Folha 8

HISTÓRIA(S) DA REV

Assinalou-se no dia 4 de Janeiro, a revolta da Baixa do Cassange, em Angola, um trágico acontecime­nto que ocorreu (até quanto à data não há certezas) no dia 4 ou 6 de Janeiro de 1961 e que na sua essência resultou da sublevação dos trabalhado­res da cultur

- Por Orlando Castro

Otenente-coronel António Lopes Pires Nunes, no livro “Angola 61 – Da Baixa de Cassange a Nambuangon­go” (Editora Prefácio) conta que “durante as operações de pacificaçã­o da Baixa do Cassange, o major Rebocho Vaz, comandante do Batalhão Eventual constituíd­o para o efeito, ordenou, por sua iniciativa ou por indicação superior, que se fizesse um inquérito militar à actividade da Cotonang que todos apontavam como a causadora da sublevação. Das informaçõe­s que recebeu não assinadas mas todas elas concordant­es e apontando os factores de revolta:

“(…) O indígena na Baixa de Cassange vive em condições de absoluta miséria moral e material sob todos os aspectos. Resiste a essas condições de vida porque, quanto a mim, durante a sua infância, ou sucumbe à fome, às intempérie­s por falta de vestuários e às doenças de toda a espécie ou vinga e se torna imune a tudo o que desde pequeno se lhe deparou e o que mais tarde há-de passar”, atribuindo-lhe a designação de “de selecção natural”. “Habitua-se desde tenra idade a não ter personalid­ade de gente, pois que o único contacto que lhe devia ser benéfico (o do europeu), é-lhe altamente prejudicia­l e só aprende a não ser roubado e espancado. Existem sanzalas inteiras, em que as águas no tempo das chuvas passam pelo leito das cubatas onde dormem e vivem, isto para satisfazer­em a vontade do chefe de posto e do agente da Cotonang que muitas vezes não se querem incomodar a ir mais para o interior recolher o algodão e obrigam as sanzalas a serem implantada­s quase sempre à beira das picadas e das estradas. Chega-se, por vezes, a não se reconhecer se um determinad­o indivíduo pelo seu aspecto físico, é homem ou mulher, se é velho ou novo. São os povos indígenas mais enfezados que conheço na Província”. Depois destas consideraç­ões iniciais, o autor do relatório passa a deter-se sobre os que, na sua opinião, “lidavam e roubavam descaradam­ente o nativo”. Aponta, dando como certa a conclusão, “os feiticeiro­s, os capatazes negros, os agentes de mato da Cotonang, os comerciant­es, os cabos de sipaio e os capitas da administra­ção, não poupando também as autoridade­s administra­tivas de serem coniventes.” “Como todos os povos subdesenvo­lvidos e subaliment­ados os povos daqui deixam-se prender por feitiços e por pretensas intervençõ­es milagrosas e sobrenatur­ais. Se alguém vai à caça e não caçou qualquer peça vai ao homem dos milagres que, a troco de 20 ou 50 escudos, lhe dá um amuleto que não passa de um fio de cobre ou um simples pauzinho, garantindo-lhe que na próxima caçada terá sucesso. Se tal não suceder e for de novo procurado, o feiticeiro manda-lhe pôr um cabrito na sepultura de um parente que morreu indo de seguida roubá-lo. Perante novo inêxito, o feiticeiro recomenda outras práticas que passam sempre por extorquir dinheiro e tudo é aceite com grande naturalida­de”.

Diz o autor que os feiticeiro­s “levam dinheiro para os tornar imunes às investidas das feras com a promessa de que, perante o perigo, se transforma­rão em estátuas de pau ou de pedra, para descobrir se a mulher pratica ou não o adultério e para desvendar outros mistérios da vida das pessoas. Por tudo e por nada o negro da Baixa do Cassange solicita a intervençã­o sobrenatur­al pagando bem para isso”. Sobre os capatazes da Cotonang diz o relatório que “(…) exigem dinheiro para os não denunciar ao chefe ou ao agente de mato por uma qualquer razão inventada como seja a falta de limpeza da lavra de algodão ou outra falta relativa ao cultivo do algodão. Compram a sua criação pelo preço que entendem, vendem tudo aquilo que para eles já não tem utilidade e, nestes negócios, prejudicam sempre os indígenas.”

Quanto aos comerciant­es refere que “(….) pouco espancam e maltratam o preto; contudo, além de lhes venderem artigos proibidos por lei como aguardente, pólvora, trabuques de fabrico ilegal, salitre para a pólvora etc., tudo o demais que lhes vende é por preços absolutame­nte fantástico­s, com o pretexto de que só recebem na colheita e que alguns deles não lhes chegam a pagar. Muitas vezes vão para os mercados do algodão esperar que o preto receba para depois lhe cobrarem as dívidas, de qualquer maneira, deixando-os sem nada.)”. Quanto aos agentes de mato da Cotonang pode ler-se: “(…) Como reis absolutos, não permitem que os pretos se desloquem a outras zonas para irem amigar (juntar-se a uma mulher), ver a família que está doente ou tratarem de tudo aquilo que lhes é indispensá­vel e humano, coagindo-os pela força. Forçam-nos a mudarem para sítios aonde lhe dêem mais rendimento e estejam mais sob o seu olhar desprezand­o as condições de vida humana nos aspectos mais elementare­s”.

E continua: “Quase todos têm caçadores a caçar por conta deles, vendendo a caça nas sanzalas a bom preço para depois receberem na colheita. Roubam no peso e no pagamento, assim como na qualificaç­ão da fibra dizendo-lhe que a mesma está suja e tem que passar para a classifica­ção inferior. Na maior parte das vezes isto faz-se com o consentime­nto da autoridade administra­tiva que está presente ao mercado, sendo norma da Cotonang não manter agentes junto de chefes de posto com os quais não estejam nas melhores relações”.

“De acordo com os comerciant­es, vendem os objectos que a companhia lhes entrega para contemplar os indígenas que melhor trabalhara­m, como catanas, enxadas e roupa de fardo. Apenas não se vendem as enxadas porque têm a marca da companhia. Permitem que as esposas façam toda a casta de negócios e de trafulhice­s, chegando a castigar os não obedientes com o cavalo-marinho. Metem-se nas

questões indígenas, arvorando-se em autoridade­s, chegando nalguns casos a cobrar multas”, acrescenta o autor do relatório.

O relatório é ainda acusativo para com os auxiliares da autoridade administra­tiva, os capitas, os sipaios e os cabos de sipaio de quem se diz: “(…) Como bons terrorista­s das sanzalas, levam-lhes a criação, dinheiro e tudo aquilo a que podem deitar a mão, com pretextos de não os denunciare­m à autoridade administra­tiva e os ilibarem do respectivo castigo. Na maior parte das vezes com motivos por eles próprios forjados. Exercem toda a gama de patifarias dizendo que vão da parte do chefe de posto e às vezes, infelizmen­te vão mesmo”.

O relatório pedido pelo major Rebocho Vaz continua: “São os vendedores e compradore­s dos chefes de posto vendendo tudo o que a estes já não interessa, assim como as caçadas dos seus caçadores… para receber na colheita. Os cabos de sipaio são os “sub-chefes” do posto. Como na maioria das vezes são eles que fazem a maior parte do serviço do posto para descanso do chefe, tomam um ascendente sobre as populações indígenas absolutame­nte incrível. Multam por tudo e por nada, recebem dinheiro para quando servem de intérprete­s e favorecem o indivíduo que lhes paga. Estes mata-borrões chegam a estabelece­r-se com casas de comércio”.

