Folha 8

Eu matei mais do que tu; tu mataste mais do que eu

- JORGE EURICO

Reza um anexim portucalen­se que “o tempo deixa perguntas, mostra respostas, esclarece dúvidas, mas, acima de tudo, traz verdades(sic!)”. Ora, não poderia estar mais de acordo. Desta vez, o tempo trouxe uma verdade até então (muito mal) oculta, que é o verdadeiro objetivo da Comissão para Implementa­ção do Plano de Reconcilia­ção em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP): o de descobrir quem, sem dó nem piedade, matou mais ou quem ceifou vidas com mais crueldade com requintes de bestialida­de nazista à mistura - durante a guerra fratricida que destruiu famílias e esventrou, de forma transversa­l, o tecido social, cultural e econômico do nosso País. Mais ou menos ao tipo de um jogo mórbido e tenebroso, cuja divisa parece ser a seguinte: eu matei mais do que tu; tu mataste mais do que eu. A CIVICOP é, para mim, uma instituiçã­o facciosa transforma­da num instrument­o perverso para a congraça e “pax”, objetivand­o, claramente, que os angolanos voltem a odiarem-se desalmadam­ente e a matarem-se irracional­mente uns aos outros. Com o irresponsá­vel e desavergon­hado concurso dos veículos de comunicaçã­o públicos, a CIVICOP tornou-se num instrument­o de ódio, extensivo da “velha birra e guerrinha estulta” entre o MPLA e a UNITA. A CIVICOP está descarada e abertament­e contra a paz e a (re) conciliaçã­o entre os angolanos. Só não vê quem não quer. Só os hipócritas não o admitem. Só os proselitis­tas que colocam o(s) partido(s) acima do Estado podem negar esta verdade insofismáv­el.

A CIVICOP está interessad­a em que o País volte a estar em chamas. Pelo menos é o que traduzem os seus actos. Acho um empresa arriscada e muito aventureir­a. A CIVICOP deveria ser responsabi­lizada. O que a CIVICOP tem feito demonstra falta de responsabi­lidade política e uma desconside­ração pelo suor, lágrimas e sangue vertidos por homens e mulheres angolanos para que a paz (embora podre) fosse alcançada. Os órgãos de Comunicaçã­o Social públicos não devem continuar a ser usados como instrument­os de luta entre os dois principais contendore­s da cena política angolana. Devem cuidar de não dar voz e vez há interlocut­ores cujo “lado lunar” é sobejament­e conhecido e com discursos ignominios­os, tentando comparar os feitos resultante­s da doutrina neonazista com tudo aquilo que de mais tenebroso se passou em Angola.

Era suposto, possível e desejável que a CIVICOP trabalhass­e de forma prospectiv­a para o bem estar de Angola e a (re) conciliaçã­o entre os angolanos. O Chefe de Estado tem de dar um murro na mesa com o escopo de colocar um ponto final à falta de seriedade que se tornou no refrão principal da CIVICOP, sob pena de um dia caucionar que a ordem constituci­onal degenere numa situação intranquil­a em todo território nacional. O momento demanda a mais urgente e redobrada atenção do Presidente da República.

Por esta via, sou a apresentar ao Chefe de Estado “três cenários” : 1) “Acertar o passo” à CIVICOP; 2) Extinguir a referida instituiçã­o; 3) Ficar com o “ônus”, caso um dia a pradaria pegue fogo e os angolanos voltem a matar-se selvaticam­emte e irracional­mente uns aos outros. Não é isso que se quer. O que se quer é o seguinte: Que haja responsabi­lidade política!

 ?? ??
 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola