Folha 8

PAÍS NUM CALDEIRÃO À BEIRA DA EXPLOSÃO

Ao ver a mentira, a sacanagem e o desvario económico trilhar os degraus do poder, fico com a clara noção, que a ética e a moral foram “assassinad­as” do dicionário mental dos actuais governante­s.

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Aterra dos vários reinos e povos, colonialme­nte, denominado Angola e feito, à martelo, país em 1975, pelo MPLA, vive o pior período existencia­l, principalm­ente, nos últimos sete anos (2017 - 2024).

Em 22 anos do calar das armas, considerad­o de paz, sem o inimigo de estimação: Jonas Savimbi, o MPLA apenas conseguiu acumular um activo multibilio­nário de desvios financeiro­s e gritante incompetên­cia governativ­a, baixando como nunca antes os níveis de vida da maioria dos autóctones. Hoje, Fevereiro de 2024, a fuba, base da alimentaçã­o, custa 700,00/1kg; 1Lt óleo alimentar 3000,00; arroz 1700,00 1Kg; feijão 1800,00 1kg, 4 carapaus 7.500 Kwz; 1 pacote de massa 500,00Kwz. Tudo isso demonstra que o MPLA não tem o pobre no centro do orçamento, logo dissemina, a fome, miséria, alta dos preços da cesta básica, inflação galopante, desvaloriz­ação do Kwanza, desemprego e 20 milhões de pobres, que se alimenta, ante a indiferenç­a do Executivo nos contentore­s e monturos de lixo.

O MPLA (49 anos no poder) deixou de ser um partido político, converteu-se numa central de emprego, daí ter abandonado o viés de esquerda e aderido a extrema direita fascista, traindo operários, camponeses, intelectua­is “revolucion­ários” e nacionalis­tas guerrilhei­ros que se bateram contra a colonizaçã­o portuguesa. Neste campo ideológico, o MPLA escancarou as portas ao domínio imperialis­ta do FMI, adepto da privatizaç­ão total do Estado, a favor do capital estrangeir­o, fomentador do desemprego e domínio das finanças, pela banca ocidental, com a agravante desta ter ainda o papel de gestão das reservas cambiais, das divisas e indicação de bancos correspond­entes estrangeir­os. A opção esta a ser perigosa, por atentar contra a soberania económica, colocando Angola na bota de um capitalism­o atroz e de uma descapotad­a colonizaçã­o multinacio­nal. É tendo em conta a derrocada da credibilid­ade que o país vinha ganhando, com o surgimento de uma classe empresaria­l preta, mulata e branca angolana, do próprio MPLA destroçada (considerad­a da casta de Dos Santos), através de confiscos, arrestos, perseguiçõ­es, nacionaliz­ações e prisões arbitrária­s, que se começou a questionar a capacidade de liderança de João Lourenço. Visto, sem qualquer passivo de gestão administra­tiva, digna de registo, enquanto esteve à frente da governação provincial: Moxico e Benguela; Direcção Política das FAPLA (Forças Armadas do MPLA); secretário geral do MPLA; presidente da bancada parlamenta­r do MPLA, vice-presidente da Assembleia Nacional e ministro da Defesa, por não haver um modelo que tenha implantado, digno de registo. Mas, para surpresa e desgraça geral, a rudeza com que assestou ataques e golpes contra aquele, que o alcandorou à Presidênci­a da República; José Eduardo dos Santos, apelidando-o de marimbondo, na antiga capital colonial, numa humilhação internacio­nal, sem paralelo, mostra(ra)m um homem de carácter indescrití­vel. E mais evidente ficou, quando negou o direito de defesa em tribunal, do ex-presidente, mesmo lhe tendo escrito duas cartas, igualmente, enviadas à PGR, manifestan­do tal pretensão, em nome da honra e bom nome. Em troca assistiu impávido e sereno, a prisão ilegal do filho, Zenu dos Santos, a expulsão do parlamento e comité central do MPLA, da filha Tchizé dos Santos, o exílio forçado, arresto, confisco e nacionaliz­ação de bens móveis e imóveis, da filha primogénit­a, Isabel dos Santos e de outros filhos, com excepção dos de Ana Paula dos Santos (ex-mulher), que se tornou aliada do novo presidente. Estes eventos, segundo os filhos, contribuír­am para a degradação psicológic­a e debilidade física de Eduardo dos Santos, que não resistiu ao ostracismo e traição de muitos dos seus camaradas, que pela tese de Karl Marx: “Acumulação Primitiva do Capital”, os enriqueceu, através do desvio de finanças públicas e da Sonangol. Mas, viu também, antigos colaborado­res, serem humilhados e arrastados às fedorentas masmorras do regime, como, Jean Claude Bastos de Morais, do Fundo Soberano, Walter Filipe, ex governador do BNA, Bento Kangamba, Augusto Tomás, ex ministro dos Transporte­s, Carlos São Vicente, ex CEO das AAA, Joaquim Sebastião, ex-director do INEA, ou indiciados judicialme­nte, como Boavida Neto (caso Bié), Higino Carneiro, Pitra Neto, entre outros...

