A propósito do assassinato de Laurindo Viera (II)
Por razões óbvias, essa denúncia, para mais apócrifa, não pode ser tomada como única pista de investigação. Mesmo porque ela pode ter resultado de um indivíduo ligado ao SINSE, que, como se sabe, anda há muito envolvido numa guerra intestina com o SIC. Porém, ela não deveria ser de todo desprezada. A investigação à morte de Laurindo Vieira tem de ser capaz de convencer os angolanos de que ela decorreu, exclusivamente, da crescente criminalidade comum, a tal que, estranhamente, o Ministério do Interior garante ter sob controlo... Se dessa investigação sobreviver a suspeita, leve que seja, de que a morte de Laurindo Vieira se deveu a ajustes de contas entre facções do próprio poder, todo o mundo, incluindo os esperados e desejados investidores estrangeiros, passarão a ver Angola como um país inseguro, um faroeste do qual crescente número de angolanos se afastarão progressivamente.
A morte de Laurindo Vieira deveria marcar um antes e um depois. Esse depois tem de significar que a morte de qualquer angolano tem de ser investigada até ao seu ínfimo detalhe os responsáveis punidos exemplarmente. Para marcar essa ruptura entre o antes e o depois, a nós, particularmente, não repugnaria nada, mas nada mesmo, o restabelecimento da pena de morte, precipitadamente abolida em 1992, para agradar alguns países ocidentais. Nas actuais condições de inenarráveis dificuldades para a generalidade dos governantes, em contraste com o fausto e a opulência em que vivem os governantes, a criminalidade violenta só será mantida em níveis razoáveis se for confrontada com a Lei de Talião, vulgarmente conhecida como lei do dente por dente e unha por unha.
Para ser equitativa, a pena de morte seria extensiva aos corruptos de grosso calibre e a salteadores do erário, aqueles que, por causa da sua desmedida ganância, condenam a maioria dos seus concidadãos às mais reles condições de vida. Claro que só tribunais verdadeiramente independentes de quaisquer tutelas políticas e de ordens superiores, que, ainda não são os actuais, poderiam julgar os crimes de sangue e de colarinho branco passíveis de desembocar em penas de morte. Países económica e moralmente pujantes, como são os chamados tigres asiáticos (Coreia do Sul, Singapura, Hong Kong e Taiwan) são o que são hoje porque reprimem o crime de sangue, a corrupção ou o roubo do erário com a pena máxima.
A gigante China não teria reduzido a criminalidade económica com afagos aos criminosos. Ali, a pena de morte dissuadiu – e muito – o crime. Em Angola, está provado, não serão os jogos de palavras do ministro do Interior ou a justiça que só pune os pilhagalinhas que desencorajarão os crimes de sangue, a pilhagem dos recursos públicos, o enriquecimento sem causa justa.