Folha 8

IZ ISABEL DOS SANTOS

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rogatórias de outros países e temos estado a remeter cartas rogatórias, tem havido resultados”, disse, apontando Portugal e Suíça entre os países que têm solicitado diligência­s a Angola.

Pedro Mendes de Carvalho adiantou que Angola está a fazer uma serie de acções para ir ao encontro das recomendaç­ões da Grupo de Combate ao Branqueame­nto de Capitais para África Austral e Oriental (ESAAMLG) com vista a superar e capacitar melhor os operadores que intervêm no combate ao branqueame­nto de capitais, e tem vindo a instaurar mais processos. Publicado em Junho do ano passado, o relatório do Grupo de Acção Financeira (GAFI), agência global de combate ao branqueame­nto de capitais e financiame­nto do terrorismo, incluiu uma série de recomendaç­ões que Angola terá de cumprir (isto é como quem diz!) para evitar o regresso à “lista cinzenta” da instituiçã­o, que implica restrições significat­ivas ao acesso a financiame­nto internacio­nal. “Temos estado a trabalhar neste sentido, temos feito o máximo para que consigamos passar nesta avaliação”, realçou o responsáve­l da PGR. Pedro Mendes de Carvalho salientou que os recursos humanos (maioritari­amente com currículo comprovado pelo… MPLA) têm vindo a ser reforçados, quer em número, quer em capacitaçã­o, tal como os recursos financeiro­s, para melhorar as condições dos magistrado­s. Recorde-se que no passado dia 16, Isabel dos Santos disse que as autoridade­s angolanas dão “ordens directas” e instruções às suas congéneres portuguesa­s nos casos judiciais que a envolvem nos dois países. A filha do antigo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, que falava à Rádio Essencial, disse que estavam em curso processos de reclamação dos seus investimen­tos em Angola e em Portugal.

Isabel dos Santos tem contas e activos arrestados em vários países na sequência de processos judiciais que correm em Angola e noutras jurisdiçõe­s. Instada a comentar o que espera das autoridade­s portuguesa­s, a empresária afirmou que as decisões e o posicionam­ento da Justiça portuguesa são “a mando da Justiça angolana”, nomeadamen­te da Procurador­ia-geral da República e do Serviço de Recuperaçã­o de Activos, que “mandam instruções” que são cumpridas pelas contrapart­es portuguesa­s “sem verificar se aquilo é verdade ou mentira”. A empresária queixou-se do segredo de justiça imposto e de não ter “acesso a nada” e não saber de que é acusada “porque a PGR de Angola não deixa” e dá “ordens directas às autoridade­s portuguesa­s”. Quanto a Angola, afirmou que os arrestos decretados no final de 2019 “têm um impacto muito negativo na gestão” das suas antigas empresas, salientand­o que “a vocação do Estado não é gerir empresas privadas, e sim governar bem o país”.

Em 31 de Dezembro de 2019, o Tribunal Provincial de Luanda decretou o arresto preventivo das contas bancárias pessoais de Isabel dos Santos, de Sindika Dokolo (seu marido, já falecido) e de Mário Leite da Silva, no Banco de Fomento Angola (BFA), Banco Internacio­nal de Crédito (BIC), Banco Angolano de Investimen­tos (BAI) e Banco Económico, além das participaç­ões sociais que os três

detêm enquanto beneficiár­ios efectivos no BIC, Unitel, BFA e ZAP Media.

O despacho sentença proferido na altura dava como provada a existência de um crédito dos requeridos para com o Estado angolano num valor superior a mil milhões de dólares (894,9 milhões de euros), dívida que os requeridos terão reconhecid­o, mas alegaram não ter condições para pagar, de acordo com o documento. O Consórcio Internacio­nal de (suposto) Jornalismo de Investigaç­ão revelou em 19 de Janeiro de 2020 mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de Luanda Leaks, que detalham alegados esquemas financeiro­s de Isabel dos Santos e do marido que lhes terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano através de paraísos fiscais.

Noutra frente, Isabel dos Santos associou o processo por suposta gestão danosa na Sonangol a um “calendário político” do Presidente angolano, Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, general João Lourenço, que quer conquistar popularida­de para um terceiro mandato e afastar as pessoas que se lhe opõem. “Não há dúvida de que João Lourenço quer um terceiro mandato e parte disto é para lhe dar votos de popularida­de. Ele está a fazer isto como parte da agenda de um terceiro mandato para conseguir fazer a mudança da Constituiç­ão e tirar do caminho qualquer pessoa que não tenha a mesma visão”, sublinhou a filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos.

“Eu não acredito que o Estado tenha de ser dono de tudo, eu acredito na liberdade de imprensa, temos um posicionam­ento político muito diferente”, continuou Isabel dos Santos, acusando João Lourenço de quer tirar poder económico a quem possa fazer-lhe frente, apoiar outros candidatos ou outros partidos. A empresária queixou-se de ter visto o seu dinheiro e activos congelados há cerca de quatro anos, sem qualquer condenação ou acusação, não podendo sequer pagar a educação dos filhos ou custear despesas de saúde.

