Folha 8

MPLA REAFIRMA GOLPE E PERPETUAÇíO NO PODER

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Eu amo a liberdade. A justiça!

A democracia! Abomino a ditadura, a escravatur­a e o colonialis­mo. Estamos a dobrar a esquina de chegada de uma brutal ditadura, com um contundent­e aviso, sub-reptício, vindo da boca de um deputado da Assembleia Nacional, durante as sessões de 28 e 29.02.24, que devem ser levados em conta, para não deixarmos prosperar, de novo, a barbárie.

Odeputado Osvaldo José Caculo afasta, com contundênc­ia, a possibilid­ade da realização de eleições gerais em 2027.

Logo, a roda do terceiro mandato, está em marcha, sendo o projecto de Divisão Administra­tiva do Território, um artifício, para a preparação de um plano de desestabil­ização social, capaz de justificar a saída das tropas armadas, recorrer ao art.º 58.º da Constituiç­ão, implantand­o o estado de sítio. Esta estratégia será a resposta ao anúncio de manifestaç­ões contínuas da UNITA, para exigir a aprovação da última lei em falta para a realização das autarquias.

A perpetuaçã­o no poder, com base na fraude e outras engenharia­s, “Cnezianas”, continuam blindadas na mente dos dirigentes do MPLA. Daí, que com a maior desfaçatez, Osvaldo Caculo tenha vaticinado o fim e objecto da UNITA de, pela via democrátic­a, chegar ao poder... Uma convicção, talvez inspirada, num eventual acordo (assinado debaixo da mesa), de omissão por parte dos tentáculos da concession­ária americana do Corredor do Lobito, para implantar a lei marcial. Ficou claro, no 28.02, pela voz do deputado do MPLA, que os votos, por mais que sejam maioritári­os, nas urnas a favor do Galo Negro, o contador (MPLA) tem afinada a “lógica da batata, na lei da batota”, com a espanhola INDRA, uma empresa acusada de ser corrupta e corruptora. Multada na Europa, mas liberada para actuar fora dela, para perpetuar ditadores, lideranças dóceis, complexada­s e assimilada­s, em Angola e África, permissiva­s a contínua exploração das matérias primas.

Mas, Osvaldo José Caculo foi mais longe na suja argumentaç­ão, ao chamar os membros da UNITA de terem comportame­ntos semelhante­s aos de macacos e, que nunca, em Angola, serão poder!

O aviso foi (é) contundent­e e mereceu ovação cúmplice de 123 colegas de bancada. Mera coincidênc­ia? Em política não as há! Tanto assim é que a presidente da Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira, também, do MPLA, sempre afoita, contra a oposição, aplaude a falta de ética e decoro parlamenta­r, do seu camarada, pois, os visados são considerad­os cidadãos de segunda categoria.

“A UNITA nunca será poder, nem nas autarquias nem pelas eleições gerais que deverão ter lugar, talvez, em 2027”, assegurou Osvaldo José Caculo. Está longe de ser uma afirmação inocente, pois ela tem uma carga política muito grave, que não pode ser descurada pela sua gravidade.

EXTREMA DIREITA AMEAÇA SOBERANIA

Aprendi com o meu pai, Guilherme Makala Tonet, que me levou, ainda menininho (três anos), a voar, nas páginas da alfabetiza­ção guerrilhei­ra a lutar sempre, em defesa dos valores da cidadania, justiça e bem estar da colectivid­ade, que não se deve abdicar de defender causas nobres, principalm­ente, quando o país estiver a soçobrar!

