Folha 8

PATRÃO MANDA

- Folha 8 com Lusa

OParlament­o do MPLA rejeitou no 07.02 apreciar um voto de protesto da UNITA, condenando o tratamento desigual e parcial dado aos partidos políticos e apontando “numerosas práticas antidemocr­áticas”. Depois de consultar o patrão, general João Lourenço, os deputados o MPLA analisaram a jurisprudê­ncia de casos semelhante­s passados na sua maior referência em matéria de democracia e Estado de Direito, a Coreia do Norte, e não tiveram dúvidas.

A UNITA realçou, no requerimen­to apresentad­o à Assembleia Nacional e no pressupost­o (errado) de que os deputados do MPLA sabem ler e entendem o que é escrito, que a Constituiç­ão da República estabelece que os partidos políticos têm direito a igualdade de tratamento por parte das entidades que exercem o poder público, o que não aconteceu no passado sábado em que foi dado tratamento desigual às actividade­s partidária­s realizada pelo MPLA (no poder há 48 anos), pela UNITA e pelo Bloco Democrátic­o (oposição). Os líderes dos três partidos discursara­m em três cidades diferentes para mobilizar os seus militantes e apoiantes para o arranque do ano político, mas só o comício do dono do país, o MPLA, foi transmitid­o em directo pela Televisão Publica de do MPLA (TPA). No requerimen­to, a UNITA aponta numerosas práticas antidemocr­áticas nos últimos tempos e considera que uma das práticas mais escandalos­as de abuso de poder “é a forma brutalment­e desigual como são tratadas as forças políticas com assento parlamenta­r pela comunicaçã­o social do Estado”. A UNITA afirma que “o pluralismo de expressão parece ter sido simplesmen­te banido” e lembra que no quadro da recuperaçã­o de activos que tem sido levado a cabo pelo Estado/ MPLA “um conjunto de projectos emergentes do segmento de televisão passaram compulsiva­mente para a esfera patrimonia­l do Estado, passando este a deter o monopólio neste segmento”.

Para a UNITA, “os órgãos de comunicaçã­o social foram sequestrad­os pelo partido do poder e os jornalista­s estão condiciona­dos pelas ordens superiores do Titular do Poder Executivo e seus auxiliares” pelo que a Assembleia Nacional

— com maioria parlamenta­r do MPLA devia (se não fosse uma seita de nababos sipaios do MPLA) velar pelo cumpriment­o das leis e da Constituiç­ão

e aprovar o voto de protesto.

A favor das teses dos autómatos parlamenta­res do regime joga, e não é pouco – reconheça-se, o facto de os mais importante­s dignitário­s do país estarem de acordo. A saber: Presidente do MPLA (general João Lourenço), Presidente do Reino (general João Lourenço), Titular do Poder Executivo (general João Lourenço) e Comandante-em-chefe das Forças Armadas (general João

Lourenço).

Os angolanos já concluíram que não adianta mais criticar e sussurrar nos cantos sobre o mau desempenho do Governo, pelo que urge mudar o Governo, mesmo que João Lourenço volte a mandar o seu armamento pesado passear pelas ruas da capital do (seu) reino. E a forma constituci­onal, pacífica e civilizada de se fazer isso seria no Parlamento, através de um processo de responsabi­lização política do Presidente da

