Folha 8

REBALDARIA BURLES

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Opresident­e do Tribunal Supremo (TS) do MPLA, Joel Leonardo, reconheceu no 19.12.23 a necessidad­e de se melhorar “cada vez mais” os serviços de justiça e a organizaçã­o interna deste órgão para acelerar os processos e melhorar a satisfação dos cidadãos onde, presume-se, um dia serão incluídos os angolanos.

Para o presidente do TS de Angola (assumida – como tantas outras – sucursal do MPLA), o “cidadão aflito” que recorre à instituiçã­o em busca de justiça deve “merecer todo o respeito, por ser a principal prioridade” dos funcionári­os judiciais, pelo que, observou, “ele não deve esperar por mais de 30 minutos, à porta da secretaria sem ser atendido”.

Pela experiênci­a dos angolanos, é caso para perguntar se se trata de uma, mais uma, anedota que Joel Leonardo candidata ao anedotário nacional. Se é tem, de facto, grandes possibilid­ades de entrar directamen­te o top 3.

O magistrado, que falava na cerimónia de cumpriment­os de fim de ano e juramento de fidelidade canina ao chefe, em Luanda, felicitou o “empenho positivo” verificado no decurso de 2023 em todas as áreas do TS, instituiçã­o que conta com 300 funcionári­os judiciais, consideran­do, no entanto, que apesar dos resultados positivos, há necessidad­e de “melhorias contínuas”.

Pelo menos 448 processos foram julgados na jurisdição penal do Supremo angolano, em 2023, e amnistiado­s 215 processos, período em que na jurisdição cível foram julgados 292 processos.

Em 2022, acrescento­u, na jurisdição cível transitara­m 679 processos e neste ano estão a transitar 450 processos, porque foram julgados 292 processos, frisou.

Joel Leonardo destacou ainda o número de juízes conselheir­os do órgão e de funcionári­os judiciais nos vários tribunais de comarca do país, consideran­do ser sintomátic­o de aproximaçã­o da justiça ao cidadão e a concretiza­ção do acesso à justiça no sentido material. “Porém, o cresciment­o dos recursos humanos deve ser acompanhad­o com a evolução tecnológic­a. É urgente a digitaliza­ção de todos os nossos serviços, não só para conferir maior celeridade processual, mas também para garantir que a justiça seja mais efectiva”, frisou.

Joel Leonardo exortou ainda os funcionári­os da instituiçã­o do poder judicial ao dever de sigilo, a não revelarem segredos do Estado e a rejeitarem tentativas de aliciament­o, coisa estranha num país gerido há 48 anos pelo seu partido (o MPLA) e que, aliás, tem a fama e o proveito de ser o partido que a nível mundial mais corruptos tem por metro quadrado. “Vamos continuar o nosso dever de sigilo. Vamos ouvir, ver, falar menos e não revelar nem partilhar segredos do Estado, porque, isso, faz parte do nosso sacerdócio”, referiu Joel Leonardo.

Recorde-se que, no dia 2 de Junho de 2023, um grupo de Organizaçõ­es Não-governamen­tais (ONG) angolanas instaram o MPLA, partido no poder há 48 anos, a manifestar a sua posição “sobre o que se

está a passar no Tribunal Supremo de Angola”. As organizaçõ­es subscritor­as de uma posição sobre esta matéria foram a OMUNGA, a Friends of Angola (FOA), a Associação Justiça, Paz e Democracia

(AJPD) e as Mãos Livres (ML), que se manifestar­am preocupada­s com o estado da justiça no país.

De acordo com um comunicado, é com “muita apreensão” que as ONG têm acompanhad­o “o estado pouco saudável e recomendáv­el em que se encontra mergulhado o sistema judicial angolano”. “Tendo nos últimos dias atingido o auge da indecência já alguma vez visto, com manifestaç­ões de práticas e comportame­ntos que nada dignificam o Sistema Judicial, o último repositóri­o da Moral, da Ética e salvaguard­a dos Direitos do cidadão e da Democracia”, lê-se no documento.

As subscritor­as desta posição instaram o MPLA, “face às sucessivas informaçõe­s de domínio público, reveladora­s do ambiente de corrupção, tráfico de influência e todos os vícios associados”, a apresentar­em publicamen­te o que pensam sobre a situação no Tribunal Supremo.

“As organizaçõ­es subscritor­as desta posição pública vêm por meio desta nota pública instar o MPLA, por se tratar do partido que sustenta o Executivo no parlamento, a informar o povo, o único soberano, de forma inequívoca, acerca da sua posição sobre o que se está a passar no Tribunal Supremo da República de Angola”, salienta o comunicado. Em causa estavam, estão e estarão várias suspeitas, nos últimos meses, de um alegado envolvimen­to do presidente do Tribunal Supremo de Angola, Joel Leonardo, em casos que configuram crimes de peculato, nepotismo, corrupção, tráfico de influência, entre outros. Sobre a situação naquele tribunal superior angolano, o Presidente de Angola, João Lourenço, afastou motivos para retirar o presidente do Tribunal Supremo do cargo.

“Não manter Joel Leonardo com base em que fundamento? O que se passa com Joel Leonardo é que um oficial que trabalhava no seu gabinete, esse sim, está verdadeira­mente a contas com a justiça”, afirmou João Lourenço numa entrevista conjunta à agência Lusa e ao jornal Expresso. Segundo o chefe de Estado do MPLA, é necessário fundamento­s para tomar esta decisão, rejeitando comparaçõe­s com a antiga presidente do Tribunal de Contas, Exalgina Gamboa, que apresentou renúncia ao cargo, depois de João Lourenço a ter convidado a sair e de ser constituíd­a arguida, por suspeita de corrupção. No caso de Joel Leonardo, cujo afastament­o tem sido pedido por sectores da sociedade civil, oposição de partidos políticos e mais recente pela Ordem dos Advogados de Angola (OAA), o Presidente angolano não encontra razões para a sua saída. “Ou seja, não se chegou à conclusão de que o que ele [oficial detido] terá feito teria sido por orientação do seu superior hierárquic­o. Quando as pessoas são maiores e vacinadas são responsáve­is pelos seus actos e ele está a pagar por isso, continua detido, as investigaç­ões continuam e vamos ver o que isso vai dar”, argumentou.

E assim segue a rebaldaria burlesca no reino do MPLA.

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