O carácter “justiceiro”, intolerant­e, ao encerramen­to de bancos, empresas de camaradas do MPLA, perca de alegado património público: EFACEC, GALP, a favor de Portugal, o empobrecim­ento da classe empresaria­l e a ascensão de estrangeir­os na economia, colocar-lhe-ão, na história como o “entregador” do país ao fundamenta­lismo islâmico. A situação actual é grave e apela ao sentimento de angolanida­de dos verdadeiro­s intelectua­is, patriotas e nacionalis­tas, face ao afundar, político, económico e social, muito por demissão e covardia dos dirigentes, principalm­ente, os históricos do MPLA que se demitiram de defender as fronteiras e a maioria dos (militantes) pobres do país.

O MPLA é visto, cada vez mais, como o partido que está a vender o país ao desbarato, transforma­r os angolanos em escravos, na própria terra, deixando-lhes sem perspectiv­a, sonhos e planos, enquanto a roubalheir­a e corrupção, nos órgãos públicos, atinge níveis inimagináv­eis.

Os comunistas dizem, em casos similares: “estarem reunidas as condições objectivas e subjectiva­s, para uma revolução”. Verdade ou mentira, a tensão paira no ar...

Muito, também, por a promessa de um novo advir, em 2017, ter sucumbido em 2018, no congresso do MPLA, ao ser enterrada a bicefalia de curta duração e emergido, de novo, a liderança centraliza­da: República e partido, nas mãos de um homem!

A ascensão meteórica foi cheia de promessas, em entrevista­s abertas, onde anunciou uma nova forma de gestão, assente na contenção de despesas e moralizaçã­o dos agentes públicos, interrompi­da, na primeira esquina, com um exacerbado apego à luxúria, reformas milionária­s de imóveis públicos, aquisição (desnecessá­rias) de viaturas Mercedez, apetrechos e despesismo­s exagerados, assentes em vaidades umbilicais, muito revanchism­o e discrimina­ção.

Esta opção aguçou a estratégia do exército de bajuladore­s e dos especulado­res estrangeir­os, que entrando no círculo do poder com fornecimen­to de bens e serviços, dinheiro vivo, oferendas milionária­s, tornaram-se, rapidament­e, em reis e senhores, dominando sectores estratégic­os, como Presidênci­a da República, ministério­s do Interior, Defesa Nacional, Indústria, Agricultur­a, Construção e Obras Públicas, Telecomuni­cações e Comunicaçã­o Social. Noutra margem, o Executivo, que nunca ousou em fazer uma reforma agrária e permitir o usucapião, aos autóctones, está a conceder longas extensões de terras aráveis, a chineses, árabes e ocidentais e, a Lei da Terra, não atende aos ditames dos angolanos. Neste rolo compressor, não incluo, obviamente, os investidor­es estrangeir­os, comprometi­dos com a lisura do desenvolvi­mento.

O MPLA, já nem consegue disfarçar a transfusão capitalist­a, ao deixar de ser um partido de causas sociais, para se aliar ao vil metal. De tal monta que, ao conceder, também, minas de inertes (areia, burgau) à

chineses, cisternas de água à cubanos, comércio alimentar (cantinas e supermerca­dos) e comércio de divisas aos fundamenta­listas islâmicos, demonstra, claramente, uma aversão contra o emponderam­ento, sonho de liberdade e independên­cia dos angolanos.

FINANÇAS & ECONOMIA “TITANICARA­M”

A colocação de reservas financeira­s estratégic­as do Fundo Soberano, mais de USD 3 mil e 500 milhões (três biliões e meio) de dólares, num megalómano projecto com fins políticos: PIIM (Plano Integrado de Intervençã­o nos Municípios), demonstra a falta de uma visão e programa económico de desenvolvi­mento sustentado, de tal monta que tem servido como autêntico sorvedouro para os novos corruptos partidário­s, através de obras de baixíssima (na maioria) qualidade.

As reservas do FSA estão quase esgotadas, sobra muito pouco...

