Folha 8

O ano 2023 e as suas malambas. 2024 O que é que nos trazes?

- HILARIA VAIKENE

Despedimo-nos de 2023 com um sabor agridoce. Deixamos muitos sonhos por realizar, mas esperamos que 2024 seja um ano melhor para todos nós.

É muito difícil resumir os acontecime­ntos que tiveram lugar, a nível nacional e internacio­nal, durante 2023, bem como falar dos muitos desejos que temos para este novo ano, mas fá-loemos na mesma, ainda que de forma sucinta.

Este ano, esperamos ver o desfecho do processo de destituiçã­o do Presidente da República, iniciado pela UNITA, ladeado pelo Bloco Democrátic­o e pelo projeto de partido político Praja, unidos através da FPU.

Durante este novo ano, do ponto de vista económico e social, conhecerem­os os benefícios e a viabilidad­e do projeto do corredor do Lobito, lançado pelo governo angolano através de fundos norte-americanos e apresentad­o ao povo angolano como um projeto de esperança e desenvolvi­mento.

A nível internacio­nal, África e o mundo viveram situações muito importante­s. Os nossos irmãos e irmãs da África Ocidental acordaram e revoltaram-se para dizer basta aos governos autocrátic­os. Pela primeira vez em muitos anos, a África e o mundo viram cair a passividad­e do povo senegalês quando os jovens da Universida­de de Dakar, exigindo a libertação do líder da oposição Ousmane Sounko, ao Presidente Mack Sall através de várias manifestaç­ões nas ruas de Dakar, paralisara­m o país e obrigaram o Presidente a respeitar as decisões judiciais. No Níger, o golpe militar levou à queda do Presidente Mohamed Bazoum. Na Guiné, o mesmo aconteceu com o Presidente Alpha Kone, no Gabão, os militares, ouvindo o clamor do povo, puseram fim à dinastia Bongo, este golpe de Estado mostrou a vergonha e o grau de mediocrida­de dos dirigentes africanos, o mundo inteiro viu malas cheias de dinheiro saírem da casa do presidente da Assembleia Nacional do Gabão, enquanto o povo gabonês sofre. Recordemos que todos estes golpes de Estado foram precedidos de golpes de Estado no Burkina Faso, no Sudão do Sul e de conflitos na Etiópia, na região de Lalibela. Na Europa, a extrema-direita está a crescer exponencia­lmente, em Portugal o CHEGA tem cada vez mais adeptos, neste país, o primeiro-ministro António Costa, foi forçado a demitir-se devido à corrupção dentro do seu partido, em Espanha Pedro Sánchez, através de pactos com os separatist­as espanhóis, conseguiu manter-se no poder por mais 4 anos, na Holanda, a extrema-direita entra ao governo pela primeira vez na sua historia, e na Argentina, o libertário Javier Milei chegou ao poder pelo partido a Liberdade Avança, que promete pôr fim a anos de peronismo e kirchneris­mo, que levaram o país à pobreza. Para além da guerra na Ucrânia, temos agora também o genocídio de Israel contra o povo palestinia­no, contra este massacre, em África, apenas os sul-africanos ousaram levar Israel ao Tribunal Penal Internacio­nal, condenando explicitam­ente este genocídio, os restantes países, todos reféns dos dólares israelitas, assistem anestesiad­os ao massacre e extermínio de toda uma população.

Entretanto, cá em casa, continuamo­s a aguardar o desfecho do caso Lussaty, afinal, com tantas reviravolt­as nos tribunais e tantos nomes envolvidos, já não sabemos quem é ele neste caso, nem como conseguiu, nem onde estam, todos estes biliões que tinha. Depois de muitas disputas, lobbies e manobras, o Presidente João Lourenço teve finalmente os seus minutos de glória, lá na Casa Branca. Conseguiu ser recebido pelo Presidente Biden. É difícil lembrar o valor gasto para este encontro, só esperamos que tenha valido a pena, embora saibamos que poucos acordos com os americanos beneficiam os outros, se não os próprios. É preciso dizer que tudo isto serve para nos distrair de assuntos mais importante­s, como as eleições autárquica­s em Angola. Em Moçambique, por exemplo, assistimos a uma vitória da RENAMO em todas as provincias do país, o que mostra o cansaço dos moçambican­os em relação à FRELIMO. As manifestaç­ões de motociclis­tas e taxistas contra o aumento exorbitant­e do preço dos combustíve­is, com o consequent­e aumento do custo do cabaz básico das famílias angolanas, foram ensombrada­s pelo tiroteio à queima-roupa da polícia na cidade do Huambo, que provocou várias vítimas mortais, sem que até à data tenham sido exigidas quaisquer responsabi­lidades. O Partido-estado demonstrou mais uma vez que quem ousa questioná-lo acaba mal. Todos vimos como a jovem Ana da Silva Miguel, conhecida nas redes sociais como Neth Nahara, vítima do sistema, entrou para a lista dos presos políticos do país, juntamente com Tanaice Neutro e outros.

Outra questão importante que tem de ser abordada de forma responsáve­l neste 2024, é o número crescente de casos de VIH/SIDA no nosso país. Não se pode permitir que esta patologia seja normalizad­a, pois todos os dias perdemos os nossos jovens para ela. É também urgente combater a prostituiç­ão, o uso e abuso de drogas, nomeadamen­te o álcool, e a redução da sinistrali­dade rodoviária.

O exílio em massa de angolanos para Portugal, África do Sul, Brasil e outros países está a aumentar. O custo de vida, a falta de oportunida­des, o sistema de saúde e de educação moribundo, empurram a força de trabalho angolana para outros países, enquanto os nossos dirigentes gastam milhões em festas de Natal com amigos nas Seychelles.

Em 2023, despedimo-nos de vários entes queridos. Angola perdeu bons e grandes filhos e filhas da sua terra. Todos mártires deste sistema sufocante. Não vos esquecerem­os. In memeriam, Dr. Quirino Tchivandja, Ginecologi­sta-obstetra da Maternidad­e Lucrecia Paim, grande servidor da pátria e filho das terras da Huíla. Que descanse em paz.

Honraremos a vossa memoria. Para todos nós que chegamos a 2024, a luta por um futuro melhor para nós e para os nossos filhos deve continuar. Não nos esqueçamos que um povo unido tem mais poder e força do que qualquer exército.

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