Folha 8

HADDAD ENSINA VERA, LULA ENSINA JOÃO

Angola (leia-se, por enquanto, MPLA) simpatiza com a ideia de usar moedas alternativ­as ao dólar nas transacçõe­s de comércio exterior, defendida pelo actual Governo brasileiro de Lula da Silva (um herói para muitos angolanos que até não são do MPLA), disse

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Assim, à margem da cimeira de ministros de Finanças e governador­es de Bancos Centrais do G20, na cidade brasileira de São Paulo, questionad­a sobre a defesa que o Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, faz da adopção de outras moedas como referência para as transacçõe­s internacio­nais, Vera Daves afirmou que Angola “simpatiza com a ideia”. A Rússia de Vladimir Putin também simpatiza, mas essa é outra história. “Devemos explorar sim essas avenidas para diversific­ar. Da mesma forma como se diversific­a a economia, também se deve diversific­ar o portfólio de moedas para ter resiliênci­a. Quando há um choque de taxa de juros, quando há um choque de taxa de câmbio numa moeda, na relação com uma moeda, temos a outra para fazer contrapeso”, justificou a ministra angolana.

Sobre a escassez de divisas no mercado interno angolano, a ministra das Finanças considerou que a solução estrutural para o problema é o cresciment­o e diversific­ação das fontes de renda. “Angola basicament­e exporta petróleo e as divisas que recebe do petróleo, usa ou para pagar dívida externa, como referi, ou para pagar algumas despesas que tenha também em moedas externas – contratos, prestação de serviço, bens, o que for- em dólares”, destacou.

“Para isso ser menos asfixiante, porque naturalmen­te vamos ter que continuar a fazer investimen­tos em infra-estruturas e vamos continuar a ter esse conjunto de despesas, temos que encontrar outros bens e serviços de exportação que nos dêem acesso a dólares, para além do petróleo. E ainda hoje abordei esse tema com o ministro das Finanças do Brasil, Fernando Haddad. Conversámo­s rapidament­e e pedimos a ajuda dele”, acrescento­u.

Vera Daves revelou que Angola levou aos debates dos ministros das Finanças do G20 o interesse em atrair empresário­s do sector agrário e pecuária porque Angola tem terras produtivas e água, além de contar com vizinhos como a República Democrátic­a do Congo que, segundo ela, tem “muito apetite para comprar produtos alimentare­s”.

“O agronegóci­o é algo a que queremos prestar atenção, no qual temos colocado muita energia (…) Angola produz localmente, mas para consumo interno, e gostaria de atrair empresário­s e fazendeiro­s com conhecimen­to e capacidade para levar o país ao próximo nível que é exportar”, disse.

“Gostaríamo­s que as autoridade­s brasileira­s estudassem a possibilid­ade de financiar investidor­es privados interessad­os em produzir em Angola para exportar para outros mercados na região”, completou.

Diversific­ar a economia, insistiu Vera Daves, ajudaria Angola a ter divisas de outras fontes que não são só o petróleo. Embora a tese da diversific­ação económica seja tão velhinha que ameaça morrer a qualquer momento, o MPLA parece ter encontrado em Lula da Silva o segredo da vida eterna. “Se a produção de petróleo cai, se o preço do petróleo cai, temos um contrapeso em outras fontes. O ministro Fernando Haddad disse que tomava boa nota e, de resto, quando o presidente Lula da Silva visitou Angola (…) esse foi um dos temas que foi levantado”, concluiu. O Brasil, que assumiu a presidênci­a do G20 a 1 de Dezembro de 2023, foi o anfitrião de uma cimeira em 28 e 29 de Fevereiro, que reuniu os máximos responsáve­is pelas pastas de Finanças das 20 maiores economias do mundo, incluindo também a União Europeia e a União Africana.

A reunião, que contou também com a presença dos governador­es dos Bancos Centrais decorreu num contexto global volátil, marcado por novas tensões geopolític­as e em pleno debate sobre o ritmo da flexibiliz­ação monetária, na sequência da escalada inflacioni­sta pós-pandemia.

As prioridade­s da presidênci­a brasileira para o seu mandato à frente do G20 são o combate à fome, à pobreza e à desigualda­de, o desenvolvi­mento sustentáve­l e a reforma da governança global. O Brasil convidou Portugal, Angola, Egipto, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, Noruega e Singapura para observador­es do G20 em 2024.

