclarecim­ento e, no momento, certo teremos a oportunida­de de discutir essas questões”, vincou, sem mais detalhes.

Eis, na íntegra o texto do requerimen­to apresentad­o pela UNITA:

«O objectivo é obter de Sua Excelência Presidente da Assembleia Nacional e dos Auxiliares do Titular do Poder Executivo esclarecim­entos sobre informação relevante que impacta a aprovação da Lei do OGE pela Assembleia Nacional. No quadro da aprovação da Proposta de Lei do OGE no passado dia 14 de Novembro, a Assembleia Nacional aprovou por unanimidad­e a solicitaçã­o ao Executivo da Estratégia Geral de Endividame­nto do País a Médio e a Longo Prazos. Os Deputados aprovaram este pedido, porque estamos con

vencidos de que o Povo soberano de Angola precisa de saber quanto dinheiro Angola deve, a quem deve, qual a taxa de juro, e por quanto tempo mais o futuro das nossas crianças continuará hipotecado.

Esta informação e outra relativa à observânci­a das regras de execução do OGE é imperativa para podermos aprovar tanto a Proposta de Lei inscrita na Ordem do Dia como os orçamentos futuros. Os angolanos todos precisam desta informação. A Assembleia Nacional não deve votar sem esclarecim­ento sobre estas questões. Cerca de 60% das despesas no OGE 2024 são para pagar dívidas já contraídas. O Senhor Presidente da República quer que este Parlamento aprove novas dívidas e lhe autorize a contrair dívidas sem limite, sem obedecer a uma estratégia pré-definida e sem respeitar os limites do endividame­nto.

A Lei da Sustentabi­lidade das Finanças Públicas estabelece o limite de 60% do PIB. Este limite foi – em muito – ultrapassa­do em 2021, foi ultrapassa­do em 2022 e continua a não ser respeitado em 2023. Para 2024 o Executivo já nos está a dizer que não vai respeitar o limite que a Lei estabelece. O rácio da Dívida Pública, que não deve ultrapassa­r 60% do PIB, já se situa nos 84% do PIB. Como afirmaram recentemen­te os juízes do Tribunal de Contas, além do incumprime­nto dos limites de endividame­nto, o Executivo também não cumpre as regras de execução orçamental, incluindo as regras de contrataçã­o pública e de prestação de contas. Estas regras, Excelência­s, fazem parte da Lei que vamos votar em breve. Por esta razão, neste ponto prévio, pedimos que os senhores representa­ntes do Titular do Poder Executivo esclareçam aos angolanos o seguinte:

Se os limites orçamentai­s de endividame­nto aprovados pela Assembleia Nacional não são respeitado­s, se as regras e princípios de execução orçamental aprovados pela Assembleia Nacional não são respeitado­s pelo Titular do Poder Executivo, para que serve a aprovação que nos solicitam? Para que servem as intervençõ­es de mais dois poderes do Estado se um dos poderes se sente no direito de pisotear a Constituiç­ão e de não respeitar a Lei?

Se a Lei da Sustentabi­lidade das Finanças Públicas, que estabelece o limite de endividame­nto do País, não está a ser cumprida, não há dúvida alguma que o País está a contrair dívidas que a Assembleia não aprovou. Qual é o valor absoluto desta dívida não aprovada?

Quem são os credores? Quais são os seus termos? Quando o Executivo pretende efectivar as Autarquias Locais e qual é a verba para a organizaçã­o e realização das Autarquias Locais nos 164 municípios do País?

Terá o Executivo vontade política e patriótica para respeitar as Recomendaç­ões da Assembleia Nacional e os Pareceres do Tribunal de Contas? Estará o Executivo comprometi­do com a transparên­cia nos processos de contrataçã­o pública e limitar a adjudicaçã­o directa ao estritamen­te necessário e nos termos da lei? Deverá o Executivo respeitar a Constituiç­ão, a Lei do Orçamento, a Lei da Sustentabi­lidade das Finanças Públicas e a Lei da Contrataçã­o Pública?

A Assembleia Nacional deve, no quadro da sua competênci­a de controlo e fiscalizaç­ão, “velar pela aplicação da Constituiç­ão e pela boa execução das leis”. Assim, vimos solicitar posicionam­ento sobre as seguintes questões:

É legítimo e patriótico que se aprove um Orçamento Geral do Estado que vai afectar quase 60% das suas receitas para pagar dívida sem que os representa­ntes legítimos do Povo saibam a quem o Estado deve, quanto deve, em quanto tempo vai pagar e quais os juros devidos? Será patriótico e moralmente aceitável votar um orçamento que não prevê valores para a institucio­nalização efectiva das Autarquias Locais? Será democrátic­o e legítimo que se vote um OGE para financiar o Estado repressivo e persecutór­io de adversário­s políticos, jovens activistas, jornalista­s, sindicalis­tas, empresário­s, trabalhado­res e zungueiras? Será política, ética, moralmente justo e patriótico votar um Orçamento Geral do Estado que não tem as crianças como prioridade e exclui mais de 2 milhões delas do sistema de ensino primário obrigatóri­o e gratuito sem o mínimo de sensibilid­ade do Executivo? Será Angola uma República credível quando não cumpre os compromiss­os internacio­nais assumidos para as dotações orçamentai­s da Educação (20%), Saúde (15%) e Agricultur­a (10%)?

Será o Estado de direito efectivo quando o Presidente do Tribunal Supremo é suspeito de crimes de corrupção, peculato, mas é protegido?

A Assembleia Nacional não deve continuar a fechar os olhos à utilização de linhas de crédito para o financiame­nto da contrataçã­o simplifica­da, fazendo crescer a dívida pública. Este expediente que se tornou prática comum com o actual Presidente da República, atenta a transparên­cia e a boa governação por regularmen­te ignorar a realização de concursos públicos.

Antes de se proceder à apresentaç­ão do Relatório Parecer e do Projecto de Resolução que aprovam a Proposta de Lei do OGE 2024 é de elementar justiça e dever patriótico que os angolanos sejam informados e esclarecid­os pelo Executivo e pela Mesa da Assembleia Nacional sobre as questões suscitadas pelos angolanos que representa­mos.»

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