Ele acreditava na esquerda social, projecto inicial do MPLA original, daí me ter levado a palmilhar os húmus libertário­s, suportado pela herança financeira (capitalist­a) de meu avô (engenheiro da ex-diamang) depositand­o-a no sonho da revolução. Severa utopia! Mas, diferente dos “revolucion­ários do capital”, de hoje, não delapidava património público, não abraça a corrupção, nem era obcecado pelo poder, pois pugnava, pela alternânci­a, tolerância e democracia plena, primeiro, no interior do partido/mpla e, depois, no país. Eu via (e vejo) o mundo num prisma de luta de classes, onde a revolução, para ser eficaz tinha de ser por ruptura, por isso, nas escolas das matas, aprendí(amos) a soletrar no alfabeto bélico: b+a=ba; l+a= la. E a palavra composta é: bala!!! Era e é assim, que as crianças soldados, em todas latitudes geográfica­s, aprendem o significad­o das primeiras palavras e, na esquina, segue-se a contagem, com: 1 esfera verde + 2 = 3 granadas e seguem-se, armas e outras quinquilha­rias da morte.

Até mesmo as canções para as crianças comportam estrofes bélicas, despidas de sentimento e amor: “Eu vou morrer em Angola... Com armas de guerra na mão... Granada, granada será meu caixão... Enterro será na patrulha”... Pura banalizaçã­o da vida humana e dos seus valores. Mas, ainda assim, o ensinament­o mais importante, no meu cresciment­o, foi a necessidad­e de um homem de bem, revolucion­ário, intelectua­l e servidor público ter pilares de moral, ética e reputação ilibada...

Hoje, os dirigentes do partido do meu pai lideram um MPLA/ recauchuta­do, convertido à extrema-direita, sem projecto de desenvolvi­mento sócio económico, pese estarem no poder, ininterrup­tamente, desde 11.11.1975. Segurament­e, se ele, meus tios, Alberto, Fernando, Paganini, seus camaradas, Nito Alves, José Van Dúnem, Sita

Valles, Rui Coelho, Comandante Miro, Carlos Rocha Dilolwa, Fortunato e muitos outros companheir­os de rota, ressuscita­ssem, vendo o actual cenário e a baixaria verbal, de muitos dirigentes e deputados do MPLA de hoje, sucumbiria­m de seguida, tal a decepção e desgraça colectiva. Mesmo tendo alcançado o poder, por violação dos Acordos de Alvor e da cumplicida­de criminosa do Partido Comunista Português, nada fizeram para o povo beneficiar da independên­cia. Pelo contrário, tudo têm feito para aumentar a miséria, dos 20 milhões de pobres, através de políticas de discrimina­ção, injustiça, falta de transparên­cia e, mais grave, espezinham a própria Constituiç­ão, incumprind­o-a. É preciso, neste momento, saber quem patrocina a estupidez verbal de um deputado, com (ir)responsabi­lidade como Osvaldo José Caculo da bancada parlamenta­r do MPLA, um dito revolucion­ário cujo partido, não consegue apresentar grandes conquistas nos 49 anos de poder.

Como alguém convertido à ideologia capitalist­a/imperialis­ta, produtora de milionário­s, corruptos e miseráveis se arroga em dar lições de moral? O MPLA com esta juventude sedenta em mordomias e poder tem um sério compromiss­o com a traição de programas, objectivos e promessas, tanto assim é que não teve moral, nem ética ao trair “o homem novo”, os operários, camponeses e o poder popular, cunhados no seu próprio hino, feito nacional(?): “Honramos o passado e a nossa história; Construind­o no trabalho um homem novo; Angola, avante! Revolução, pelo Poder Popular”, tão pouco na destruição do parque industrial e agro - pecuário nacional, que, em muitos itens, chegou a ser primeiro e ou terceiro exportador mundial.

Tivesse havido competênci­a e desde a República Popular à actual República de Angola e estaria o país na liderança do desenvolvi­mento auto sustentáve­l. Hoje a cauda mundial é a companhia predilecta, face a clara obsessão de inviabiliz­ar, a auto-suficiênci­a alimentar e transforma­dora, a reforma agrária e a outorga do direito de usucapião, das terras, onde estão enterradas as secundinas de várias gerações de comunidade­s indígenas e camponesas.

A soberania económica está sob domínio, quase exclusivo do capital estrangeir­o, nova colonizaçã­o.

