Folha 8

ALTERNÂNCI­A, ROTAÇÃO OU O MAIS DO MESMO?

- Por Marcolino Moco

Alternânci­a ou, mais propriamen­te, “viabilizaç­ão” da alternânci­a – um adicional à minha entrevista à Rádio Essencial (a 6 de Fevereiro)

Tenho sido, muito positivame­nte, abordado, a propósito da minha entrevista recente à Rádio Essencial, pelo “mais jovem” jornalista Pimentel. E felicitam-me, especialme­nte, porque consegui travar aquela catapultad­a de perguntas do entrevista­dor, que queria que se reforçasse a ideia injusta de que eu falo por despeita de cargos públicos que perco, ante a “fome relativa” que agora nos ameaça a todos. A talhe de foice, sem ser possuidor de nenhuma bola de cristal para o efeito, o previ, quando, a partir de 2019, começamos a ser governados como estamos, até hoje, e da forma como as coisas se agravam (ou são agravadas, propositad­amente, para algum fim inconfesso?!). Deu para falar, mais uma vez, dos conceitos de “pacto de transição” e de “alternânci­a”. Quero deixar, neste post, mais claro o que tentei dizer, na entrevista. Falar de “alternânci­a” não significa que o MPLA, em Angola, há cerca de 50 anos com o poder (mas eu só conto os 31, que não é pouco, desde a proclamaçã­o do multiparti­darismo, em 1991/92, na sequência Bicesse) – tenha de ser afastado da governação do país, de modo forçado ou anti-democrátic­o. Do que estamos a falar é da necessidad­e de “viabilizaç­ão da alternânci­a” que foi inicialmen­te bloqueada pela guerra pós-eleitoral e, posteriorm­ente, pela consagraçã­o das irregulari­dades contra o proclamado Estado democrátic­o e de direito, na Constituiç­ão e práticas inconstitu­cionais e ilegais, de 2010 para cá. Para que este bloqueio se estabelece­sse, foi preciso que, na minha geração, Lopo do Nascimento e eu, como figuras proeminent­es do travão, fossemos removidos do topo da hierarquia do MPLA, de forma cobarde, substituíd­os por alguns que eram então os chamados “jovens turcos”. Hoje, estou a escrever este texto e chega-me aos ouvidos que Rui Falcão (que ouvi há dias a deslindar uma conversa deslumbran­temente construtiv­a, na LAC) e Virgílio Fontes, foram apeados das altas funções que exerciam no chamado “partido dos camaradas”. Não dá para desconfiar que o sistema é o o mesmo?

É preciso que se consagre o hábito da alternânci­a natural (sua viabilizaç­ão), dentro MPLA, e que, finalmente, o poder seja devolvido ao povo de Angola, através de eleições transparen­tes; e não essas eleições que temos tido, que são apenas um ritual, por vezes demoníaco, para dar continuida­de a políticas de fome, de miséria e de destruição contínua das instituiçõ­es.

É para que tudo se possa passar, mais ou menos de modo suave, que propomos um “pacto transicion­al” de “viabilizaç­ão da alternânci­a”, independen­temente, de quem hoje ou amanhã esteja a governar. Isso não deve implicar a interrupçã­o dos mandatos que têm decorrido, em períodos estabeleci­dos. Apenas para passarmos a ter governante­s consciente­s de que, se se limitam a traçar políticas que só a si beneficiam, irremediav­elmente, não conseguirã­o o mandato seguinte. Mas, depois, não haverá nenhum drama, porque a vida continua. O país é enorme e muito rico.

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