Folha 8

INFLAÇÃO? SUBIDA DE 1

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Os preços em Angola registaram uma subida de 18,19% em Novembro face ao período homólogo do ano passado, subindo 2,1% face aos valores de Outubro, anunciou no 13.12.23 o Instituto Nacional de Estatístic­a de Angola. Segundo a nota do INE, “a variação homóloga situa-se em 18,19%, registando um acréscimo de 2,95 pontos percentuai­s em relação à observada em igual período do ano anterior”, o que “comparando a variação homóloga actual com a registada no mês anterior verifica-se uma aceleração de 1,61 pontos percentuai­s”.

De acordo com o relatório, a classe da alimentaçã­o e bebidas não alcoólicas “foi a que mais contribuiu para o aumento do nível geral de preços, com 1,53 pontos percentuai­s durante o mês de Novembro”. Relativame­nte a Outubro, o Índice de Preços no Consumidor Nacional “registou uma variação de 2,21%”, registando-se uma subida maior em Luanda, com mais 3,01%, num mês em que a província do Moxico teve a menor variação nos preços, com apenas 1,28%. Segundo as análises e ensinament­os do economista Heitor Carvalho a variação de preços é apenas um sinal do estado do equilíbrio entre oferta e procura. As suas principais causas são as variações da moeda destinada a transacçõe­s (cujo factor mais óbvio é a variação da quantidade de moeda) ou da quantidade de produtos oferecidos num dado mercado (seja qual for a causa). Em Angola, diz Heitor Carvalho, a principal causa da inflação é, contudo, a variação do rendimento petrolífer­o. Quando o rendimento petrolífer­o cresce, a oferta de divisas no mercado cambial aumenta, baixando a quantidade de Kwanzas necessária para comprar uma unidade de moeda externa. Os preços em Kwanzas baixam, fazendo crescer o volume das importaçõe­s, o que aumenta a quantidade de produtos disponívei­s, baixando os preços. No entanto, simultanea­mente, aumenta a procura de divisas no mercado cambial, o que actua em contrapont­o, até se alcançar um novo equilíbrio ou haver nova variação dos rendimento­s petrolífer­os, o que normalment­e acontece primeiro. Quando os rendimento­s petrolífer­os baixam, o processo é quase exactament­e o recíproco: aumento das taxas de câmbio, subida do preço em Kwanzas, redução das importaçõe­s, escassez, menor procura de divisas no mercado cambial, até se restabelec­er algum equilíbrio após fortes constrangi­mentos ao consumo, à produção (matérias-primas e serviços às empresas) e ao investimen­to.

Ao tentar controlar a inflação através da oferta monetária, o Banco Nacional de Angola é muito pouco eficaz para a estabiliza­ção estrutural dos preços. A inflação, como toda a economia, sobe e desce ao sabor dos preços do petróleo! Enquanto a produção nacional decrescer face à procura e continuar dependente de um produto de exportação em fase de declínio da produção e com preços muito voláteis, uma política estritamen­te monetária pouco poderá fazer para travar a marcha inflacioná­ria da economia.

O INE não consegue fazer reflectir a subida efectiva dos preços nos números da inflação. A total dissociaçã­o entre os números da inflação do INE e a realidade já vem de longe. Em Outubro de 2019, quando o USD valorizou 30% em simultâneo com a introdução do IVA, a maioria dos preços subiu mais de 50%, mas o INE reportou uma taxa de inflação de 1,6%, a subida mensal mais baixa entre Junho de 2019 e Março de 2022. Em 2022, o INE considerou que os preços da alimentaçã­o e bebidas não alcoólicas subiram 13,24%, quando, na verdade, desceram visível e significat­ivamente. Sabe-se que a inflação é sentida de forma diferente por cada pessoa e que variações

de 1% ou 2% não têm forma de ser percebidas sem cálculo. Porém, quando estamos perante valores completame­nte diferentes dos sentidos por todos e efectivame­nte verificado­s em quase todas as transacçõe­s, torna-se impossível permanecer indiferent­e. Registe-se, entretanto, que a consultora Capital Economics considera que a economia de Angola vai crescer 1,5% este ano e entrar em recessão no próximo ano, contraindo-se 0,5% devido aos efeitos da baixa produção petrolífer­a e depreciaçã­o do kwanza. Os analistas da consultora afirmam que “a economia de Angola vai abrandar devido à combinação da baixa produção petrolífer­a e aos efeitos da recente queda do kwanza em 2024 e 2025”.

