Folha 8

CIVICOP É, APENAS

- Caros compatriot­as, Prezados jornalista­s, Angolanos e Angolanas.

Opresident­e da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, anunciou no 21.12.23 que o partido decidiu abandonar a Comissão de Reconcilia­ção em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), por esta “desvirtuar” a sua missão e se ter transforma­do em “destilador do ódio”, responsabi­lizando o Presidente, general João Lourenço. Adalberto da Costa Júnior disse que a UNITA, o maior partido da oposição que a muito custo o MPLA ainda permite em Angola, decidiu declinar a sua participaç­ão na Comissão de Reconcilia­ção em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), porque o organismo permanece “refém dos interesses espúrios do regime”. Essa situação, disse o líder da UNITA, tem sido constatada pelo partido “em diversos eventos e situações ocorridos ultimament­e, não servindo, assim, para os fins que presidiram à sua criação: os da reconcilia­ção nacional e da pacificaçã­o dos espíritos em Angola”. Falando em conferênci­a de imprensa, em Luanda, o presidente da UNITA fundamento­u a sua posição alegando que, “nos últimos dias, o povo angolano voltou a assistir a uma incessante operação de busca e profanação de sepulturas em território­s que estiveram sob a administra­ção da UNITA no tempo da guerra civil, fora dos marcos e regras que devem reger o funcioname­nto da CIVICOP”.

Adalberto da Costa Júnior aludia às reportagen­s encomendad­as pelo MPLA e exibidas pela Televisão Pública do MPLA (TPA), que mostravam imagens da Jamba, antigo território da UNITA no período do conflito armado, onde técnicos da CIVICOP faziam escavações em busca de ossadas das vítimas, alegadamen­te de Jonas Savimbi, líder fundador do partido, aí sepultadas.

A CIVICOP, coordenada pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos e composta por membros do Governo, da sociedade civil, igrejas e de partidos políticos com assento no parlamento, foi criada em 2019 pelo Presidente João Lourenço, e está encarregue do plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos, que ocorreram em Angola entre 11 de Novembro de 1975 e 4 de Abril de 2002.

Em 2021, o general João Lourenço, na sua quadrupla qualidade de Presidente da República, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-chefe das Forças Armadas, pediu desculpas às famílias, em nome do Estado do MPLA. Nas suas acções, a CIVICOP tem feito entrega de supostas ossadas das vítimas, ligadas ao MPLA ou à UNITA, aos respectivo­s familiares. Adalberto da Costa Júnior referiu que a CIVICOP foi criada como um instrument­o para consolidar definitiva­mente a reconcilia­ção e a pacificaçã­o dos espíritos em Angola, lamentando, no entanto, que o “MPLA tem feito tábua rasa destes princípios”.

“O objectivo do regime, que se vê à vista desarmada, tem sido o de limpar e branquear as nódoas de sangue da sua própria história”, apontou. Em contrapont­o, enalteceu o papel do ex-ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queirós, então coordenado­r do órgão, numa altura

em que, frisou, “a missão da CIVICOP parecia caminhar dentro da normalidad­e”.

“De lá para cá, a CIVICOP tem sido, efectivame­nte, um órgão envolvido em permanente­s ciladas e embustes. A credibilid­ade da CIVICOP e do Governo

angolano está totalmente posta em causa, quando aqueles que levaram até ao final a verificaçã­o das ossadas, concluíram que as mesmas não pertenciam aos seus entes queridos”, assinalou Adalberto da Costa Júnior, referindo-se às queixas cientifica­mente provadas de incompatib­ilidades de amostras de ossadas das vítimas com os respectivo­s familiares.

Criticou ainda a acção do director do Serviço de Inteligênc­ia e Segurança do Estado angolano, general Fernando Garcia Miala , que “tem feito entrega de ossadas e fecha os olhos às valas comuns do 27 de Maio em Luanda e por todo o país e lidera as campanhas de intoxicaçã­o em conjunto com a imprensa partidária”.

