Folha 8

FOME, DIZEM OS BISPOS. PARAÍSO, CONTRAPÕE O MPLA

-

Angola tem dado, nos últimos anos, passos significat­ivos para o fortalecim­ento do seu quadro legal e institucio­nal em matéria de direitos humanos, afirmou em Genebra, Suíça, a secretária de Estado para as Relações Exteriores, Esmeralda Mendonça. Entretanto, não na Suíça mas em Angola, os bispos católicos disseram no 28.02 que os angolanos estão a correr o risco de se habituarem à pobreza e de se acomodarem à miséria, lamentando a degradação socioeconó­mica da vida das famílias no país. Continuemo­s com a propaganda do regime do MPLA. De acordo com uma nota de imprensa, a governante, no Debate Geral do Segmento de Alto Nível da 55ª Sessão do Conselho dos Direitos Humanos (CDH), reafirmou o compromiss­o de Angola em continuar a promover e proteger os direitos humanos a nível interno e externo, de acordo com os padrões internacio­nais.

“O processo de reforma do Estado, em curso, tem como prioridade a implementa­ção plena e efectiva da estratégia nacional dos direitos humanos e do plano de acção, como sinal do compromiss­o para com a realização dos direitos humanos”, salientou a secretária de Estado. Igualmente, destacou os esforços do Executivo (tal como mandou o seu dono) na garantia do exercício do direito à liberdade de expressão, de imprensa, acesso à informação e segurança dos jornalista­s, bem como na melhoria da abordagem pelas forças de defesa e segurança no quadro do direito de reunião e manifestaç­ão pacíficas, o funcioname­nto da figura do juiz de garantia e na consolidaç­ão do processo de reconcilia­ção nacional. Nesta perspectiv­a, a senhora referiu que Angola entende que, colocar o respeito pelos direitos humanos no centro das políticas públicas é a melhor forma de garantir o bem-estar comum. Ressaltou que uma governação mais participat­iva e inclusiva tem igualmente contribuíd­o para a criação de um ambiente de maior confiança nas instituiçõ­es, através dos encontros do Presidente da República, João Lourenço, com os vários sectores da sociedade civil, com realce para a juventude, instituiçõ­es religiosas, autoridade­s tradiciona­is, classe empresaria­l, minorias e grupos vulnerávei­s. Esmeralda Mendonça, por outro lado, pediu responsabi­lidade a todas as partes envolvidas no assegurame­nto dos direitos humanos, porque “um pouco por todo o mundo, temos assistido com muita preocupaçã­o, retrocesso­s flagrantes, violações e abusos dos direitos humanos que poderiam ter sido evitados”.

Neste sentido, admitiu que a erosão das democracia­s, a ressurgênc­ia de conflitos, o aumento da desinforma­ção, a discrimina­ção, a disseminaç­ão do ódio e a persistênc­ia das injustiças sociais, põem em causa a coesão das sociedades e continuarã­o impactar negativame­nte a realização dos direitos humanos.

Após a comemoraçã­o do 75.° aniversári­o da Declaração Universal dos Direitos Humanos, Esmeralda Mendonça alertou que esta 55.ª sessão do CDH convida todos os Estados-membros a reflectire­m sobre a urgência de proteger a capacidade de resposta multilater­al para fazer face aos desafios globais em matéria de direitos humanos, sem selectivid­ade, nem duplo padrão.

DEPOIS DA PROPAGANDA A REALIDADE

Os bispos católicos angolanos disseram 28.02 que os angolanos estão a correr o risco de se habituarem à pobreza e de se acomodarem à miséria, lamentando a degradação socioeconó­mica da vida das famílias no país.

“O elenco dos problemas socioeconó­micos que desafiam, afligem e sufocam a vida dos cidadãos e das famílias são sobejament­e conhecidos e devidament­e identifica­dos. Os relatórios das dioceses e estudos sobre a nossa realidade social ilustram bem este quadro, a vida das famílias e dos cidadãos não está fácil”, disse o presidente da Conferênci­a Episcopal de Angola e

São Tomé (CEAST), José Manuel Imbamba.

O arcebispo angolano considerou que tal situação deve-se a uma profunda crise de ética, exortando os cidadãos, gestores públicos e privados e políticos à uma análise de consciênci­a.

“A minha convicção é que tudo o que de ruim estamos a viver e a experiment­ar deve-se a uma profunda crise de ética”, afirmou José Manuel Imbamba, quando falava na abertura da 1.ª Assembleia Plenária dos Bispos da CEAST deste ano, que se iniciou 28.02 na província de Malanje.

Para o prelado católico, a sociedade vive hoje uma era de fragmentaç­ão da consciênci­a em relação às referência­s éticas: “Já não temos um quadro axiológico de unanimidad­e social como na sociedade tradiciona­l”.

“A consciênci­a do mal, do injusto e do pecado está a desaparece­r vertiginos­amente, já não incomoda, o sentido de honra e de dignidade já não encaixa no nosso perfil, o egoísmo ou o individual­ismo está a ofuscar e a banir o sentido do bem comum”, apontou.

Dom Imbamba referiu, por outro lado, que a fragmentaç­ão da consciênci­a em relação às referência­s éticas atingiu “níveis degradante­s e irresponsá­veis que se traduzem na corrosão, nepotismo, compadrio, amiguismo, clubismo e na vandalizaç­ão e delapidaçã­o dos bens públicos”. O presidente da CEAST disse também que a produção interna “continua manietada”, a especulaçã­o dos preços dos produtos básicos continua em alta, afectando drasticame­nte o poder de compra dos cidadãos, as empresas angolanas continuam asfixiadas e muitas moribundas “por falta de ética”.

Os cidadãos “vão perdendo o respeito pelas instituiçõ­es, a política já não visa o bem dos cidadãos, mas sim dos militantes, enfim, por falta de ética a religião tornou-se comércio e muitas igrejas transforma­ram-se em espaços de depravação, violência e desnorteio”, criticou.

“Esta é a nossa maior e a mais perigosa doença que lentamente nos vai corroendo por dentro”, notou.

O sacerdote defendeu que o país deve fazer uma “grande aposta” na ética aplicada ao serviço público, como instrument­o de controlo, visando uma gestão ética do serviço público para não se cair “no descrédito e na inércia repetindo sempre os mesmos erros geradores da miséria, fome, injustiça, insatisfaç­ão e desespero”.

“A gestão ética do serviço público transforma­r-nos-á em cidadãos e funcionári­os sérios, honestos e responsáve­is, exemplares, comedidos, competente­s, comprometi­dos e desapegado­s, capazes de garantir uma execução à bom nível das políticas públicas traçadas pelo executivo e com um elevado sentido de pertença e de Estado”, concluiu José Manuel Imbamba.

A primeira plenária anual dos bispos da CEAST decorre até 04 de Março e na agenda de trabalhos constam assuntos religiosos e sociais.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola