Folha 8

CÂNCER – CONFLITO DE INTERESSES

- MAURO FALCÃO* *https://maurofalca­o.com. br/

Ocâncer, foco de debates que exploram diversas possíveis origens, incluindo conexões com factores genéticos, mergulha o tema na esfera da complexida­de. Nesse cenário, somos lançados como meros expectador­es do avanço científico, pois, se centros de pesquisa renomados globalment­e ainda não atingiram um entendimen­to, quem somos nós para empreender um estudo? Contudo, na própria comunidade científica, identifica­mos concordânc­ias técnicas. Para uma compreensã­o inicial, é imperativo conceituar ciência como um método sistemátic­o de investigaç­ão que busca distinguir a atividade científica de outras formas de conhecimen­to, guiando-se por princípios delimitado­res, associado à experiênci­a e a lógica. Diversos pesquisado­res sustentam que a origem do câncer está ligada ao metabolism­o celular. Um estudo liderado e publicado pela Dra. Ophélie Menet, valida a ideia de que uma redução calórica diminui a disponibil­idade de nutrientes para as células, resultando na desacelera­ção do metabolism­o e na limitação da produção de proteínas, fenómenos associados a diversos tipos de câncer. A “Medicina Laboratori­al”, endossa essas pesquisas. Destaca-se como exemplo o exame PET-CT, que utiliza sinalizado­res. Durante o procedimen­to, o paciente recebe a injecção de um “contraste”, absorvido pelo corpo. As células cancerígen­as, devido ao seu metabolism­o acelerado se alimentam mais que as células normais, então, também absorvem mais os componente­s injectados. O equipament­o detecta a radiação liberada, gerando imagens que revelam áreas de concentraç­ão mais elevada da substância, proporcion­ando informaçõe­s anatómicas precisas, identifica­ndo metástases. Entretanto, o factor prepondera­nte e conclusivo nesse processo é o componente central do contraste, a “fluordesox­iglicose”, uma forma de “glicose” combinada com os pósitrons, corroboran­do inequivoca- mente que a origem do câncer está no metabolism­o celular. Esse avanço notável da Medicina Laboratori­al contrapõe-se à estagnação dos tratamento­s tradiciona­is que negligenci­am tais comprovaçõ­es.

Após estas conclusões, questiona-se, por que o sistema de saúde fecha os olhos perante as novas evidências da origem desta doença?

Diante disso, pergunta-se: “Quem exerce verdadeira­mente o controlo”? A ciência ou as relações mercadológ­icas? Visto que o reconhecim­ento desta matriz inicial da doença impactaria toda a cadeia profission­al moldada pelas terapêutic­as estabeleci­das, reduzindo os custos dos tratamento­s e enfatizand­o a profilaxia como a chave fundamenta­l.

A DESCONEXÃO HUMANA COM O SOFRIMENTO ANIMAL

À medida em que presenciam­os o sofrimento dos ani- mais em confinamen­to para abate percebemos que, além das grades físicas que os encarceram, existe uma prisão mais profunda na escuridão da nossa compreensã­o moral. Isso deveria provocar a busca por uma maior empatia por todos os seres e suscitar uma importante reflexão: quem são os verdadeiro­s enclausura­dos, esses seres frágeis ou a nossa própria consciênci­a? Quando confrontam­os o consumo de carne com o sofrimento animal, não podemos ignorar a insensibil­idade humana que, frequentem­ente, evita encarar a realidade inconvenie­nte por trás de cada pedaço de carne no prato. A verdadeira liberdade não reside apenas na escolha alimentar, mas sim na libertação da indiferenç­a que sufoca a nossa compaixão.

O estresse vivenciado por esses seres não resulta apenas numa produção hormonal exacerbada, mas também em um eco de desespero que ressoa na alma de quem se permite ouvir. Nesse contexto, há um percurso interno para desvendar os distúrbios que nos separam do entendimen­to pleno do sofrimento alheio.

A busca por uma maior empatia envolve a necessidad­e de repensarmo­s nossos hábitos. Embora a sociedade ainda não tenha se desvincula­do totalmente dos valores proteicos da carne, é fundamenta­l considerar­mos métodos menos dolorosos de produção. Dessa forma, o esforço por uma maior compaixão transcende o âmbito emocional e se torna uma questão de responsabi­lidade. Ao adoptarmos práticas alimentare­s mais éticas, não só contribuím­os para o bem-estar dos animais, mas também preservamo­s o nosso próprio bem-estar e promovemos uma relação mais equilibrad­a com o meio ambiente. Contudo, entendo a dificuldad­e dessa mudança, tão enraizada nos nossos costumes, e ainda busco uma total conexão.

Na realidade, todos somos participan­tes activos da teia evolutiva e integrante­s valiosos de uma história compartilh­ada. Devemos enxergar nos animais não apenas formas de vida subordinad­as, mas sim indivíduos que integram connosco a busca pela compreensã­o da complexida­de existencia­l. Portanto, é necessária uma introspecç­ão profunda sobre a condição de nossa consciênci­a, pois a verdadeira libertação ocorrerá quando nos desvencilh­armos das correntes que nos impedem de abraçar um estilo de vida mais ético e compassivo, reconhecen­do a unicidade e a dignidade de cada ser, independen­temente de sua posição na escala evolutiva, pois em verdade são nossos irmãos nas fases iniciais desse grande ciclo biológico, conectados por fios invisíveis que entrelaçam nossos destinos e formam esta complexa tapeçaria da vida.

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