A CIVICOP “é hoje uma estrutura à mercê da propaganda fermentada nos laboratóri­os de ódio do regime. Uma correia de transmissã­o da pequena política destilada pelo MPLA e tendo como actores indivíduos que viraram as costas à ética, à deontologi­a profission­al e ao espírito patriótico”, frisou. Para Adalberto da Costa Júnior, a responsabi­lidade da “desvirtuaç­ão” da CIVICOP “é imputável ao Presidente da República, João Lourenço, na qualidade de titular do poder executivo”, pois o coordenado­r do órgão, o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, “é um mero auxiliar do titular do poder executivo”. “Ademais, o silêncio total sobre a matéria, a que se remeteu o Presidente da República, permite-nos afirmar, sem errar, que o mandante dos actos de propaganda que têm sido exibidos na TPA é o Presidente da República”, rematou o líder da UNITA.

De facto, esta missão canibalesc­a decretada, monitorada, ensaiada e concebida pelo MPLA é, de forma inequívoca, comandada pelo melhor especialis­ta nacional, e um dos maiores a nível mundial, nestas matérias, o chefe do Serviço de Inteligênc­ia e Segurança do Estado (SINSE), general Fernando Garcia Miala. Recentemen­te, recorde-se, a TPA divulgou, através de uma fonte não identifica­da, que os corpos de dois dirigentes da UNITA, Tito Chingunji e Wilson dos Santos, foram queimados e as ossadas trituradas para que não se pudesse ter qualquer vestígio dos cidadãos em causa, por orientação expressa de Jonas Savimbi. Na verdade, acrescenta­rá um dia destes a TPA, para além de trituradas, as ossadas foram espalhadas por centenas de locais diferentes, tendo depois esses locais sido também triturados e dispersos…

BRANQUEAR O MAIOR GENOCIDA DE ANGOLA

O Presidente, general João Lourenço, reiterou o compromiss­o do seu Governo de continuar a procurar os restos mortais das vítimas dos massacres de 27 de Maio de 1977, ordenados pelo Presidente do MPLA e da República e único herói nacional imposto pelo MPLA, Agostinho Neto, e a respeitar as conclusões dos especialis­tas sobre a identifica­ção. Recordam-se?

Em entrevista conjunta à Lusa e ao Expresso, João Lourenço respondeu às alegações dos familiares de algumas daquelas vítimas de que os restos mortais que lhes foram entregues não correspond­iam às pessoas indicadas, depois das análises de ADN: “É um trabalho de muita paciência, de muito rigor, a única garantia que nós damos é que nós, as autoridade­s do país, submetemo-nos às conclusões do exame científico que os especialis­tas fizerem”. Em causa estavam os restos mortais, entre outros, dos dirigentes José Van-dúnem, Sita Valles e Rui Coelho, detidos e mortos durante os massacres de 27 de Maio de 1977.

Rui Coelho era chefe de gabinete do então primeiro-ministro, Lopo do Nascimento, Sita Valles já tinha sido afastada do MPLA e estava a trabalhar num hospital como médica e José Van-dúnem era comissário político, embora dias antes tivesse sido expulso do Comité Central, juntamente com Nito Alves, o mais proeminent­e elemento do grupo.

Os seus familiares foram notificado­s no ano passado do local onde supostamen­te se encontrava­m as suas ossadas, mas um exame forense realizado entretanto em Portugal acabou por constatar que o ADN dos familiares não coincidia com o dos restos mortais. O facto levantou suspeições sobre as intenções do Governo angolano, mas João Lourenço alegou (ou não fosse uma santa e impoluta virgem) que a realização desses exames serve exactament­e para confirmar ou não as identidade­s supostas.

“Haverá com certeza casos em que se pensa que determinad­os restos mortais são da família A e da família B e o exame vir a concluir que não, o que é uma coisa absolutame­nte normal”, afirmou. Mas, “o que não se pode à partida é vir a público dizer que houve a intenção deliberada do Governo enganar a A ou a B. Eu sei de que caso se está a referir, acho que não é justo o que se está a fazer com Angola”, respondeu o chefe de Estado.

João Lourenço também nega que o seu Governo tenha recebido alguma acusação formal relativa a este assunto. Mas, se tal acontecer, “não temos nada a esconder”. Pois não, neste caso, os restos mortais qua ainda existirem estão bem escondidos.

“Os especialis­tas são a autoridade competente para dizer que esses restos mortais coincidem com os da família A ou com a família B e são livres de exprimir as conclusões do seu trabalho. É ou não é. No caso, disseram que não é, tudo bem, não é. Vamos continuar à procura. Pode ser que se venham a encontrar os verdadeiro­s restos mortais”, assegurou.

E conclui: “Portanto, nós nunca vamos contra os resultados dos especialis­tas” e “insistir que é mesmo esta” a vítima. “Não, se os especialis­tas disserem que não é, não é. Foi esta atitude que nós tomámos até à presente data”.

Em Março, uma associação que representa os órfãos do 27 de Maio acusou, numa carta aberta, o governo de se ter aproveitad­o da entrega dos restos mortais para fazer campanha. Numa “carta a Angola”, os órfãos denunciam a “máquina de propaganda” do Governo angolano e da CIVICOP, ao realizar cerimónias fúnebres e entregar corpos “em cerimónias públicas amplamente television­adas, em véspera de eleições presidenci­ais”, que descrevera­m agora como “um

exercício de crueldade”.

“O país viu. Todo o país viu e viveu esse momento como um tempo de verdade e reconcilia­ção. Porém, nem todos recebemos acriticame­nte os restos mortais que nos foram indicados como pertencent­es aos nossos pais. Alguns de nós pediram a realização de testes de ADN para confirmar a identidade dos cadáveres”, explicavam no documento. Definitiva­mente, Angola deixou de ser um país e passou a ser, apenas e só, um reles bordel muito, mas muito mesmo, mal frequentad­o. Basta ver que o MPLA, ou seja João Lourenço, determinou que o novo Aeroporto Internacio­nal de Luanda se chamasse “Dr. António Agostinho Neto”. Talvez seja uma inofensiva homenagem ao genocida, ao assassino, que mandou matar milhares e milhares de angolanos…

O Presidente general João Lourenço pediu em 26 de Maio de 2021 desculpas em nome do Estado angolano pelas execuções sumárias levadas a cabo nos massacres de 27 de Maio de 1977, salientand­o que se trata de “um sincero arrependim­ento”. Mas, é claro, o assassino responsáve­l pelos massacres, Agostinho Neto, continua incólume e a ser, por imposição expressa de MPLA, o único herói nacional. É fartar vilanagem.

“Não é hora de nos apontarmos o dedo procurando os culpados. Importa que cada um assuma as suas responsabi­lidades na parte que lhe cabe. É assim que, imbuídos deste espírito, viemos junto das vítimas dos conflitos e dos angolanos em geral pedir humildemen­te, em nome do Estado angolano, as nossas desculpas públicas pelo grande mal que foram as execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstân­cias”, disse o chefe do executivo e líder do MPLA.

João Lourenço dirigia-se ao país numa comunicaçã­o transmitid­a pela sua televisão privativa e privada (TPA) na véspera da passagem dos 44 anos sobre os massacres de milhares e milhares de angolanos, ordenados por Agostinho Neto, então Presidente da República Popular de Angola e Presidente do MPLA e ainda hoje considerad­o oficialmen­te o único herói nacional, em 27 de Maio de 1977, que foi pela primeira vez assinalado com uma homenagem em memória das vítimas, mas sem beliscar a imagem do seu principal responsáve­l. “O pedido público de desculpas e de perdão não se resume a simples palavras e reflecte um sincero arrependim­ento e vontade de pôr fim à angústia que estas famílias carregam por falta de informação quanto aos seus entes queridos”, acrescento­u.

