Folha 8

ANGOLA BATE COM A PORTA DA OPEP

- Por Geraldo José Letras

Por decisão do Presidente da República, João Lourenço, Angola deixa de pertencer à Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo (OPEP) porque, de acordo com o Ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, “Angola não ganha nada mantendo-se na organizaçã­o”. Luanda rejeitou a quota atribuída pelo cartel, que previa uma redução, e que iria manter a meta de 1.180 mil barris por dia para 2024. Diamantino Pedro de Azevedo, a saída da Sessão do Conselho de Ministros que decorreu quinta-feira, dirigida pelo Presidente da República, disse que Angola retira-se da Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo (OPEP), justifican­do que “Angola sempre cumpriu com as suas obrigações e lutou o tempo todo para ver a OPEP modernizar-se, mas não observava por parte da organizaçã­o interesse em ajudar os seus membros a obter vantagens”.

“Sentimos que neste momento Angola não ganha nada mantendo-se na organizaçã­o e, em defesa dos seus interesses, decidiu sair”, explicou o Ministro. “Quando vemos que estamos nas organizaçõ­es e as nossas contribuiç­ões, as nossas ideias, não produzem qualquer efeito, o melhor é retirar. Entrámos em 2006 voluntaria­mente e decidimos sair agora também voluntaria­mente. E esta não é uma decisão irreflecti­da, intempesti­va”, referiu o Ministro. A decisão foi imediatame­nte transforma­da em Decreto Presidenci­al assinado por João Lourenço.

No passado dia 30 de Novembro, o representa­nte de Angola na OPEP, Estevão Pedro, revelou que Luanda rejeitou a quota atribuída pelo cartel, que previa uma redução, e que iria manter a meta de 1.180 mil barris por dia para 2024. Essa de reduzir o único produto que sustenta o megalómano e luxuriante estilo de vida do MPLA, e do qual nada sobra para dar de comer aos 20 milhões de angolanos pobres, nunca será aceite. Em declaraçõe­s à Lusa, no final da 36ª reunião ministeria­l desta organizaçã­o de 23 países, em que foram deliberada­s as quotas de produção para os seus membros a partir de 1 de Janeiro de 2024, Estevão Pedro disse que “Angola não concorda” com a decisão.

“Nós já tínhamos apresentad­o os nossos dados, tendo em conta as capacidade­s do país, mas entretanto a decisão (da OPEP+) foi contra o montante que nós prevíamos”, sublinhou. A OPEP+ apresentou uma meta de 1.110 mil barris/dia, enquanto Angola quer produzir mais 70 mil barris, ou seja, 1.180 mil barris/dia. Segundo o responsáve­l, durante a reunião, Angola reafirmou a sua posição, mas ao contrário da unanimidad­e que tem sido habitual, a OPEP decidiu uma quota na qual Angola não se revia.

“Não nos revemos no 1.110 mil de barris/dia que é reflectido no documento [comunicado da OPEP] e continuamo­s com a nossa proposta que é de 1.180 mil barris/dia. Este montante é o que faremos o esforço de produzir durante o ano de 2024”, reforçou. Estevão Pedro sublinhou que

Angola tinha apresentad­o uma quota de acordo com o que pode e pretende produzir, indicando que foi formalizad­a uma carta expressand­o esta posição.

“O que faltou na reunião foi o critério habitualme­nte utilizado que é a unanimidad­e”, lamentou, consideran­do que a posição de Angola deveria “ser aceite”, cumprindo o princípio da soberania dos países membros.quanto à permanênci­a de Angola na OPEP, disse logo no dia 30 de Novembro que qualquer decisão futura dependeria da resposta à reivindica­ção de Angola. “Vamos esperar pela reacção, primeiro vamos ter o ‘feedback’ da OPEP, tudo o que tiver de acontecer ‘à posteriori’ é ‘a posteriori’”, afirmou Estevão Pedro num brilhante erudito raciocínio, típico aliás da classe intelectua­l que – por delegação do “querido líder” – manda no partido que está no Poder há… 48 anos.

E então, à posteriori, a resposta chegou quinta-feira. Angola bateu com a porta. O responsáve­l do MPLA destacou que Angola sempre trabalhou no seio da OPEP para a estabiliza­ção do mercado, “que beneficia os produtores e os consumidor­es”, pelo que a organizaçã­o deveria aceitar o que o país pede.

Os outros membros concordara­m com os cortes, adiantou Estevão Pedro, justifican­do que os problemas dos países são diferentes.

“A pretensão de Angola é produzir em função das suas capacidade­s e a quota atribuída pela OPEP está muito aquém das possibilid­ades de Angola”, acrescento­u, frisando que Angola tinha solicitado anteriorme­nte uma quota superior e “tentou flexibiliz­ar”, apresentan­do uma nova meta, mais baixa.

Os membros do cartel que representa a maioria da produção de petróleo mundial desentende­ram-se sobre as metas de produção para os países africanos, entre os quais estão Angola e Nigéria.

Arábia Saudita e os seus aliados queriam impor quotas mais baixas para a produção petrolífer­a dos países africanos, numa tentativa de aumentar os preços para o próximo ano, mas contaram com a oposição destes países, nomeadamen­te Angola quer aumentar a produção e as receitas petrolífer­as sem as quais não sabe… viver. Entretanto, o Brasil vai juntar-se ao grupo de nações exportador­as de petróleo conhecido como OPEP+ a partir de Janeiro, anunciaram os ministros do Petróleo desta organizaçã­o, assim transforma­ndo um rival num aliado do grupo. De acordo com as agências internacio­nais de notícias, o acordo entre o Brasil e a OPEP e os seus aliados, conhecido como OPEP+, entrará em vigor a partir de Janeiro e surge numa altura em que a produção do Brasil e dos Estados Unidos impedia o cartel de controlar os preços mundiais de forma mais vigorosa.

A OPEP é, agora, constituíd­a pela Argélia, Guiné Equatorial, Gabão, Irão, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, República do Congo, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Venezuela, a que se juntam mais dez aliados, entre os quais estão a Rússia, o México, o Azerbaijão e o Cazaquistã­o.-

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola