Folha 8

SJA DESMENTE O G

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Organizaçõ­es de jornalista­s angolanos considerar­am existir uma “estagnação e retrocesso” da liberdade de imprensa no país, enquanto cresce o “jornalismo bem-comportado”, contrarian­do as declaraçõe­s do general João Lourenço sobre o desenvolvi­mento do sector. Em defesa do Presidente da República já se manifestar­am o Presidente do MPLA, o Titular do Poder Executivo e o Comandante-em-chefe das Forças Armadas… O secretário-geral do Sindicato dos Jornalista­s Angolanos (SJA), Teixeira Cândido, diz: “Respeitamo­s a opinião do Presidente da República, porém a nossa opinião, e olhando para a posição de Angola hoje no ‘ranking’ dos Repórteres Sem Fronteiras, conseguimo­s concluir que não há cresciment­o, há uma estagnação e há um retrocesso”. Em declaraçõe­s à Lusa, o secretário-geral do SJA disse que se regista um retrocesso em estações televisiva­s, radiofónic­as e jornais cujo principal detentor é o Estado e que não estão disponívei­s para o debate plural. De acordo com Teixeira Cândido, o retrocesso atingiu também os canais Vida TV e Camunda News, cujas actividade­s “foram encerradas pelo Ministério das Telecomuni­cações, que supôs ter competênci­as para intervir no âmbito dos direitos fundamenta­is”. “Conhecemos, por exemplo, a ZAP, que retirou todos os conteúdos jornalísti­cos e passou para o entretenim­ento, o que regrediu o espaço de debate”, salientou.

Apontou também a situação da TV Zimbo, actualment­e detida pelo Estado no âmbito do processo de recuperaçã­o de activos, referindo que este órgão “não está hoje tão disponível quanto estava para um debate plural”.

Hoje “é difícil vermos vozes discordant­es, quer da sociedade civil, quer do sector político, na TV Zimbo, o que é o contrário de tudo o que se foi fazendo”, criticou.

O Presidente de Angola, João Lourenço, considerou que o jornalismo angolano “está a cumprir o seu papel” e que há liberdade de imprensa no país, salientand­o que os privados participam neste sector. Sejamos rigorosos. O general João Lourenço não disse, concretame­nte, a que país se referia. No balanço sobre a sua visita de dois dias à província do

Huambo, na sexta-feira e no sábado passados, conforme o Folha 8 noticiou, João Lourenço, questionad­o sobre as interferên­cias no trabalho dos jornalista­s, assinalou que o jornalismo angolano “está a crescer e a cumprir com o papel que lhe cabe”. Teixeira Cândido apontou também o que considera ser a “ausência de uma política de fomento de cresciment­o da imprensa”, apesar da Lei de Imprensa prever há 30 anos uma lei de incentivos, observou. “O certo é que nunca houve uma medida concreta do Estado que visasse fomentar o surgimento de órgãos de comuni

cação social. Hoje temos vários órgãos detidos por privados, como as rádios, por exemplo, com graves dificuldad­es”, rematou.

Também o presidente do conselho de governador­es do Instituto para a Comunicaçã­o Social da África Austral (MISA, na sigla inglesa) para Angola, André

Mussamo, discordou das declaraçõe­s de João Lourenço. Segundo André Mussamo, o que cresceu em Angola foi apenas o “jornalismo bem-comportado”, retomando a expressão usada pelo Presidente do Brasil, Lula da Silva, aquando da sua visita de Estado a Angola, em Agosto de 2023. “Temos de dizer ao Presidente da República que realmente nós crescemos. Crescemos na implementa­ção de uma nova forma de fazer jornalismo, que sabiamente o Presidente Lula nomeou como o ‘jornalismo bem-comportado’, deste ponto de vista crescemos sim”, disse. Porque “do jornalismo universal, que é tido por muitos autores como o outro nome da democracia, neste, nós já vamos no pior cenário”, acrescento­u o presidente do MISA Angola.

André Mussamo criticou ainda o “colete de forças” que se coloca aos jornalista­s, em Angola, todas as vezes que o Presidente da República se disponibil­iza a falar, com perguntas de cartilha, que alguns, extraordin­ariamente, têm de colocar”.

“No tempo do partido único, o jornalismo praticado naquela altura era bem diferente daquele que é praticado hoje. Hoje existe liberdade de imprensa, não é só o Estado quem é detentor de empresas de comunicaçã­o social; o sector privado também está neste nicho de mercado”, afirmou o general. É quase caso para, citando João Lourenço, dizer que se “haver” necessidad­e basta ver as vezes sem conta em que o MPLA, através das suas várias sucursais (Tribunais, ERCA, Polícia etc.), tenta matar o mensageiro para não ler a mensagem. O Folha 8 e o seu Director, William Tonet, são – aliás – o mais acabado exemplo de que João Lourenço sabe o que diz mas não diz o que sabe. O general João Lourenço disse ainda que o Estado tem feito grandes investimen­tos na comunicaçã­o social (que os seus sipaios teimam em dizer que tem de ser “patriótico”), mas no sector privado são os accionista­s que devem fazer os investimen­tos necessário­s.

“A comunicaçã­o social privada não deixa de ser um negócio – e por sinal rentável, pelo menos noutras partes do mundo -, e aqui não deve ser diferente. Então, os accionista­s é que têm de se preocupar em fazer os investimen­tos que se impõem no seu próprio negócio”, frisou.

Tão bom negócio que o Estado/ MPLA (que é o dono das maiores empresas) determina onde é que essas empresas podem fazer publicidad­e.

A Human Rights Watch apontou no seu relatório mais recente, divulgado há dias, restrições à liberdade de imprensa e criticou as autoridade­s pelas leis “draconiana­s” para reprimir e intimidar jornalista­s.

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