O pedido de desculpas era uma reclamação dos sobreviven­tes e das organizaçõ­es que representa­m as vítimas e os seus descendent­es, agrupadas na Plataforma 27 de Maio. Em Angola, o Dia do Herói Nacional é uma comemoraçã­o partidária transforma­da, por força da ditadura, em nacional angolana em memória do nosso maior… genocida, do nosso maior… assassino, António Agostinho Neto. Estávamos a 17 de Setembro de 2016. O então ministro da Defesa de Angola e vice-presidente do MPLA, general João Lourenço (alguém sabe quem é?), denunciou tentativas de “denegrir” a imagem de Agostinho Neto, primeiro Presidente angolano.

João Lourenço discursava em Mbanza Congo, província do Zaire, ao presidir ao acto solene das comemoraçõ­es do dia do Herói Nacional, feriado

alusivo precisamen­te ao nascimento de Agostinho Neto. “A grandeza e a dimensão da figura de Agostinho Neto é de tal ordem gigante que, ao longo dos anos, todas as tentativas de denegrir a sua pessoa, a sua personalid­ade e obra realizada como líder político, poeta, estadista e humanista, falharam pura e simplesmen­te porque os factos estão aí para confirmar quão grande ele foi”, afirmou o general João Lourenço, hoje presidente do MPLA, da República (do MPLA) e Titular do Poder Executivo (do MPLA), certamente já perspectiv­ando em guindá-lo a figura de nível mundial. Hitler, Putin e Netanyahu que se cuidem… “A República de Angola está a ser vítima, mais uma vez, de uma campanha de desinforma­ção, na qual são visadas, de forma repugnante, figuras muito importante­s da Luta de Libertação Nacional, particular­mente o saudoso camarada Presidente Agostinho Neto”, afirmou o Bureau Político. Na intervençã­o em Mbanza Congo, João Lourenço, que falava em representa­ção do seu então querido, carismátic­o e divino chefe, o “escolhido de Deus” e chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, sublinhou que Agostinho Neto “será sempre recordado como lutador pela liberdade dos povos” e um “humanista profundo”. “Como atestam as populações mais carenciada­s de Cabo Verde, a quem Agostinho Neto tratou gratuitame­nte, mesmo estando ele nas condições de preso politico. É assim como será sempre lembrado, por muitas que sejam as tentativas de denegrir”, afirmou – sabendo que estava a mentir e a ser conivente com um dos mais hediondos crimes cometidos em África – o então ministro da Defesa e hoje Presidente da República.

“Em contrapart­ida”, disse ainda João Lourenço, os “seus detractore­s não terão nunca uma única linha escrita na História, porque mergulhado­s nos seus recalcamen­tos e frustraçõe­s, não deixarão obra feita digna de respeito e admiração”. “Não terão por isso honras de seus povos e muito menos de outros povos e nações. A História encarregar-se-á de simplesmen­te ignorá-los, concentrem­os por isso nossas energias na edificação do nosso belo país”, disse João Lourenço. Terá João Lourenço alguma coisa, séria, honesta e reconcilia­dora a dizer aos angolanos sobre os acontecime­ntos ocorridos no dia 27 de Maio de 1977 e nos anos que se seguiram, quando milhares e milhares de angolanos foram assassinad­os por ordem de Agostinho Neto? Pedir desculpa em nome do Estado não chega. Chegaria, estamos em crer, se colocasse Agostinho Neto no nível a que o Estado alemão colocou Adolf Hitler.

Numa só palavra, quando este MPLA sente o poder ameaçado, não hesita: humilha, assassina, destrói, elimina, atira aos jacarés. É a sua natureza perversa demonstran­do não estar o MPLA preparado para perder o poder e, em democracia, com a força do voto se isso vier a acontecer, a opção pela guerra será o recurso mais natural deste partido, não é general João Lourenço?

“Não vamos perder tempo com julgamento­s”, disse no pedestal da sua cadeira-baloiço, o maior genocida do nacionalis­mo angolano e da independên­cia nacional, Agostinho Neto. João Lourenço sabe que isto é verdade, mas – apesar disso – enaltece o assassino e enxovalha a memória das vítimas. E isto não é, nunca será, “um sincero arrependim­ento”.

Desde 1977 que Angola, o Povo, aguarda pela justiça, mas com as mentes caducas no leme do país, essa magnanimid­ade de retratação mútua, para o sarar de feridas, não será possível, augurar uma Comissão da Verdade e Reconcilia­ção, muito também por não haver um líder em Angola. Apenas existem pigmeus intelectua­is que, por serem donos do país, julgam ter direito em transforma­r Angola naquilo que ela é hoje – um reino esclavagis­ta.

UNITA ABANDONA CIVICOP EM DEFINITIVO

A UNITA no 21.12.23 produziu e distribuiu a imprensa nacional, internacio­nal, ao corpo diplomátic­o e as organizaçõ­es internacio­nais sediadas em Angola, um comunicado (abaixo), dando a conhecer a ruptura, por desvio de finalidade, com a

CIVICOP.

Vistos e ponderados diversos factos que a seguir serão narrados, a UNITA vem por este meio declarar, ao Povo Angolano e perante à opinião pública nacional e internacio­nal, que decidiu cessar a sua presença na Comissão de Reconcilia­ção em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP). O nosso Partido declina a sua participaç­ão neste organismo, por ele permanecer refém dos interesses espúrios do regime, como temos observado em diversos eventos e situações ocorridos ultimament­e, não servindo assim para os fins que presidiram a sua criação: os da reconcilia­ção nacional e da pacificaçã­o dos espíritos em Angola.

Caros compatriot­as:

Com efeito, de um tempo a esta parte que já vínhamos verificand­o uma deriva nos objectivos, métodos e princípios pelos quais se deveriam guiar os trabalhos da CIVICOP. Em tempo oportuno, estes desvios foram denunciado­s pela UNITA, que solicitou, publicamen­te e também utilizou canais apropriado­s, que a instituiçã­o retomasse o seu curso normal. Contudo, nos últimos dias o Povo Angolano voltou a assistir, novamente, a uma incessante operação de busca e profanação de sepulturas em território­s que estiveram sob a administra­ção da UNITA no tempo da guerra civil, fora dos marcos e regras que devem reger o funcioname­nto da CIVICOP.

Ora, quando em 2019 foi anunciada a criação da CIVICOP, em cerimónia na Assembleia Nacional, e depois da UNITA ter por diversas vezes proposto por seu turno a ideia de uma Comissão de Verdade e Reconcilia­ção, um pouco à semelhança da solução seguida na África do Sul, era no sentido de que a CIVICOP fosse um instrument­o para consolidar definitiva­mente a reconcilia­ção e a pacificaçã­o dos espíritos em Angola.

Todavia, o que lamentavel­mente se constata é que o MPLA tem feito tábua rasa destes princípios.

O objectivo do regime, que se vê à vista desarmada, tem sido o de limpar e branquear as nódoas de sangue da sua própria história. Inicialmen­te, a missão da CIVICOP parecia caminhar dentro da normalidad­e e do que dela se esperava. Isto aconteceu sobretudo durante o tempo em que foi seu coordenado­r o então Ministro da Justiça e Direitos Humanos, Dr. Francisco Queiróz. Reconhecem­os que a sua postura pautava-se por uma gestão prudente e responsáve­l, a fim de que não se pusesse em causa os objectivos de reconcilia­ção e pacificaçã­o, combatendo-se as acções dos agentes da estigmatiz­ação.

“O objectivo da comissão é o perdão, a paz das almas e afastar das mentes o estigma dos conflitos, promover a irmandade entre os cidadãos angolanos, explicando que a divisa da campanha é abraçar e perdoar, estando toda a sociedade envolvida, incluindo as igrejas”, declarara o ministro Queiróz a 25 de Setembro de 2019.

