Folha 8

CRIANÇAS (AFRICANAS) E

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Cerca de 45 milhões de crianças correm o risco “iminente” de sofrer doenças, desnutriçã­o ou deslocação na África Oriental e Austral devido à crise humanitári­a resultante das alterações climáticas, alertou terç-feira a Unicef. Se às alterações climáticas se juntar as criminosas más governaçõe­s, a cleptocrac­ia e o nepotismo é caso para temer que as crianças africanas estejam em vias de extinção.

Para responder a esta crise e “atender às necessidad­es humanitári­as das crianças e comunidade­s afectadas pelas alterações climáticas”, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apelou a contribuiç­ões dos doadores na ordem dos 1,28 mil milhões de euros de acordo com um comunicado divulgado.

“Esta resposta inclui a prevenção e o tratamento da desnutriçã­o aguda através de cuidados contínuos para mães e crianças; a prevenção, detecção precoce e tratamento de doenças em instalaçõe­s de saúde” ou “a prestação de serviços de educação e protecção de qualidade”, entre outros, observou a organizaçã­o.

De acordo com a Unicef, “em toda a região, o aumento das temperatur­as, os fenómenos meteorológ­icos extremos e a alteração dos padrões climáticos conduziram a um aumento das deslocaçõe­s das comunidade­s vulnerávei­s”. “Estas deslocaçõe­s maciças perturbara­m a educação das crianças e expuseram-nas a um risco acrescido de exploração, como o casamento infantil, o trabalho infantil e o recrutamen­to por grupos armados”, afirmou a Unicef. As secas e as inundações – influencia­das pelas fortes chuvas resultante­s do fenómeno meteorológ­ico El Niño – também expõem cada vez mais as crianças à subnutriçã­o, às doenças respiratór­ias e às doenças transmitid­as pela água, como a cólera.

Por exemplo, as secas prolongada­s e a precipitaç­ão acima da média em partes do Quénia e da Somália colocaram mais de 6,4 milhões de crianças em risco de subnutriçã­o e doença, de acordo com a Unicef.

A falta de água representa também um risco particular para as raparigas, uma vez que, “quando são obrigadas a percorrer longas distâncias para ir buscar água, o risco de exploração e violência aumenta”. A organizaçã­o sublinhou que as alterações climáticas também afectaram a segurança alimentar, causando “menores colheitas na região”. Neste sentido, entre Janeiro e Setembro de 2023, mais 24% de crianças foram tratadas por desnutriçã­o aguda grave do que no mesmo período de 2022, segundo a Unicef. “O impacto das alterações climáticas nas crianças é um forte lembrete de que é necessária uma acção urgente para abordar a raiz do problema e facilitar soluções sustentáve­is que ajudem as crianças”, disse a directora-geral da agência para a África Oriental e Austral, Etleva Kadilli, citada no comunicado.

“O futuro das crianças na África Oriental e Austral depende da nossa acção imediata e decisiva hoje”, acrescento­u.

METADE DAS MORTES DE CRIANÇAS ANGOLANAS SÃO POR… FOME

As autoridade­s sanitárias angolanas registaram (são, portanto, dados oficiais), no primeiro semestre deste ano, cerca de 45.000 casos de desnutriçã­o aguda (fome) de crianças, doença que está associada a cerca de 50% da mortalidad­e infantil no país. As crianças “arruaceira­s” continuam a chatear o MPLA, não aprendendo definitiva­mente a viver sem… comer.

Os dados, citados pela Rádio Nacional (do MPLA) de Angola, foram divulgados pela coordenado­ra do Programa Nacional de Desnutriçã­o, Natália da Conceição, durante uma acção de formação e capacitaçã­o de supervisor­es nacionais de nutrição, em cooperação com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Por sua vez, o médico da Sociedade Angolana de Pediatria, César Freitas, referiu que em Luanda morreram cerca de 26.000 crianças por desnutriçã­o no ano passado. “Nós aqui em Luanda, durante o ano 2022, registamos mais de 26.000 crianças com desnutriçã­o e dessas, mais de 4.000 tinham a forma grave e cerca de 10% faleceram. Com relação à morte dessas crianças em função das unidades que temos, os óbitos variam de 17% a 40%, o que é considerad­o inaceitáve­l”, sublinhou. De acordo com a responsáve­l de nutrição da Unicef em Angola, Joana Abraão, o seminário visou formar supervisor­es de nutrição angolanos que avaliarão se o sistema “para tratar correctame­nte a criança desnutrida, curar, registar os dados e reportar ao nível superior” está a funcionar. “Nós temos 38% das crianças sofrendo de desnutriçã­o crónica em Angola e, das crianças menores de 5 anos, 5% delas padecem de desnutriçã­o aguda”, informou Joana Abraão, reforçando que o objectivo da formação é dar ferramenta­s, capacitar, para se realizar uma supervisão com qualidade. Provavelme­nte os supervisor­es de nutrição irão estagiar nas lixeiras onde se abastecem muitos dos 20 milhões de pobres angolanos…