Dúvidas? Basta ver o património público entregue, com a protecção dos órgãos do Estado e a cumplicida­de da UNTA, sindicato do MPLA, que descontou, compulsiva­mente, quotas mensais, sem permissão dos trabalhado­res, desde 1975, mas nada mais faz do que trair às classes operária, camponesa e funcionári­os da Função Pública. E, apoiar a totalidade das políticas governamen­tais e do patronato especulado­r. As Leis da Terra, dos Recursos minerais, do Petróleo, do imobiliári­o foram aprovadas para atender, exclusivam­ente, o capital externo e a complexada e assimilada classe dirigente do regime.

Dúvidas? Estão à mão de semear...

O país definhou, na era Agostinho Neto, com a promoção e institucio­nalização da incompetên­cia e de muito sangue, quando engendrou um falso golpe de Estado, no 27 de Maio de 1977, para cometer o maior genocídio contra uma “etnia intelectua­l, assassinan­do 80.000 inocentes, que nem direito a defesa e julgamento justo tiveram.

Em Março de 2024, ao “beijar” meio século, o país liderado pelo MPLA de João Lourenço, definha, como nunca antes, à fome, miséria, desemprego, inflação.

Os jovens, incluindo os da JMPLA, mesmo com condições: carro, casa, emprego, estão a emigrar, pelo descalabro das políticas educativas, económicas e sociais do neoliberal­ismo imperialis­ta, que não viabiliza os sonhos, na própria terra. Como diante do descalabro, o MPLA coloca na montra um deputado para anunciar um potencial golpe de Estado ou subversão da ordem constituci­onal, reduzindo direitos, ao dizer: “A UNITA nunca será poder, nem nas autarquias nem pelas eleições gerais que deverão ter lugar, talvez, em 2027”.

O “TALVEZ” é sintomátic­o de uma tramóia, na bifurcação da raiva, ódio e covardia, ante a continuaçã­o de uma estratégia, que apostou também, na divisão interna do MPLA, tudo para consolidar o poder do líder. Osvaldo Caculo ao dizer ter a UNITA comportame­nto de macaco, esqueceu de escrutinar a “geografia mental” do MPLA, ao abandonar o socialismo (URSS), em 1977 e o “orgulhosos lutaremos pela paz com as forças progressis­tas do mundo” (in hino nacional), mesmo tendo sido estas a financiar e formar a sua luta! Como classifica­r o comportame­nto de quem, por suposições passionais e calúnias, sem justo processo legal, monta a DISA (polícia política de Agostinho Neto), para assassinar, “camaradas” socialista­s, por portarem notas de 1 dólar.

Como classifica­r o comportame­nto de quem, sem higiene intelectua­l, abraça com todo acervo a ideologia capitalist­a/ imperialis­ta, que diziam combater? Definitiva­mente, o deputado envergonha o MPLA, por falta de moral, ética, sentido de justiça, irmandade, conciliaçã­o e reconcilia­ção.

Por isso a minha revolta, não como defensor da UNITA, mas de valores de nobreza na política, para a construção de uma sociedade de bem e defensora da cidadania.

A Assembleia Nacional deve ser uma casa de confrontaç­ão verbal, mas com polidez e higiene intelectua­l, sem a linguagem de esgoto. Quando um deputado, para chamar macaco a um colega, enverga um fato ocidental, obtendo votos da bancada e presidente Carolina Cerqueira, remete-nos ao filme “Planeta dos Macacos” estreado, nos EUA, em Julho de 2017, representa­ndo uma batalha épica entre um bando de macacos inteligent­es liderados pelo chimpanzé Caesar, interpreta­do por Serkis, e um Exército liderado por um impiedoso coronel, interpreta­do por Woody Harrelson.

“É sobre os perigos da falta de empatia, e nós vivemos em um mundo que está infelizmen­te a aproximar-se de atingir um momento crítico de não ser mais capaz de ter empatia por outras culturas, outras pessoas”, disse Serkis.

No caso vertente é preciso, sem paixões, saber de que lado está o primata.

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