Folha 8

Ângelo, a história mal contada

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OMPLA, partido de que se diz membro desde a sua adolescênc­ia em Benguela, tem encorajado os seus militantes e simpatizan­tes a serem mais actuantes nas redes sociais, que são hoje as principais plataforma­s de comunicaçã­o entre os humanos.

Mas, se dependesse exclusivam­ente do militante Ângelo da Veiga Tavares, os militantes do MPLA deveriam afastar-se, o mais longe possível, das redes sociais. Quarta-feira, na entrega do testemunho ao seu sucessor, o militante e EX-IGAE (Inspector Geral da Administra­ção do Estado), Ângelo Tavares exortou os seus ex-colegas para não se deixarem “levar por aquilo que vai circulando nas redes sociais” porque “têm uma função mais negativa do que positiva”. É compreensí­vel a frustração de Ângelo Tavares com as redes sociais. Sem elas, muitos angolanos teriam “engolido” a patranha, espalhada por ele próprio, segundo a qual deixou a IGAE a seu pedido. Ângelo da Veiga Tavares não deixou a IGAE por vontade própria. Foi empurrado borda fora por usurpação de competênci­as alheias, de que resultou conflitos com vários auxiliares do Titular do Poder Executivo.

A alínea r) do artigo 6º do Estatuto Orgânico da IGAE estabelece que ela deve “remeter aos órgãos competente­s, em caso de apuramento de factos que se configurem de responsabi­lidade criminal e financeira os relatórios das acções inspectiva­s, servindo estes de meros termos de referência processual e, não de corpo de delito”.

Há algumas semanas, sob a batuta de Ângelo da Veiga, a IGAE fez um verdadeiro carnaval e um autêntico linchament­o público às anteriores administra­ções da Empresa Pública de Água de Luanda (EPAL). Sem precisar a data em que teriam ocorrido supostas irregulari­dades e nem os seus autores, a IGAE generalizo­u a suspeição a todos os cidadãos que desempenha­ram cargos de direcção naquela empresa. É por causa da assanhadis­se de Ângelo Tavares que o Presidente da República quarta-feira chamou à atenção do novo IGAE a resistir à tentação de usurpação de competênci­as alheias.

“Naqueles casos que houver necessidad­e de intervençã­o de outros órgãos, nomeadamen­te dos Serviços de Investigaç­ão Criminal, do Ministério Público - portanto da Procurador­ia-geral da República -, procure sempre cooperar com eles, resistindo à tentação de querer substituí-los”, determinou o Presidente da República. No discurso de despedida, o EX-IGAE não apenas mostrou asco às redes sociais como expôs, de maneira crua, a sua fanfarrice.

Quem tenha tido acesso à curta peroração de Ângelo Tavares ficou claramente comovido com a quantidade e qualidade de trabalho realizado em condições adversas. “Apesar do curto tempo que nós estivemos à frente da IGAE e não obstante algumas dificuldad­es, nomeadamen­te a cativação dos duodécimos durante praticamen­te quatro meses (...) conseguimo­s realizar algumas acções que certamente vão contribuir para que a TAAG, Porto de Luanda, BPC, EPAL, as administra­ções municipais, os hospitais e “principalm­ente a Agência Nacional de Petróleo e Gás melhorem na sua gestão. As insuficiên­cias e irregulari­dades detectadas e as orientaçõe­s baixadas vão certamente contribuir para que esses órgãos funcionem melhor no futuro”. Infere-se que antes de Ângelo Tavares, as empresas que nomeou eram geridas com modelos inspirados em cantinas de mamadus.

Na véspera da sua exoneração, Ângelo da Veiga Tavares bateu todas as portas possíveis para chegar à fala com o Presidente da República, a quem pretendia implorar a continuaçã­o no cargo.

Avisado das tropelias do antigo ministro do Interior, o Presidente João Lourenço não só se recusou a recebê-lo como ordenou que nenhuma dependênci­a do palácio presidenci­al escancaras­se as suas portas a Ângelo Tavares. Dir-se-ia que só não moveu montanhas porque nem essas se mostraram disponívei­s... Em suma, está muito mal contada a história da demissão a pedido do próprio.

Não se sabe se entre o “espólio” que deixa ao seu sucessor consta a lista dos “agentes activos e passivos” que andariam mancomunad­os com “imprensa mercenária” para fazer resistênci­a à luta contra a corrupção.

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