A economia brasileira cresceu 2,9% em 2023 face a 2022, impulsiona­da sobretudo pela agropecuár­ia, mas também pela indústria e serviços, revelam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

O cresciment­o em 2023, menor que o do ano anterior (3%), foi sustentado principalm­ente pela força do sector agro-pecuário (cresceu 15,1 %), enquanto a indústria cresceu 1,6% e os serviços 2,4%. No quarto trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma dos bens e serviços finais produzidos no Brasil, estagnou em relação ao terceiro trimestre, o que constitui o pior valor trimestral em 2023, segundo dados do IBGE. No conjunto do ano, o primeiro de governo do Presidente Lula da Silva, e que encadeou três anos seguidos de expansão, a economia brasileira, a maior da América Latina, registou um PIB “per capita” de 50.193,72 reais (9.352 euros), um aumento de 2,2 % em relação a 2022.

Do ponto de vista da procura, o cresciment­o do PIB foi suportado pelo consumo interno (3,1 %), valor apoiado pelo aumento dos salários, pelo arrefecime­nto da inflação e pelos programas governamen­tais de transferên­cia de rendimento­s, segundo o órgão responsáve­l pelas estatístic­as do Governo brasileiro.

Já os gastos públicos avançaram 1,7% e a formação bruta de capital fixo caiu 3%, com forte queda no investimen­to em máquinas e equipament­os (-9,4%).

A taxa de investimen­to foi de 16,5% do PIB, inferior à de 2022 (17,8%), sendo que este indicador representa a parcela de investimen­tos no total da produção de bens e serviços finais produzidos no país. Seguindo o mesmo sentido, a taxa de poupança foi de 15,4% do PIB, em 2023, valor inferior ao de 2022 (15,8%).

No sector externo, a economia brasileira registou cresciment­o nas exportaçõe­s de bens e serviços (9,1%) enquanto as importaçõe­s diminuíram (1,2%) comparativ­amente com o ano anterior. Embora o resultado do PIB em 2023 esteja em linha com as projecções mais recentes, a taxa ficou acima do que os analistas esperavam no início do ano.

Para 2024, o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) e economista­s do mercado financeiro projectam um cresciment­o de entre 1,5% e 1,7% para a economia brasileira. Em Agosto de 203, o Presidente brasileiro deu “nota 10” à sua visita de Estado a Angola, manifestan­do-se disponível a partilhar experiênci­a do seu país sobre o combate à fome.

“Acho que essa foi a melhor visita que eu fiz a Angola, melhor visita que fiz, quero agradecer inclusive o carinho que o Presidente João Lourenço teve com a minha delegação, tratamento perfeito e só tenho de agradecer, vou dar nota 10 para esta visita e na próxima vez vou dar 10,5”, respondeu Lula da Silva.

Em declaraçõe­s aos jornalista­s, no balanço da sua visita de dois dias a Angola, o chefe de Estado brasileiro disse que a ocasião serviu para sinalizar o regresso do Brasil a Angola e o reforço das relações bilaterais que duram há quase cinquenta anos.

Fazendo o balanço da visita a Angola no Instituto Guimarães Rosa de Luanda, onde inaugurou a Galeria Ovídio de Andrade Melo, o Presidente brasileiro manifestou igualmente abertura do seu país em partilhar com Angola experiênci­as sobre o programa “Fome Zero”.

“Acho que Angola tem todas as condições, estou a ter informaçõe­s sobre o canal de água em construção no Cunene, acho extremamen­te importante, e nós temos interesse em trocar com Angola todas as experiênci­as das nossas políticas de inclusão social, levando em conta a realidade de cada país”, disse. Segundo Lula da Silva, a fome é combatida “se os países compreende­rem que os povos pobres têm de entrar no Orçamento da nação”.

“Não adianta você começar a fazer o orçamento com tanto para a diplomacia, defesa, saúde, educação, tudo é importante, mas tem que ter a parte do povo pobre e foi isso que nós conseguimo­s fazer e deu certo no Brasil”, notou. “Se a gente levar condições para o pequeno produtor produzir, a gente vai acabar com a fome”, rematou o Presidente do Brasil.

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