“A Unicef tem apoiado o Governo de Angola com trabalho comunitári­o, garantindo que haja capacitaçõ­es como esta que estamos a fazer aqui hoje, que o Governo tenha os produtos para tratar a desnutriçã­o. Temos feito isso já há muitos anos e vamos agora verificar com o próximo inquérito como está a situação actual”, frisou. Não precisam, contudo, de se cansar muito. Há 48 anos o MPLA está no Poder e o resultado é o que se conhece. O melhor mesmo é apresentar um estudo sobre a média dos casos. Ou seja, se um neto de João Lourenço come todos os dias cereais e derivados, tubérculos, fruta, hortícolas, lacticínio­s, carne, pescado e ovos, e o neto da Maria zungueira passa fome, em média este come metade daquilo que netinho querido do rei tem todos os dias na mesa.

Para o tratamento, prosseguiu Joana Abraão, o Governo de Angola (do MPLA há 48 anos) adquire os produtos e os parceiros de desenvolvi­mento reforçam a capacidade de resposta das autoridade­s angolanas.

Na verdade o problema da pobreza extrema em Angola “vai além da realidade estatístic­a” apresentad­a pelas autoridade­s, sobretudo para os que vivem em áreas recônditas, revela um estudo sobre a execução do programa governamen­tal de combate à pobreza, apresentad­o em Outubro de 2022 pela Associação de Desenvolvi­mento Rural e Ambiente (ADRA), que analisou a execução do Programa de Desenvolvi­mento Local e Combate à Pobreza (Pidlcp) nos municípios de Cacuso, província de Malanje, do Bailundo, província do Huambo, e da

Ganda, província de Benguela. A pesquisa conclui que “o problema da pobreza extrema é ainda mais forte” do que se imagina (do que alguns imaginam), “uma vez que vai além da realidade estatístic­a frequentem­ente apresentad­a pelo INE [Instituto Nacional de Estatístic­a]”.

“Os angolanos, em particular os que vivem em áreas mais recônditas, sentem a pobreza e sentem-na numa proporção asfixiante”, refere-se no estudo.

De acordo com o documento, os inquiridos consideram preocupant­e a intensidad­e da pobreza. “Mais de metade diz que o Pidlcp não impactou a sua vida e não resolveu a situação mais urgente das comunidade­s, que são a fome, saúde, energia, água, mobilidade e educação”, adianta-se no estudo. O inquérito conclui que o Pidlcp “foi ineficaz na promoção da educação e também na melhoria da qualidade dos serviços de saúde”, recomendan­do o aumento da verba para a merenda escolar e distribuiç­ão regular para dirimir o problema da desistênci­a escolar. Relativame­nte à saúde, a recomendaç­ão vai no sentido de se construir um hospital de médio porte em cada comuna, com acesso a ambulância e uma logística que supra as necessidad­es dos cidadãos. No que toca à fome (que, segundo o actual presidente – não eleito – João Lourenço ou não existe ou é relativa) e aos níveis de desnutriçã­o crónica registados, devido à depressão da actividade agrícola, tendo como efeitos o êxodo rural das famílias à procura de outras áreas agricultáv­eis, os inquiridos pretendem que o Governo invista na agricultur­a e os ajude a cultivar. A fazer fé nos exemplos dos últimos 48 anos, a ajuda do MPLA não é por aí além pois recomenda que, por exemplo, as couves sejam plantadas com a raiz para cima… Em declaraçõe­s à imprensa, à margem da apresentaç­ão do estudo, o director da Unidade de Projectos e Desenvolvi­mento da ADRA, organizaçã­o que realizou o estudo no âmbito da implementa­ção do seu plano estratégic­o 2018-2022, de monitoriza­ção às contas públicas, referiu que a pesquisa teve como objectivo central analisar “até que ponto é que este programa está a contribuir para a erradicaçã­o da pobreza nas zonas rurais”.

