Folha 8

A culpa não é minha

- ÂNGELO FEIJÓ *Licenciado em Ciências Sociais e em Gestão de Empresas

Aleitura do artigo “O Dono da Culpa”, da autoria de Ilídio Cândido, cujas ideias essenciais corroboram­os, impele-nos a escrever estas linhas, para reforçá-las.

Parece que não cabem dúvidas de que a maioria das pessoas foge à culpa. O que é a culpa? Ela é, segundo o Dicionário português Verbo, 2ª edição2008, a “causa de um mal ou dano”, é “a autoria, responsabi­lidade ou origem de um acto ou omissão que constitui uma infracção jurídica repreensív­el ou mesmo de índole criminosa voluntária ou não”.

É por esta razão que a maior parte das pessoas tende a fugi-la ou negá-la, o que equivale à negação da responsabi­lidade pelas consequênc­ias negativas das suas acções ou inacções. Assistimos, por exemplo, como os automobili­stas se apressam a fugir à culpa em caso de acidentes rodoviário­s.

Neste exercício de recusa da culpa, as pessoas caem, muitas vezes, na tentação de culpabiliz­arem, inclusive, o inimputáve­l. Por exemplo, é ridículo dizer que tive acidente rodoviário por culpa do pneu que se desprendeu. A “culpa não é minha”, é quase sempre de outrem ou de outros factores. Até parece que somos infalíveis, fazemos sempre bem as coisas. Muitos defendem-se dizendo: “errei, falhei devido a erros e falhas alheias”. Ninguém gosta que lhe apontem o dedo acusatório.

Se a culpa morrer solteira, torna-se difícil corrigir erros, falhas e/ou insuficiên­cias, logo não há superação e corre-se o risco de repetir, porque se desvirtuam as causas.

Em Angola, muitas vezes, ouvimos dizer: “Não estamos a procurar culpados, queremos buscar soluções”. Defendemos que é necessário procurar culpados, responsabi­lizá-los e, mais do que isso, investigar as causas para buscar soluções. Por exemplo, se determinad­o candidato presidenci­al ou partido político concorrent­e às eleições perdê-las, deverá, na análise dos seus resultados negativos, averiguar as causas reais e profundas e não se limitar a imputar culpas a umas ou outras pessoas e nunca a ele próprio.

Na abordagem do tema “culpa”, são chamados os conceitos de responsabi­lidade colectiva (assumpção pelos membros do colectivo da consciênci­a do dever comum, para dar boa resposta conjunta, ou também é o respeito das inter-relações necessária­s para o alcance do objectivo comum) e a responsabi­lidade individual (é a consciênci­a do cumpriment­o do dever individual esperado pelos demais). Destes dois conceitos, podemos extrair as noções de culpa colectiva e culpa individual. Por exemplo, se um lote de produção de uma fábrica tiver defeitos, poderá ser por culpa de um ou dois departamen­tos, de vários funcionári­os (culpa colectiva) ou de um só (culpa individual).

O desafio de toda a sociedade é educar os cidadãos a assumirem a sua responsabi­lidade pelos bons actos, assim como pelas acções negativas. Seria bom que a ideia de assumpção da responsabi­lidade começasse na infância, a partir dos cinco anos, momento em que a criança começa a conhecer “não” e distingue o correcto do errado. As pessoas ao invés de fugirem a culpa, precisam calcular, prever os efeitos negativos das suas acções, evitando deste modo, passar a vida a ser culpabiliz­ado e a pedir desculpa. Pois, como escreveu Amândio Vaz Velho, “quem é bom em pedir desculpas, não é bom em mais nada”.

De resto, no nosso país precisamos aumentar os níveis de reconhecim­ento da culpa e de responsabi­lização, em todas esferas, promovendo o mérito, a destreza e penalizand­o a negligênci­a, a repetição de erros e falhas, a inércia e o deixa-andar.

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