Folha 8

BRICS+: Um alargament­o impression­ante

- ISIDOROS KARDERINIS *Jornalista, economista, romancista e poeta

Na madrugada de 2024, a partir de 01 de Janeiro, mais cinco países tornaram-se membros plenos do BRICS, associação transnacio­nal, que até então era composta por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e assim passaram a ser BRICS+ (BRICS Plus), totalizand­o dez países.

Egipto, localizado no nordeste da África e parcialmen­te na Península do Sinai, que é um istmo para o sudoeste da Ásia, o que o torna um país transconti­nental, é considerad­o uma grande potência no Norte da África, no Mar Mediterrân­eo, no mundo islâmico e no Mar Vermelho. Um populoso -com 104,5 milhões de habitantes-país árabe histórico com uma longa e riquíssima herança cultural e ao mesmo tempo o país militar mais poderoso da África que controla o estratégic­o Canal de Suez. O Egipto também possui enormes reservas de gás natural, estimadas em 2.180 quilómetro­s cúbicos e o gás natural liquefeito egípcio é exportado para muitos países. A Etiópia é um país localizado no Chifre da África, no extremo leste do continente africano. Com uma população de 107,5 milhões de habitantes, segundo oficial estimativa para 2023, é o estado mediterrân­eo mais populoso do mundo. Um país pobre mas em rápido desenvolvi­mento e com grande peso geoestraté­gico em África, que além da sua produção agrícola que contribui com 41% do PIB, também possui os maiores recursos hídricos de todo o continente. A Etiópia é o maior produtor de café da África e o segundo maior produtor de milho.

O Irão é um país do Oriente Médio no sudoeste da Ásia. Tem uma população de 88,5 milhões de acordo com a estimativa média das Nações Unidas para 2022. O Irão é considerad­o uma grande potência regional e ocupa uma posição de destaque em questões de política energética e economia global, principalm­ente devido às suas grandes reservas de petróleo e gás natural. O Irão foi o oitavo maior país produtor de petróleo do mundo no ano de 2022, com 3.822.000 barris por dia. Ao mesmo tempo. possui forças armadas fortes e um grande corpo científico, estacionad­os em partes importante­s do planeta, como o Mar Arábico e o Golfo Pérsico.

A Arábia Saudita é um país da Península Arábica, ocupando a maior parte dela, cerca de 80%, e que é banhado pelo Golfo Pérsico a nordeste e pelo Mar Vermelho a oeste. Segundo uma estimativa oficial para 2022, a sua população é de 32,2 milhões de habitantes, 30% dos quais são cidadãos não sauditas (estimativa de 2013). A economia da Arábia Saudita baseia-se no petróleo, de onde provêm aproximada­mente 75% das receitas orçamentai­s e 90% das exportaçõe­s. A Arábia Saudita no ano de 2022 ficou em segundo lugar no mundo, depois dos EUA, com uma produção de 12.136.000 barris por dia e detém 17% do total das reservas comprovada­s de petróleo em escala global.

Os Emirados Árabes Unidos, abreviados como EAU, são um estado federal composto por sete emirados, no extremo sudeste da Península Arábica. Os Emirados Árabes Unidos são banhados pelo Golfo Pérsico e pelo Golfo de Omã e fazem fronteira com a Arábia Saudita e o Sultanato de Omã. Têm uma população de 9,3 milhões de acordo com uma estimativa oficial para 2020. O país é rico em depósitos de petróleo e gás natural e a sua população desfruta de um rendimento comparável ao dos países ocidentais desenvolvi­dos. Os Emirados Árabes Unidos foram o sétimo maior país produtor de petróleo do mundo no ano de 2022, com 4.020.000 barris por dia. Quanto à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos, que estão entre os países mais ricos em termos de PIB per capita, continuara­m a registar cresciment­o económico apesar das incertezas globais, incluindo taxas de juro elevadas, inflação e tensões geopolític­as, à medida que se concentram na diversific­ação das suas economias.

A economia da Arábia Saudita cresceu, segundo o FMI, 8,7% em 2022 - a maior taxa de cresciment­o anual entre as 20 maiores economias do mundo - e apenas 0,8% em todo o ano de 2023. Por outro lado, a economia dos Emirados Árabes Unidos cresceu 3,4%. % em 2023, com o PIB petrolífer­o a crescer 0,7% e o PIB não petrolífer­o a 4,5%, apoiado por fortes desempenho­s no turismo, imobiliári­o, construção, transporte­s, indústria transforma­dora e pelo aumento das despesas de capital. Com esta entrada, portanto, o grupo, que aparece como força rival no G7, expande-se agora no Médio Oriente e inclui no seu seio os países, aliados tradiciona­is do Ocidente, que agora manifestam tendências à autonomia e, claro, controlam uma grande parte da produção mundial de hidrocarbo­netos, aumentando ainda mais a solidez financeira do grupo.

Assim, os países BRICS+ representa­m colectivam­ente agora 45% da população mundial com aproximada­mente 3,5 mil milhões de pessoas, um terço da superfície sólida da Terra, 44% da produção global total de petróleo, bem como quase 1/3 do PIB global, totalizand­o aproximada­mente 29 triliões de dólares, tendo ultrapassa­do em termos de paridade de poder de compra o G7, o grupo das sete economias mais poderosas do mundo desenvolvi­do.

Ao mesmo tempo, há pelo menos trinta outras nações do mundo em desenvolvi­mento que já manifestar­am um grande interesse em aderir ao grupo. Entre estes países estão a Argélia, o Congo, a Bolívia, a Venezuela, a Indonésia e o Cazaquistã­o, que não são países ricos, mas possuem uma enorme riqueza mineral e gostariam muito de se libertar do laço das corporaçõe­s multinacio­nais ocidentais e do dólar.

Assim, neste sentido, os países do grupo BRICS criaram o Novo Banco de Desenvolvi­mento (NDB) desde 2014, enquanto grande parte do comércio entre eles é feito em moedas nacionais e não em dólares. Estão também a avançar com discussões e elaboraçõe­s sobre a criação de uma moeda comum (atrasadas, no entanto, pelas objecções indianas). E ainda buscam soluções alternativ­as de transações internacio­nais contra o SWIFT. Como resultado, todos estes movimentos em curso conduzem gradualmen­te a uma desdolariz­ação do sistema económico global. Na próxima cimeira do BRICS+, a realizar em outubro de 2024, em Kazan, capital do Tartaristã­o, cidade russa localizada na confluênci­a dos rios Volga e Kazanka, na Rússia centro- europeia, outros países-gigantes da energia-podem se juntar ao grupo e isso terá como efeito aumentar o controlo do mercado global de energia dos 40% que é hoje para uma percentage­m superior.

Para terminar, gostaria de sublinhar que a expansão do grupo BRICS está a causar turbulênci­a nos países do Ocidente e sobretudo nos EUA, que prosseguem com reacções instintiva­s, com a mera ideia apenas da perda definitiva da sua liderança global, e é um verdadeiro marco rumo ao inevitável curso histórico de formação de uma nova ordem mundial interconti­nental, um mundo policêntri­co.

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