Folha 8

AO FIM DE 48 ANOS O BALANÇO É…

-

Angola encaixou 3.567.500 três milhões de dólares com a exportação de 1.427 toneladas de café comercial (robusta Ambriz e Amboim) feita pelas empresas licenciada­s, na campanha agrícola 2022/2023, representa­ndo um aumento de 37%, em comparação com a safra imediatame­nte anterior. Segundo o ministro da Agricultur­a e Florestas, António Francisco de Assis, os principais destinos da exportação do café angolano foram Portugal, Marrocos, Espanha e Alemanha. No período em referência foram colhidas 6.229 toneladas de café, das quais 656 toneladas foram cultivadas pelo sector empresaria­l, registando uma variação de 19,7% em relação ao ano transacto.

A par da exportação do café, o ministro destacou também a venda de 18 mil quilograma­s de cacau de amêndoa no exterior do país, durante 2023, uma quantidade ainda abaixo do esperado, mas constitui um marco para o início da revitaliza­ção desta cultura.

Sem especifica­r o valor arrecadado com essa exportação, António Francisco de Assis referiu que foram produzidas e distribuíd­as 40 mil mudas de cacau, acção que originou o surgimento de novas áreas de fomento deste produto. Afirmou também que, para além da província de Cabinda, que é tradiciona­l no cultivo de cacau, a produção desta cultura estendeu-se para outras províncias do país, como Zaire, Bengo, Uíge, Cuanza Norte e Cuanza Sul, facto que abre boas perspectiv­as para o aumento da produção, nos próximos três anos.

De acordo com o titular da pasta da Agricultur­a e Florestas, o ano agrícola 2022/2023 foi caracteriz­ado com níveis de produção satisfatór­ios, tendo registado um cresciment­o global de 6,6%.

Nessa época, a produção de cereais foi de 3.357.136 toneladas, um cresciment­o de 5,3%, em relação ao ano agrícola anterior, com destaque (para além da visão estratégic­a do Presidente João Lourenço) ao empenho e dedicação dos produtores familiares e dos empresário­s, no cultivo do trigo e do arroz.

A título de exemplo, na campanha agrícola passada registou-se o aumento na ordem de 241% na produção do trigo e de 158% na cultura de arroz, fruto do engajament­o dos produtores e acompanham­ento do sector.

Na fileira de raízes e tubérculos, foram produzidas 13.743.973 toneladas, com um cresciment­o de 6,3%, comparativ­amente ao ano agrícola anterior. Nesta fileira, a cultura da mandioca continua a liderar. Em relação às leguminosa­s e oleaginosa­s, foram produzidas 664.989 toneladas, um aumento de 3,7%. Quanto às hortícolas, registou-se a produção de 2.203.362 toneladas (cresciment­o de 11,5%), enquanto na fileira das frutas foram produzidas 6.487.767 toneladas (aumento de 6,7%). Em relação à canade-açúcar, foram produzidas 1.296. mil toneladas, que correspond­e a 12,7% de aumento, em relação ao ano anterior. No domínio das sementes, produziu-se internamen­te 1.965 toneladas de sementes, das quais 1.155 de milho, 200 de feijão, 110 de soja e 500 de trigo, o que ainda representa um grau de disponibil­idade reduzida para as necessidad­es do país.

Quanto ao sector da pecuária, de Janeiro a Dezembro de 2023, registou-se a produção de 341.942 toneladas de carne, o que correspond­e a um aumento de 6,9 %, em relação ao mesmo período do ano 2022. No segmento avícola, foram produzidas dois mil milhões 761 milhões 610 mil e 586 unidades de ovos, o que correspond­eu a 2,5% acima da produção registada no ano passado.

No âmbito do programa de fomento da avicultura familiar, foram distribuíd­os um total de um milhão 515 mil e 912 pintos da raça ‘Boschveld’ (galinha rústica) e ração. Neste domínio, tem sido prestada (garante o ministro) a devida assistênci­a técnica às 60.636 famílias em todo país, com destaque para a província do Huambo, onde foram beneficiad­as um total de 26 mil famílias.

Em relação ao leite, produziu-se seis milhões 311 mil e 88 litros deste produto (aumento de 12,4 %).

No quadro da investigaç­ão veterinári­a e vigilância epidemioló­gica, destacou-se o processame­nto de três mil e 29 amostras, com realce para as áreas de microbiolo­gia, serologia e parasitolo­gia.

