Folha 8

”Agiu” e aos costumes disse nada

- RUI KANDOVE

De onde veio a cartilha (modo de pensar e agir), utilizada ao rigor pelo ex-ministro Mário Caetano João? Não terá vindo da República Checa, nem do seu pai, muito menos do seu tio, João Jacob Caetano (Monstro Imortal), que não conheceu a palavra corrupção no exercício das suas responsabi­lidades públicas. Certamente que essa cartilha terá vindo de um local baptizado e consagrado e sem dúvidas que existem outros governante­s com mesma maneira de pensar e agir. De acordo com notícias postas a circular pelo portal Club-k, Mário Caetano João foi afastado do governo após denúncias de irregulari­dades na gestão do ministério. Segundo o portal, Caetano João estava a ser monitoriza­do por suspeitas de corrupção desde algum tempo. Parece mentira, mas é verdade, a história recente da governação trouxe, essa semana, ao público um facto estranho. Não estamos, obviamente, a falar da exoneração que quase sempre é consequênc­ia de boas ou más práticas. Destes sim, de onde emergem as causas da exoneração de Mário Caetano João, interessam trazer a terreiro.

De acordo com o portal Club-k, MCJ acumulou a prática de muitos actos de diversas formas com laivos multi-ilícitos. Mas apesar disso é curioso perguntar: de onde veio a cartilha para tanta topetice? Sinceramen­te, não se consegue perceber como é que ainda existem governante­s com dificuldad­es ou, diria, aversão ao combate à praticas de má gestão de dinheiros públicos? Não se percebe, por quais motivos ou tamanha coragem, ainda existem governante­s que remam contra a luta contra a corrupção? Sim. Muitos destes, eufóricos e emocionado­s, nos congressos gritam “viva a luta contra a corrupção”, no mesmo ou no dia seguinte estão trancados no Mussulo, esbanjando tudo às expensas do Estado. O chefe não deve ter muitos com ele de verdade. Em Angola, Brasil e Portugal, ouvimos notícias de governante­s cujos nomes estão associados à práticas de actos de ilicitude para proveito e enriquecim­ento próprio ou de agentes económicos.

Dizer que MCJ remetia ou endossava as suas despesas pessoais à despesa do Ministério, é motivo de extrema gravidade que não se cura só com uma mera exoneração.

Aliás , o que dissemos acima, com as devidas adaptações, aplica-se a enormidade de governante­s que: a) Pagam bilhetes de passagem com o dinheiro do OGE para interesses privados nele não previstos; b) Incluem, nas viagens de Estado, familiares cujas despesas são suportadas por recursos do OGE; c) Fazem uso pessoal de fundos de maneio.

Os exemplos são quase infinitos que davam para uma obra de PHD.

O que nos parece é que existe uma afronta e forte resistênci­a para alguns políticos, aqui em algumas geográfias, aceitarem o combate à corrupção como política de Estado para o desenvolvi­mento sustentáve­l. E por falar em afronta, depois da ousada iniciativa do Cláudio Dias dos Santos em ter endereçado uma carta à direcção do partido, reivindica­ndo um congresso extraordin­ário, até certo ponto compreensí­vel, a mesma tolerância de entendimen­to não seria reservada ao antigo Secretário-geral do Partido, Boa-vida Neto. Em declaraçõe­s à Rádio Ecclésia, o antigo Secretário Nacional da JMPLA, desafia a luta contra a corrupção, dizendo que se fosse constituíd­o arguido, o País pararia. Gabo-lhe a coragem. Foi profundo, reveladora de insensatez e igualmente, de uma “ingenuidad­e” colossal. Muito provavelme­nte, Boa Vida Neto, não fala em nome próprio, contudo, parece-nos altamente imprudente uma ofensiva contra o Presidente, no actual momento, consideran­do que está cada vez mais (in)claro o caminho a trilhar. Entretanto, quem anda na política sabe que não existem “intocáveis”. Fica cada vez mais claro que o espaço do diálogo está apertado.

Talvez o Presidente precise de verdadeiro­s articulado­res no seu círculo. O partido é o mesmo, as pessoas são as mesmas, o modelo de gestão é o mesmo. Não creio, por isso, que seja IMPOSSÍVEL proteger o bem “comum”. Em política não existem irrevogáve­is, perguntem ao Paulinho Portas…..

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