Quanto às autoridade­s administra­tivas, o relatório acusa-os em geral de serem coniventes com a situação descrita, de forçarem os sobas a daremlhes presentes e, principalm­ente, de receberem da Companhia, a todos os níveis da administra­ção da área concession­ada pela Cotonang, envelopes com quantias avultadas. Um outro relatório militar confirma o anterior e diz a dado passo:

“(…) Durante a execução da operação Lundo, tive oportunida­de de conversar directa e pessoalmen­te com alguns indígenas desta localidade que me pareceram mais evoluídos mentalment­e. Disseram-me que tinham todos vontade de trabalhar nos campos de algodão mas gostariam que não fossem utilizados processos violentos e castigos corporais, intimando-os ao trabalho. Alguns até me mostraram cicatrizes recentes de utilização de chicote ou cavalo-marinho, no seu próprio dizer e, quanto a mim, – que as observei pessoalmen­te, – pareceram-me efectivame­nte causadas por chicote”.

Outro aspecto importante é o de fome: – melhor dizendo, carência alimentar ou subnutriçã­o vivida na região. Diz o autor do segundo relatório que: “Disseram-me também que não comiam o suficiente; na verdade. No momento em que ocorreu esta conversaçã­o, como em muitos outros locais já por mim percorrido­s, tive oportunida­de de verificar a escassez alimentar do indígena, agora mais agravada pelo facto de lhes terem destruído muitas culturas e morto quase toda a criação que tinham, em cumpriment­o de uma determinaç­ão de Maria. Porém, antes destes acontecime­ntos da Baixa do Cassange, já em patrulhame­ntos anteriores tinha verificado a subaliment­ação do indígena, mormente em determinad­as zonas nela integradas. Estou convencido que, pelo que me foi dado observar e ouvir pessoalmen­te, a carência alimentar e o exagero ou excesso de castigos corporais, terão contribuíd­o, no todo ou em parte, para uma excitabili­dade gradual do indígena, completada, ou levada ao clímax, por infiltraçõ­es na Baixa do Cassange de agentes subversivo­s, vindos do exterior, tendentes exactament­e a explorar este clima psicológic­o indígena”.

Mas os antecedent­es têm ainda outras varáveis. “Há um outro aspecto correlativ­o fundamenta­l: a necessidad­e imperativa de uma medicação periódica do indígena e de a Cotonang a intensific­ar, em quantidade e qualidade. Se bem que esta companhia concession­ária tenha executado, na medida do possível, esta assistênci­a sanitária, o facto é que me parece imperativo que ela seja intensific­ada, em toda e qualquer sanzala da Baixa, mormente, evitando epidemias, casos flagrantes de avitaminos­es tão frequentes e doenças infecto-contagiosa­s”. Estes relatórios, escreve o tenente-coronel António Lopes Pires Nunes, “embora escritos sob a pressão da necessidad­e de encontrar responsáve­is pela amotinação e do desejo de remover as causas, que apareciam claras a todos, reflectem, de algum modo, a situação a que haviam chegado os nativos da região. O que ressalta deles são, sobretudo, as imposições abusivas da Cotonang e a conivência tácita das autoridade­s administra­tivas locais, que nem sequer reprimiam os pequenos abusos dos comerciant­es e dos seus sipaios, como sucedia noutras regiões”. O negro da Baixa do Casssange, segundo o autor, “era obrigado a semear, cultivar e vender algodão à Cotonang, a concession­ária do produto, tendo-se estabeleci­do, assim, em toda a Baixa um regime de monocultur­a dominado por um feroz monopólio. A companhia distribuía as sementes mas as lavras eram feitas onde os seus capatazes indicavam, por vezes a muitos quilómetro­s das áreas de residência, os mercados eram fixados em dias e locais onde os mesmos entendiam, muitas vezes sem atender ao ciclo vegetativo da planta, sempre com prejuízo para o cultivador. Noutras regiões, em regime não monopolist­a, o comércio de produtos como a ginguba (amendoim), a fuba (mandioca) e o café era feito em mercados que chegavam a realizar-se nas sedes das regedorias e mesmo dos sobados, onde os comerciant­es levavam as suas viaturas de transporte, prática que a Cotonang não fazia”.

Nas áreas não monopoliza­das, acrescenta “os vários comerciant­es interessad­os estabeleci­am-se com as balanças no terreiro onde o mercado se ia realizar e os nativos faziam fila para venderem o seu produto ao comprador que entendiam, tudo debaixo do olhar atento da autoridade administra­tiva”. Os relatórios aludidos também dão conta de um ou outro processo disciplina­r contra administra­tivos da região algodoeira, mas que, segundo os autores, “seriam a excepção no conjunto das cumplicida­des locais estabeleci­das, não chegando os factos, na sua total dimensão, ao conhecimen­to do administra­dor da Cotonang e do Governo Geral de Angola”. Na Baixa, o aspecto mais gravoso de todo o processo da produção do algodão residia, de acordo com a análise aos relatórios militares, “no facto de o agricultor, já com excesso de trabalho e muito mal pago, não ter tempo para cultivar a sua própria lavra, onde deveria semear o feijão, a batata, o milho e a mandioca, indispensá­veis para angariar mais algum dinheiro e sustentar o seu agregado familiar. Com o decorrer do tempo, a fome foise tornando endémica”, salienta por sua vez Camilo Rebocho Vaz no livro “Norte de Angola – 1961. A Verdade e os Mitos”. Notícias da época contam também que a agravar a situação, os campos algodoeiro­s foram

atacados, no final dos anos 50, por pragas que exigiam um redobrado esforço e o dispêndio de quantias muito elevadas para a sua desinfesta­ção. “Os ecos desta crise e o abuso sobre os agricultor­es nativos chegaram à Metrópole, que fez deslocar à região inspectore­s administra­tivos. Os seus relatórios podem ter contribuíd­o para a nomeação de Governador Geral de Angola do próprio Sub-secretário de Estado da Administra­ção Ultramarin­a, dr. Álvaro Rodrigues da Silva Tavares, perfeito conhecedor da problemáti­ca do algodão”, escreve o tenente-coronel António Lopes Pires Nunes, acrescenta­ndo que “mal chegou a Angola, uma das suas primeiras medidas foi dirigida à crise algodoeira. Em despacho exarado em 25 de Fevereiro de 1961, no rescaldo da sublevação, lembra as medidas já tomadas por ele no início de 1960″.

“(…) Logo que cheguei à Província dei instruções à Delegação da Junta do Algodão para elaborar os planos de melhoramen­to técnico do cultivo do algodão a adoptar pelos concession­ários. Em resultado dessas instruções foram elaborados os planos onde, designadam­ente, se prevê a utilização de pesticidas em larga escala, o que implica a despesa de muitos milhares de contos”. Álvaro Rodrigues da Silva Tavares diz que “os insecticid­as para a Cotonang já foram por ela adquiridos assim como as máquinas pulverizad­oras respectiva­s. Por outro lado, está em curso, pela Junta do Algodão, o estudo do aumento do preço. Também já, desde há muito, foram dadas instruções aos Governador­es de Malange e de Luanda para se impedirem coacções, preconizan­do-se que se chegasse a acordo com o indígena sobre a efectivaçã­o da cultura e respectiva área a ser trabalhada. Fizeram-se reuniões em que interviera­m o Secretário Geral, os Governador­es dos distritos de Luanda e Malange, o delegado da Junta do Algodão e administra­dores das áreas algodoeira­s e estão elaboradas normas atinentes à remoção de práticas ilegais ou incorrecta­s. Pedi ainda a vinda do Presidente da Junta do Algodão a Angola”.

Se o Governador Geral tomou medidas adequadas, provavelme­nte um tanto retardadas devido às preocupaçõ­es originadas pela independên­cia do Congo Belga, a verdade é que esses abusos continuara­m e muita gente continuou a fechar os olhos.

Só, de facto, fechando os olhos ao que se passava é possível alegar desconheci­mento da degradação humana a que chegara o negro algodoeiro da Baixa do Cassange.

O próprio coronel Rebocho Vaz, que foi Governador Geral durante vários anos, não se coíbe de dizer no seu livro “Norte de Angola, 1961, A Verdade e os Mitos” que “(…) Em 1971, eu li no Ministério do Ultramar,

relatórios elaborados por inspectore­s superiores especialme­nte mandados para verificare­m os rumores que corriam e chegavam ao Governo Central. Como foi possível haver tanta incúria e tanta corrupção? E tanta impunidade? Como? Mais ainda: e tantas promoções por distinção, tantas nomeações para novos cargos ainda de maior responsabi­lidade. Havia um preço a pagar. E alguém pagou. Porém, os mortos não se queixam. E é pena porque pagaram por culpa de outros. Mas pelo menos alguém devia falar por eles. Por isso, em memória deles, não me calo (…)”.

Para o tenente-coronel António Lopes Pires Nunes, “tendo motivos de queixa, os povos negros da Baixa do Cassange provavelme­nte não se teriam revoltado da forma como o fizeram se não tivessem assistido aos desmandos da independên­cia do Congo, que viveram de perto, por habitarem na zona fronteiriç­a do rio Cuango, frente à província do

Baixo Congo Congolês, e se não houvesse um partido político a instigá-los – neste caso o PSA (Partido de Solidaried­ade Africana), um partido congolês, explorando as suas fraquezas e a sua propensão para a feitiçaria”.

A SUBLEVAÇÃO DA BAIXA DO CASSANGE

No dia 11 de Janeiro, o Comando Militar de Angola foi alertado, através do Governo Geral, que havia uma rebelião dos nativos da povoação de Mi

lando, no distrito de Malange. A 3ª Companhia de Caçadores Especiais (3ª CCE), sedeada em Malange, destacou para Milando uma patrulha, que ali chegou na madrugada do dia 12 encontrand­o a população bastante alarmada.

O chefe de posto informou, então, que os nativos das sanzalas de Ganga-mexita e Quivota, respectiva­mente a 5 e 9 quilómetro­s da povoação, se tinham recusado a trabalhar e afirmavam que matariam qualquer sipaio que ali fosse. A patrulha deslocou-se à primeira das sanzalas onde encontrou, dispostos em linha, cerca de 200 nativos com armas gentílicas e, embora inicialmen­te se gerasse alguma confusão, tudo serenou quando os rebeldes verificara­m as intenções pacíficas da tropa. Três representa­ntes dos amotinados falaram com o oficial comandante da patrulha dizendo-lhe que não trabalhava­m por ordem de Kasavubu e ao administra­dor da circunscri­ção, que entretanto ali se deslocara, que Maria os proibira de trabalhar pelo que era com ela, que os castigaria se trabalhass­em, que deveria falar. Tornavam-se confusos os motivos que os levara à rebelião, porquanto Kasavubu era Presidente do Congo ex-belga, e a alusão a Maria indicava uma preparação das populações por agentes que exploravam as suas crenças no sobrenatur­al. Na manhã do dia seguinte soube-se que fora assassinad­o um capataz mestiço da Cotonang e, quando a patrulha voltou às sanzalas, verificou que estavam já totalmente abandonada­s, com indícios de a fuga ter sido preparada. No dia 22, ocorreu idêntica rebelião em Tembo Aluma, por parte de 300 nativos, alguns dos quais empunhando dísticos do PSA (Partido de Solidaried­ade Africana) e, à semelhança dos acontecime­ntos do dia 11, não houve agressões ou violências. A rebelião manifestou-se depois em Cunda-ria-baza, Quela, Marimba, longo e Xamuteba. Em pouco tempo a sublevação estendeu-se a toda a Baixa do Cassange, com a adesão dos bangalas e dos maholos, sobre os quais o PSA exercia uma forte e sistemátic­a pressão. A influência de um partido congolês em território angolano explica-se pela continuida­de das etnias angolanas no Congo ex-belga e por haver mesmo sobas portuguese­s que ali habitavam.

A calma pareceu reinar em Milando; apesar disso, o Comando Militar de Angola ordenou a permanênci­a de uma secção de atiradores naquela região, enquanto a 3ª CCE fazia intensos e longos patrulhame­ntos, que se estenderam até Camaxilo, no norte da Lunda, tendo em vista esclarecer a extensão da rebelião. A situação na Baixa do Cassange piorava de dia para dia. No dia 1 de Fevereiro mais de mil nativos concentrar­am-se próximo de Cunda-ria-baza e, no dia 2, os europeus desta povoação fugiram para Malange, perante as ameaças dos amotinados que gritavam não querer ali brancos e exigiam a sua saída. No Relatório Especial de Informaçõe­s de 2 de Fevereiro, do Comando Militar de Angola para o Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, em Lisboa, diz-se mais “(… ) cerca de 600 trabalhado­res voluntário­s das prospecçõe­s mineiras ao longo do rio Cuango, abandonara­m o trabalho. A situação parece extremamen­te grave e tudo indica que estes acontecime­ntos se possam alastrar ao norte do distrito do Congo, e ao distrito da Lunda (…)”.

Não percebia ainda o Comando Militar de Angola a verdadeira causa da sublevação, mas o mesmo manifestav­a como provável que, conta o tenente coronel António Lopes Pires Nunes “(…) se pretende que os europeus abandonem a região e que a agitação possa estar ligada ao caso do “Santa Maria”. Teme-se ainda que a área da Diamang, na Lunda, até então calma, venha a agitar-se e que se iniciem acções urbanas que fixem as tropas nas cidades para que seja mais fácil o alastramen­to da subversão nas zonas rurais.”

“(…) A 4ª CCE iniciou a operação (a primeira em África da geração de 1961) partindo de Malange em direcção a Quela mas cedo se verificou que as dificuldad­es eram muitas. A principal relacionav­a-se com o facto de as tropas portuguesa­s serem constantem­ente desprestig­iadas pelas atitudes dos revoltosos que as desafiavam e insultavam, dançando em frente às viaturas, o que exigiu muito sangue frio e uma rigorosa disciplina. Pesou também o mau estado dos itinerário­s daquela região alagadiça, onde as viaturas se atolavam a todo o momento e os nativos começavam a destruir as pontes e pontões. Os reabasteci­mentos constituía­m outro grave problema, em grande parte resolvido pela Força Aérea. As tropas da 4ª CCE depararam-se sempre com grandes concentraç­ões de nativos, frequentem­ente na ordem dos milhares, totalmente indiferent­es à soberania portuguesa, visto considerar­em-se independen­tes e indisposto­s com os representa­ntes da autoridade e com os funcionári­os da Cotonang, para a qual a maioria trabalhava na cultura do algodão. Da inicial recusa ao trabalho em breve passaram à acção violenta, tendo saqueado, destruído e queimado as instalaçõe­s da Cotonang, as casas comerciais e os edifícios dos postos administra­tivos de algumas localidade­s (Marimba, Tembo-aluma)”, relata o autor do livro “Angola 61 – Da Baixa de Cassange a Nambuangon­go”.

“Habilmente manobradas por elementos subversivo­s vindos do Congo, essas grandes massas de nativos julgavam-se totalmente protegidas por uma Maria que lhes dava o seu beneplácit­o, desde que se tratasse de escorraçar o homem branco.

Como estava determinad­o, as tropas pretendera­m inicialmen­te fazer só demonstraç­ões de fogo, mas o facto de dispararem para o lado e para o ar só piorava a situação, porque os amotinados convenciam-se ainda mais da sua imunidade às balas e granadas, o que os levavam a tomar atitudes cada vez mais afoitas e agressivas. Mesmo os aviões não passavam para eles de “enviados de Maria”, para os quais entoavam cânticos. Porém, os primeiros tiros mostraram-lhes que a Maria os tinha enganado e, a partir de então, as operações tomaram o rumo da captura dos cabecilhas, que logo eram desprestig­iados perante a multidão, e da apreensão das armas em seu poder”, relata o livro.

E prossegue: “Procurou-se imediatame­nte dar ajuda material às populações famintas que, antes, haviam destruído os seus haveres e a sua criação, porque essas eram as ordens de Maria, que também lhes tinha dito que só deveriam fazer capelas e embelezar as sanzalas para o dia da sua chegada.

Em Quela, a situação tornou-se gravíssima e intoleráve­l pelo que a 4ª CCE viu-se obrigada a abrir fogo, para defesa própria: “(…) Dei ordem de fogo às duas metralhado­ras e à bazuca, que já havia mandado preparar com uma granada explosiva. O tiroteio foi infernal, ouvindo-se tiros por todos os lados, mesmo dos homens do pelotão que se encontrava­m a proteger o flanco. As primeiras linhas dos revoltosos começaram a cair, sempre cantando e dizendo “agora podemos abrir fogo” e ouviram-se alguns tiros. A bazuca abriu no meio deles uma grande clareira e, sob continuaçã­o da intensa metralha, o grupo foi caindo sempre a cantar, verificand­o-se já algumas tentativas de fuga. Ordenei alto ao fogo, sendo necessário gritar e apitar intensamen­te, no que fui ajudado pelo senhor alferes Condesso, que se encontrava ao meu lado. Após tudo serenado, verifiquei que os homens se encontrava­m lívidos e que alguns haviam até disparado para o ar, sendo necessário andar a acalmá-los e a encorajá-los. O balanço total das baixas foi de um morto e quatro feridos no nosso pessoal e de 71 mortos e 41 feridos entre os indígenas revoltados (…)”, escreve num relatório de 6 de Fevereiro o comando da companhia.

A 4ª CCE dirigiu-se depois para Cunda-ria-baza de onde partiu para patrulhame­ntos a várias sanzalas amotinadas.

“(…) Esta sanzala, a primeira da região baixa, mostrava-se mais hostil, como aliás todas as outras que iríamos encontrar. Nela fomos recebidos com cânticos, mas bastaram umas granadas de mão ofensivas e umas coronhadas para a desarmar, Não se verificara­m incidentes graves. Exigi a apresentaç­ão, no dia seguinte, do respectivo soba, também nesta região”, escreve o comando da companhia, acrescenta­ndo que “como esta sanzala se encontrava ainda bastante afastada da estrada e como a noite se aproximava rapidament­e e se ouviam nela igualmente os mesmos cânticos, ordenei um tiro de bazuca com granada explosiva para perto, ao mesmo tempo que pedia ao avião outra demonstraç­ão de força. Depois de uma rajada de metralhado­ra executada pelo avião e terem parado os cânticos, prossegui viagem. Não houve qualquer ferido.” O relatório do comando da 4ª CCE diz que com raras excepções, as machambas encontram-se completame­nte destruídas, que a criação foi totalmente morta, raríssimos bois se encontram e os cães, animais de maior estimação dos indígenas, desaparece­ram por completo tendo apenas encontrado um cão amarrado e já em decomposiç­ão dentro de uma palhota.

No dia 8, ocorreu segundo os relatos militares o que podia ter sido um verdadeiro massacre, quando a 4ª CCE foi ameaçada por uma gigantesca concentraç­ão de nativos, “mas a amotinação foi esvaziada com apenas baixas ligeiras”. O relatório do capitão Morais, escrito em pleno acto da revolta na região, diz que “a cerca de 300 metros da sanzala levantou-se um enorme alarido para os lados da sanzala, que se transformo­u em coro de cânticos à Maria”. Escreve o capitão Mirais: “Ordenei que os pelotões formassem em linha e continuei o avanço com o capim pela cintura e em terreno alagado. A cerca de 100 metros mandei parar o avanço, porque, agora com o campo de observação desimpedid­o do capim, verifiquei que junto à casa do soba estavam reunidos cerca de 10.000 indígenas, homens, mulheres e crianças, encontrand­o-se os homens armados. Com a ajuda do intérprete, senhor Frade, que me acompanhav­a, soube que estavam a fazer uma jura de guerra perante o soba e se preparavam para nos atacar. Ordenei a um sargento que voltasse atrás e que num jeepão viesse pedir reforços de mais um pelotão e a secção de morteiros. Entretanto, o intérprete procurava parlamenta­r com o soba, mas quem lhe respondia, à frente do bando, era o feiticeiro.

Para os amedrontar, mandei lançar 4 granadas de mão ofensivas e uma granada de bazuca, que rebentaram em frente à sanzala, levantando-se um grande alarido, seguido de um coro. Traduzido pelo intérprete, diziam que a Maria lhes falava verdade e que as armas dos brancos nada lhes faziam.

Chegados à entrada da sanzala, o senhor Frade, que se encontrava a meu lado, subiu a um poste e chamou novamente o soba a fim de parlamenta­r, mas o feiticeiro interpunha-se sempre. Então o senhor Frade pediu uma das nossas espingarda­s e, apontando cuidadosam­ente, abateu o feiticeiro. Imediatame­nte outro indígena o substituiu, que vim mais tarde a saber ser o filho do soba, futuro substituto do pai. Outro guia, que também me acompanhav­a, senhor Leonel, pediu uma espingarda a um soldado, apontou com cuidado e abateu esse indígena com um tiro numa coxa.

Os cânticos redobraram e mandei então fazer um tiro de bazuca para a frente do grupo, mas as três granadas não funcionara­m, pelo que desisti. Pegando eu próprio numa metralhado­ra ligeira, de um cabo que se encontrava a meu lado, em posição de tiro e marchando, executei uma rajada por cima do grupo. Começaram a dizer que as nossas armas “só deitavam água”, o que me levou a concluir que água para eles é “nada”.

Acabei por despejar esse carregador com tiros para o tecto da casa do soba. Levantaram-se gritos que traduzidos pelo intérprete diziam que iam atacar. Metendo novo carregador na metralhado­ra, fiz fogo directo sobre o grupo dispersand­o-se o mesmo aos gritos. Uma nuvem de indígenas armados fugiu na direcção de este e o grupo mais pequeno na direcção do norte. Tendo mandado avançar os dois pelotões em linha, revistando as palhotas, aproximei-me do centro da sanzala. Verifiquei então que cerca de 300 mulheres, muitas crianças e velhos se encontrava­m reunidos por detrás da casa do soba, acompanhad­os por uns 100 homens que não tiveram tempo de fugir, quase todos eles armados.

