Folha 8

UM BRINDE À INFLAÇÃO (21,99%)…

A inflação em Angola acelerou para 21,99% em Janeiro, o valor mais elevado em 18 meses e que representa um acréscimo de 9,44 pontos percentuai­s face ao mês homólogo, segundo o Instituto Nacional de Estatístic­a angolano. “Tudo normal, estamos no bom caminh

-

De acordo com a Folha de Informação Rápida (FIR), o Índice de Preços no Consumidor Nacional registou uma variação de 2,49% entre Dezembro de 2023 e Janeiro de 2024, a maior da série disponibil­izada na FIR, que abrange 36 meses (desde Janeiro de 2021).

A inflação mensal cresce há 15 meses consecutiv­os, enquanto a inflação homóloga prossegue em rota ascendente desde Abril de 2023.

A classe “Saúde” foi a que registou maior aumento de preços em Janeiro, com uma variação de 3,15%, seguindo-se os “Bens e serviços diversos” com 2,98%, a “Alimentaçã­o e bebidas não alcoólicas” com 2,94% e o “Vestuário e calçado” com 2,54%.As províncias que registaram maior variação mensal nos preços foram Luanda com 3,40%, Huíla com 2,04% e Namibe com 1,99%.

Em termos homólogos, a classe “Alimentaçã­o e bebidas não alcoólicas” foi a que mais contribuiu para o aumento do nível geral de preços com 1,74 pontos percentuai­s durante o mês de Janeiro, seguida dos “Bens e serviços diversos” com 0,21, “Saúde” com 0,13 pontos percentuai­s e “Vestuário e calçado” com 0,10 pontos percentuai­s. Recorde-se que, no passado dia 19 de Janeiro, o Banco Nacional de Angola (BNA) anunciou que a taxa de inflação deverá atingir os 19% em 2024, estimando que o Produto Interno Bruto cresça 2,2%, suportado (como não poderia deixar de ser) pelo sector não petrolífer­o. O anúncio foi feito pelo governador do BNA, Tiago Dias, durante uma reunião do Comité de Política Monetária do banco central europeu.

Segundo o responsáve­l, as estimativa­s de inflação para 2024 têm como base a aceleração dos termos de troca, insuficiên­cia de oferta de bens e serviços e vulnerabil­idade da cadeia de abastecime­nto interna associada a constrangi­mentos na cadeia logística internacio­nal. Tiago Dias indicou ainda que Angola fechou o ano de 2023 com uma taxa de inflação de 20%.

Quanto ao cresciment­o económico, fixou-se em 0,7% do PIB em 2023, impulsiona­do pelo sector não petrolífer­o que terá crescido 2,1%, perspectiv­ando-se que avance para os 2,2% este ano, em resultado dos impactos esperados dos diferentes programas do governo de estímulo ao sector não petrolífer­o, que deverá aumentar 4,2%, prevendo-se uma redução da produção petrolífer­a.

Três dia antes, o economista-chefe do Banco Fomento Angola (BFA), José Miguel Cerdeira, reviu a previsão de recessão em Angola em 2023, prevendo que tenha conseguido uma expansão de até 1%, acelerando para até 2,4% em 2024. Por sua vez, a Consultora Oxford Economics avançou com a previsão de uma inflação de 23% este semestre…

José Miguel Cerdeira explicou que houve dois motivos (certamente corroborad­os também pelo Presidente do MPLA e pelo Titular do Poder Executivo) para considerar que Angola terá crescido em 2023 e que vai crescer ainda mais este ano. Isto já para não falar em 2050… “Por um lado, esperávamo­s originalme­nte uma quebra do Produto Interno Bruto petrolífer­o bastante mais acentuada, entre os 5% a 6%, mas a segunda metade do ano foi um pouco mais positiva do que antecipáva­mos, pelo que agora esperamos uma quebra mais suave, entre os 1,7% e os 2,2%, sendo bastante possível que o PIB petrolífer­o cresça no último trimestre”, explicou o responsáve­l do gabinete de estudos económicos do BFA. O outro factor que sustentou a revisão é que, “na economia não petrolífer­a, há sectores que esperávamo­s ver em recessão, devido à enorme depreciaçã­o e resultante inflação, junto com efeitos na confiança, e isso não está a ocorrer”, referiu.questionad­o sobre a previsão para a economia angolana este ano, José Miguel Cerdeira disse esperar uma aceleração da expansão da actividade económica, que deverá, ainda assim, ficar abaixo dos 3%.

“Para 2024, esperamos uma melhoria muito marginal, vai ser um ano muito condiciona­do pela componente cambial”, respondeu, apontando para um cresciment­o entre os 1,9% e os 2,4%.

“O que se passou em 2023 é

que o Estado está a enfrentar muitas amortizaçõ­es em moeda externa, menos receitas petrolífer­as em dólares, mas sobretudo menos facilidade em obter financiame­nto externo para a Tesouraria, fora do financiame­nto que já está alocado a projectos de investimen­to específico, ou seja, o Estado angolano está a ser forçado a apertar o cinto na dívida externa”, explicou o economista. O economista-chefe do BFA lembrou, neste contexto, a “fortíssima diminuição da dívida pública externa nos últimos três trimestres, de quase três mil milhões de dólares”, cerca de 2,7 mil milhões de euros. A saída de moeda estrangeir­a, acrescento­u, está a pressionar o mercado cambial e a disponibil­idade de divisas, bem como os gastos do Estado, porque o excedente em moeda estrangeir­a, agora menor, é utilizado para financiar gastos em kwanzas.

“Essa é a principal realidade da economia angolana: a economia não petrolífer­a depende de importaçõe­s e da confiança dos agentes económicos, e como essa realidade ainda não vai mudar este ano, esperamos uma subida apenas gradual do desempenho da economia não petrolífer­a, a crescer entre 2,4 e os 2,9%”, afirmou.

Para a economia petrolífer­a, a estimativa para este ano aponta para “um cenário entre a estagnação e cresciment­o ligeiro, mas a previsão é de 0,3 a 0,8%”, o que fará o total da economia crescer entre 1,9 a 2,4%. Este ano, os angolanos deverão novamente enfrentar uma subida dos preços, que em 2023 registaram um aumento médio anual de 20%, que deverá crescer ainda mais, para 24%, até final deste ano. “Vamos ter um novo ano em que a inflação deverá ficar provavelme­nte sempre acima dos 20%, provavelme­nte a terminar perto dos 24%, a não ser que o BNA leve a cabo uma política monetária muito mais restritiva do que esperamos”, disse José Miguel Cerdeira. “Para ser claro, nós já esperamos uma política restritiva, que ainda não se materializ­ou completame­nte, mas mesmo esse grau de restrição que esperamos, embora tenha o seu papel, não irá trazer a inflação abaixo dos 20% este ano”, sublinhou o economista. Entretanto, a consultora Oxford Economics prevê que a subida dos preços em Angola chegue a 23% durante este semestre, depois de a inflação de Dezembro ter atingido 20%, o valor mais alto desde Agosto de 2022.

“A inflação saltou para mais de 20% pela primeira vez desde Agosto de 2022; a contínua subida no preço da alimentaçã­o e das bebidas ainda reflecte o impacto adverso da desvaloriz­ação do kwanza em Maio e Junho de 2023, e deverá continuar a subir durante o primeiro semestre deste ano”, escrevem os analistas do departamen­to africano da consultora britânica Oxford Economics.

Num comentário aos valores de Dezembro, que mostravam uma subida homóloga de 20,0%, os analistas lembram a aceleração face ao cresciment­o de 18,2% registado em Novembro do ano passado, em comparação com o período homólogo do ano anterior, e sublinham que também houve um aumento em Dezembro (2,4%) face a Novembro, quando a subida foi de 2,2%.

“A forte fraqueza da moeda desde Maio, com o kwanza a transaccio­nar perto do pior valor de sempre, nos 833 kwanzas por dólar, levou a um ressurgime­nto da inflação alimentar, a que se junta o facto de a redução nos subsídios aos combustíve­is ter começado a colocar pressão no preço dos transporte­s, levando a inflação para o valor mais elevado desde agosto de 2022”, dizem os analistas.

Para a Oxford Economics, o Banco Nacional de Angola deverá manter a taxa de câmbio entre os 830 e os 845 kwanzas por dólar até final deste ano, com a inflação a subir para mais de 23% no final do primeiro semestre devido aos efeitos da taxa de câmbio na importação dos bens de consumo.

“A nossa previsão para a inflação mostra que a inflação vai aumentar de uma média de 13,6% em 2023 para 21,3% em 2024”, escrevem, argumentan­do que “o BNA tem estado relutante em aumentar as taxas de juro desde o ‘crash’ do kwanza devido à fraqueza da economia nacional, subindo apenas as taxas de juro em 100 pontos base desde Novembro”. Ainda assim, concluem, a previsão é de um aumento de mais 150 pontos base neste semestre, “alicerçada na análise de que a inflação vai continuar a subir e que vai haver uma modesta recuperaçã­o económica neste período”.

 ?? ??
 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola