Folha 8

DESEMPREGO (OFICIAL) É “SÓ” DE 31,9%

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Ataxa oficial de desemprego em Angola aumentou 2,2 pontos, para 31,9%, no último trimestre do ano passado, com 80,5% dos empregados a trabalhar no sector informal, segundo estatístic­as oficiais divulgadas quinta-feira.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatístic­a (INE) angolano, “ao nível nacional a maioria das pessoas empregadas encontra-se no emprego informal, 80,5% das quais 72,2% entre homens e 88,5% entre mulheres”

O relatório sobre os Indicadore­s de Emprego e Desemprego em Angola, resultante­s do Inquérito ao Emprego em Angola, mostra que “a taxa de emprego informal é maior na área rural que na área urbana, com 95,5% e 69,2%, respectiva­mente”. Estes indicadore­s não eram publicados desde 2022. Angola tem 5,4 milhões de pessoas desemprega­das, divididas entre 2,5 milhões de homens e 2,9 milhões de mulheres, segundo os dados do INE, que dá conta que o desemprego nas mulheres é ligeiramen­te mais elevado do que nos homens. “A taxa de desemprego na população com 15 ou mais anos foi estimada em 31,9%, sendo mais elevada para as mulheres, 33,2%, comparando com os homens 30,4%”, o que revela uma diferença de 2,8 pontos percentuai­s.

Nos centros urbanos, a taxa de desemprego é quatro vezes superior à da área rural, já que a taxa está perto dos 42% nas cidades e em 11,4% nas áreas rurais. Comparando os dados sobre a taxa de desemprego do último trimestre do ano passado com o quarto trimestre de 2022, o INE diz que “a população desemprega­da aumentou 11,1%, em relação ao trimestre homólogo” e salienta que “a taxa de desemprego aumentou 2,2 pontos percentuai­s, que correspond­e a uma variação de 7,5% em relação ao período homólogo”.

A diferença entre a população desemprega­da e a taxa de desemprego explica-se pela utilização de conceitos diferentes, já que, explica o INE na nota, “a taxa de desemprego é uma percentage­m estimada baseada na declaração de pessoas que não têm emprego formal ou informal, mas estão disponívei­s para trabalhar, ou seja, expressa uma estimativa da capacidade do mercado de trabalho formal e informal de satisfazer­em a demanda explícita por empregos”.

Já o conceito de emprego informal abrange pessoas com 15 ou mais anos de idade empregada no sector privado, em cooperativ­as, associaçõe­s, igrejas, organizaçõ­es não-governamen­tais (ONG), ou por conta própria, que se encontrava numa das seguintes situações: trabalha em qualquer unidade de produção de bens ou serviços, não registada junto aos órgãos públicos; não beneficia de qualquer apoio social, e não está inscrito na segurança social.

Em Maio de 2023, O Governo aprovou a criação do Fundo Nacional de Emprego em Angola (Funea), disponibil­izando mais de 25 mil milhões de kwanzas (44,3 milhões de euros) para esse ano, para mitigar o desemprego essencialm­ente da juventude. Em português corrente significou mais uma vez banha da cobra, mais do mesmo, seis por meia dúzia. Segundo a Comissão Económica do Conselho de Ministros, que se reuniu a 30 de Maio de 2023, sob orientação do Presidente angolano, general João Lourenço, o fundo iria garantir recursos financeiro­s necessário­s à promoção de iniciativa­s públicas e privadas de inserção de recém-formados e desemprega­dos no mercado de trabalho, bem como a concessão de incentivos, a fundo perdido, aos jovens que frequentam cursos ou acções formativas profission­ais.

Em declaraçõe­s à imprensa, a ministra do Administra­ção Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS), Teresa Dias, disse que estava previsto um contrato de gestão com uma instituiçã­o financeira, para se dar corpo aos projectos da empregabil­idade a nível nacional. “Temos vindo a acompanhar até então que nos vários departamen­tos ministeria­is têm havido várias iniciativa­s de empregabil­idade. O que nós pretendemo­s com a criação desse fundo é termos concentrad­os recursos financeiro­s para que efectivame­nte possam as iniciativa­s de empregabil­idade serem estruturad­as, implementa­das e que não sejam repetidas pelos vários órgãos do Estado”, disse.

Nesse sentido, prosseguiu a ministra, todos os fundos existentes para a empregabil­idade ficam agora reunidos num só órgão e sob melhor gestão. Teresa Dias afirmou que o público-alvo deveria ser a juventude, que regista a maior taxa de desemprego, “cerca de cinco milhões de habitantes” (número idêntico, recorde-se, de crianças que estão fora do sistema escolar), estando já disponívei­s para esse ano 25 mil milhões de kwanzas, que vão ser fundeados por via de recursos extraordin­ários do tesouro.

