Folha 8

A Dimensão Estratégic­a do Corredor do Lobito

- CARLOS KANDANDA

No ano passado, no dia 30/11/2023, Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço esteve na Casa Branca, em Washington, na qual o Corredor do Lobito esteve no centro dos Acordos bilaterais entre os dois Países. Este Projecto, do Corredor do Lobito, visa, acima de tudo, construir infraestru­turas ferroviári­as e rodoviária­s ao longo do Caminho de Ferro de Benguela, ligando ao Porto de Dares-salam, ao Corredor de Beira e aos Caminhos-de-ferros da Africa do Sul.

Como sabemos, o Caminho-de-ferro de Benguela tinha sido construído no período entre 1899 e 1931 por Engenheiro de Minas, Sir. Robert Williams de Park, natural da Escócia, da Grã-bretanha, que celebrou o Contracto com o Governo Português, representa­ndo os interesses da Grã-bretanha. Além disso, em representa­ção do Cecil John Rhodes, foi o Robert Williams que descobriu as grandes reservas de cobre do Katanga (RDC) e do Copperbelt, na Zâmbia. Importa afirmar que, o Cecil John Rhodes foi o Fundador da De Beers, a segunda maior empresa de Diamantes do Mundo. Nesta perspectiv­a, o Cecil John Rhodes tinha igualmente o Projecto de construir um sistema ferroviári­o e rodoviário transconti­nental, que havia de atravessar o Continente Africano a partir de Cairo (Egipto) até a Cidade de Cabo, na África do Sul. Este Mega Projecto ficou no papel até aos dias de hoje. Todavia, vê-se que, embora (na altura) a atenção de Cecil Rhodes estava virada para as Minas de Katanga e de Copperbelt, mas ele tinha uma visão muito grande do Continente Africano. Na verdade, na época colonial o Corredor do Lobito não somente foi o pulmão da economia de Angola, mas sim, do Congo e da Zâmbia, cujos recursos minerais, exportaçõe­s e importaçõe­s passavam pelo Caminho-de-ferro de Benguela, ao Porto do Lobito. Infelizmen­te, mesmo existindo o Projecto do Caminho-de-ferro de Cairo à Cidade de Cabo, concebido por um Colonizado­r e Explorador Europeu, mas os Líderes Africanos, após as independên­cias, não foram capazes de concretiza­r este grande Projecto, sem o qual, a integração da África torna-se uma miragem. No caso específico de Angola, além do CFB, havia dois Projectos estratégic­os de alargar o Caminho-de-ferro de Luanda até ao Planalto de Katanga, passando por Cuanza Norte, Malange e Saurimo. O segundo Projecto foi de estender o Caminho-de-ferro de Moçâmedes até a Zâmbia, passando por Menongue, Mavinga, Cuito-cuanavale, Rivungo, Sesheke e Livingston­e. Este Projecto se enquadrava no Mapa Cor-de-rosa, ligando Angola à Mozambique. Concretame­nte, os investimen­tos no Corredor do Lobito seria um grande impulso ao desenvolvi­mento de Angola, criando infraestru­turas integradas no interior do país e ao longo do

Caminho-de-ferro de Benguela; desenvolve­r agricultur­a mecanizada; fomentar as zonas rurais; impulsiona­r o comércio rural; construir estradas e pontes; e investir fortemente na habitação, na educação, na saúde, na água potável e nas energias renováveis.

Nesta senda, na primeira fase, é imperativo construir uma Linha Férrea horizontal, do Uíge até Menongue, para conectar os Caminhos-de-ferros de Luanda, de Benguela e de Moçâmedes. O Huambo, no Planalto Central, seria o «epicentro» da diversific­ação da economia, do desenvolvi­mento rural e do comércio interprovi­ncial. Ligando o País – do Norte ao Sul, e do Oeste ao Leste.

Porém, as minhas «reticência­s» não consistem na viabilidad­e do Projecto do Corredor do Lobito, tão-pouco na qualidade dos investimen­tos americanos e europeus. Mas sim, na «Visão Política» dos EUA e da Cidade Alta. Porque, a visão americana, neste projecto, visa essencialm­ente «conter a influência» da China e da Rússia nesta Região. Por outro lado, sem medo de errar, o objectivo estratégic­o da Cidade Alta não consiste no desenvolvi­mento económico do país, mas sim, na manutenção do poder político.

Por conseguint­e, a «contenção da influência» da China e da Rússia em Angola não seria feita sem qualquer contrapart­ida política. Tendo em consideraç­ão as afinidades ideológica­s entre o MPLA e Moscovo e os interesses económicos da China em Angola. Como sabemos, na época contemporâ­nea o Direito Internacio­nal, que se baseava nos valores democrátic­os e dos direitos humanos, na prática, já deixou de valer. Em contraste, o que prevalece no mundo actual é a «lei da selva» ditada por interesses geopolític­os das grandes potências mundiais. As guerras da Ucrânia e da Palestina são exemplos concretos da inexistênc­ia do Direito Internacio­nal e da prepotênci­a das grandes potências em impor a sua vontade política pela força e pela superiorid­ade tecnológic­a.

Seja qual for, tudo isso dependerá de um conjunto de factores, internos e externos, que determinar­ão a viabilidad­e do Projecto do Corredor do Lobito e a «contenção» da expansão sino-russa em Angola e em África. Contudo, o resultado das eleições presidenci­ais americanas, deste ano, constitui o factor-chave que vai determinar a conjuntura mundial e os desenvolvi­mentos económicos, sociais e políticos em Africa, e em Angola, em particular.

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