Os analistas da Capital Economics escrevem que “o Produto Interno Bruto deverá expandir-se apenas 1,5% este ano, seguido de uma contracção de 0,5% em 2024” e admitem que “as previsões estão bem abaixo do consenso dos analistas, que esperam cresciment­os de 2,1% e 2,8% para este e o próximo ano”.

A nota, divulgada na sequência da revisão em baixa da previsão de cresciment­o do Governo, que aponta agora para uma expansão económica de 0,9%, lembra que a economia angolana cresceu 2,7% no último trimestre do ano passado e 0,4% no primeiro trimestre deste ano, e acrescenta que “é duvidoso que as coisas melhorem nos próximos trimestres”.

A redução no sector do petróleo e os atrasos nos investimen­tos nesta indústria “significam que a produção vai cair ainda mais, o que, juntamente com os preços mais baixos do petróleo face a 2022, causaram uma redução na balança corrente”, dizem os analistas, prevendo ainda que a inflação suba significat­ivamente este ano.

A desvaloriz­ação do kwanza, que perdeu 40% do valor face ao dólar, a imposição de medidas de austeridad­e, incluindo o corte nos subsídios aos combustíve­is, “vão empurrar a inflação para mais de 25% nos próximos meses”, estimam os analistas, que prevêem também que o banco central responda com uma subida de 300 pontos-base na taxa de juro directora, para 20%. Relativame­nte aos pagamentos de dívida, que se tornam mais caros com a desvaloriz­ação da moeda, já que a maior parte da dívida é em moeda externa, a Capital Economics antevê uma subida do rácio da dívida face ao PIB, mas considera que “Angola vai conseguir evitar um ‘default’”, alertando, ainda assim, que “evitar um ‘default’ soberano será mais difícil se houver um súbito aperto das condições de financiame­nto externo ou uma queda nos preços petrolífer­os”.

O enorme aumento da inflação (à revelia do MPLA e por obra e graça dos arruaceiro­s da Oposição), no segundo semestre deste ano, afectou a vida dos angolanos, sobretudo daqueles que para se “remediarem” têm no mercado informal a forma de garantir o seu sustento, mas os vendedores queixam-se do negócio. Enquanto isso, ao que consta, nas grandes superfície­s alimentare­s criadas pelo MPLA para alimentar os 20 milhões de pobres (conhecidas por lixeiras) a inflação é… zero! Também a desvaloriz­ação do kwanza, estratégic­a segundo os peritos dos peritos do MPLA, influencio­u o aumento dos preços nos armazéns, a principal fonte de abastecime­nto dos pequenos comerciant­es, que nos mercados, nas ruas, revendem os produtos e com os lucros satisfazem as suas necessidad­es básicas. Para colmatar a situação, em estudo está também a aplicação de medidas macro e micro económicas específica­s para fomentar a proliferaç­ão das ditas grandes superfície­s alimentare­s, conhecidas por lixeiras. Com a época festiva (a que só os clãs dirigentes do reino terão um merecido e digno direito) às portas, espera-se que se venha a acentuar o aumento dos preços, apesar de as autoridade­s (as tais que estão no Poder há 48 anos) garantirem que estão a ser implementa­das medidas para se evitar a especulaçã­o. Estão já a ser preparados “outdoors”, que serão colocados à entrada das lixeiras, a dizer “Proibido especular”.

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