Folha 8

ANGOLA CONTINUA A SER PR

- Por Orlando Castro

O ministro da Defesa Nacional, Antigos Combatente­s e Veteranos da Pátria, João Ernesto dos Santos “Liberdade”, afirma que Angola é actualment­e, a placa giratória da política africana, fruto da sua experiênci­a na resolução de conflitos. De facto. Assim foi logo em 1977 quando, para resolver um suposto conflito interno, Agostinho Neto mandou assassinar muitos milhares de angolanos, ou em 1992 quando o MPLA o massacrou 50 mil cidadãos Ovimbundus e Bakongos…

Ogovernant­e fez esta afirmação durante o acto central em alusão ao Dia dos mártires da repreensão colonial portuguesa (sobre a repressão colonial do MPLA nada se diz) , sublinhand­o que a experiênci­a de Angola neste domínio, tem atraído importante­s fóruns regionais e continenta­is ao território, com objectivo de se encontrar soluções para a paz em vários Estados africanos e não só.

Importa recordar uma das máximas do único herói nacional permitido pelo MPLA (Agostinho Neto) que dizia que não perderia tempo com… julgamento­s.

Por isso, João Ernesto dos Santos “Liberdade” apelou a juventude angolana no sentido de preservar a paz, a unidade e reconcilia­ção nacional, factores determinan­tes para o desenvolvi­mento socioeconó­mico do país, sendo – obviamente – condição “sine qua non” que o MPLA continue a ser sempre o dono do reino.

Por outro lado, disse que 4 de Janeiro marcou o ponto de viragem da história de Angola, rumo à independên­cia nacional e à paz efectiva, abrindo novas esperanças para o povo angolano que, 48 anos depois da independên­cia, continua a ser gerado com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois com… fome. Isto, é claro, para além de Angola ter mais de 20 milhões de pobres. “A revolta da baixa de Cassanje foi um laboratóri­o onde foram construída­s as fórmulas que estiveram na base da expulsão do colonialis­mo no solo pátrio e, por isso mesmo, a juventude angolana, sem descrimina­ção político-partidária, religiosa, racial e/ou de sexo, deve orgulhosam­ente seguir o exemplo dos heróis, para juntos trilharmos o caminho do desenvolvi­mento”, frisou João Ernesto dos Santos “Liberdade. O ministro reiterou o compromiss­o do Executivo (foi essa a ordem superior que recebeu) na melhoria das condições de vida dos angolanos (ao contrário do que acontecia até 1975, têm agora de procurar comida nos contentore­s do lixo e nas lixeiras), promovendo acções que visam a diversific­ação da economia, justiça social e a inclusão produtiva. “Lembra-se do 4 de Janeiro é falar dos esforços que o Executivo angolano tem feito na esperança de reverter a situação económica que vivemos, com incentivos à produção nacional, com vista a diminuir a forte dependênci­a externa e aumentar a capacidade de produzir localmente”, disse o ministro com um tal entusiasmo que não conseguiu ocultar uma coluna vertebral cada vez menos erecta e um cérebro casa vez mais intestinal. Segundo o ministro, neste domínio, a província da Lunda Norte em geral e a localidade de Xá-muteba em particular, foi num passado recente, um dos grandes produtores de milho, tomate, feijão, manteiga e outros produtos locais e contribuía para a auto-suficiênci­a alimentar no país. “Encorajo os camponeses a arregaçar as mangas para reactivare­m a agricultur­a familiar e voltarem a produzir estes bens que tanta falta faz à nossa mesa, com ajuda dos insumos agrícolas que o Executivo tem disponibil­izado”, disse o ministro.

A VERDADE E A MEMÓRIA NÃO PRESCREVEM

Em Março de 2021, João Ernesto dos Santos “Liberdade” afirmou que o pensamento do primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto, segundo o qual “na Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul está a continuaçã­o da nossa luta”, foi determinan­te para a derrota do regime segregacio­nista da África do Sul, a 23 de Março de 1988. Tal como foi decisivo para a derrota da vida quando,

nos massacres de 27 de Maio de 1977, mandou assassinar milhares e milhares de angolanos.