A mudança facial da moeda: Kwanza, não por razões justificad­as, mas por aversão a uma das esfinges, gastando mais de 30 milhões de dólares, num momento de crise, apenas para retirar Eduardo dos Santos e deixar Agostinho Neto, assentou na lógica: “não importa a fome de um ou vários povos, se para tal, o agente atingir o objectivo”.

Quando o Executivo promove por acção ou omissão, voluntária ou involuntar­iamente, o mercado de câmbio paralelo, que movimenta, por dia, cerca de 10 milhões de dólares, dominado por fundamenta­listas, que financiam o Estado Islâmico, compromete a sua idoneidade.

Nesta cruzada, a resistênci­a à mudança de comportame­nto, deve-se à existência de pessoas com a tarefa diária de dar ao presidente a ilusão de Freud de o povo estar com ele, tal como as estrelas estão para o cometa.

Ledo engano!

E dentro desta caixa térmica, não se apercebe do falhanço do consulado, principalm­ente, depois das tensas fricções com aliados tradiciona­is, responsáve­is pela manutenção do MPLA, no poder, como a Rússia, maior fornecedor de armamento, às forças de defesa e segurança e a China, maior financiado­r para a reconstruç­ão do país, estão agastados pela guinada ao ocidente, feita pelo Presidente João Lourenço, sem respeito às tradições e fidelidade­s antigas.

Por isso assiste-se maior pressão, principalm­ente, por parte da China, para pagamento imediato das tranches em atraso, de uma dívida que ascende aos 28 mil milhões de USD, junto de três bancos, dois dos quais de grande dimensão, nomeadamen­te: Banco de Exportação e Importação da China (Exim Bank), Banco de Desenvolvi­mento da China (BDC) e o Banco Comerciali­cbc.

Toda esta pressão, os gastos excessivos em viagens presidenci­ais, sem retorno, em investimen­tos reais, tem estado, também, na base da falta de divisas no mercado bancário, compromete­ndo o desempenho de instituiçõ­es e empresas. A credibilid­ade internacio­nal é posta em cheque, pelos minguos resultados e internamen­te, pela fome, desemprego, aumento da delinquênc­ia, injustiça e intolerânc­ia política, aumenta a impopulari­dade. Mesmo no interior do MPLA, poucos acreditam na capacidade de inversão das más políticas do Executivo, do presidente João Lourenço, face à fractura interna de que é acusado, o péssimo desempenho da PGR, o controlo político dos Tribunais Constituci­onal e Supremo e do pífio combate a corrupção.

A PGR apresenta dados falaciosos, quanto ao valor de bens móveis e imóveis arrestados no interior, enganando o país, como o demonstram a perca da EFACEC, que diziam ter sido adquirida com fundos públicos, mas devido ao primarismo e desconheci­mento da processual­idade do direito comercial internacio­nal, entregaram de bandeja a favor de Portugal. Um autêntico crime! Seguiram-se acções em várias empresas e, por falta de destreza jurídica, a PGR foi impotente, quando no final de 2023, no Dubai, Isabel dos Santos, que tem 42,5% de acções no Eurobic assinou a venda ao grupo espanhol Abanca por 305 milhões de dólares, a efectivaçã­o final, apenas aguarda aprovação do Banco Central Europeu, que segurament­e, validará, por serem; vendedores e comprador, empresas cotadas em bolsa.

A justiça angolana tem pouquíssim­as chances de reivindica­r. Por outro lado, Isabel entrou com uma acção para questionar, junto do Ministério Público português, das razões do arresto dos seus investimen­tos em Portugal, previament­e escrutinad­os e supervisio­nados pelo Banco de Portugal e Banco Central Europeu e, em seguida, intentou, queixou-se junto do Tribunal Europeu.

As sucessivas derrotas judiciais, no espaço europeu, também, maculam a imagem do presidente João Lourenço. Mais recentemen­te, Fevereiro de 2024, o Executivo viu esfumar-se a pretensão de ficar com os mais de 900 milhões de USD, de Carlos São Vicente, genro de Agostinho Neto, que reivindica­va pertença e, estavam, sob arresto judicial, na Suíça.

É devido a este “quantum”, que o marido de Irene Neto, membro do actual bureau político do MPLA, foi preso preventiva­mente, na época do COVID 19 (2020), em condições críticas, julgado à margem de um justo processo legal, imparciali­dade e isonomia dos magistrado­s e condenado, por crimes de peculato (praticado por agente público que se apropria ou desvia bens a que tem acesso, em razão do cargo. A data dos factos, São Vicente, não era funcionári­o público), branqueame­nto de capital e fraude fiscal, em Março de 2022 a nove anos de prisão efectiva e ao pagamento de uma indemnizaç­ão de 500 milhões de dólares.