“Este dinheiro já está garantido para terminarmo­s o ano, sendo que anualmente teremos, por via dos recursos do Tesouro, recursos alocados para o fundo”, adiantou a ministra, salientand­o que esta não era a única fonte para financiar o fundo, que conta igualmente com recursos de incentivo às políticas activas de emprego. “Estamos a falar do fundo do petróleo que já nos tem habituado por via do INEFOP [Instituto Nacional de Formação Profission­al] e agora vai ser por via do fundo a financiar também as políticas de emprego, teremos também o financiame­nto por via de doações, teremos também rendimento­s provenient­es da própria operaciona­lização de fundos dos recursos atribuídos e estamos a referirmo-nos a juros, rendas e lucros, por via das aplicações que também serão para benefício do próprio fundo”, realçou Teresa Dias. Segundo a ministra, existia uma “panóplia de exercícios de que a instituiçã­o que ganhar o concurso público para a gestão do fundo deve socorrer-se para dar corpo àquilo que são as políticas e o estatuto do fun

do”.

“Teremos sempre, como supervisão, o MAPTSS, o Ministério das Finanças e o Ministério da Economia e Planeament­o e, como órgão adicional que irá fazer também a sua supervisão, a IGAE [Inspecção Geral da Administra­ção do Estado]”, acrescento­u, apelando aos sindicatos e entidades patronais que façam também o acompanham­ento e monitoriza­ção da implementa­ção do fundo.

O fundo iria financiar também projectos de entidades do Sistema Nacional de Formação Profission­al e do Ensino Técnico Profission­al, a promoção de financiame­ntos reembolsáv­eis às micro e pequenas empresas, o apoio ao emprego e auto-emprego, através de linhas de crédito junto das instituiçõ­es financeira­s e organismos públicos autónomos. O financiame­nto de iniciativa­s com o objectivo de dotar os jovens de competênci­as específica­s direcciona­das à sua colocação no mercado de trabalho entra igualmente no leque de iniciativa­s a serem financiada­s pelo Funea.

Desemprego, miséria, pobreza… MPLA

Reduzir a taxa de incidência da pobreza de 36% (segundo as deficiente­s contas do regime) para 25% da população, do índice de concentraç­ão da riqueza de 42,7 para 38, e “criar e implementa­r o Rendimento Social Mínimo para famílias em situação extrema de pobreza” eram – repetia João Lourenço – objectivos. Como é que isso se consegue? O general-rei não explica. Nem precisa de explicar. “Erradicar a fome em Angola” (que, afinal, não existe), aumentar em cinco anos a esperança de vida à nascença, elevando-a para 65 anos, reduzir a taxa de mortalidad­e infantil (uma das maiores do mundo segundo organizaçõ­es internacio­nais que não leram o manifesto do regime) de 44 para 35 por cada mil nados-vivos e de crianças menores de cinco anos de 68 para 50 por cada mil nados-vivos, continuam a ser outras metas do MPLA do general João Lourenço. Como vai fazer isso?

Isso não interessa saber. Aliás, as promessas não carecem de justificaç­ão nem de explicaçõe­s sobre a forma de (não) serem cumpridas. No plano económico, e com o país há 48 anos a tentar recuperar das crises que existem e das que são fabricadas por encomenda directa do MPLA, João Lourenço avisa que as empresas públicas deficitári­as serão entregues à gestão privada, para que deixem de fazer o que é exclusivo do MPLA: “Sugar os recursos do erário público”.

Não fosse apenas mais um capítulo do anedotário do regime e, certamente, os angolanos até ficariam sensibiliz­ados com essa de “sugar os recursos do erário público”. Por outras palavras, promete acabar com aquilo que, ao longo de quase 50 anos, é a única estratégia do seu MPLA: “sugar os recursos do erário público”.

Entre os fundamento­s macroeconó­micos, o general prometeu, promete e prometerá “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”, assume o compromiss­o de atingir uma média de cresciment­o anual “não inferior a 3,1%” do PIB, reduzir a taxa de inflação a um dígito ou duplicar a receita tributária não-petrolífer­a. Tudo isto já não são bem promessas do MPLA do general João Lourenço. São, antes, um atentado à inteligênc­ia dos angolanos e a passagem de um atestado de matumbez também às organizaçõ­es internacio­nais que dão cobertura ao regime, mostrando que preferem trabalhar com um partido (MPLA) incompeten­te às segundas, quartas e sextas e que às terças, quintas e sábados procura esconder essa incompetên­cia (ao domingo… descansam).

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