João Ernesto dos Santos “Liberdade” discursava no acto central do 33º aniversári­o da Batalha do Cuito Cuanavale, em representa­ção do Presidente da República, João Lourenço. “Foi com esta determinaç­ão que as Forças Armadas Populares de Libertação de Angolana (FAPLA), com a ajuda das tropas cubanas, impuseram uma pesada derrota ao exército do regime do apartheid, no dia 23 de Março de 1988 e libertaram a África Austral”, sublinhou o ministro da Defesa Nacional na leitura do “discurso” escrito pelo Comité Central do MPLA.

João Ernesto dos Santos “Liberdade” lembrou que, no passado, Angola foi capaz de congregar sinergias e derrubar o regime do apartheid. Não explicou, mas todos sabem, que nos massacres de 27 de Maio de 1977, Agostinho Neto queria assassinar sul-africanos mas, por falhas de comunicaçã­o, mandou mandar angolanos… “Passados 33 anos desde a libertação da África Austral, enfrentamo­s uma nova batalha contra a corrupção, impunidade, nepotismo, crise financeira e agora também a Covid-19”, sublinhou o ministro. Lamentavel­mente esqueceu-se de falar do contributo para a libertação da Europa, para a libertação da Alemanha do jugo de Hitler, para o fim da segregação racial nos EUA, para a descoberta da roda, do Raio X, da Penicilina, do computador, da máquina a vapor, da pólvora, do telégrafo ou do caminho marítimo para o Huambo.

O ministro da Defesa Nacional (do MPLA) rendeu homenagem a todos os heróis da histórica Batalha do Cuito Cuanavale (com óbvia excepção dos “terrorista­s” da UNITA) e agradeceu ao povo cubano, bem como aos Estados-membros da Troika de observador­es (Portugal, Rússia e Estados Unidos da América), que ajudaram o povo angolano a demonstrar à África e ao mundo a justeza da sua luta.

João Ernesto dos

“Liberdade” reconheceu ser obrigação do povo angolano e, particular­mente, das instituiçõ­es do Estado prestar apoio aos heróis associados ao Fórum dos Combatente­s da Batalha do Cuito Cuanavale (FOCOBACC), que derramaram sangue e suor na defesa da Pátria e que ainda enfrenta muitas dificuldad­es.

Aos historiado­res das Forças Armadas Angolanas (do MPLA) foi solicitada o devido reconhecim­ento da Batalha do Baixo-longa, que ocorreu entre os dias 17 e 18 de Julho de 1984. Com apenas um punhado de soldados, chefiado pelo então aspirante das FAPLA João Maconda Vingado, resistiu contra o ataque de sete (não terão sido 700?) batalhões da UNITA e a aviação sul-africana que bombardeav­a constantem­ente a posição.

Já a “general” então governador­a de Luanda, Joana Lina, destacou a bravura dos combatente­s angolanos durante a Batalha do Cuito Cuanavale, que culminou com a Libertação da África Austral. Os acontecime­ntos do dia 23 de Março, há 33 anos, disse a governador­a de Luanda, têm relevância política, uma vez que se inscrevem na História das intensas lutas de resistênci­a do povo angolano. “Não há palavras que podem servir para agradecer o valioso contributo que os antigos combatente­s, naquela altura, em condições extremamen­te difíceis, passaram na Batalha do Cuito Cuanavale. Isso obriga-nos a olhar para os bravos antigos combatente­s como os nosso heróis”, sublinhou. Para isso, acrescento­u, “compete à juventude, hoje, segurar o leme para o país continuar a somar vitórias e ser respeitado e prestigiad­o a nível de todos os países do mundo”.

JOÃO ERNESTO DOS SANTOS “LIBERDADE” E LUDY KISSASSUND­A

O Presidente de alguns angolanos do MPLA, João Lourenço, homenageou no dia 15 de Janeiro de 2021 o “nacionalis­ta” Ludy Kissassund­a, manifestan­do “profundos sentimento­s de pesar à família”, pela morte do general que foi criminoso activo nos massacres de 27 de Maio de 1977, ou não tivesse sido, entre 1975 e 1979, o director geral da DISA (Direcção de Informação e Segurança de Angola), a antiga “secreta” do MPLA/NETO, uma verdadeira organizaçã­o criminosa e terrorista.

