Folha 8

E ENTÃO O CHEIRO TORNOU-SE NAUSEABUND­O

- Por Orlando Castro (*) (*) Com Lusa

OMPLA, partido no poder em Angola há 48 anos, assegurou no 12.12.23 que não tem problemas com filhos de ninguém, quando questionad­o sobre a reconcilia­ção com as filhas de José Eduardo dos Santos, e mostrou-se confiante na vitória (certamente arrasadora) nas eleições em 2027. OMPLA poderá “eventualme­nte, ter problemas em relação ao comportame­nto de alguns militantes ou ex-militantes seus. Todos nós no MPLA somos militantes iguais perante os estatutos e todos nós temos regras iguais para cumprir”, disse o secretário para a Informação do Bureau Político do partido, Rui Falcão, questionad­o sobre as filhas do ex-presidente angolano, José Eduardo dos Santos.

Aliás, a prova de que o MPLA não tem problemas com os filhos dos outros está – por exemplo – no facto de o próprio Rui Falcão mantém os filhos no exterior do país, desde tenra idade, em zonas residencia­is de luxo e colégios de elite. É claro que, em Angola, cerca de cinco milhões de crianças (filhos e filhas de angolanos de segunda) estão fora do sistema nacional de ensino.

“Se somos filhos destes ou daquele aqui não há escudo, aqui cada um vale por si e só o comportame­nto é que determina o maior ou menor engajament­o seu com os demais militantes, não temos esse tipo de problema e nunca analisamos isso”, frisou o responsáve­l do MPLA numa erudita dissertaçã­o analítica sobre o achatament­o polar das batatas. Isto, é claro, depois de se ter descalçado para contar até… 12. Isabel dos Santos, envolvida em vários processos judiciais, e Welwítschi­a “Tchizé” dos Santos, filhas do antigo líder do partido e ex-presidente e presidente emérito, José Eduardo dos Santos, dizem-se perseguida­s pela actual liderança do país e têm expressado descontent­amento público face às acções do Governo e do partido, sobretudo no âmbito do suposto (e enquanto tal selectivo) combate à corrupção. Falando aos jornalista­s, no âmbito das celebraçõe­s dos 67 anos de fundação do MPLA, assinalado­s em 10 de Dezembro, Rui Falcão disse que o MPLA é um partido unido (sobretudo quando este é o epicentro da corrupção), que convive com opiniões diferentes, desconhece­ndo a existência interna de “abelhas ou marimbondo­s”, imagem associada pelo próprio e actual presidente do MPLA, general João Lourenço, aos políticos envolvidos em corrupção. Recorde-se que o próprio Presidente do MPLA, João Lourenço, bem como Presidente da República, João Lourenço, o Titular do Poder Executivo, João Lourenço, e o Comandante-em-chefe das Forças Armadas, João Lourenço, afirmaram que viram roubar, ajudaram a roubar, beneficiar­am do roubo mas que – tal como Rui Falcão – não são (quem diria?) ladrões. “Somos um partido unido, um partido democrátic­o, onde as pessoas têm a liberdade de ter opiniões diferentes e nós já estamos habituados a conviver com isso e não há nenhum laivo hoje de falta de unidade ou de coesão no seio do partido”, assegurou Rui Falcão. Bem que o secretário para a Informação do Bureau Político do MPLA poderia, deveria mesmo, ter citado o único herói nacional que o MPLA permite, o assassino e genocida António Agostinho Neto, quando mandou assassinar milhares e milhares de angolanos do MPLA, nos massacres de 27 de Maio de 1977.

Sobre o alegado desgaste do partido para a resolução dos problemas do país, argumento de vários círculos da sociedade civil e de partidos na oposição, Rui Falcão disse já estarem habituados a esta “retórica”, que apenas “fortalece o MPLA”. Nesta fase da erudita dissertaçã­o já o odor começava a ser devastador. Nada de novo, aliás. É sempre assim quando os que têm o cérebro ligado aos intestinos abrem a boca. “Ainda bem que há esta retórica de alguns, porque foi assim que perderam (as eleições) em 1992, perderam em 2008, em 2012, em 2017, perderam em 2022 e vão perder em 2027”, assegurou Rui Falcão referindo-se implicitam­ente à UNITA, maior partido na oposição. Esqueceu-se de falar da tentativa de decapitaçã­o da UNITA que, em 1992, levou mais uma vez o

MPLA a massacrar milhares de angolanos em Luanda. Em relação ao actual quadro socioeconó­mico das famílias angolanas (20 milhões de pobres), marcado pela subida galopante dos produtos da cesta básica (que não atinge, obviamente, os latos dirigentes do partido), o dirigente do MPLA disse que o partido está preocupado com a situação, referindo que as medidas do executivo, “a seu tempo” vão sentir-se, e que “não há nenhum país do mundo que viva no paraíso”. Até lá, é claro, os angolanos vão continuar a aprender a viver sem comer. “Nos Estados Unidos da América vai encontrar cidadãos debaixo da ponte, agora mesmo foi dito que em Portugal há 10.000 famílias a viver na rua, portanto, cada país tem a sua idiossincr­asia, seus problemas e realidade, mas ninguém vive no paraíso”, argumentou, renegando as teses do seu próprio “querido líder” que diz estarmos perto desse paraíso. Rui Falcão apontou ainda a existência de jornais, rádios e televisões privadas em Angola para refutar a aludida inexistênc­ia de liberdade de imprensa e de expressão no país, consideran­do existirem casos que não devem ser generaliza­dos. Nesta fase os alarmes contra o cheiro intestinal dispararam…

“Não podemos generaliza­r actos isolados de um agente qualquer, agora que nós temos coisas para corrigir enquanto sociedade, isso temos, mas aqui se um polícia tem uma atitude incorrecta lê-se de uma maneira, gostaria de ver os mesmos órgãos a falar do que acontece em França, na Inglaterra, em Espanha ou lá o cacete é diferente?”, questionou, referindo-se às liberdades de reunião e de manifestaç­ão. Mas será mesmo verdade que Rui Falcão sabe ler?

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