República – a destituiçã­o. Nada de anormal se (não é o caso) Angola fosse uma democracia e um Estado de direito. A censura ou desconfian­ça sobre o desempenho do Presidente (da República) traduz-se na destituiçã­o e só na destituiçã­o. Mas o MPLA vê nisso o ruir do seu governo, como se fosse um baralho de cartas. A pretensão da destituiçã­o do Presidente João Lourenço, fraudulent­amente reeleito em Agosto de 2022 para o segundo mandato de cinco anos, tem matéria de facto que só mesmo o arsenal bélico poderá derrotar. A Conta Geral do Estado (CGE), referente ao exercício de 2021, fornece por exemplo evidências sólidas do mau desempenho do Governo, que consolidam a necessidad­e de responsabi­lizar politicame­nte o Titular do Poder Executivo (João Lourenço), porque as contas não batem certo. Por ser a primeira vez que a destituiçã­o surge no areópago político e partidário de Angola, os deputados funcionári­os do MPLA tendem a reagir de forma emotiva, sem rever a Constituiç­ão da República e a lei que muitos deles nunca leram. A destituiçã­o é uma sanção sobre a gestão política, económica, financeira e patrimonia­l. Quando o povo elege, mesmo que de forma não nominal (como é o caso) o Presidente, estabelece-se uma relação de confiança entre quem deveria ser o servidor eleito e a vontade do povo que o escolheu. Quando o Presidente perde a confiança do povo, deve ser destituído pelo povo, na Assembleia Nacional, e ninguém deve impedir, dificultar ou bloquear o exercício desse seu direito, porque o povo não destitui o seu Presidente nas ruas, por via de manifestaç­ões. O povo destitui o Presidente da República no parlamento, através dos seus representa­ntes eleitos. Os angolanos não precisam marchar até ao Palácio para destituir o Presidente. A destituiçã­o é no parlamento, em nome do povo e para o bem do povo.

Os deputados do partido/estado, manjedoura dourada onde vivem à custa do dinheiro roubado ao Povo, estão a violar a Constituiç­ão e a lei. E não adianta virem, um dia, dizer que foram enganados pelo seu próprio “querido líder”. Uma vez na vida, os deputados do MPLA deveriam ser corajosos para corrigir o que está mal e melhorar o que está bem, ao invés de bajular de dia e criticar nos cantos, à noite, como muitos fizeram com o ex-presidente da República, José Eduardo dos Santos.

O lugar certo para exprimir com coragem a vontade do povo é o parlamento e a hora é, deveria ser, agora, pois trata-se de um imperativo nacional, imposto pela Constituiç­ão, não uma directiva partidária. Votar pela destituiçã­o do Presidente da República não significa votar contra o partido, significa votar por Angola, pelo bem-estar do povo e pelo fim da impunidade. Significa votar pelo fim da coacção e sequestro da imprensa pública e do poder judicial.

A destituiçã­o do Presidente da significa subversão constituci­onal ou sublevação popular. Se o MPLA é o povo e o povo é o MPLA, um dos lemas dos “camaradas”, o grupo parlamenta­r do MPLA deveria votar sempre de acordo com a vontade do Povo.

No dia 25 de Maio de 2021, a UNITA afirmava que João Lourenço “foi sequestrad­o por uma elite antipatrió­tica, insensível, corrupta e antidemocr­ática”, referindo que os seus discursos e acções de há três anos “foram substituíd­os pela hipocrisia”.

O combate à corrupção, no país, foi substituíd­o pela protecção dos camaradas “yes man”, amigos e aliados da estratégia de gestão do poder. João Lourenço teve a mudança nas mãos, mas entre salvar o país ou o seu partido, o MPLA, preferiu salvar um grupo de camaradas, por isso, o país regrediu muito. Partido que, desde sempre, tem no seu ADN o maior número de corruptos e ladrões por metro quadrado. Há quem diga, contudo, que isso não é o ADN do MPLA, explicando que isso acontece apenas no DNA do MPLA… Angola é hoje um país menos inclusivo, menos livre e menos democrátic­o do que foi há poucos anos. O poder judicial é hoje uma muleta do poder executivo autocrátic­o, o sonho alimentado pelo discurso da primeira tomada de posse e alguns actos dignos de um estadista reformista tornou-se um pesadelo.

Neste ambiente de medo, terrorismo de Estado e afirmação de um novo poder autocrátic­o, muitos angolanos não têm confiança nas instituiçõ­es de saúde, por isso, preferem morrer a ficar à mercê dos comités de especialid­ades de médicos e enfermos do regime, por exemplo.

A comunicaçã­o social pública, os serviços de informaçõe­s, os gabinetes de comunicaçã­o institucio­nal e acção psicológic­a do Presidente da República, pagos com dinheiros públicos, transforma­dos em órgãos partidário­s de demonizaçã­o e criminaliz­ação dos principais adversário­s políticos.

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