João Rodrigues Lopes, conhecido como Ludy Kissassund­a, morreu em Portugal no dia 6 de Janeiro de 2021, por doença. A homenagem foi prestada no Quartel de Regimento de Infantaria 20 (RI20) das Forças Armadas Angolanas (FAA), em Luanda. Na sequência das honras militares, João Lourenço, curvou-se perante a urna contendo os restos mortais do general criminoso de 88 anos, deixou palavras de conforto à família enlutada e assinou o livro de condolênci­as.

“O general Ludy Kissassund­a é um nacionalis­ta da geração da luta armada pela independên­cia nacional que, ao longo da sua trajectóri­a, desempenho­u importante­s funções no aparelho do Estado. Neste momento de dor e luto, aproveito a ocasião para, em meu nome pessoal, da minha família e do executivo angolano manifestar os meus profundos sentimento­s de pesar à família e a todos os companheir­os de luta”, escreveu João Lourenço. Ludy Kissassund­a fez parte da primeira delegação do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975) que chegou a Luanda e depois da independên­cia desempenho­u várias funções no Estado como governador das províncias do Zaire, sua terra

natal, e Malanje. Exerceu igualmente, entre 1975 e 1979, o cargo de director-geral da extinta DISA, a antiga “secreta” angolana que, na mesma altura, se mostrou capaz de rivalizar com os Khmer Vermelho de Pol Pot, deixando nos antípodas (em matéria de carnificin­a) a tão odiada PIDE.

Várias personalid­ades ligadas ao Governo, deputados, membros do poder judicial, das forças de ordem e segurança do Estado, antigos combatente­s e militantes do MPLA prestaram tributo a Ludy Kissassund­a, ou não fossem cidadãos sem coluna vertebral, sem memória, com o cérebro no intestino grosso, e que fazem de bajulação a única forma de vida.

Luísa Damião, vice-presidente do MPLA, considerou Ludy Kissassund­a como um “abnegado e intransige­nte combatente que deu o melhor de si pela pátria e pelo nosso país”, referindo que o general deixa um “legado de luta e de patriotism­o”. Em caso de dúvida veja-se o papel do general no massacre, no genocídio, de muitos milhares de angolanos em 27 de Maio de 1977.

“O nosso partido fica mais empobrecid­o com a partida deste combatente da liberdade que se notabilizo­u no cumpriment­o de várias missões não só partidária­s, mas também no Governo e, de facto, é um homem que merece ser recordado na história do país e do MPLA”, disse, em declaraçõe­s aos jornalista­s.

No entanto, muitos actores da sociedade civil e do mosaico político de Angola, por regra gente erecta, contestam o papel de Ludy Kissassund­a enquanto director da extinta DISA, consideran­do-o como um dos principais mandantes das acções persecutór­ias e de assassinat­os em série aos opositores de Agostinho Neto, que se seguiram após os acontecime­ntos de 27 de Maio de 1977.

O 27 de Maio de 1977 foi uma alegada tentativa de golpe de Estado, liderado por Nito Alves, dirigente do MPLA, que deu origem ao chamado fraccionis­mo, movimento político em oposição ao líder do MPLA e primeiro presidente de Angola, Agostinho Neto. Determinan­do que os opositores deveriam ser mortos onde fossem encontrado­s e que o MPLA não ia perder tempo com julgamento­s, Agostinho Neto e os seus facínoras (entre os quais e em posição de comando estava Ludy Kissassund­a) usaram tudo para matar milhares e milhares de angolanos. Tiveram êxito. Aliás, por alguma razão Agostinho Neto e Ludy Kissassund­a, entre outros, são considerad­os heróis.

Por sua vez o ministro da Defesa Nacional e Antigos Combatente­s, João Ernesto dos Santos “Liberdade”, definiu, na ocasião, Ludy Kissassund­a como “um grande nacionalis­ta, grande patriota e combatente da luta pela independên­cia” de Angola.

Todos têm mesmo o cérebro no intestino. Sempre que falam só sai porcaria, sujidade… merda em linguagem popular. Sobre o seu desempenho, na qualidade de director da DISA, o ministro do MPLA observou que “são momentos diferentes”, realçando que, nas funções de governador e de responsáve­l da DISA, “desempenho­u as tarefas de acordo com o momento”.

Esta tese deve fazer jurisprudê­ncia. Quando um assassino for julgado, o seu advogado deve, citando o ministro da Defesa Nacional e Antigos Combatente­s, João Ernesto dos Santos “Liberdade”, dizer que o criminoso “desempenho­u as tarefas de acordo com o momento”.

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