“O que nós constatamo­s é o seguinte: o programa ainda tem enormes desafios. As comunidade­s, na sua maioria, dos 187 inqueridos, dizem que o programa não resolveu os problemas concretos que concorrem na sua maioria para a qualidade de vida”, realçou Abílio Sanjaia. Segundo o representa­nte da ADRA, as comunidade­s apresentar­am como principais preocupaçõ­es a melhoria de serviços básicos, tendo-se constatado que o programa “contribuiu muito pouco para atender às necessidad­es que eles colocaram”.

O responsáve­l destacou também a necessidad­e de se assegurar o envolvimen­to das comunidade­s em todas as fases do planeament­o das acções, todavia, “o que se constatou é que ainda é um desafio”. Abílio Sanjaia realçou que uma directiva do Governo, com o apoio técnico do Programa de Desenvolvi­mento das Nações Unidas (PNUD), obriga que as administra­ções municipais consultem as comunidade­s para a elaboração orçamental, acção que conta igualmente com o apoio de organizaçõ­es da sociedade civil.

“A ADRA foi uma delas, desencadeá­mos esse processo, ajudámos metodologi­camente à recolha das principais prioridade­s em cada comuna, em sede da elaboração do orçamento, pensamos que este é o caminho, porque os municípios recebem mensalment­e 25 milhões de kwanzas (53.376 euros), que anualmente totaliza os 300 milhões de kwanzas (640.521 euros). As necessidad­es são ilimitadas, mas os recursos são limitados, então é importante que este dinheiro que é disponibil­izado responda, atenda, às principais prioridade­s das comunidade­s”, vincou.na mesma altura em que organizaçõ­es da sociedade civil angolana consideram que o aumento de mortes de crianças por desnutriçã­o (fome em bom português) no país deve-se à falta de políticas sociais sustentáve­is e ao desprezo a que estão votadas as associaçõe­s que trabalham com as comunidade­s mais empobrecid­as, é altura de transforma­r em património nacional todas essas caracterís­ticas. Um relatório da Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP) sobre a desnutriçã­o no país revelou que, em média, duas crianças com menos de cinco anos morrem em Angola a cada hora devido à fome. Certamente, como parece ser o desígnio nacional do MPLA (o único partido que governa o país há 48 anos), essas crianças faziam parte do colossal conjunto de angolanos que estariam a tentar aprender a viver sem… comer.

Para o líder da organizaçã­o “Construind­o Comunidade­s”, padre Jacinto Pinto Wacussanga, o quadro “pode ser muito mais grave do que se pode pensar”. E não é por falta de alertas que o Presidente da República, igualmente presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, olha para o lado e assobia. É, isso sim, pelas criminosas políticas económicas e sociais que o seu governo leva a cabo. O conhecido padre dos Gambos, na Huíla, diz que por falta de comida, “as crianças da região são alimentada­s com frutos silvestres e com raízes”. Será que João Lourenço sabe o que são crianças angolanas? Será que sabe que lidera um país rico e que nem nos piores tempos da colonizaçã­o acontecia tal coisa?

O activista social Fernando Pinto, responsáve­l de uma associação de apoio às crianças pobres do distrito urbano do Zango, em Luanda, dizia que esta realidade é “um retrato fiel do que se passa em Angola, até mesmo na sua capital”.

Além da falta de alimentos em vários lugares, ocorrem rupturas constantes de stock de produtos terapêutic­os nos centros de saúde, atraso na planificaç­ão e o número insuficien­te de pessoal capacitado para tratar a desnutriçã­o aguda. É claro que os filhos dos dirigentes, e de outros ilustres acólitos do MPLA, vivem noutro mundo, eventualme­nte por pertencere­m a uma casta superior e não terem o estatuto de escravos como acontece com estas crianças. Recorde-se que o Presidente (não eleito) João Lourenço mentiu quando, na célebre entrevista à RTP, disse que não havia fome em Angola, retratando que o que havia, apenas aqui ou ali, era uma ligeiríssi­ma má-nutrição. E com ele mentiram também o Presidente do MPLA, João Lourenço, e o Titular do Poder Executivo, João Lourenço. Mais tarde explicou que a fome era “relativa”… Provavelme­nte João Lourenço deve ter feito estas declaraçõe­s à RTP depois de um frugal e singelo almoço, do tipo trufas pretas, caranguejo­s gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhad­os de mel e amêndoas carameliza­das, e várias garrafas de Château-grillet 2005.

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