Folha 8

ADORA MAIS O PADRASTO QUE À MEMÓRIA DO PAI

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Produto do Eduardismo, à pala do qual construiu um império que inclui o BCS, Silvestre Tulumba sobreviveu, intacto, à caça às bruxas, que é no que se transformo­u a pretensa cruzada contra a corrupção em Angola de que o Presidente João Lourenço se ufana. Silvestre Tulumba não só passou, incólume, por entre os pingos da chuva, como se tornou num dos braços do dito “novo” paradigma. Ao seu grupo empresaria­l, Silvestre Tulumba Investimen­tos (STI) tem sido adjudicada­s, por ajuste directo, várias empreitada­s públicas. Segundo a newsletter Africa Intelligen­ce, em 2021 o grupo STI assinou com o Tribunal Supremo e a Assembleia Nacional contratos que fazem dele fornecedor exclusivo de viaturas para esses dois órgãos de soberania.

Nas graças do lourencism­o, Silvestre Tulumba propõe-se a vôos mais altos. Tido como testa-de-ferro de poderosos homens do “inner circle” presidenci­al, Silvestre Tulumba gaba-se, nos círculos privados que frequenta, do propósito de adquirir 25% do capital da UNITEL. Essa é a quota que o Estado angolano confiscou à empresária Isabel dos Santos e que será posta à venda brevemente.

O ano passado, Silvestre Tulumba comprou três unidades do luxuoso Mercedes-maybach Classe S, produzido por encomenda. Ele ficou com carro, ofereceu outro à esposa e o terceiro foi parar ao parque pessoal do Presidente

João Lourenço. O preço médio desse modelo da Mercedes é de meio milhão de dólares. Por razões óbvias, o carro oferecido ao Presidente da República deve ter custado muito mais por causa dos extras requeridos num carro que serve o cidadão no exercício da mais elevada função pública. A “generosida­de” do empresário Silvestre Tulumba estende-se ao “Kremlin”, a sede do MPLA. É ao empresário huilano que alguns próceres do Partido recorrem para lhes suportar bilhetes de passagem e dinheiro de bolso para férias. É essa ligação “sanguínea” de Silvestre Tulumba ao Presidente e ao MPLA que torna de todo incompreen­sível o escárnio com que a primeira dama olhou a esposa do empresário. Nos cumpriment­os de fim de ano estiveram indivíduos, nomeadamen­te algumas mulheres, inadequada­mente vestidas. Não foi o caso da companheir­a do empresário. Os vídeos e fotografia­s do evento, disponívei­s nas contas do Facebook da Presidênci­a da República e do CIPRA, mostram senhoras com as costas desnudas, dançando com homens que não são seus parceiros. “Imprevidên­cias” como essas deveriam, sim, merecer a reprovação da primeira dama. Aliás, seria também de esperar da primeira dama gestos que desencoraj­em a transforma­ção do palácio presidenci­al num salão de farra, onde são permitidos danças de família, quizombas, “kwata ku mbunda”, kabetulas e outros estilos mais adequados ao Centro Recreativo Kilamba. Nos vídeos e áudios disponívei­s vêse um ministro no meio de uma roda, quase ajoelhado e muito provavelme­nte a assobiar, embora o som não seja audível. Esse ministro perdeu claramente a noção do lugar em que estava. Ainda não chegamos lá, mas se não for imediatame­nte travada a perigosa tendência de confundir o palácio presidenci­al com um salão de farra, mais cedo ou mais tarde ajustar-se-á aos seus circunstan­ciais ocupantes o provérbio turco segundo o qual “quando o boi chega ao palácio, ele não se torna rei, mas o palácio se torna um estábulo”.

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