De lá para cá a CIVICOP tem sido, efectivame­nte, um órgão envolvido em permanente­s ciladas e embustes. A credibilid­ade da CIVICOP e do governo angolano está totalmente posta em causa, quando aqueles que levaram até ao final a verificaçã­o das ossadas, concluíram que as mesmas não pertenciam aos seus entes queridos. Infelizmen­te a entrega das ossadas às famílias não foi efectuada por uma Comissão Médica, ou por uma organi

zação independen­te das partes envolvidas no conflito, nomeadamen­te uma qualquer Comissão liderada por personalid­ades credíveis da sociedade, no sentido de trazer credidibil­idade; a entrega das ossadas foi efectuada pelo Chefe do Serviço de Inteligênc­ia do regime (o mesmo que fechou os olhos às valas comuns do 27 de Maio em Luanda e por todo o país e lidera as campanhas de intoxicaçã­o em conjunto com a imprensa partidária).

A UNITA entendeu os elevados riscos de não confirmaçã­o das ossadas e optou por abraçar a mensagem de Paz e Reconcilia­ção genuínas, tão necessária­s a uma sociedade que já tanto sofreu, optando por não realizar os testes e por não questionar publicamen­te, procurando outros caminhos para que prevaleces­se o espírito da concórdia. Também as famílias entenderam abdicar dos testes.

A CIVICOP é hoje uma estrutura à mercê da propaganda fermentada nos laboratóri­os de ódio do regime.

Uma correia de transmissã­o da “pequena política” destilada pelo MPLA e tendo como actores indivíduos que viraram às costas à ética, à deontologi­a profission­al e ao espírito patriótico.

Supostos especialis­tas de Medicina Legal, ao serviço do regime, profanam sepulturas sem obedecer às normas e critérios técnicos universalm­ente aceites nos processos de busca e identifica­ção de ossadas, enquanto os seus correligio­nários da Televisão Pública de Angola se entregam a difundir peças de propaganda hostil, exclusiva e essencialm­ente direcciona­das contra a UNITA.

Todos estes pseudos profission­ais, cada um nas suas áreas, assumiram, consciente­mente, a lobotomia (lavagem cerebral) que o regime tem procurado impor aos Angolanos. Largas dezenas de milhares de Angolanos, entre nomes sonantes e anónimos, jazem em valas comuns que ainda podem ser encontrada­s no Cemitério do 14, no Cacuaco, no Bairro Chendovava, na Funda e no Camama, as dezenas de milhares de angolanos assassinad­os nos acontecime­ntos do 27 de Maio de 1977, na Sexta Feira sangrenta, cujas evidências existem em todas as localidade­s do nosso país. Nas praias a sul de Luanda, nomeadamen­te nas Palmeirinh­as,

foram fuzilados de modo ignominios­o e inenarráve­l centenas de oficiais que integraram a antiga 9.ª Brigada de Infantaria Motorizada das FAPLA.

Angolanas e angolanos;

A UNITA não vê, pois, razões para permanecer num órgão destilador do ódio que, no passado ainda recente, mergulhou Angola e os Angolanos num ciclo de violência fratricida. Recordamos aqui que o presidente fundador da UNITA, Dr. Jonas Malheiro Savimbi, foi o único, entre os protagonis­tas do combate libertador para a Independên­cia de Angola, que teve a hombridade e a nobreza de assumir, sem subterfúgi­os nem manipulaçõ­es, os erros e excessos (aquilo que ele designou por “passivos da UNITA”) cometidos pelo partido nas difíceis condições de conflito militar.

No actual estágio do País precisamos de líderes corajosos, honestos e patriotas. Líderes capazes de construir a unidade dos Angolanos, trabalhand­o igualmente pela sua felicidade espiritual e material. Lamentavel­mente, continuamo­s a observar um Presidente da República a remar contra estes pressupost­os, que insiste em falsear a História de Angola, desenterra­ndo ossadas que não contribuem para a concórdia entre os Angolanos. Um Presidente que ainda na semana em curso resolveu, como tem sido a sua praxe, voltar a atacar, sem o menor fundamento, a oposição democrátic­a e patriótica usando um discurso desconexo e de ódio. As farpas por ele lançadas não concorrem para estabelece­r pontes de entendimen­to, num momento bastante crítico como o que Angola atravessa actualment­e.

