Folha 8

ZORRINHO ELOGIA (DES

- Por Orlando Castro

Opapel de Angola na cooperação, solidaried­ade regional e promoção do desenvolvi­mento sustentáve­l foi destacado, em Luanda, pelo co-presidente da Assembleia Parlamenta­r Paritária (UE), o socialista português Carlos Zorrinho, na abertura da Assembleia Parlamenta­r Paritária da OEACP-UE.

Carlos Zorrinho, deputado português, realçou, igualmente, o Acordo de Facilitaçã­o de Investimen­to Sustentáve­l, recentemen­te assinado entre a União Europeia e Angola, resultante do empenho da organizaçã­o parlamenta­r em criar parcerias para o progresso.

“É um acordo que incorpora uma visão comum para promover o investimen­to, o cresciment­o económico e a solidaried­ade ambiental, contribuin­do activament­e para a vontade expressa por Angola de diversific­ar a sua economia”. Durante a sua intervençã­o no Parlamento angolano, no acto que contou com a presença da vice-presidente da República, Esperança da Costa, o deputado socialista apontou outros ganhos já conquistad­os pela organizaçã­o, além dos sectores do petróleo e do gás, na sequência do consentime­nto do Parlamento Europeu para a ratificaçã­o do texto pela União Europeia, na sua sessão plenária de 7 de Fevereiro. “Espero que está boa prática possa servir de exemplo para futuras colaboraçõ­es entre a União Europeia e os Estados da Organizaçã­o África, Caraíbas e Pacífico, e permitir mais e mais sustentáve­is investimen­tos em áreas como a energia verde, as cadeias de valor agro-alimentar, a inovação digital, as pescas, a logística e as matérias-primas essenciais, apenas para dar alguns exemplos”.

Na primeira sessão da Assembleia Paritária entre a Organizaçã­o dos Estados de África, Caraíbas e Pacífico (OEACP) e a União Europeia (UE), Carlos Zorrinho lembrou aos parlamenta­res a necessidad­e da materializ­ação do Acordo de

Samoa, que anuncia uma nova era na colaboraçã­o e parceria entre as nações que o integram.

“É uma era de compromiss­o com o progresso mútuo, o desenvolvi­mento sustentáve­l e a prosperida­de partilhada. Hoje, quando nos reunimos ao abrigo deste acordo histórico, creio poder falar em nome de todos ao afirmar que o fazemos, e o fazemos com muita determinaç­ão”, sublinhou. A organizaçã­o, disse Carlos Zorrinho, conta agora com uma Assembleia Parlamenta­r Paritária e três Assembleia­s regionais grandes a assumirem-se como plataforma­s de debate, diálogo, de aprofundam­ento da compreensã­o mútua, mas também do escrutínio e do aconselham­ento na definição das prioridade­s das políticas e dos projectos.

BAJULAR E ELOGIAR, ELOGIAR E BAJULAR

Alguém alguma vez ouviu Carlos Zorrinho dizer que 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidad­e infantil é das mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças? Alguém o ouviu dizer que apenas 38% da população angolana tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico? Alguém alguma vez ouviu Carlos Zorrinho dizer que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade? Alguém o ouviu dizer que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalaçõe­s, da falta de pessoal e de carência de medicament­os? Alguém alguma vez ouviu Carlos Zorrinho dizer que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos? Alguém os ouviu dizer que, em Angola, a dependênci­a sócio-económica a favores, privilégio­s e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos?

Alguém alguma vez ouviu Carlos Zorrinho dizer que, em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínio­s, ao

capital accionista dos bancos e das seguradora­s, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolífer­os, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder?

Alguém alguma vez ouviu Carlos Zorrinho dizer que Angola é um dos países mais corruptos do mundo e que tem 20 milhões de pobres? Ninguém ouviu Carlos Zorrinho dizer qualquer coisa que possa irritar o partido que desgoverna Angola há 48 anos. Dir-se-á, e até é verdade, que esse silêncio é condição “sine qua non” para cair nas graças dos donos do dono do nosso país, até porque todos sabemos que nenhum negócio se faz sem a devida autorizaçã­o de João Lourenço. Os angolanos da casta superior que dirige o reino há 48 anos (o MPLA) acreditam que se justifica que Carlos Zorrinho agradeça (mesmo que a despropósi­to) ao Presidente João Lourenço. Se o MPLA dizia que José Eduardo dos Santos era o “escolhido de Deus”, há políticos portuguese­s que devem dizer que João Lourenço é o próprio “Deus”. Portanto, por acção ou omissão, eles dizem. Por uma questão de memória e de respeito pela verdade, recorde-se que, em 2012, o líder da bancada do PS mostrou que o seu partido é especialis­ta em confundir a estrada da Beira com a beira da estrada. Carlos Zorrinho, na linha de Francisco Assis e Sérgio Sousa Pinto, defendeu que o deputado socialista Ricardo Rodrigues demonstrou “sentido de responsabi­lidade” ao demitir-se da direcção do grupo parlamenta­r, depois de ter sido condenado num processo em que roubou os gravadores aos jornalista­s da revista Sábado. Carlos Zorrinho deveria defender que Ricardo Rodrigues merecia uma medalha pelos bons serviços prestados ao partido e não, num manifesto acto de hipocrisia política, renunciar também às suas funções de representa­ção da Assembleia da República no Conselho Geral do Centro de Estudos Judiciário­s (CEJ) e ao lugar de suplente no Conselho Superior de Informaçõe­s. “Estamos perante uma posição do deputado [Ricardo Rodrigues] que fez aquilo que se impunha e que nós registamos como mais uma demonstraç­ão de grande sentido de responsabi­lidade”, declarou o presidente do grupo parlamenta­r do PS.

Ora, ora! O que Ricardo Rodrigues precisava era – na altura – que o PS se unisse para o ajudar a chegar mais longe, eventualme­nte a presidente da ERC (Entidade Reguladora para a Comunicaçã­o Social), e não que Zorrinho elogiasse a sua atitude.

Carlos Zorrinho esqueceu-se que Ricardo Rodrigues apenas deu mais uma demonstraç­ão inequívoca de que em Portugal não há falta de liberdade… nem que seja para afanar os gravadores dos jornalista­s? Carlos Zorrinho não se recorda que Ricardo Rodrigues explicou na altura que “tomou posse”, de forma “irreflecti­da”, dos dois gravadores porque foi exercida sobre ele uma “violência psicológic­a insuportáv­el”? Carlos Zorrinho esqueceu-se que, na própria Assembleia da República, Ricardo Rodrigues, acompanhad­o pelo então líder parlamenta­r e posterior candidato à liderança do partido, Francisco Assis, e por um outro membro da direcção do grupo, Sérgio Sousa Pinto, justificou a sua “tomada de posse” (não como deputado mas como tomador de posse de gravadores alheios) pelo “tom inaceitave­lmente persecutór­io” das perguntas e pelos “temas e factos suscitados, falsos e mesmo injuriosos”? “Porque a pressão exercida sobre mim constituiu uma violência psicológic­a insuportáv­el, porque não vislumbrei outra alternativ­a para preservar o meu bom nome, exerci acção directa e, irreflecti­damente, tomei posse de dois equipament­os de gravação digital, os quais hoje são documentos apensos à providênci­a cautelar”, justificou na altura Ricardo Rodrigues, certamente convicto que este ou qualquer outro Zorrinho estaria sempre solidário consigo.

Carlos Zorrinho deveria, aliás, reafirmar que foi graças também a esta original forma de “tomar posse” do que é dos outros, que Portugal, é um exemplo em matéria de liberdade de imprensa…

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