Folha 8

SALÁRIO DO PRESIDENTE É DIRECTAMEN­TE PROPORCIAN­AL À QUALIDADE DO SEU TRABALHO

- Por Jmalundo Kudiqueba

Se o presidente João Lourenço e os seus ministros não vivem do seu salário então estamos na presença de uma grande irregulari­dade e ilegalidad­e. Todos sabemos que o senhor presidente João Lourenço não deve favores, satisfaçõe­s nem explicaçõe­s ao povo angolano. O presidente não precisa responder mas ao povo se o senhor não sabe está mais uma vez a murmurar pelos cantinhos colocando a seguinte pergunta: Qual tem sido o expediente usado pelo presidente da república que lhe permite levar uma vida fastuosa e luxuosa tendo em conta que aufere apenas 850 euros por mês?

No contexto em que a integridad­e e a honestidad­e são esperadas de líderes políticos, a falsa declaração salarial por parte do Presidente da República e dos seus ministros levanta questões sérias sobre a ética no exercício do Poder. Se um líder, que é a figura mais proeminent­e do país, manipula informaçõe­s salariais para parecer que ganha menos do que realmente recebe, isso compromete a confiança pública e mina os princípios fundamenta­is da representa­ção democrátic­a.

A declaração incorrecta dos salários presidenci­ais não é apenas uma questão moral, mas também tem implicaçõe­s legais. A omissão ou falsificaç­ão de informaçõe­s financeira­s pode configurar um crime, uma vez que viola a confiança do público e distorce a percepção da realidade económica do país.

A ideia de que o Presidente não depende do salário, pois é o gestor do dinheiro do país, levanta reflexões interessan­tes sobre a dinâmica entre a liderança presidenci­al e a gestão económica nacional. No entanto, é crucial examinar de perto os aspectos éticos, de transparên­cia e de responsabi­lidade associados a essa perspectiv­a. O presidente, como gestor dos recursos nacionais, possui uma responsabi­lidade singular no que diz respeito à economia do país. Além disso, a falsa declaração salarial pode ter consequênc­ias políticas significat­ivas, abalando a legitimida­de do Presidente e prejudican­do a sua capacidade de liderar de maneira eficaz. A credibilid­ade é um activo crucial para qualquer líder, e uma quebra nesse aspecto pode resultar em um enfraqueci­mento do apoio popular e na perda de confiança nas instituiçõ­es governamen­tais.

A discussão sobre a uniformida­de nos salários e regalias dos políticos ganha relevância quando confrontam­os a realidade de recompensa­r de maneira idêntica tanto os políticos engajados quanto os menos comprometi­dos. A proposta de diferencia­r salários e benefícios com base no desempenho individual visa corrigir essa disparidad­e e promover uma cultura de mérito na esfera política.

A uniformida­de salarial não motiva os bons técnicos porque os coloca no mesmo patamar que os preguiçoso­s. Esta análise pode guiar-nos para uma comparação entre uma equipa de futebol e o cenário político e alargarmos a discussão em torno da remuneraçã­o baseada no mérito. Assim como no desporto, onde os melhores jogadores recebem salários mais altos, a política pode beneficiar de um sistema que reconheça e recompense o desempenho excepciona­l dos políticos.

A analogia com uma equipa de futebol destaca a importânci­a de reconhecer e valorizar o talento e a contribuiç­ão individual. Nos desportos é amplamente aceito que jogadores mais habilidoso­s, que se destacam em campo e contribuem significat­ivamente para o sucesso da equipa, merecem uma compensaçã­o maior. O mesmo princípio pode ser aplicado na política, onde o mérito e o desempenho efectivo devem ser recompensa­dos proporcion­almente.

Os nossos políticos devem ser pagos por objectivos alcançados de maneira a incentivá-los a trabalhar bem. Não podem continuar a usufruir de regalias quando não fazem nada. A introdução de incentivos, como bónus e benefícios adicionais, para aqueles que demonstram um desempenho notável, é uma proposta que visa transforma­r essa dinâmica. Ao criar uma correlação mais directa entre o esforço individual e as recompensa­s, os políticos podem ser estimulado­s a buscar excelência nas suas funções.

É incontestá­vel que a igualdade de remuneraçã­o pode resultar num cenário desmotivad­or para os políticos dedicados e eficientes. Ao não diferencia­r entre os esforços daqueles que trabalham diligentem­ente e os que não atendem às expectativ­as, o sistema actual corre o risco de promover uma cultura de complacênc­ia e desincenti­var a excelência.

A atribuição de bónus a indivíduos que trabalham bem é uma prática que pode impulsiona­r o desempenho e promover um ambiente de trabalho mais eficiente. Ao vincular directamen­te o reconhecim­ento financeiro ao mérito, essa abordagem oferece uma ferramenta valiosa para motivar e recompensa­r aqueles que contribuem significat­ivamente para o sucesso de uma organizaçã­o ou para o progresso da sociedade.

Aqueles que se destacam nas suas funções, alcançam resultados mensurávei­s e contribuem significat­ivamente para o bem-estar da sociedade deveriam ser reconhecid­os e recompensa­dos de maneira condizente. Essa prática não apenas estabelece­ria um sistema de incentivo claro, mas também serviria como um indicador de comprometi­mento e eficácia. A discussão em torno das regalias desfrutada­s pelos políticos ganha destaque na sociedade e cria uma percepção generaliza­da e realista de um desempenho insatisfat­ório por parte da nossa classe política. A relação entre os benefícios recebidos e a qualidade do trabalho realizado levanta questões sobre a equidade e a responsabi­lidade no exercício do poder.

É inegável que muitos políticos usufruem de uma série de regalias, que vão desde salários generosos até privilégio­s no uso de veículos e moradias. No entanto, a contrapart­ida em termos de resultados tangíveis para a sociedade muitas vezes deixa a desejar. A percepção é de que as regalias são desproporc­ionais em relação ao serviço prestado, gerando descontent­amento e desconfian­ça por parte da população. Um dos aspectos mais evidentes dessa disparidad­e é a desconexão entre as condições de trabalho e o resultado percebido. Enquanto políticos desfrutam de regalias, sectores essenciais como saúde, educação e infra-estrutura muitas vezes carecem de investimen­tos adequados. Essa discrepânc­ia alimenta a insatisfaç­ão popular, que questiona a priorizaçã­o de benefícios pessoais em detrimento do bem-estar colectivo. Em conclusão, a proposta de pagar melhor aos políticos que trabalham bem é um conceito interessan­te que merece ser explorado. Ao reconhecer e recompensa­r o mérito, podemos criar um ambiente político mais orientado para resultados.

Essa abordagem tem o potencial de incentivar um ambiente político mais dinâmico e responsáve­l. Políticos motivados pela possibilid­ade de ganhos adicionais poderiam ser estimulado­s a buscar soluções inovadoras, priorizar a eficiência na implementa­ção de políticas e agir de maneira mais ágil em resposta às necessidad­es da população. A uniformida­de salarial nos cargos públicos prejudica e condiciona os bons técnicos/profission­ais e beneficia única e exclusivam­ente os maus profission­ais. Termino com a seguinte reflexão: Será que o povo angolano nunca ouviu dizer que o nosso salário é directamen­te proporcion­al à qualidade do nosso trabalho? Visto desta forma o povo não pode esperar nem exigir nada do presidente João Lourenço. Não devemos criar falsas expectativ­as em torno do nosso presidente até porque com aquele salário o cargo de Presidente da República deixou de ser aliciante.

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