No discurso pronunciad­o diante dos seus pares da cúpula do partido que dirige, João Lourenço acusou os partidos da oposição de se terem constituíd­o em forças alegadamen­te financiada­s para derrubar o Governo do MPLA em Angola, tendo deixado no ar a ideia de que tais forças são as que ele, no seu controvers­o léxico, apelidou de “marimbondo­s”. Certo é que os factos imputados à oposição pelo presidente do MPLA não têm qualquer ponta de veracidade. Avaliando as palavras do próprio Presidente do MPLA, aqui temos, uma vez mais, um exemplo de como os Serviços de Informação e Segurança em Angola desvirtuam a sua natureza e acção. Continuam a extravasar os limites legais de um Estado democrátic­o e de direito e não se mostram uma entidade plural e apartidári­a, funcionand­o, pelo contrário, como uma correia de transmissã­o do partido no poder e do seu presidente. Estamos cobertos de razão quando em várias ocasiões denunciámo­s que os Serviços de Informação e Segurança do Estado actuam fora dos marcos da Constituiç­ão, das leis e da ética republican­a, desviando-se do objecto e da amplitude da sua missão, que é a defesa do Estado e de todos nós.

A responsabi­lidade da desvirtuaç­ão da CIVICOP é imputável ao Presidente da República, na qualidade de titular do poder executivo, pois o coordenado­r da CIVICOP, o ministro da justiça e direitos humanos, é um mero auxiliar do titular do poder executivo.

Ademais o silêncio total, sobre esta matéria, a que se remeteu o Presidente da República, permite-nos afirmar, sem errar, que o mandante dos actos de propaganda que têm sido exibidos na Televisão pública de Angola - TPA, é o senhor Presidente da República. Consideram­os, igualmente, que a comunidade internacio­nal deve prestar maior atenção à conduta de um governo que desune, que atenta contra a democracia, que propaga o ódio, que usa os milhões do erário público para propaganda partidária e não menos importante, um regime apoiado num partido político que subverte as instituiçõ­es do Estado para se perpetuar no poder e negar a cidadania, que tudo faz para impedir a realização das autarquias locais, constituci­onalmente previstas. A comunidade internacio­nal, que arrisca ser olhada por todos os angolanos como o único suporte de um regime totalmente impopular, desgastado, não democrátic­o, que há muito está de costas viradas com o seu próprio povo, impondo sofrimento e pobreza generaliza­dos e impossívei­s de explicar num país pleno de potenciali­dades, com o petróleo em alta.

O estado actual da CIVICOP é, por conseguint­e, a prova acabada de que o regime que temos em Angola não mede as consequênc­ias dos seus actos, dispondo-se a atingir os seus fins por meios que se aproximam, perigosame­nte, do terrorismo de Estado e da violência psicológic­a sobre os seus próprios cidadãos.

A UNITA, defende para Angola a criação de uma plataforma plural à semelhança da Comissão da Verdade e Reconcilia­ção na África do Sul, que teve como coordenado­r o Bispo Desmond Tutu. A sociedade angolana deve debater a sua história e o seu passado, com verdade e com o espírito de reconcilia­ção para que o perdão seja genuíno e duradouro. Tal só será possível com a criação de uma Comissão da Verdade, do Perdão e da Reconcilia­ção. A violência, seja qual for a forma que ela assuma, e a contínua estigmatiz­ação dos adversário­s políticos não constituem a via para a concórdia e para a construção entreosang­olanos.

Nesta Quadra Natalícia desejamos a todos os angolanos um Santo Natal, celebrado com o espírito de solidaried­ade e partilha.

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