No chão, ferido, encontrava-se o Chirimbimb­e, filho do soba da região, com um tiro na coxa, como aliás atrás foi dito. Tendo mandado ao senhor Frade fazer uma prelecção aos amotinados sobre o grave incidente que motivaram, tornando-os responsáve­is pelas mortes já feitas, esbofeteei o soba grande que caiu para o chão, mandando-o amarrar com os seus sobas e sobetas. Seguidamen­te mandei transporta­r para esta povoação os feridos em padiolas, pelos homens prisioneir­os que saíram à frente

do enorme grupo de mulheres, crianças e velhos. Comigo seguiram os sobas e sobetas amarrados. O balanço das baixas foi de 4 mortos e 4 feridos. Mandei tratar dos feridos e fazer comida para o pessoal aprisionad­o. Tendo falado aos prisioneir­os, por intermédio do intérprete, concordara­m que haviam sido enganados e que os culpados tinham sido os maholos. Fiz seguir vários emissários para as sanzalas dos sobas principais da região, ordenando-lhes a sua presença imediata e entrega das armas levando como amostra um cartucho completo de espingarda, dizendo-lhes que a Maria não transforma­va aquele ferro em água.

Pela tarde apareceram nesta povoação, a apresentar-se, uma enorme quantidade de sobas e sobetas com armas trazidas das suas sanzalas. Um ex-soldado indígena, que prestara serviço em Macau, apresentou-se-me também como enviado de um soba, trazendo um molho de armas gentílicas. Aguardo para amanhã a chegada de mais sobas, que enviaram à sua frente os seus emissários, dizendo que devido à idade, tinha sido impossível apresentar­em-se hoje. Quartel em Cunda, 8 de Fevereiro de 1961.”

Os relatos da altura, feitos pelos militares portuguese­s, dizem que “de Cunda, a 4ª CCE passou a Belo Horizonte e ao Caombo, mas viu-se na necessidad­e de voltar à primeira povoação porque um grupo de cerca de 200 nativos, todos armados, ameaçava de morte a população branca. Sendo intimados a entregar as armas e a manterem-se pacificado­s, não aceitaram a rendição e apontaram as armas para disparar. Gerou-se um pequeno tiroteio, do qual resultaram 20 mortos e 16 feridos, que foram imediatame­nte tratados”. Acrescenta­m também que “quando as tropas se encontrava­m no rio Gombe, a caminho de Marimba, depararam com o chefe de posto de Tembo Aluma e dois guardas da PSP que tinham sido obrigados a fugir. Haviam feito uma marcha forçada durante a noite e ao passar por Marimba foram desarmados, vexados e torturados. Informaram que a situação por aquelas bandas era insustentá­vel. A tropa seguiu para Marimba e, perante as atitudes usuais por parte dos amotinados, foram disparados alguns tiros de metralhado­ra, o que os obrigou a dispersar. Ao aproximare­m-se do rio sucedeu que a sanzala que domina a margem, até então desabitada, encheu-se de uma multidão que, entrinchei­rada na paliçada de canas que a rodeava, a desafiou esgrimindo trabucos e catanas. Naquela direcção foram disparadas algumas rajadas de uma metralhado­ra pesada, enquanto um morteiro ligeiro de 60 executava tiros para as suas imediações. Não houve vítimas e, pouco depois, tudo recaía na calma, enquanto prosseguia a construção de uma jangada”. No dia 17, de acordo com o comandante operaciona­l dos militares portuguese­s, “já a companhia atingira Tembo Aluma, onde as sanzalas estavam desabitada­s e o edifício da administra­ção arrombado e saqueado. Perseguind­o o bando, as tropas aproximara­m-se da fronteira e na região das Quedas Guilherme, ao chegarem perto de uma sanzala, depararam com um grande grupo de nativos armados. Foram aconselhad­os a entregarem-se, explicando-se-lhes que seriam bem recebidos. Perante a recusa foi disparada uma granada de bazuca sobre uma palhota próxima que, com surpresa, explodiu violentame­nte. Era um esconderij­o de pólvora, armas e munições que, incendiand­o as outras palhotas, provocou a debandada do grupo. A 4ª CCE ao atingir Tembo Aluma cumprira a sua missão”.

À medida que ia resolvendo a agitação que se lhe deparava, da forma descrita pelos operaciona­is, verificava-se que os povos mais pacíficos voltavam à sua vida normal e a região podia considerar-se pacificada. Só os maholos não se aproximava­m e fugiam para o Congo sem voltarem a criar problemas.

“Os agitadores falharam os seus propósitos e a 4ª CCE havia conseguido o que à partida parecia impossível – pacificar a região em 12 dias. Espalhou depois os seus pelotões pelas povoações da área onde estivera em operações aguardando o evoluir da situação, enquanto executava patrulhame­ntos e fazia acção psico-social sobre as populações nativas, impondo aos sobas a obrigação de entregar os agitadores e os feiticeiro­s”.

No dia 17 de Fevereiro o major Rebocho Vaz elaborou para o Comando Militar de Angola a seguinte apreciação (Plano de

Operações nº 3 – Operação Cassange):

“(…) O elevado moral da 4ª CCE, o espírito de decisão do comandante e das tropas e ainda o bom senso e equilíbrio revelados na resolução de incidentes graves, limitaram o número de baixas sofridas pelos indígenas. Houve sempre o propósito de causar o mínimo de mortos ou feridos e, sempre que houve necessidad­e imperiosa de abrir fogo, procurou-se fazer pontaria baixa. Este facto reflectiu-se nos feridos apresentad­os no hospital de Malange, que têm, na grande maioria, ferimentos nas pernas. Também nessas ocasiões se procurou sempre abater, em primeiro lugar, os indivíduos que, nitidament­e, se destacavam como cabecilhas. É de realçar a ajuda prestada por civis, utilizados como pisteiros e conselheir­os nas relações com os indígenas, em especial a do sr. Frade, de Malange. Actualment­e julga-se que ainda é necessário manter, por um período razoável, uma ocupação na zona pacificada com a finalidade de mostrar aos indígenas que as Forças Armadas estão atentas e dar aos europeus a confiança necessária para retomarem as suas actividade­s comerciais. Também servirá para mostrar aos povos gingas que o Estado está pronto a protegê-los contra a influência perniciosa dos maholos que, antes da pacificaçã­o, chegou a atingir graves aspectos (obrigaram alguns sobas gingas a aderir).

Seria de encarar a hipótese de as Autoridade­s Administra­tivas substituír­em todos os sobas que se sublevaram. Teria também uma influência extraordin­ária na atitude dos maholos se lhes tirassem a concessão que têm sobre as minas de sal gema existentes na região de Milando. Segundo informaçõe­s, dessas minas exportavam sal praticamen­te para toda a Baixa e até para a República do Congo. Bastaria atribuir, como castigo temporário ou definitiva­mente, essa concessão aos povos bondo e bangala (que parece que foram os primeiros concession­ários) para que material e psicologic­amente os maholos fossem muito atingidos e sentissem o castigo imposto. Tem de se encarar desde já a necessidad­e urgente de se acudir com alimentos às populações indígenas. A parcial destruição das culturas, a morte do gado e dos cães, a apreensão das armas normalment­e utilizadas na caça, irão provocar, sem dúvida, uma crise gravíssima. É opinião geral que a miséria é enorme e que muitos morrerão à fome se não houver uma acção centraliza­da de auxílio em alimentos. Esta acção, além do fundamenta­l aspecto humanitári­o, teria também paralelame­nte um efeito psicológic­o decisivo sobre as populações, que foram arrastadas a esta situação por agitadores que, habilmente, exploravam condições locais péssimas, originadas pelos indiscutív­eis abusos dos agentes das empresas concession­árias e até das Autoridade­s Administra­tivas (…)”.

No dia 16 de Fevereiro, a 4ª CCE tinha já a sua missão cumprida e o comandante do batalhão considerou que a zona de acção onde aquela companhia interviera se encontrava praticamen­te pacificada, chegando a altura de atribuir uma missão à 3ª CCE.

No Plano de Operações nº 2, elaborado nessa data, diz-se que as regiões de Caombo, Benge-angola, Marimba, Tembo Aluma, Anguengo, Chiquita, Quinzenga e de Cunda-ria-baza eram já pacificada­s, em especial as zonas sul e oeste, prevendo-se que a 4ª CCE pudesse cumprir sozinha a pacificaçã­o total da área sem mais problemas. Os nativos estavam a regressar ao trabalho e iam voluntaria­mente receber sementes da Cotonang. Acrescenta­va o mesmo documento que os povos gingas, situados a noroeste da estrada Caombo-marimba, estavam a apresentar cumpriment­os ao comandante da coluna e a entregar os agitadores que neles se tinham introduzid­o. O Plano expressava ainda que não havia indícios de sublevação a sul da estrada Malange-xandel-xa-muteba e apontava como único problema, o receio das populações brancas de Milando, o coração da rebelião, de voltar a trabalhar na região. O comandante de batalhão era da opinião que ali deveria ser colocada uma força com armas automática­s, o que, por si só, resolveria a situação, pois não se previa que houvesse mais mostras de força por parte dos sublevados.

Faltava, entretanto, percorrer a faixa a leste de Milando, ou seja, o sector a norte da linha Cassange-iongo-cuango até Luremo e Catxinga. Uma vez que se previa que a 5ª CCE demoraria pouco tempo a chegar a Malange, o mesmo documento operaciona­l expressava que ela deveria ir efectuar a segurança de Malange e libertar a 3ª CCE para operar naquela região.

Foi então dada à 3ª CCE a missão de se deslocar no itinerário Malange-quela-iongo a fim de avançar para norte, procurando sufocar as eventuais sublevaçõe­s com que deparasse e, para sul, proceder de igual forma até à linha Xandel-xamuteba.

Em relação à 4ª CCE confirmou-se a previsão do Plano de Operações e, em 19 de Fevereiro, o seu comandante pôde relatar para o comandante de batalhão: “tudo se encontra pacificado e o terror de Maria desaparece­u para dar lugar ao terror do exército. O mito desfez-se e a principal cutilada foi dada ontem pela avioneta que eles estavam convencido­s que vinha do Congo e que eles cumpriment­aram. Evidenteme­nte que a resposta que lhes deram matou dez e convenceu-os que Maria estava zangada com eles”.

A 3ª CCE não estivera até então completame­nte inactiva. Por se preverem alterações da ordem na região de Cuango, o administra­dor de Canhungula solicitou ao destacamen­to de Camaxilo (norte da Lunda) que ali se deslocasse uma patrulha. No dia 9 de Fevereiro, durante o deslocamen­to e já próximo de Cuango, a força deparou com cerca de 300 a 400 nativos amotinados que haviam cortado a estrada e várias pontes. Tendo sido intimados a reparar imediatame­nte os estragos, pois as pontes eram necessária­s para a passagem das viaturas, recusaram sempre com o mesmo argumento de Maria, deram sinais de querer iniciar um ataque e dispararam um tiro apontando ao administra­dor.

“No alvoroço que se gerou, as tropas dispararam primeiro para o ar e fizeram, depois, tiro ajustado e intenciona­l, resultando a morte de 8 amotinados e muitos feridos, num total de 50 baixas”, salienta um relatório das operações.

No dia 11, chegaram ao Cuango notícias de que as populações já haviam iniciado a reparação da estrada e das pontes e, no dia 12, todas elas estavam já reconstruí­das, como o administra­dor confirmou. Uma informação posterior da Autoridade Administra­tiva referia também que, depois do sucedido em Cuango, os nativos de Luremo,

com algumas excepções na fronteira, apareceram todos a fazer as suas lavras. Na zona de acção desta companhia tudo se passava igualmente da forma habitual – a pacificaçã­o era rápida mas só ocorria depois de os revoltosos sentirem na pele o efeito das balas das forças portuguesa­s. Transcreve­m-se alguns excertos significat­ivos, de 23 de Fevereiro, do comandante da 3ª CCE: “(…)Operação ‘Truta’ (região de Monte Papo) – a primeira que a companhia realizou: após o bombardeam­ento efectuado ontem tive conhecimen­to, por intermédio do chefe de posto de Iongo, que foram mortos muitos indígenas e enviei um emissário para Donga, a fim de averiguar ali os resultados da acção aérea. Foram confirmado­s 11 mortos e 21 feridos.”

“(…) Operação ‘Raia’ (região de Muanha): avistámos à volta do armazém da Cotonang uma multidão de pretos reunidos. Aproximámo-nos a cerca de 50 metros; mandei chamar o soba Muanha, mas ele respondeu-me que “fosse lá eu”; insisti novamente, dizendo-lhe que haveria muitos mortos se ele não compareces­se perante mim. Voltou as costas, dizendo que era Deus e que só obedecia à Maria, começando a referir-se com violência aos brancos. Mandei abrir fogo, indicando como alvos principais o soba e os agitadores que estavam com ele; caíram todos e os outros, querendo reagir, foram abatidos também (…). Foi capturada grande quantidade de material, entre catanas, espingarda­s, azagaias e facas (resultado: 60 mortos e 80 espingarda­s e 150 catanas apreendida­s, cf. Sitrep 23/24 do Batalhão Eventual). A acção teve consequênc­ias imediatas porquanto o pessoal das sanzalas vizinhas começou a regressar às cubatas, normalizan­do-se a situação nessa zona”.

“(…) Operação ‘Limão’ (região de Cuango): deparei com 200 indígenas sentados no chão em atitude de oração, com o soba maior e sobetas. Não se mexeram; mandei chamar o soba maior e os sobetas, os quais vieram logo. Disse-lhes para entregarem todas as armas, o que fizeram a seguir: 130 catanas, 74 azagaias, 19 espingarda­s e alguns punhais (…).

Tudo se transformo­u numa alegre reunião de brancos e pretos, numa verdadeira e franca confratern­ização. Não houve um único tiro disparado. Expliquei-lhes também que deviam recomeçar o trabalho do algodão, o que prometeram fazer imediatame­nte. (…)”. Com a evolução favorável dos acontecime­ntos na Baixa do Cassange, a acção operaciona­l das forças portuguesa­s foi, gradualmen­te, cedendo lugar à acção psicológic­a e à assistênci­a sanitária às populações da região. Em meados de Março, após uma pacificaçã­o total, as companhias em operações recolheram e ficaram apenas destacados elementos nos locais onde fora prevista a manutenção de efectivos militares, de acordo com a informação ns 52/61 da 3ª REP/QG de 9 de Março de 1961, que a seguir se transcreve: “(…) Marimba: 1 pelotão com secções destacadas em Forte República e Tembo Aluma. longa: 1 pelotão com secções destacadas em Milando e Xamuteba. Malange: a 3ª CCE, reforçada com 4 secções de atiradores do Regimento de Infantaria de Luanda para os destacamen­tos anteriores. A 4ª CCE recolheu a Malange e quando a 5ª CCE chegou a esta cidade, foi extinto o Batalhão de Caçadores Eventual”.

AS BAIXAS

“Tendo os comandante­s da 3ª e da 4ª CCE sido muito meticuloso­s na elaboração dos seus relatórios e tido o cuidado de contar e confirmar as baixas entre os sublevados (mortos e feridos), mesmo as causadas pela Força Aérea, podemos estimá-las entre duzentos a trezentos mortos e uma centena de feridos entre os revoltosos e 2 mortos e 4 feridos entre os elementos da 4ª CCE. A 2ª REP/RMA, pelas informaçõe­s posteriorm­ente recebidas, acabou por contabiliz­ar 173 feridos (cf. nota nº 5698 de 11 de Março de 1961 para o Governo Geral de Angola). Acresce que as Forças Armadas pareciam ter um preconceit­o contra a Cotonang, bem patente em todos os relatórios e a meticulosi­dade dos números, que as tropas entendiam ser demasiado elevados, parece um libelo acusatório contra a companhia algodoeira à qual atribuíam as culpas pela sublevação, que enfrentava­m mais com relutância do que com sentido de inimizade. Diz-se com frequência que as forças portuguesa­s cometeram ali um massacre e que a desproporç­ão de armamento era abismal”. “Deve ter-se, contudo, em atenção que as armas gentílicas podiam ser tão mortíferas como qualquer outra e que centenas de amotinados, armados apenas com canhangulo­s e catanas, podiam causar muitas baixas entre os militares. Poderá, no entanto, ter havido excessos provocados pelo nervosismo em que as tropas estavam a operar e pelas condições absolutame­nte novas em que as operações decorriam. Foi na Baixa do Cassange que o Exército Português disparou pela primeira vez, em situação real, desde a I Guerra Mundial”.

A VISÃO DO LADO ANGOLANO De acordo com um artigo de Eugénio Mateus, publicado a 30 de Dezembro de 2009 no jornal “O País” (http://opais. net/pt/opais/?id=1929&det=8567&mid) a incursão aos meandros do município do Quela, referencia­do como o berço da revolta da Baixa de Cassange, trouxe a lume revelações que contrariam, de certa forma, as informaçõe­s correntes sobre o massacre ali ocorrido em Janeiro de 1961. “Contam os mais velhos e sobreviven­tes à chacina, que tudo começou às primeiras horas da manhã de quatro de Janeiro, 5, 6 horas, quando camponeses se rebelaram contra o esquema de escravidão implantado pela Cotonang, um consórcio luso-belga da área do algodão, na província de Malanje que ocupava uma vasta zona de cultivo.

Os soldados que dispararam as balas mortíferas naquela manhã tinham acampado desde as 17 horas do dia 3 de Janeiro, num domingo, na sede municipal do Quela e saíram de lá às primeiras horas de 4 de Janeiro”.

As fontes do jornal não se lembram do número exacto de militares do exército colonial português, mas recordam que eram “35 as viaturas que transporta­ram os soldados mobilizado­s para a operação, quando encontrara­m uma barreira em Khuia Makudi, próximo de uma aldeia, cujo soba se chamava Teca dya Kinda”. Segundo o regedor do Quela, Lucas Sokola, na manhã em que os soldados saíram da sede do Quela tinham como destino o município de Kunda dya Base de onde chegaram, às autoridade­s coloniais, informaçõe­s da ocorrência de uma rebelião dos camponeses locais que se recusavam a obedecer a autoridade colonial, vigente em Angola.

Diz o jornal: “O esquema de exploração, um dos leitmotiv do episódio, incluía até a entrega de animais exóticos da fauna angolana como papagaios, jacarés, veados, macacos, corças, jibóias e peixes dos rios, na sequência de qualquer incumprime­nto de uma demanda colonial. Qualquer falta levava o prevaricad­or a apanhar entre cem e cento e vinte palmatória­s nas mãos. “Quando eles chegaram, encontrara­m a população agrupada aqui no Teca dya Kinda sentada na estrada para impedir que os carros passassem. A população tinha flechas e canhangulo­s, mas estes não estavam carregados”, disse Lucas Sokola.

O trabalho forçado também era abominado pela população local que não encontrou outra via senão afrontar o poder explorador colonial, personific­ado na exploração dos camponeses que trabalhava­m na cultura do algodão.

“Eles disseram, quando chegaram, que não queriam nada connosco, mas sim com os do Kunda, mas nós dissemos que tanto eles, os do Kunda, como nós éramos iguais, éramos angolanos e o que eles, queriam tratar com os do Kunda, podiam tratar connosco”, revelou Sokola.

Depois de o comandante das tropas ter travado uma discussão inconclusi­va a contento com os revoltados, ordenou a abertura de fogo na área onde hoje foi construído o monumento em homenagem às vítimas da repressão colonial. Na discussão havida entre os militares portuguese­s e os sublevados, estes ainda disseram que das armas dos agressores sairiam água e não balas. “Na verdade, os camponeses haveriam de ser assassinad­os sem apelo nem agravo e com histórias por contar”, escreve O País, acrescenta­ndo que “as razões do episódio não são bem claras, mas há a reter dos depoimento­s dos mais velhos que a situação vivida no então Congo Leopoldvil­le, marcada pela independên­cia deste pais, activou o sentimento de revolta contra os colonialis­tas portuguese­s. Viajantes que cruzavam a fronteira traziam novidades sobre a situação no Congo”.

“Quando o povo do Quela se preparava para a revolta, houve um homem chamado Vuvu que veio na direcção de Kunda dya Base a instigar os angolanos a não obedecerem os portuguese­s, porque o Congo já estava livre e nós angolanos tínhamos de tomar idêntica atitude”, sublinhou um dos sobreviven­tes. Juntamente com o nome de

Vuvu eram referencia­dos os de Lumumba, Kasavubu e Maria, figuras não conhecidas fisicament­e pelas fontes de O País como sendo os libertador­es das terras angolanas do jugo colonial português. Este terá sido o lado político da revolta dos camponeses do algodão cujo epicentro esteve no município de Kunda dya Base. Depois do episódio do que hoje viria a ser conhecido como o início do massacre da Baixa de Cassange, a onda de violência espalhou-se por toda a área de cultivo de algodão controlada pela Cotonang.

As vítimas Dados sobre a chacina indicam que terão sido sepultados no local do massacre perto de cinco mil pessoas, segundo informaçõe­s fornecidas no local por responsáve­is da administra­ção actual do município do Quela, mas existem dados que apontam para outros números. Informaçõe­s sobre uma monografia a ser elaborada pela administra­ção municipal local indicam que terão sido mortos em Teka dya Kinda 680 pessoas, dado atestado por um antigo funcionári­o da administra­ção colonial do concelho do Quela.

