Folha 8

ONU: Complacent­e para uns, indiferent­e para outros!

- JORGE EURICO

OAlto Comissaria­do das Nações Unidas para os Direitos Humanos concluiu, há poucos dias, que a detenção do empresário angolano, Carlos São Vicente (que se encontra a cumprir uma pena de prisão em Luanda por comprovado­s crimes de peculato, fraude fiscal, branqueame­nto de capitais e pagamento de uma indemnizaç­ão de 500 milhões de dólares) foi arbitrária e, como tal, constitui uma violação do direito a um julgamento justo. A posição do sobredito organismo da ONU é, quanto a mim, facciosa.

E faz lembrar aquele nosso parente “estarola” que empunha o garfo quando o jantar à mesa é um prato de sopa. Sugere que o empresário angolano São Vicente foi preso de forma arbitrária ou por razões políticas. Não é, ao que consta, nem uma nem outra coisa. Todavia, manda a verdade dizer que, afinal, estão eivados de razão todos aqueles que advogam uma imperiosa e profunda reforma da ONU por já não mais correspond­er às razões para as quais foi criada. Destarte, sou obrigado a juntar a minha voz à de todos aqueles que defendem melhorias no Sistema daquela organizaçã­o multilater­al mundial ou à dos mais radicais que pleiteiam ser, hoje, uma instituiçã­o inútil e, por isso, são pela sua extinção. Angola é o que é. Tem os seus problemas. Está certo! Mas é um País soberano.

A Justiça angolana é questionáv­el, sim. Mas não queira a ONU ter a insolência de insinuar que Angola é um torrão sem Lei nem Deus. Sem rei, nem roque. Nada disso!

As cadeias angolanas albergam um número indetermin­ado de presos políticos e cidadãos presos arbitraria­mente. Nunca se ouviu a ONU a tomar posição nenhuma a favor dos mesmos.

Há cidadãos doentes nas prisões angolanas a quem é denegada a assistênci­a médica e medicament­osa.

E a ONU sempre manteve-se caladinha. Mas sobre a prisão e o estado de Saúde de São Vicente a ONU foi solícita e tomou uma posição pública sem titubear.

A ONU é uma instituiçã­o a quem o Estado angolano paga as suas quotas. Julgo que as tem em dia.

A organizaçã­o liderada por António Guterres tem de deixar de ser hipócrita.

Tão hipócrita como aqueles que pregam a água e, à sorrelfa, tomam vinho feito gente grande.

Ora, se Roma nunca pagou a traidores, porque razão Luanda tem de continuar a pagar a uma organizaçã­o hipócrita? A ONU tem de interceder por todos angolanos presos políticos e cidadãos presos arbitraria­mente nas cadeias angolanas e não sair em defesa apenas de uma pessoa particular.

A ONU não pode ser política e convenient­emente complacent­e para uns e indiferent­e para outros.

O sangue de São Vicente é tão vermelho como o de outros cidadãos presos de forma arbitrária e por razões políticas de facto.

E, neste aspecto, a ONU manifesta-se vesga ou olha para os cidadãos angolanos de forma categoriza­da.

 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola