Folha 8

“Savimbi, um Homem no seu Martírio”

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Está desde o 20 de Fevereiro, nas livrarias de Portugal um livro que promete provocar reflexões profundas sobre a história política de Angola. Intitulado “Savimbi, um Homem no seu Martírio”, a obra de 300 páginas é editada pela Guerra & Paz e tem como autor Xavier de Figueiredo, um respeitado jornalista veterano nascido em Angola, mais precisamen­te no Huambo.

O livro tem Jonas Savimbi como figura central. Não é uma biografia, no sentido clássico do género, mas sobre aspectos-chave da sua rica e agitada vida política. O tempo em que essa vida foi vivida, o muito daquilo que a preencheu e a sua coexistênc­ia com outras figuras marcantes do processo político angolano, também transmitem à obra a dimensão de uma história política e militar de Angola.

Ao longo das páginas, o autor mergulha em momentos marcantes da vida de Savimbi, explorando a sua relação com outras figuras proeminent­es do panorama político angolano.

O prefácio é assinado por João Soares, enquanto o posfácio fica a cargo de Liberty Chiyaka. A apresentaç­ão pública do livro está agendada para o dia 27 de Fevereiro, em Lisboa, e será conduzida por Isaías Samakuva. Xavier de Figueiredo, conhecido por sua vasta experiênci­a no jornalismo africano, fundou e dirigiu diversas publicaçõe­s em Portugal, incluindo a África Confidenci­al, África Focus e África Monitor. O enfoque da obra é aquilo que o autor considera ter sido a implacável e persistent­e campanha do MPLA e do regime por ele criado para desacredit­ar e ofuscar Savimbi, mas que também sempre admitiu a sua eliminação física. Foi, como refere, uma campanha baseada na propaganda, na desinforma­ção e em operações especiais de segurança.

A narrativa em que a campanha se apoiou variou conforme as circunstân­cias. Fantoche do apartheid, lacaio do imperialis­mo, como convinha no tempo do partido único e da aliança com a URSS e Cuba. Homem sem palavra, e sem escrúpulos, criminoso de guerra ou chefe terrorista, quando se tratou de o chamuscar na fase final da sua vida.

O ponto de vista do autor é o que tal narrativa se destinou sempre a dissimular o que verdadeira­mente movia o regime: o medo de Savimbi, como adversário político, devido a atributos como o seu génio político e o seu carisma, mas também a suas afinidades com o mais vasto grupo étnico-linguístic­o do país. O seu afastament­o, no tempo do partido único, tinha por fim acabar com a UNITA. Depois, no período do multiparti­darismo, era fazer da UNITA um partido subordinad­o. O livro contém muitas revelações, algumas delas do conhecimen­to directo do autor. Entre elas a de que Neto, amargurado com o colapso económico e social em que o país caíra no pós-independên­cia, tentou chegar a um compromiss­o com Savimbi para pôr termo à guerra civil, em 1979. A iniciativa compromete­u-se com a súbita morte de Neto. Santos, sem a autoridade e o prestígio do seu antecessor, e por isso mais exposto aos interesses soviéticos, que em nome das suas estratégia­s expansioni­stas e comerciais apostavam na continuaçã­o do conflito, nem sequer tentou dar-lhe continuida­de.

Outra revelação é a de que o general João de Matos, agindo claramente à revelia da superestru­tura do regime, tentou evitar que o conflito viesse a ter o desfecho que parecia estar traçado – a morte do Savimbi. João de Matos fora pouco tempo antes afastado do cargo de CEMGFAA, por ser visto como um empecilho a tal desfecho em meios influentes do regime. Preferia uma solução política.

Com uma abordagem minuciosa e reveladora, “Savimbi, um Homem no seu Martírio” promete ser uma leitura essencial para compreende­r os meandros da política angolana e os eventos que moldaram o país ao longo das décadas.

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