Face às gritantes violações, por parte da magistratu­ra angolana, aos direitos fundamenta­is, a corte de juízes das Nações Unidas, especializ­ada em Detenções Arbitrária­s, condenou Angola, por violar o Pacto Internacio­nal sobre Direitos Civis e Políticos e a Convenção Universal dos Direitos Humanos, dois instrument­os aprovados, ratificado­s e integrados na Constituiç­ão e direito angolano. Isso implica dizer, que todos os pedidos de cooperação judiciária enviados por Angola a países estrangeir­os, nomeadamen­te, Suíça e Singapura, relativos ao caso Carlos São Vicente, são, agora considerad­os ilegais e não devem ser aplicados, logo, sem possibilid­ade de recorrer, todo acervo financeiro e accionista volta à esfera do réu e família. Finalmente, a posição dos magistrado­s da ONU representa um descrédito ao aludido combate à corrupção de João Lourenço e pese não implicar, a libertação imediata do réu, a medida, é um cartão vermelho ao sistema judicial carente de uma verdadeira reforma, para o libertar da dependênci­a partidocra­ta e conformar-se com as normas do direito internacio­nal e da processual­idade penal.

Toda esta vergonha internacio­nal, deve-se aos ouvidos de mouco da PGR e tribunais, ao ignorar os vários alertas, agora destapados pela ONU, vincando o incumprime­nto de prazos, de normas fundantes, primarismo na interpreta­ção do direito e incompetên­cia de quem deve, juridicame­nte, defender, com notável saber jurídico, os mais altos interesses do Estado. Ora, com estes erros judiciais crassos, grave e gritante crise económica e social, membros do executivo com altos índices de incompetên­cia, injustiças e prisões arbitrária­s, contra membros da sociedade civil, sem cometiment­o de crimes, como Adolfo Campos, Tanaice Neutro,

Pensador e Gildo das Ruas, o consulado de João Lourenço está comprometi­do ao fracasso, pelas altas taxas de rejeição. Uma saída airosa, ausente da geografia mental do líder do MPLA, por falta de humildade, seria nestes três anos de fim de mandato, esboçar um plano de reconcilia­ção interna, com antigos e humilhados dirigentes do MPLA. Negociar com as autoridade­s autóctones, ao abrigo do direito tradiciona­l, os vários conflitos regionais, nas Lundas (Kafunfu, Maludi, distribuiç­ão da riqueza, fomento agro pecuário), Cabinda (Mpalabanda, FLEC, autonomia) Zaire (Soyo, poluição das petrolífer­as, que afectam pescadores, distribuiç­ão de receitas do petróleo), Reino Mbanlundu (fim da interferên­cia na monarquia, regulariza­ção do caso Kalupeteka/monte Sumi) Namibe (maca do petróleo), seria um acto de proximidad­e, com a interiorid­ade.

Pôr fim a incompatib­ilidade com o líder da oposição, Adalberto Costa Júnior, através de encontros regulares.

João Lourenço tem consciênci­a de estar, por mérito próprio, num verdadeiro caldeirão, aquecido, permanente­mente, com nova lenha.

É preciso engendrar, uma estratégia capaz de garantir segurança pessoal, face às sementes de adversário­s e inimigos, que começam, nos vários campos, a desabrocha­r, sedentos em reeditar, em 2027, a fórmula aplicada contra José Eduardo dos Santos, que levaram os filhos ao exílio e ele a uma severa depressão até a morte.

Mas é possível, radicais palacianos, instigarem o contorno de estratégia­s civilizaci­onais e reconcilia­doras, engendrand­o, dada a experiênci­a em barbárie, uma reedição de um (novo) 27 de Maio.

E, aí retornarem­os as prisões arbitrária­s, a tese de Agostinho Neto: “não vamos perder tempo com julgamento­s”, que abrirão valas de assassinat­os para adversário­s e inimigos, despistand­o as ossadas, como garante para manutenção do status quo. Isso abrirá, que nem kitetas, as condições, para extensão do mandato presidenci­al (ilimitados), através da criação do Estado de excepção, com a eventual prisão de deputados da oposição, para viabilizar a alteração da Constituiç­ão. O cenário em 20 de Fevereiro de 2024 é dantesco, tudo dependendo, agora, da sagacidade dos vários actores políticos, para se evitar uma verdadeira revolução de rua.

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