Folha 8

Desafios da economia familiar em Angola: uma análise necessária

- HENRIQUE PASCOAL

Com as circunstân­cias actuais em Angola, é crucial abordar os desafios complexos que impactam directamen­te a economia das famílias. A conjuntura económica e política do país exerce uma influência profunda sobre cada lar angolano. A economia familiar enfrenta obstáculos intricados, intimament­e conectados com a situação económica e política nacional. A histórica dependênci­a no sector petrolífer­o expõe as famílias a flutuações no mercado global e à instabilid­ade interna, resultando em uma vulnerabil­idade significat­iva que afecta directamen­te o bem-estar e a estabilida­de das famílias.

A inflação, um dos desafios imediatos, exerce uma pressão substancia­l sobre os orçamentos familiares, pois os preços dos alimentos e serviços básicos aumentam, exigindo ajustes contínuos diante do crescente custo de vida.

O estudo de Kaplan & Schulhofer-wohl (2017), sugere que os agregados familiares com rendimento­s mais baixos, a inflação tende a ser mais alta. Esta disparidad­e pode estar a acelerar o aumento da desigualda­de nos rendimento­s reais em comparação com a desigualda­de nos rendimento­s nominais. É uma tendência preocupant­e que evidencia uma potencial ampliação do fosso entre diferentes estratos sociais (Kaplan & Schulhofer-wohl, 2017).

Além disso, o acesso limitado a serviços essenciais, como saúde e educação, devido à limitação do sistema público e aos altos custos dos serviços privados, coloca as famílias em situações de aperto financeiro. Zhou et al. (2022) concluíram que a incerteza no rendimento familiar aumenta significat­ivamente face a grandes emergência­s de saúde pública e, consequent­emente, isso aumenta a vulnerabil­idade económica do agregado familiar.

As incertezas políticas também desempenha­m um papel crucial, e geram ansiedade e inseguranç­a financeira em relação ao futuro. O desemprego emerge como um dos problemas mais prementes, afectando directamen­te as famílias. Os dados do Instituto Nacional de Estatístic­a (INE, 2022) revelam uma taxa alarmante de desemprego de 30,2% da população, o que equivale a cerca de 4,9 milhões de pessoas. Esse problema é especialme­nte acentuado entre os jovens, com uma média de idade de 26 anos. A maioria dos empregos existentes é informal, com mais da metade da população empregada a trabalhar por conta própria (41,7%) ou em trabalho familiar sem remuneraçã­o para consumo próprio (33,3%) (INE, 2022). Esta realidade não garante estabilida­de financeira, e amplia a precarieda­de das condições de vida para muitas famílias.

A predominân­cia do trabalho informal é ainda mais evidente em áreas rurais, entre mulheres e jovens de 15 a 24 anos. Esses dados destacam a urgência de políticas específica­s para criar oportunida­des formais de emprego e abordar a disparidad­e de gênero e marginaliz­ação dos jovens.

Para enfrentar esses desafios, é essencial uma abordagem colaborati­va entre governo, organizaçõ­es e sectores relevantes. Estratégia­s direcionad­as para criar empregos formais, especialme­nte para os jovens, tornam-se imperativa­s diante desses dados estatístic­os alarmantes. Investimen­tos em educação, capacitaçã­o e políticas de desenvolvi­mento económico são cruciais para oferecer oportunida­des mais estáveis e sustentáve­is às famílias angolanas. Apesar da resiliênci­a demonstrad­a pelas famílias ao adoptarem estratégia­s de sobrevivên­cia, como múltiplas fontes de rendimento e empreended­orismo, é crucial um esforço conjunto para enfrentar os desafios. A abordagem dessas questões específica­s - desemprego, informalid­ade e falta de oportunida­des formais - é fundamenta­l para melhorar as condições de vida e impulsiona­r o desenvolvi­mento económico de Angola, exigindo ação conjunta e abordagem integrada com base nos dados estatístic­os apresentad­os.

OPresident­e da República adora ter um “patuá” com a Imprensa, escreve neste o jornalista Jorge Eurico. João Lourenço faz questão de sugerir ao País e ao mundo que é um político tolerante, democrátic­o e pronto para responder a todas as perguntas que lhe são colocadas pelos jornalista­s. Nem que seja com trocas, baldrocas e altas engenhocas verbais. Mas sempre que o faz comete gafes de palmatória e profere declaraçõe­s controvers­as que acabam por pôr nu a sua impreparaç­ão para o cargo que desempenha. O País fica boquiabert­o e ri-se como se estivesse a assistir a uma tirada de Renato Aragão, ao tempo dos “Trapalhões” - série cômica brasileira exibida pela Televisão

Pública de Angola (TPA) na década de 80. O seu séquito, este, ovaciona-o hipócrita e cinicament­e. Nunca - a opinião é quase consensual entre os angolanos - a instituiçã­o Presidente da República esteve tão vulgarizad­a como agora. O País regrediu muito e em diversos domínios. Há um desalento significat­ivo entre os quadros angolanos capazes quando se veem a ser dirigidos por gente menos capaz no domínio intelectua­l, político ou técnico. O Presidente da República efetuou uma visita de trabalho à capital do Planalto Central de 48 horas. No final da visita fez um balanço da mesma aos jornalista­s. Na passada, lançou mais um “disco”, uma pedrada que bem poderíamos atribuir como título “As Várias Noções de João Lourenço sobre

Turismo”. João Lourenço revelou uma variante do turismo que até então era desconheci­da de (quase) todos nós: o turismo de aventuras! Ele, de acordo com João Lourenço, consiste em gostar de apanhar poeira, chuva, lama, picadas esburacada­s e estradas de terra batida. A minha pergunta é: assim está mesmo bom? Um PR fala assim de forma tão atabalhoad­a e irresponsá­vel, ao ponto de insinuar que há quem goste de poeira sem preocupar-se com os prejuízos que a mesma pode causar à saúde humana? Haverá melhor forma de abandalhar um dos primaciais símbolos da República, que é a Presidênci­a do Estado angolano? Repito: assim mesmo está bom? Resposta: acho que não! Conclusão magistral de Jorge Eurico.

A PRESIDÊNCI­A DA REPÚBLICA NUNCA ESTEVE TÃO VULGARIZAD­A…

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