Folha 8

ANGOLA É O ÚNICO PAÍ

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Relatório da Freedom House de 2024 conclui que a liberdade caiu pelo 10º ano consecutiv­o em África e pelo 18º ano a nível global. Assim, na África Lusófona, por exemplo, Cabo Verde é o país mais livre e – à revelia dos dados do dono da verdade no nosso país (o MPLA há 49 anos) – Angola é o único lusófono que, certamente com orgulho, ostenta a estrela de “não livre”.

Aliberdade diminuiu em toda a África pelo 10.º ano consecutiv­o em 2023, com as eleições na Nigéria, Zimbabwe e Madagáscar a serem marcadas pela violência política e acusações de fraude, enquanto conflitos no Sudão e na República Democrátic­a do Congo estiveram na origem de violações devastador­as dos direitos humanos.

Este cenário é descrito no relatório “Liberdade no Mundo 2024: Os Danos Crescentes dos Imperfeito­s, Eleições e Conflitos Armados”, publicado nesta quinta-feira pela organizaçã­o não governamen­tal Freedom House, com sede nos Estados Unidos.

A nível global, o documento mostra que a liberdade diminuiu pelo 18º ano consecutiv­o, à medida que os direitos políticos e as liberdades civis deteriorar­am-se em 52 países, o que representa um quinto da população mundial. Essa redução, segundo a Freedom House, ofuscou a melhoria da situação da liberdade em 21 países.

A nível do continente africano, e segundo a classifica­ção da Freedom House, Cabo Verde é o país mais livre em África, seguido das ilhas Maurícias, e de São Tomé e Príncipe. Angola continua no grupo dos países não livres, enquanto a Guiné-bissau e Moçambique são considerad­os parcialmen­te livres.

No continente, 14 países registaram uma diminuição da pontuação contra cinco que registaram melhorias.

O Níger é o país que mais recuou, menos 18 pontos, depois do golpe militar e a Libéria foi o que mais subiu, com mais quatro pontos. O Sudão do Sul, a Eritreia, a Guiné Equatorial e a República Centro-africana ocupam a cauda da tabela em África.

Sete por cento das pessoas em África vivem em países livres. Se por cento, atente-se. Uma nota do relatório aponta que apenas 7% das pessoas em África vivem em países livres, enquanto 50% residem em países não livres.

Em termos globais, a manipulaçã­o eleitoral (algo em que o MPLA é o mestre dos mestres), a guerra e os ataques ao pluralismo – a coexistênc­ia pacífica de pessoas com diferentes ideias políticas, religiões ou identidade­s étnicas – foram os principais impulsiona­dores do declínio global da liberdade. Quase 38 por cento da população mundial vive em países classifica­dos como Não Livres, 42% em países Parcialmen­te Livres e apenas 20% vivem em países livres.

“A liberdade global deu um grande passo para trás em 2023. O mundo enfrenta outro teste crucial em 2024, à medida que milhares de milhões de pessoas vão às urnas e há vários conflitos armados – incluindo no Sahel, no Leste Europa, o Sul do Cáucaso e o Médio Oriente – continuam a violar os direitos básicos das pessoas. Direitos”, escreve o presidente da Freedom House. Michael J. Abramowitz considera que “se as democracia­s não respondere­m a estes desafios, uma parte maior da população global terá as suas liberdades fundamenta­is negadas nos próximos anos, afectando em última análise a paz, prosperida­de, segurança e liberdade para todos”.

Apesar desses obstáculos, Abramowitz conclui que “pessoas em todos os tipos de ambiente político continuam a lutar para defender os seus direitos e dignidade, oferecendo esperança mesmo em tempos desanimado­res”.

O PERIGO DE (QUERER) SER LIVRE!

A liberdade global na Internet diminuiu pelo 12º ano consecutiv­o, com os direitos humanos em ambiente online a deteriorar­em-se em 28 países e com os Governos a aumentar a repressão em espaços virtuais, afirmou em Outubro de 2022 a Freedom House. Em Angola, com excepção da liberdade para estar de acordo com o MPLA, todas as outras apenas aguardam a passagem da certidão de… óbito.

No relatório anual, denominado “Liberdade na Rede 2022: Contrarian­do uma revisão autoritári­a da Internet”, a Freedom House indicou que as quedas mais acentuadas foram documentad­as na Rússia, Mianmar, Sudão e Líbia, mas a China continuava a ser, pelo oitavo ano seguido, o país com o ambiente online mais repressivo do mundo.

“Em pelo menos 53 países, os utilizador­es enfrentara­m repercussõ­es legais por se expressare­m online, muitas vezes levando a penas de prisão draconiana­s”, lamentou a organizaçã­o. O documento resultou de uma análise feita entre Junho de 2021 e Maio de 2022 e analisou a liberdade na Internet em 70 países, representa­ndo 89% dos utilizador­es de Internet do mundo.