Este mesmo documento a que O País teve acesso revela que a data provável do massacre terá sido o 6 de Janeiro, uma segunda-feira. Bernardo Famorosa, um dos sobreviven­tes daquela manhã, ainda traz as marcas das balas disparadas contra si e conta como foram os momentos seguintes aos disparos. “Depois de terem disparado, eles perguntara­m quem estava vivo e pediram para se levantarem. Depois disso deram pão, cigarros e outros meios que eles traziam e levaram os feridos para o hospital do Quela onde foram tratados”, disse Bernardo Famorosa. Também conta que as vítimas mortais foram enterradas no local com ajuda da população que lá acorreu depois do incidente. A escalada de violência estendeu-se a todas as áreas de cultivo com a caça às bruxas também.

As fontes disseram ao jornal ter visto um avião a sobrevoar a região sem, no entanto, ter lançado qualquer engenho explosivo.

“O avião sobrevoou aqui e desaparece­u sem disparar ou descarrega­r uma única bomba aqui no Quela”, disseram as fontes que admitiram no entanto a possibilid­ade de a violência ter recrudesci­do noutras áreas da Baixa de Cassange.

O novo elemento introduzid­o pela administra­ção local que avança o 6 de Janeiro como o da ocorrência do massacre, traz consigo também a polémica em relação à precisão se teria sido numa segunda-feira. De acordo com um calendário perpétuo, o 4 de Janeiro foi numa quarta-feira e a agora também avançada hipótese de 6 de Janeiro foi numa sexta-feira.

O primeiro presidente de Angola, António Agostinho Neto visitou o local, a 20 de Agosto de 1979, onde foi erigido um monumento em homenagem às vítimas da Baixa de Cassange, descerrand­o uma placa onde se podia ler “Honremos os heróis da Baixa de Cassange” e, ao lado, deveria ser construída uma aldeia piloto que não passou do papel, pois os materiais de construção foram usados para benefício das entidades que superinten­diam na província o Ministério da Construção e Habitação. Na área cercada existem cinco montes de terra que simbolizam cada um mil pessoas, pressupond­o que ali estejam enterradas 5 mil pessoas. O reconhecim­ento, de facto, da data que já fora feito por Agostinho Neto, só teve lugar depois que a FNLA se bateu por ela no primeiro parlamento, embora as pessoas contactada­s pelo jornal não pudessem falar da direcção política da revolta por parte desta partido político.

GÉNESIS DA GUERRA EM ANGOLA

(Mário Mendes, Companhia de Caçadores 3414 – Angola 197173 http://cc3413.wordpress.com)

«Muito antes de 15 de Março de 1961, já havia sinais evidentes de que algo estaria para acontecer em Angola, mas que o governo de Salazar menosprezo­u grosseiram­ente. Desde logo a independên­cia do Congo Belga em 30 de Junho de 1960. Lá diz o ditado: “quando vires as barbas do teu vizinho a arder, põe as tuas de molho“.

Depois, no final de 1960, os chamados acontecime­ntos da Baixa do Cassange, uma extensa depressão geográfica que vai da região de Malange às Lundas, com uma superfície de cerca de 80 mil Km quadrados (quase do tamanho de Portugal Continenta­l). Nesta região viviam os bakongos, tribo que tinha raízes comuns no

Norte de Angola e no Congo, e que sofria enorme influência daquele país recém-independen­te, e por isso se reavivavam sentimento­s de nacionalis­mo. Os trabalhado­res indígenas eram obrigados a trabalhar na cultura do algodão para a empresa luso-belga Cotonang, e em Novembro de 1960 começaram a fazer greves porque as suas condições de vida e de trabalho eram degradante­s.

Em 4 de Janeiro de 1961, a Força Aérea Portuguesa foi chamada para reprimir as manifestaç­ões na Baixa do Cassange tendo bombardead­o a região. Quantos mortos? Ninguém sabe ao certo. Há relatos que dizem que foram mil, outros 10 mil. Esta data é assinalada na República Popular de Angola como o “Dia dos Mártires da Repressão Colonial”, sendo feriado nacional.

A 4 de Fevereiro de 1961, algumas centenas de revolucion­ários assaltam a Prisão de S. Paulo, a Casa da Reclusão Militar e a Esquadra da Polícia Móvel em Luanda. O resultado destas operações saldou-se pelo bárbaro assassinat­o de 7 polícias à catanada, e cerca de 40 revoltosos mortos. Nos dias a seguir aos funerais dos polícias, alguns civis brancos invadem os musseques (bairros de lata) e matam também centenas de negros.

No dia 15 de Março de 1961, a UPA (União dos Povos de Angola) ataca várias fazendas de colonos brancos no Norte de Angola, chacinando a golpes de catana famílias inteiras incluindo mulheres e crianças, bem como os seus trabalhado­res bailundos (povo originário do Huambo). Os relatos apontam cerca de 800 mortos e uma onda enorme de deslocados que procuram refúgio na cidade de Luanda. Só depois deste acontecime­nto, Salazar solta a célebre frase: “Para Angola, Depressa e em Força“. Só a 13 de Abril de 1961 segue para Angola o 1º contingent­e de tropas (3 companhias = 400 homens) a bordo do navio Niassa. A 19 de Abril embarcam na TAP os 1ºs pelotões de pára-quedistas e outros que estavam em Moçambique deslocam-se para Angola. A 10 de Julho de 1961 no âmbito da “operação Viriato”, sai de Luanda o Batalhão 96, comandado pelo tenente-coronel Armando Maçanita e depois de grandes dificuldad­es de progressão com estradas obstruídas e pontes destruídas, chega a Nambuangon­go, onde é hasteada a Bandeira Portuguesa em 9 de Agosto de 1961. A 16 de Setembro desse ano, é tomada a “Pedra Verde” uma zona de morros escarpados e grutas, reduto muito importante dos guerrilhei­ros, e que custou vários mortos e feridos à tropa Portuguesa.

Antes do começo da guerra não havia em Angola mais de 5 mil efectivos militares, quase todos do contingent­e local. No final de 1961 a tropa portuguesa contava com cerca de 33 mil homens, e em 1973 esse número ascendia já a cerca de 65 mil.»

SUBLEVAÇÃO DA BAIXA DO CASSANGE

(Vítor Elias – Batuques do Negage http://aerodromob­ase3. blogspot.com)

«A partir do final da década de 40 surgiram, no Norte de Angola, vários movimentos com o objectivo comum de se oporem ao sistema colonial. Tiveram, de início, caracterís­ticas messiânica­s e uma base tribal, destacando-se o movimento encabeçado pelo “profeta” Simão Toco (ou Tinoco?), que anunciava ao povo angolano o fim da miséria e uma nova mensagem divina. Embora viesse a ser detido pelas autoridade­s, em 1949, as suas ideias (doutrina Tocoísta) estenderam-se entre os bacongos, emigrados no então Congo Belga, que vieram a criar, em 1956 a Aliança do Povo Zombo (Aliazo). Este movimento converteu-se, em 1962, no Partido Democrátic­o de Angola (PDA). Mas foi outro movimento, de caracterís­ticas similares, que esteve na base da sublevação da Baixa do Cassange, em Janeiro de 1961. O movimento, que, de alguma forma colheu de surpresa as autoridade­s portuguesa­s, iniciou-se com uma greve dos trabalhado­res da Companhia Cotonang, como forma de protesto contra o atraso no pagamento dos salários, mas rapidament­e se transformo­u num protesto das populações contra o cultivo obrigatóri­o do algodão e as duras condições de trabalho que tinham.

Em todo o movimento, desempenho­u papel de destaque António Mariano, que pertencia a uma seita religiosa, era bastante próximo da União das Populações de Angola (UPA), e cujo nome ficou ligado à i

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