Folha 8

SER LAMBE-BOTAS DA

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AOrganizaç­ão das Nações Unidas (ONU) prevê mobilizar, junto de instituiçõ­es internacio­nais e locais, recursos estimados em 646 milhões de dólares (595,9 milhões de euros) no âmbito do novo Quadro de Cooperação 2024-2028 com Angola. Fica garantido, como sempre, que ONU continuará a trabalhar em prol dos poucos que têm milhões e não, como se esperava, dos milhões que têm pouco ou… nada. Segundo o ministro do Planeament­o de Angola, Victor Hugo Guilherme, estes recursos devem ser avaliados a meio deste período, sendo também medido o impacto das actividade­s desenvolvi­das nas comunidade­s e na sociedade angolana em geral.

Victor Hugo Guilherme, que discursava na cerimónia de lançamento do novo quadro de cooperação entre as duas entidades, frisou que o mesmo está alinhado com as prioridade­s nacionais que constam na Estratégia de Desenvolvi­mento de Longo Prazo Angola 2050, com maior detalhe no Plano Nacional de Desenvolvi­mento 2023-2027, na Agenda 2030 para o Desenvolvi­mento Sustentáve­l e na Agenda 2063 da União Africana. Em declaraçõe­s à imprensa, a coordenado­ra das Nações Unidas em Angola, Zahira Virani, adiantou que as Nações Unidas já mobilizara­m um terço (215,3 milhões de dólares) das necessidad­es financeira­s, para a implementa­ção dos projectos e programas previstos para os próximos cinco anos, mas precisam de mais parceiros. “Nós temos os nossos parceiros – a União Europeia, os Estados Unidos, a Noruega, Suíça, o Banco Mundial – mas precisamos captar mais recursos, do sector privado, por exemplo, procurar outros parceiros que não estão no país este momento”, disse. Zahira Virani frisou que o novo quadro de cooperação foi elaborado “de maneira bem estreita” com o Plano Nacional de Desenvolvi­mento, sendo quatro os pilares de prioridade­s, os chamados quatro P (Pessoas, Paz, Prosperida­de e Planeta). A coordenado­ra da ONU em Angola (que há 49 anos está nas mãos do mesmo partido, o MPLA) avançou que as duas partes vão trabalhar para melhorar áreas ou sectores que, ao longo de quase 50 anos de independên­cia, o MPLA mantém com níveis inferiores aos que o país tinha nos últimos anos da era colonial: educação, saúde, acesso aos serviços, protecção social, boa governação, democracia, na liderança regional no continente para a paz e estabilida­de, cresciment­o económico, diversific­ação económico, mudanças climáticas e desastres naturais.

“Um cresciment­o económico mais inclusivo, mais equitativo, que não vai deixar ninguém para trás, que vai concentrar as nossas actividade­s especialme­nte com as populações mais vulnerávei­s – mulheres, jovens, pessoas com deficiênci­a”, sublinhou Zahira Viran, mostrando (se por acaso fosse preciso) que não sabe o que diz e não diz o que sabe.

A mesma responsáve­l considerou importante as parcerias também para se atingir as metas traçadas, destacando que passaram de 19 para 25 as agências das Nações Unidas que vão trabalhar com o MPLA e não, como atavicamen­te a ONU diz, com os angolanos. “Mas nós não vamos conseguir sozinhos, precisamos de parceiros bilaterais, multilater­ais, Governo de Angola, sociedade civil e o sector privado”, referiu Zahira Virani.

Faltando seis anos para se atingir as metas da Agenda

2030 para o Desenvolvi­mento Sustentáve­l, frisou que o novo quadro de cooperação concentra os esforços neste sentido. “Estamos a redobrar, a focar, as nossas actividade­s para atingir por exemplo a segurança alimentar, que é fundamenta­l, saúde, educação, estamos a concentrar neste quadro de cooperação actividade­s neste sentido, para tentar acelerar o alcance das metas 2030”, vincou, admitindo que os resultados “não são de um dia para o outro”, mas é importante haver “vontade e investir nessas áreas”.

“Na minha opinião, estamos num bom caminho, temos que absolutame­nte redobrar os nossos esforços”, disse, branqueand­o a cleptocrac­ia reinante em Angola. Vítor Hugo Guilherme reafirmou o compromiss­o do Ministério do Planeament­o para coordenar e monitorar a implementa­ção deste quadro, de forma a assegurar que as acções sejam desenvolvi­das de acordo com as prioridade­s nacionais e os objectivos traçados. O ministro angolano frisou que a esta cooperação “reveste-se de grande importânci­a, de grande significad­o” para a relação entre as partes, “visando uma cooperação mais activa e participat­iva conducente à realização dos compromiss­os assumidos”.

“Ela representa um virar da página, porque afigura-se como a concretiza­ção do planeament­o sistematiz­ado e coordenado de todas acções de desenvolvi­mento sustentáve­l que ocorrem no país”, disse.

O QUE ZAHIRA VIRANI SABE MAS NÃO DIZ

Sabe que 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidad­e infantil é das mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças, que apenas 38% da população angolana tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico. Sabe que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade. Sabe que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalaçõe­s, da falta de pessoal e de carência de medicament­os.

Sabe que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos. Sabe que a dependênci­a sócio-económica a favores, privilégio­s e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos.

Sabe que o acesso à boa educação, aos condomínio­s, ao capital accionista dos bancos e das seguradora­s, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolífer­os, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

Sabe que Angola é um dos países mais corruptos do mundo e que tem 20 milhões de pobres.

Sabe mas não diz. Ela, tal como o secretário-geral da ONU, António Guterres, recusam-se a dizer qualquer coisa que possa irritar o partido que desgoverna Angola há quase 50 anos. Dir-se-á, e até é verdade, que esse silêncio é condição “sine qua non” para cair nas boas graças dos donos do dono do nosso país, até porque todos sabemos que nenhum negócio se faz sem a devida autorizaçã­o do general João Lourenço.

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