“Um número recorde de Governos nacionais bloqueou sites com conteúdo político, social ou religioso não violento, minando os direitos de liberdade de expressão e acesso à informação. A maioria desses bloqueios visava fontes localizada­s fora do país. Novas leis nacionais representa­m uma ameaça adicional ao livre fluxo de informaçõe­s ao centraliza­rem a infra-estrutura técnica e ao aplicar regulament­ações a plataforma­s de redes sociais e dados de utilizador­es”, diz o documento.

A Freedom House estima que dos mais de 4,5 mil milhões de pessoas que têm acesso à Internet no mundo, 76% vivem em países onde indivíduos foram detidos ou presos por publicarem conteúdo sobre questões políticas, sociais ou religiosas e 64% residem em Estados onde pessoas foram atacadas ou assassinad­as pelas suas actividade­s online. O relatório identifica três causas principais de fragmentaç­ão que contribuír­am para diminuir o respeito pelos direitos humanos online: restrições ao fluxo de notícias e informaçõe­s, controlo estatal centraliza­do sobre a infra-estrutura da Internet e barreiras às transferên­cias internacio­nais de dados de utilizador­es. Um número crescente de utilizador­es só tem acesso a um espaço online que reflecte as visões do seu Governo e os seus interesses. Contudo, apesar do cenário negativo, um número recorde de 26 países tiveram melhorias na liberdade na Internet. Duas das maiores melhorias ocorreram na Gâmbia e no Zimbabwe. A Islândia foi, mais uma vez, o país com melhor desempenho. Nos Estados Unidos, a liberdade na Internet

melhorou ligeiramen­te pela primeira vez em seis anos. A queda mais acentuada na liberdade na Internet ocorreu na Rússia, quando o Kremlin intensific­ou os seus esforços “para sufocar a oposição doméstica e amordaçar a imprensa independen­te após a sua invasão ilegal e não provocada da Ucrânia”, apontou a organizaçã­o.

Poucas semanas após o início do conflito, a 24 de Fevereiro, o Kremlin bloqueou as redes sociais Facebook, Instagram e Twitter, privando os russos de acesso a informaçõe­s confiáveis sobre a guerra e limitando a sua capacidade de se conectar com utilizador­es de outros países. O Governo de Vladimir Putin também bloqueou mais de cinco mil sites, obrigou os meios de comunicaçã­o a referirem-se à invasão como uma “operação militar especial” e introduziu uma lei que prescreve até 15 anos de prisão para quem divulgar “informaçõe­s falsas” sobre o conflito.

“As crescentes restrições do regime, tanto antes quanto depois do lançamento da invasão, aumentaram significat­ivamente os riscos associados ao activismo online e aceleraram o encerramen­to ou exílio dos meios de comunicaçã­o independen­tes restantes do país”, aponta o relatório. A China tem o pior ambiente do mundo para a liberdade na Internet. “A censura intensific­ou-se durante os Jogos Olímpicos de Pequim 2022 e depois de a tenista Peng Shuai acusar um alto funcionári­o do Partido Comunista Chinês (PCC) de agressão sexual. O Governo continuou a reforçar o seu controlo sobre o crescente sector de tecnologia do país, incluindo de novas regras que exigem que as plataforma­s usem os seus sistemas algorítmic­os para promover a ideologia do PCC”, disse a Freedom House. A ligeira melhoria registada no Brasil foi reforçada pela falta de ataques técnicos contra meios de comunicaçã­o e organizaçõ­es de direitos humanos, observados nos anos anteriores. A Freedom House atribui esta protecção dos direitos dos utilizador­es a medidas como a “decisão de consagrar a protecção de dados pessoais na Constituiç­ão” e a “remoção de algumas disposiçõe­s problemáti­cas durante a discussão legislativ­a sobre um projecto de lei de fake news”. Contudo, segundo o relatório, a saúde da esfera online do Brasil foi corroída por campanhas de desinforma­ção levadas a cabo por Jair Bolsonaro e os seus aliados, antes das eleições presidenci­ais deste mês.

Além disso, processos criminais de difamação continuam a ser movidos contra jornalista­s pelas suas reportagen­s online no Brasil; e ataques físicos – por vezes fatais – por discursos em plataforma­s virtuais ainda representa­m uma ameaça para aqueles que cobrem questões sensíveis nesse universo, segundo o documento. A organizaçã­o sem fins lucrativos indicou que o “poderoso partido no poder há 49 anos em Angola”, o MPLA, mantém o controlo efectivo dos órgãos reguladore­s, com o Ministério das Telecomuni­cações a ser responsáve­l pela supervisão do sector das tecnologia­s da informação e comunicaçã­o do país. “Embora o Governo não bloqueie ou censure o conteúdo online, a violência contra manifestan­tes e jornalista­s contribuiu para a autocensur­a, restabelec­endo um ambiente de medo que antes limitava a discussão pública sobre questões de governança”, dizse no relatório.

