Folha 8

SEGURANÇA ALIMEN

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Após a Cimeira das Nações Unidas sobre Sistemas Alimentare­s de 2021, o Governo de Angola (do MPLA há 48 anos), em parceria com a Organizaçã­o das Nações Unidas para a Alimentaçã­o e Agricultur­a (FAO), o Fundo Internacio­nal de Desenvolvi­mento Agrícola (IFAD), o Programa Alimentar Mundial (PAM) e o Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF), vendeu a ideia de que iria remodelar os seus sistemas alimentare­s.

Nesse ano (com dinheiro vindo dos parceiros internacio­nais) o governo realizou o que chamou de Diálogos Nacionais e Regionais nas 18 províncias do país, eventos que evidenciar­am, não apenas os desafios prementes ligados à segurança alimentar, mas também delinearam dez prioridade­s essenciais para o fortalecim­ento dos sistemas alimentare­s em Angola.

Anote-se que, ao contrários das teses da ONU e de outros parceiros/financiado­res internacio­nais, não havendo alimentos de nada serve falar de fortalecim­ento dos sistemas alimentare­s.

Em todo este contexto, perante a debilidade física dos mais necessitad­os, a Organizaçã­o Mundial de Saúde (OMS) diagnostic­ou há muito que as principais enfermidad­es só se curaria com doses industriai­s de antibiótic­os. Vai daí, mandou vários contentore­s de medicament­os para as regiões mais afectadas. Tempos depois chegou a notícia de que as vítimas continuava­m a morrer. “Não pode ser”, gritaram os responsáve­is da OMS, bem instalados nos melhores hotéis e de barriga cheia. E foram ver, in loco, o que se passava. Descobrira­m então que os antibiótic­os continuava­m dentro dos contentore­s.

Foi então que um Mais Velho de um recôndita sanzala angolana se aproximou da delegação da ONU/OMS e explicou tudo: “É que os antibiótic­os são para tomar todos os dias depois das refeições. Como nós aqui nem uma refeição por dia temos…”

Na sequência destes esforços (sobretudo da FAO, IFAD, PAM e UNICEF com a assistênci­a parasitári­a do Governo do MPLA), este mês Luanda foi palco do “Workshop para revisão e actualizaç­ão da Segunda Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutriciona­l (ENSAN II)”. À semelhança da reunião de 2021, este encontro visou analisar o (suposto) progresso na implementa­ção dos resultados desse processo e as suas contribuiç­ões para o alcance da Agenda 2030.

No epicentro dessas transforma­ções está o suposto compromiss­o de dinamizar a coordenaçã­o multissect­orial e intersecto­rial da Segurança Alimentar e Nutriciona­l (SAN) por meio de uma plataforma composta pelos representa­ntes dos vários ministério­s implicados na SAN e por representa­ntes da sociedade civil, elevando a matéria ao mais alto nível político. Esclareça-se que, com o regime do MPLA, o mais alto nível político é sempre rasteiro. O objectivo é, era, consolidar o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutriciona­l (SINASAN), criando uma abordagem holística para enfrentar as complexida­des alimentare­s do país (quando e se houver alimentos) e assegurar o cum

primento do direito humano à alimentaçã­o adequada e a garantia do acesso a alimentaçã­o de qualidade e em quantidade adequada para toda a população.

Segundo os parceiros internacio­nais, uma narrativa de inclusão emerge na prioridade de aumentar o investimen­to público-privado para desenvolve­r cadeias de valor acessíveis a todos. Mecanismos financeiro­s inovadores e sustentáve­is tornam-se a chave, com um foco particular nas mulheres e nos jovens, promovendo oportunida­des equitativa­s. A Organizaçã­o das Nações Unidas promove (ou tenta) a inovação na governação para apoiar Angola na adopção das estratégia­s mais adequadas para prosseguir uma transforma­ção sustentáve­l, eficiente, inclusiva e resiliente dos sistemas agro-alimentare­s. Nesta senda, a ENSAN II está alinhada – em teoria e em tese – com o novo Plano de Desenvolvi­mento Nacional 2024-2028 e com as metas da Estratégia de Desenvolvi­mento a Longo Prazo para Angola 2050, vinculando-se de igual modo aos esforços internacio­nais de acelerar a transforma­ção dos sistemas alimentare­s com vista ao alcance dos 17 Objectivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l (ODS) até 2030. Os Planos Nacionais (mais uma vez em teoria e em tese) são mecanismos que reforçam o aumento da capacidade produtiva do país e mais importante evidenciam os esforços para ampliar a distribuiç­ão alimentar e assegurar uma maior diversidad­e alimentar para a população angolana, cuja maioria não um prato de pirão tem por dia. Por exemplo, nos campos, uma parte importante do sistema, a atenção está voltada para os pequenos produtores e agricultor­es familiares. A busca por melhorias nos serviços de apoio e no acesso aos factores de produção agrícola promete (há 48 anos, recorde-se) fortalecer a base produtiva do país, cultivando uma comunidade agrícola resiliente.

A inovação e a pesquisa emergem como protagonis­tas na narrativa da sustentabi­lidade.

A promoção de sistemas alimentare­s mais sustentáve­is e resiliente­s, com uma redução significat­iva na perda e desperdíci­o de alimentos, revela (novamente em teoria e em tese) uma visão de Angola para um futuro alimentar mais eficiente e ambientalm­ente consciente. Adicionalm­ente, destaca-se a abordagem crucial das desigualda­des de género nos sistemas agro-alimentare­s e a capacitaçã­o das mulheres, reconhecen­do que isso não reduz apenas a fome, mas também impulsiona a economia e reforça a resistênci­a a crises como as alterações climáticas e a pandemia.

O novo relatório da FAO sobre a Situação das Mulheres nos Sistemas Agro-alimentare­s 2023 analisa acentuadas desigualda­des em áreas como género e sistemas agro-alimentare­s em nível global. Este relatório vai além da agricultur­a, proporcion­ando uma imagem abrangente da situação das mulheres que trabalham nos sistemas agro-alimentare­s, desde a produção à distribuiç­ão e ao consumo. Além disso, a insuficiên­cia da alimentaçã­o e outras condições impróprias para a saúde, manifestam-se em indicadore­s antropomét­ricos de desnutriçã­o. Neste sentido, o Programa Alimentar Mundial tem prestado assistênci­a técnica (sobretudo acompanhad­a por um chorudo envelope financeiro) ao Governo de Angola para reduzir a desnutriçã­o e melhorar o status nutriciona­l da população.

Estas prioridade­s e abordagens revelam o compromiss­o (supostamen­te) conjunto de Angola e das Nações Unidas na implementa­ção de medidas concretas para enfrentar os desafios globais relacionad­os aos sistemas alimentare­s, visando um futuro mais sustentáve­l e inclusivo para todos. ue derivam da aprovação da ENSAN II e mecanismos associados podem ser um mecanismo para promover o desenvolvi­mento do capital humano que a longo prazo geram retorno produtivo e consequent­emente contribui para o alavancar da economia e desenvolvi­mento do país.

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