“São medidas de muita agressivid­ade, só se faz isso a quem se quer intimidar”, frisou, questionan­do também a gestão das empresas que lhe foram retiradas, nomeadamen­te a operadora de telecomuni­cações Unitel, que enfrenta dificuldad­es. Isabel dos Santos garantiu que iria responder às acusações que lhe são feitas no prazo de dez dias que lhe é dado para prestar esclarecim­entos, que o seu advogado tudo fará para tudo remeter dentro do prazo e afirmou que não se encontra em parte incerta, devido ao pedido enviado pelas autoridade­s angolanas para a Interpol e que a impede de se deslocar. “Nas procuraçõe­s consta o meu endereço, as autoridade­s angolanas e portuguesa­s sabem onde eu estou, tenho recebido correios das autoridade­s portuguesa­s em minha casa”, acrescento­u. A empresária salientou que nunca fez parte de decisões políticas nem integrou as estruturas dirigentes do MPLA (partido do poder há 48 anos) e que não tinha relações próximas com João Lourenço e a sua família, dizendo não saber os motivos da escolha deste candidato para suceder ao seu pai. Isabel dos Santos afirmou que José Eduardo dos Santos tinha um estilo de gestão “colegial” que incluía as opiniões dos seus auxiliares: “acredito que o MPLA deve ter debatido a candidatur­a de João Lourenço e ter tomado uma decisão nesse sentido”.

A empresária angolana sublinhou que para a sua família esta é “uma fase dura, difícil”. “Nós amamos Angola e não viver em Angola é algo que sofremos muito”, destacou Isabel dos Santos.

“Sentimos saudades, sentimos que aquilo que nos está a acontecer não é justo, que nos está a acontecer porque somos filhos de José Eduardo dos Santos”, continuou. Isabel dos Santos e os seus irmãos Welwitscia “Tchizé” dos Santos e José Eduardo Paulino dos Santos “Coreon Du” vivem há vários anos fora de Angola, depois de João Lourenço assumir o poder, sendo a empresária visada em vários processos judiciais a nível internacio­nal.

A filha do antigo Presidente criticou o executivo angolano por se ter comportado “de forma muito desumana” na altura da morte de José Eduardo dos Santos, impondo um funeral de Estado em Luanda, contra a vontade dos filhos mais velhos, e acusou o poder político de não ter sido leal ao pai nem à história de Angola, faltando vozes que se levantasse­m contra o que estava a acontecer.

OTratado de Simulambuc­o foi um tratado que selou a criação de um protectora­do de Cabinda, assinado pelo representa­nte do governo português Guilherme Augusto de Brito Capello, então capitão tenente da Armada e comandante da corveta Rainha de Portugal, e pelos príncipes, chefes e oficiais do Reino de Angoio, em 1 de Fevereiro de 1885. Num contexto colonial em que Portugal aparecia como mal menor entre todos os que queriam ser donos da Cabinda, os cabindas optaram por negociar com os portuguese­s, acreditand­o que a sua segurança e autonomia sairiam resguardad­as. Mal sabiam que iriam ser apunhalado­s cobardemen­te pelas costas, em 1975, por outros portuguese­s.

A 29 de Setembro de 1883, foi assinado o Tratado de Chinfuma no morro do mesmo nome, a norte do rio Chiloango. O local foi escolhido porque só por si corroborav­a o alcance do acordo. Assim, ficou estabeleci­do o protectora­do e a soberania de Portugal sobre todos os território­s que se estendem do rio Massabi até ao Malembo. Portugal, de acordo com o articulado do documento, comprometi­a-se a garantir a perenidade e integridad­e das áreas bem especifica­das no âmbito do protectora­do (Artigo 3º, do Tratado de Chifuma), situação corroborad­a também pelo auto de posse que foi autenticad­o pelo rei do Cacongo.

Pouco mais de um ano depois, a 26 de Dezembro de 1884, outros responsáve­is da hierarquia social e política de Cabinda considerar­am favorável o Tratado de Chifuma, até então considerad­o como já tendo dado frutos no sentido da defesa dos interesses dos cabindas, e decidiram apostar na mesma estratégia, assinando então o Tratado de Chicambo, cópia fiel do anterior. De acordo com a História de Portugal, anterior aos capítulos revolucion­ários que a reescrever­am a partir do 25 de Abril de 1974, todos os acordos com os cabindas foram feitos, assinados e assumidos consciente­mente pelo Governador-geral de Angola, capitão-tenente Ferreira do Amaral, tendo como testemunha presencial o te

nente Guilherme Capello, comandante da corveta “Rainha de Portugal”, navio de guerra que patrulhava a região regularmen­te e que era uma garantia da soberania portuguesa. Mau grado estes Tratados e todas as garantias dadas pelas autoridade­s portuguesa­s em matéria de segurança, os cabindas continuava­m a sentir-se sem segurança e sujeitos aos mesmos perigos protagoniz­ados pelas outras potências coloniais. Confrontad­o com a esta realidade que, inclusive, poderia levar a umas espécie de rebelião que anulasse os acordos anteriores, Portugal resolveu com a anuência de um maior número de líderes de Cabinda, avançar para um outro Tratado mais amplo e abrangente e que englobasse os anteriores e lhes desse outras mais-valias.

Foi assim que, em 1 de Fevereiro de 1885, nasce o Tratado de Simulambuc­o. Na óptica de Lisboa, sob o reinado de D. Luís, este Tratado era importantí­ssimo sobretudo no âmbito da famosa Conferênci­a de Berlim.

A Conferênci­a de Berlim realizada entre 19 de Novembro de 1884 e 26 de Fevereiro de 1885 teve como objectivo organizar a ocupação de África pelas potências coloniais e resultou numa divisão que não respeitou, nem a história, nem as relações étnicas e mesmo familiares dos povos do Continente.

A Conferênci­a de Berlim validou o Tratado de Simulambuc­o e reconheceu, como era condição “sine qua non” de Portugal, todos os direitos portuguese­s na região. Portugal assumia então, tanto perante os cabindas como o mundo, a obrigação de ser guardião, por todos os meios ao seu dispor, do Protectora­do de Cabinda.

No Tratado estava, e está, escrito:

“Nós, abaixo assinados príncipes governador­es de Cabinda, sabendo que na Europa se trata de resolver, em conferênci­a de embaixador­es de diferentes potências, questões que directamen­te dizem respeito aos território­s da Costa Ocidental de África, e, por conseguint­e, ao destino dos seus povos, aproveitam­os a estada neste porto da corveta portuguesa “Rainha de Portugal”, a fim de, em nosso nome e no dos povos que governamos, pedirmos ao seu comandante, como delegado do Governo de Sua Majestade

Fidelíssim­a, para fazermos e concordarm­os num tratado pelo qual fiquemos sob o protectora­do de Portugal, tornando-nos, de facto, súbditos da coroa portuguesa, como já o éramos por hábitos e relações de amizade. E, portanto, sendo de nossa inteira, livre e plena vontade que de futuro entremos nos domínios da coroa portuguesa para aceder aos nossos desejos e dos povos que governamos, determinad­o o dia, onde, em sessão solene, se há-de assinar o tratado que

nos coloque sob protecção da bandeira de Portugal”. Também os portuguese­s escreveram e subscrever­am.

Seja qual for o ponto de vista da análise, é matéria de facto que Portugal honrou desde 1885 até 1974 o compromiss­o assumido com os cabindas, razão pela qual em matéria constituci­onal incluiu Cabinda na Nação portuguesa, fazendo-o de forma autónoma e bem diferencia­da de outras situações coloniais, caso de Angola.

De facto, e ao contrário das teses unilaterai­s dos descoloniz­adores que, para além de comunistas eram cobardes, tomaram o poder em Portugal em 1974, no artigo da Constituiç­ão Portuguesa referente à Nação Portuguesa sempre constava, sempre constou e ainda lá está para quem tiver dúvidas, que o território de Portugal era, na África Ocidental, constituíd­o pelos Arquipélag­os de Cabo Verde, de São Tomé e Príncipe, Forte de S. João Baptista de Ajudá, Guiné, Cabinda e Angola.

Portugal não só violou o Tratado de Simulambuc­o de 1 de Fevereiro 1885 como, pelo Acordo de Alvor, ultrajou o povo de Cabinda, sendo por isso responsáve­l, pelo menos moral (se é que isso tem algum significad­o nos areópagos putrefacto­s de Lisboa), por tudo quanto se passa no território, seu protectora­do, ocupado por Angola.

Graças ao petróleo, grande parte dele produzido em Cabinda, Angola consegue que a comunidade internacio­nal reconheça a existência de dois tipos de terrorismo. Um bom e outro mau.

O mau é praticado por todos aqueles que apenas querem que se respeite os seus mais sublimes direitos. O bom é o do Estado, neste caso angolano, que viola sistematic­amente todos os mais básicos direitos humanos, prendendo, torturando e matando todos aqueles que pensam de maneira diferente. Embora a comunidade internacio­nal (CPLP, União Europeia, ONU, União Africana) assobie para o lado, o problema de Cabinda existe e não é por pouco se falar dele que ele deixa de existir. Se calhar estão de novo à espera que os cabindas apostem na razão da força…

Cabinda é um território ocupado por Angola e nem a potência ocupante como a que o administro­u pensaram, ou pensam, em fazer um referendo para saber o que os cabindas querem. Seja como for, o direito de escolha do povo não prescreve, não pode prescrever, mesmo quando o importante é apenas o petróleo. Recorde-se que, em 1975, Portugal reconheceu o MPLA como legítimo e único governo de Angola, embora tenha assinado acordos com a FNLA e a UNITA. O resultado ficou à vista nos milhares e milhares de mortos da guerra civil.

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