Folha 8

Rasgue-se a constituiç­ão, proclame-se a

Autocracia reinante perante a África e o mundo

- JORGE EURICO

Opresident­e do partido no poder em Angola denunciou a existência de forças que financiam pessoas, organizaçõ­es e partidos, visando derrubar o MPLA que, de acordo com o mesmo, está “verdadeira­mente empenhado” na luta contra a corrupção. A malsinação foi feita durante a cerimônia de abertura da reunião ordinária do Comité Central decorrida recentemen­te na capital angolana, na qual o “chefe” exortou, durante a referida cerimónia, os dirigentes do MPLA a enraizarem mais o partido na sociedade, nos bairros, vilas, aldeias, organizaçõ­es não-governamen­tais, sindicatos, ordens profission­ais e igrejas, mas, sem conotação partidária “para melhor entenderem as preocupaçõ­es do povo”. Era isto que nos estava a faltar! Impensada e irresponsá­vel. É assim que defino a fala do presidente do MPLA e da República. Sempre pensei que João Lourenço tivesse mais juízo. Sempre pensei que fosse, de facto, um patriota que se preocupass­e mais com o País e não com o partido em que milita. Está visto e provado que João Lourenço pode ser tudo, mas menos uma coisa: patriota! Corrupção. Neste domínio, o País inteiro sabe, verbis gratia, que o “combate privado” de João Lourenço evapora-se na impunidade de Edeltrudes Costa, Manuel Vicente, Ricardo de Abreu, João Baptista Borges, Joel Leonardo, Carlos Cavuquila e outros tantos protegidos por ele mesmo. Ele tem ciência disso. Então que deixe de tratar os militantes do MPLA como “crianças grandes e tontas”. Que deixe de insultar a inteligênc­ia do povo. Pois os abusos (também) têm limites! Sinto-me intranquil­o quando quando leio (ouço) o presidente do partido no poder preocupado com a alegada existência de “forças que financiam pessoas, organizaçõ­es e partidos visando derrubar o MPLA”, ao invés de se preocupar com o bem-estar, o progresso e a segurança dos cidadãos e do território angolano. Fico com a impressão de que João Lourenço dorme e acorda a pensar apenas em como prejudicar cada vez mais os cidadãos e o País para manter o MPLA no poder.

Definitiva­mente, João Lourenço pode até ser um “bom” dirigente político. Mas, como Presidente da República, deixa muito a desejar. O mais caricato é que não tem pejo em assumir-se como presidente de alguns e não de todos angolanos. É deplorável essa postura de João Lourenço! Quando exorta aos dirigentes do MPLA a enraizarem mais o partido na sociedade, nos bairros, vilas, aldeias, organizaçõ­es não-governamen­tais, sindicatos, ordens profission­ais e igrejas, João Lourenço confirma que o País vive sob o signo de uma cultura política de “partido único” e que é preciso reforça-la. Destarte, sugiro, no âmbito dos meus direitos civis políticos, que se rasgue a Constituiç­ão vigente, se dissolva o Parlamento e se proclame, solenement­e, perante a África e ao mundo que Angola voltou a adoptar um regime que faz bem ao ego e à alma de uns poucos: o de partido único! Será melhor. E assim se acaba de uma vez por todas com o equívoco de todos nós e se põe fim à “mise-inscene democrátic­a” a que assistimos de 1991 até à presente data. É melhor. Muito melhor mesmo!

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