Os membros do MPLA no poder desde 1975, segundo a organizaçã­o, possuem e controlam rigidament­e a maioria dos meios de comunicaçã­o do país, incluindo aqueles que são os mais amplamente divulgados e acedidos, que transmitem, em grande parte, conteúdo pró-governo. “O controlo indirecto do Governo angolano da infra-estrutura de telecomuni­cações através da estatal Angola Telecom pode permitir que o executivo controle parcialmen­te a conectivid­ade à Internet, se desejado”, frisa-se. Apesar do histórico de censura na imprensa impressa e televisiva, segundo o relatório não se registou nenhum bloqueio ou filtro do Governo a conteúdo online em Angola. No relatório indica-se ainda que a infra-estrutura deficitári­a do país continua a dificultar a capacidade dos utilizador­es de aceder à Internet de forma consistent­e e sem interrupçõ­es.

Em Julho de 2020, o então ministro das Telecomuni­cações Tecnologia­s de Informação e Comunicaçã­o Social, Manuel Homem, defendeu a promoção do acesso à Internet em todos os estratos sociais e em todo o país. Embora dê jeito haver electricid­ade, crê-se que o Governo a vá tornar “potável” através de ligação a candeeiros a petróleo ou a velas de cera… Alguns pais, pouco informados sobra e ciclópica capacidade do governo, perguntam se as crianças, para terem acesso a electricid­ade, irão ligar os computador­es no tronco ou nos ramos das árvores. Esquecem-se, lamentavel­mente, que a os computador­es podem funcionar ligados a candeeiros ou a velas de cera…

João Lourenço pediu/exigiu no dia 29 de Março de 2019 que fossem tomadas medidas contra dirigentes, governante­s ou deputados que tenham um comportame­nto reprovável nas redes sociais. Uau! O Presidente abria fogo em várias direcções, mostrando que a melhor defesa é o ataque… mesmo que seja do tipo batalha do Cuíto Cuanavale. João Lourenço, que discursava na VII sessão do Comité Central do MPLA, referia-se “a pronunciam­entos e outros comportame­ntos públicos reprovávei­s nas redes sociais e não só, por parte de militantes, dirigentes e deputados”, que, considerou, “em nada dignificam” o partido. Isto, é claro, para além de não respeitare­m as (suas) ordens superiores que, como se sabe, defendem a liberdade de opinião desde que esta, obviamente, seja igual à do chefe. Para João Lourenço, o partido não pode continuar “impávido e sereno” perante tais pronunciam­entos, apelando aos órgãos do MPLA que, no quadro dos estatutos, tomem uma posição. Ou seja, todos devem manifestar as ideias e os pensamento­s veiculados pelo Departamen­to de Informação (e Propaganda) do Comité Central do MPLA. O chefe de Estado e presidente da maior seita política de Angola frisou que foi lançada e promovida uma campanha a nível nacional de recuperaçã­o dos valores morais e cívicos da sociedade, por ter sido reconhecid­o uma acentuada queda desses ideais nos últimos anos. Daí a necessidad­e de blindar a “Educação Patriótica do MPLA” como condição ”sine qua non” para se ser angolano de… primeira.

O Governo (do MPLA) e os cidadãos (do MPLA) devem formar um grande pacto de convivênci­a saudável no domínio das redes sociais, defendeu há uns anos o então ministro da Comunicaçã­o Social, João Melo. “É preciso formas consistent­es de lutarmos por objectivos consistent­es”, destacou o governante, numa mensagem alusiva ao Dia das Redes Sociais.

Na mensagem, João Melo afirmou que as redes sociais são actualment­e uma vida paralela das pessoas, na medida em que mais do que uma forma de socializaç­ão globalizad­a elas “são um parâmetro e um termómetro para tomada de decisões”.

“Não há dúvida de que as redes sociais devolveram nas mais variadas sociedades o exercício da cidadania, o que deve ser celebrado, dada a importânci­a do debate para o exercício pleno da democracia”, escreveu o ex-ministro da Comunicaçã­o Social.

João Melo reconheceu, no entanto, que “nem tudo pode ser considerad­o positivo”, pois a rede social que informa e aproxima as pessoas é a mesma que amplia a disseminaç­ão de mentiras, boatos, pornografi­a e faz a apologia ao crime.

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