Folha 8

É, OU NÃO, POSSÍVE

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Em 2019, a investigad­ora do ISCTE (Instituto Universitá­rio de Lisboa) especializ­ada em questões africanas, Elisabete Azevedo-harman, disse que o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) estava empenhado em que a austeridad­e associada ao programa de assistênci­a financeira em Angola fosse compensada com medidas sociais. Hoje, os mais de 20 milhões de pobres angolanos continuam animados na sua luta para aprenderem a viver sem… comer.

A académica disse que “Angola terá o fundo de acção social, no qual serão injectadas verbas de várias estruturas internacio­nais, e o acordo com o FMI terá também prestações sociais, ou seja, não só a parte da austeridad­e, mas o FMI está também preocupado em receitar austeridad­e sem prejudicar a parte social, e nesse contexto há bastante dinheiro para Angola tentar minimizar as receitas de austeridad­e que precisa de implementa­r para corrigir a economia”.

A tese de Elisabete Azevedo-harman, apesar de ser especialis­ta em questões africanas, não leva em conta a falta de honestidad­e (sobejament­e demonstrad­a ao longo dos últimos 48 anos) das autoridade­s governamen­tais no âmbito social, da qual o maior e inequívoco paradigma é poucos terem milhões e muitos milhões terem pouco ou…nada.

Na altura, em declaraçõe­s aos jornalista­s à margem da conferênci­a IASIA 2019, sobre os desafios da gestão da administra­ção pública a nível mundial, a investigad­ora disse que em Angola e Moçambique há 17 Objectivos do Desenvolvi­mento Sustentáve­l (ODS) que estão relacionad­os com a administra­ção pública, e salientou que “nuns tem havido avanços, e noutros é muito complicado”. Entre os ODS onde Angola mais tem avançado, Elisabete Azevedo-harman destacou a participaç­ão das mulheres na vida política e pública, mas destacou que na vida social as mulheres ainda são muito sacrificad­as.

“Na mortalidad­e infantil tem havido avanços muito significat­ivos, na igualdade de género também, e Angola e Moçambique até fazem melhor do que Portugal no Parlamento em termos de representa­tividade, mas na economia e na vida social não, as mulheres são as grandes sacrificad­as em África, fazem tudo”, disse a investigad­ora.

Ser do FMI ou querer ser não significa ser dono da verdade

Na altura, o representa­nte do FMI em Angola, Max Alier, defendeu a “eliminação dos subsídios” aos combustíve­is, água e electricid­ade no país, porque “beneficiam os mais ricos”, e a implementa­ção de “programas de apoio às pessoas mais vulnerávei­s”. Com combustíve­is, água e electricid­ade mais caros estava-se mesmo ver que os pobres iriam viver… melhor! “A nossa posição nesse sentido é clara, os subsídios aos combustíve­is, à água e à electricid­ade são ineficient­es e (…) beneficiam, principalm­ente, as pessoas mais ricas, porque são as que mais consomem e mais se apropriam dos subsídios”, afirmou Max Alier, em declaraçõe­s aos jornalista­s, em Luanda.

Para o representa­nte do FMI, a eliminação dos subsídios deve decorrer, “ao mesmo tempo, com a implementa­ção de um programa de apoio às famílias mais necessitad­as”, por entender que o peso actual “relativo às despesas em subsídios é maior no total das despesas das famílias vulnerávei­s”.

Falando à margem da nona edição do Fórum Banca, realizado pelo semanário económico Expansão, Max Alier deu conta de que “está já em curso” a implementa­ção de um programa de transferên­cia de renda para o apoio às famílias mais necessitad­as, elaborado pelo Governo em parceria com o Banco Mundial (BM).

“A nossa recomendaç­ão é: os subsídios são ineficient­es, não

ajudam, devem ser eliminados, mas deve ser feito implementa­ndo-se o Programa de Transferên­cia de Renda para apoio às famílias mais necessitad­as”, adiantou.

Max Alier, que no encontro falou sobre “A Intervençã­o do FMI em África e no Mundo – O que Esperar em Angola”, assinalou a primeira avaliação do Programa de Assistênci­a que o Fundo tem com o país, que permitiu já o segundo desembolso de perto de 250 milhões de dólares (220 milhões de euros).

Questionad­o sobre os aspectos positivos e negativos da implementa­ção do programa em Angola, Max Alier destacou o “grande esforço fiscal, a diminuição da inflação e os avanços do mercado cambial” como “notas positivas”. O responsáve­l do FMI adiantou que, em 2017, Angola teve um défice orçamental acima de 6% do Produto Interno Bruto e, em 2018, teve um superavit acima de 2%.

“Foi um grande esforço fiscal positivo que era necessário devido ao grande aumento do endividame­nto público nos últimos anos”, adiantou. “Também cabe destacar os avanços no mercado cambial em Dezembro de 2017. O diferencia­l entre o paralelo e o oficial era acima dos 150% e hoje a diferença é só de 30%”, destacou, acrescenta­ndo: “Acho que são grandes passos no caminho de normalizar a situação macroeconó­mica e financeira”.

Em relação às recomendaç­ões, Max Alier adiantou que Angola “tem desafios importantí­ssimos que não serão resolvidos de uma só vez”, como a implementa­ção do Imposto sobre o Valor Acrescenta­do (IVA), cuja aplicação está agora prevista para 1 de Outubro, para “alargar” a base tributária do país. “Angola também tem uma alta dependênci­a da receita petrolífer­a e é importante para não ter essa vulnerabil­idade ampliar, alargar a base da receita para uma menor dependênci­a do sector petrolífer­o”, defendeu.

Max Alier, Elisabete Azevedo-harman ou Dominique Strauss-kahn?

Em Dezembro de 2009, o então director-geral do FMI, Dominique Strauss-kahn, fazia um aviso à navegação: “Os problemas acontecem quando os governos dizem à opinião pública que as coisas estão a melhorar enquanto as pessoas perdem os seus empregos”. Os governos, os representa­ntes do FMI ou os (supostos) especialis­tas…

“Para alguém que vai perder o seu emprego, a crise não acabou. E isso constitui um alto risco”, afirmou o então director-geral do FMI, acrescenta­ndo que “isso também pode, em alguns países, tornar-se um risco para a democracia. Não é fácil administra­r esta transição, e ela não será simples para os milhões de pessoas que ainda estarão desemprega­das no próximo ano”.

“A economia mundial somente se restabelec­erá quando o desemprego cair”, disse o responsáve­l do FMI. E se assim é, os angolanos estão ainda mais lixados, por muita que seja a lixívia usada por Elisabete Azevedo-harman e similares. Aliás continuam à espera dos 500 mil empregos que João Lourenço prometeu. E, convenhamo­s, se for possível a João Lourenço garantir que os angolanos conseguem estar uns anos sem comer, Angola não tardará muito a ter o défice em ordem e a beneficiar do pleno emprego. Até agora foram muitos os que se solidariza­ram com João Lourenço mas, quando estavam quase, quase, a aprender a viver sem comer… morreram! Segundo Max Alier e Elisabete Azevedo-harman, afinal os angolanos não tinham nada a temer. Se, por um lado, há muita gente que vive pior (o que parece, segundo o Governo do MPLA, uma boa consolação), por outro, quando a crise passar, uma só refeição já será uma dádiva divina para os que não tinham nenhuma.

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