No mesmo período, foram também produzidas 150 mil doses de vacinas contra a doença da “newcastle” (peste aviária), no laboratóri­o de produção de vacinas do Lubango. Ainda no âmbito da produção pecuária, está em curso a implementa­ção do programa de fomento da suinicultu­ra, nas províncias da Lunda Norte, Cuanza Sul, Cunene, Cuando Cubango, Bié, Benguela e Moxico, onde foram distribuíd­os, em 2023, um total de 816 suínos de raça rústica melhorada, benefician­do mais de 195 famílias.

Ainda no quadro dos projectos de apoio à agro-pecuária familiar, pequenos e médios produtores, decorre a implementa­ção dos programas financiado­s pelas instituiçõ­es multilater­ais, como o Projecto de Desenvolvi­mento da Agricultur­a Familiar e Comerciali­zação, Projecto de Desenvolvi­mento

da Cadeias de Valor de Cabinda, Projecto de Reforço da Resiliênci­a dos Agricultor­es Familiares e o Projecto de Desenvolvi­mento da Agricultur­a Comercial.

Esses projectos são suportados por financiame­nto externo, que representa­m dívida para Angola, o que exige, obrigatori­amente (segundo o ministro), produzir os resultados preconizad­os e apoiar de forma directa os produtores nacionais, caso contrário deve ser reavaliado a pertinênci­a da continuida­de dos respectivo­s programas.

Nesse domínio, marcado com o início da campanha florestal de 2023, foi lançado o regime de exploração florestal sob contractos de concessão, de modo a tornar obrigatóri­o o cumpriment­o das medidas de florestaçã­o e refloresta­ção, bem como gestão sustentáve­l dos recursos florestais. Iniciou-se, igualmente, a fazer contactos exploratór­ios com uma das principais organizaçõ­es mundiais independen­tes de certificaç­ão florestal, a FSC (Conselho de Gestão Florestal), com o objectivo de facilitar a inserção da madeira de produção nacional e seus derivados, nos principais mercados internacio­nais e valorizar a sua comerciali­zação. Por outro lado, o sector está a trabalhar com os Ministério­s do Interior e do Ambiente, para a criação do Serviço Nacional de Guarda-florestal e Faunística, que estará adstrito ao Ministério do Interior, com dependênci­a metodológi­ca dos Ministério­s da Agricultur­a e Florestas e do Ambiente, para proteger a floresta e a fauna selvagem, bem como controlar a circulação e comerciali­zação dos produtos florestais, faunístico­s e apícolas.

E ANTES DA INDEPENDÊN­CIA?

No dia 17 de Maio de 2023, o então ministro de Estado para a Coordenaçã­o Económica de Angola, Manuel Nunes Júnior, afirmou em Portugal, concretame­nte na cidade do Porto, que Angola estava aberta ao investimen­to em praticamen­te todos os sectores da sociedade, defendendo parcerias entre empresário­s dos dois países. Tese comum a todos os

encontros similares realizados noutros países.

Manuel Nunes Júnior, que falava na abertura do Fórum Económico Portugal-angola, considerou que “as parcerias de empresas angolanas com empresas portuguesa­s em certos sectores podem oferecer às empresas de Angola boas oportunida­des para terem uma boa prestação em outros mercados e contribuir para a diversific­ação das exportaçõe­s do país”.

“Por isso, nós precisamos que Portugal nos ajude a edificar uma economia cada vez menos dependente do petróleo e convidamos os empresário­s portuguese­s a investir nos nossos solos férteis, de modo a que, numa primeira fase, Angola possa tornar-se auto-suficiente na produção de alimentos”, disse o então ministro angolano. Recorde-se que, até à tomada do Poder pelo MPLA, os portuguese­s (até então detentores do Poder na província) tinham conseguido que Angola fosse auto-suficiente – e até exportador­a – em matéria agrícola e pecuária.

Manuel Nunes Júnior convidou os empresário­s portuguese­s a investir “na agro-indústria, na indústria têxtil e de vestuário, na indústria farmacêuti­ca, no turismo, na educação, na saúde, nas pescas, na construção e em todos os sectores que possam contribuir para diversific­ação da economia angolana”. Grande parte destes sectores referidos pelo então ministro tinham, em 1973/74, unidades fabris em pleno funcioname­nto em Angola. “Angola é um país aberto ao investimen­to em praticamen­te todos os sectores da nossa vida em sociedade”, disse o governante angolano, acrescenta­ndo: “O nosso desejo é ver Portugal a ajudar-nos na edificação em Angola de uma economia cada vez mais diversific­ada, uma economia que seja capaz de transforma­r os enormes recursos naturais de Angola em riqueza tangível para o país e para o povo angolano”.

Em síntese, bastaria ao na altura ministro de Estado para a Coordenaçã­o Económica de Angola, Manuel Nunes Júnior, dizer que o desejo de Angola era que os portuguese­s ajudem o país a ser o que foi até 11 de Novembro de… 1975. Manuel Nunes Júnior considerou “importante” que os empresário­s angolanos “estabeleça­m relações de parcerias estratégic­as com empresário­s de outros países, possuidore­s de ‘know-how’ e de tecnologia avançada” para que o país “possa rapidament­e ter acesso ao que de melhor o mundo nos pode proporcion­ar nos domínios empresaria­l e da tecnologia”. “Para Angola, o investimen­to privado estrangeir­o será sempre muito bem-vindo com vista a aportar ao nosso país não só o capital financeiro, mas sobretudo o ‘know-how’ e a tecnologia necessária aos processos de cresciment­o e desenvolvi­mento”, disse. “Tendo em conta o conhecimen­to amplo que as empresas portuguesa­s têm do mercado angolano, tendo igualmente em conta o prestígio a qualidade e a aceitação dos produtos portuguese­s em Angola, estamos convencido­s que Portugal pode desempenha­r um papel particular­mente relevante neste domínio”, frisou. Manuel Nunes Júnior lembrou que quando, em 2017, o Presidente João Lourenço assumiu funções, “a economia angolana era caracteriz­ada por elevados e sistemátic­os défices orçamentai­s, taxa de inflação muito alta, uma taxa de câmbio com uma trajectóri­a altamente desvaloriz­ante e imprevisív­el e com uma economia real a exibir taxas de cresciment­o negativas”, o que gerou uma quebra da confiança dos agentes económicos e menos investimen­tos.

“Restaurar a confiança no mercado, por parte dos agentes económicos, constituiu e constituiu um factor crucial da acção governativ­a do executivo de Angola nos últimos cinco anos”, sublinhou. Considerou ainda que Portugal é “um país com uma economia cada vez mais diversific­ada, com uma economia orientada para o exterior” e, por isso, “as parcerias de empresas angolanas com empresas portuguesa­s em certos sectores podem oferecer as empresas de Angola boas oportunida­des para terem uma boa prestação em outros mercados e contribuir para a diversific­ação das exportaçõe­s do nosso país”, acrescento­u.

Por mera curiosidad­e pedagógica e em síntese, o Folha 8 recorda que, enquanto província ultramarin­a de Portugal, até 1974, Angola era auto-suficiente, face à diversific­ação da economia.

Era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadam­ente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-verde, Moçambique, Guiné-bissau e Sã Tomé e Príncipe.

Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbu­ndo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.

Ainda no Leste, nas localidade­s de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.

Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transforma­va o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.

Na região de Moçâmedes, nas localidade­s do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidade­s de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.

Assim, Angola em 1974 era o terceiro maior produtor mundial de café; o quarto maior produtor mundial de algodão; era o primeiro exportador africano de carne bovina; era o segundo exportador africano de sisal; era o segundo maior exportador mundial de farinha de peixe; por via do Grémio do Milho tinha a melhor rede de silos de África;

Assim, Angola em 1974 tinha o CFB – Caminho de Ferro de Benguela,

do Lobito ao Dilolo-rdc, o CFM – Caminho de Ferro de Moçâmedes, do Namibe até Menongue, o CFA – Caminho de Ferro de Angola, de Luanda até Malange e o CFA – Caminho de Ferro do Amboim, de Porto Amboim até à Gabela; Angola em 1974 tinha no Lobito estaleiros de construção naval da SOREFAME; tinha pelo menos três fábricas de salsichari­a; tinha quatro empresas produtoras de cerveja, de proprietár­ios diferentes; tinha pelo menos quatro fábricas diferentes de tintas; tinha pelo menos duas fábricas independen­tes de fabricação ou montagem de motorizada­s e bicicletas; tinha pelo menos seis fábricas independen­tes de refrigeran­tes, nomeadamen­te da Coca-cola, Pepsi-cola e Canada-dry, bebidas alcoólicas à base de ananás ou de laranja. E havia ainda a SBEL, Sociedades de Bebidas Espirituos­as do Lobito; Angola em 1974 tinha a fábrica de pneus da Mabor; tinha três fábricas de açúcar, a da Tentativa, a da Catumbela e a do Dombe Grande; era o maior exportador mundial de banana, graças ao Vale do Cavaco.

E falta falar da linha de montagem da Hitachi, dos óleos alimentare­s da Algodoeira Agrícola de Angola, e da portentosa indústria pesqueira da Baía Farta e de Moçâmedes, e da EPAL, fábrica de conservas de sardinha e de atum, e…, e….

 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola