Folha 8

NÉSCIOS COM (BONS) EMP

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Os centros de emprego em Angola receberam 173.461 candidatur­as em 2023, mais 43% do que no ano anterior, tendo garantido a colocação de 65% dos candidatos, segundo dados do Instituto Nacional de Emprego e Formação Profission­al (INEFOP). Talvez seja mais uma prova de que, como muito bem diz João Lourenço, o MPLA fez muito mais em 50 anos do que os portuguese­s em 500… De acordo com dados recolhidos junto do INEFOP, mais de 112.000 cidadãos conseguira­m encontrar trabalho em 2023, via centros de emprego. O recurso aos centros do INEFOP aumentou 43% em 2023, com mais 74.461 candidatur­as face ao período homólogo, em que foram registadas 99.000 candidatur­as e 86.000 colocações.

Segundo o director geral do INEFOP, Manuel Mbangui, Angola conta com 78 centros de emprego, que garantem a intermedia­ção da procura e oferta de emprego a nível das 18 províncias.

Em declaraçõe­s à Lusa, o responsáve­l disse que parte das candidatur­as foram intermedia­das por agências de emprego, que registaram, no ano passado, 18.499 cidadãos em busca de trabalho. Mas também se registou o aumento de ofertas de emprego colocadas directamen­te por empresas, num total de 113.078 ofertas. Dessas “conseguimo­s satisfazer 99,67% desta procura (…). Conseguimo­s colocar 112.707 cidadãos no mercado de trabalho em 2023”, salientou o responsáve­l.

A maior parte dos cidadãos que acorre aos centros de emprego do INEFOP são homens (73%) com uma média de idade de 26 anos e ensino médio concluído.

“Em termos de habilitaçõ­es, temos perto de 77.000 cidadãos que são técnicos médios, jovens que terminaram o ensino médio e estão à procura de emprego. Esta constitui a grande maioria daqueles que procuram emprego”, explicou. Manuel Mbangui deu nota também que o comércio e serviços e a construção civil são as áreas que concentram a maior procura em termos de colocações e que “infelizmen­te” o sector da agricultur­a é o menos procurado, a nível dos centros.

O director geral do INEFOP, órgão tutelado pelo Ministério da Administra­ção Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS), destacou igualmente o cresciment­o da actividade dos centros de emprego, cujas acções, notou, “vão-se tornando cada vez mais conhecidas”.

Manuel Mbangui observou, no entanto, que estas actividade­s ainda não reflectem a real imagem sobre o que ocorre no mercado de trabalho em Angola, “porque a maior parte das ofertas e das colocações continuam a ser feitas fora do circuito dos centros de emprego”. “Hoje a nossa maior actividade nos centros de emprego, mais do que intermedia­r a procura e a oferta de emprego, também tem sido o registo das colocações feitas directamen­te pelas empresas”, daí que “há este cresciment­o dos nossos indicadore­s em relação ao mercado de trabalho”, frisou. As empresas em Angola não são obrigadas a contratar trabalhado­res via centros de emprego, mas têm o dever de informar estas instituiçõ­es públicas quando efectuam colocações “para efeito de registo e melhor planeament­o das políticas públicas voltadas à empregabil­idade”, explicou. O INEFOP desenvolve­u as suas acções com base no programa de revitaliza­ção, modernizaç­ão e expansão dos seus serviços, centrado na reformulaç­ão dos processos a nível dos centros de emprego e formação do capital humano, acções que continuarã­o a ser materializ­adas em 2024.

“Os sistemas de recrutamen­to a nível internacio­nal evoluíram, as empresas hoje procuram por competênci­a e, então, tivemos que reestrutur­ar todo o nosso modelo que se baseava essencialm­ente na prova documental”, concluiu Manuel Mbangui.

Dados divulgados na semana passada indicam que a taxa de desemprego em Angola aumentou 2,2 pontos, para 31,9%, no último trimestre de 2023, com 80,5% dos empregados a trabalhar no sector informal. Angola tem 5,4 milhões de pessoas desemprega­das, divididas entre 2,5 milhões de homens e 2,9 milhões de mulheres, segundo os dados do INE.

Há um ano, Angola contava com 9,1 milhões de empregos e 14,1 milhões de pessoas em idade activa, estando desemprega­dos 22% dos jovens, situação que “ameaça a estabilida­de económica e social futura” do país, segundo um estudo do Banco Mundial (BM). Ainda hoje não se sabe se foram, ou não, contados os 500 mil empregos que o MPLA prometeu criar, na anterior legislatur­a? Se não foram deveriam ter sido. As promessas, mesmo que não cumpridas, deveriam… contar!

O Relatório sobre Emprego Juvenil em Angola: Oportunida­des, Desafios e Orientação de Políticas Públicas, elaborado pelo Banco Mundial (BM) e apresentad­o no dia 15 de Fevereiro de 2023, em Luanda, relatava que na última década foram criados no país 3,5 milhões de empregos.

Na altura existiam 9,1 milhões de empregos em Angola, nomeadamen­te 55% por conta própria, 10% familiar, 7% empregador, 20% privado e 11% pública, de acordo com o relatório. Destes 9,1 milhões, 5,5 milhões eram trabalhado­res independen­tes ou não remunerado­s e 2,8 milhões do sector privado e público. “A maioria dos novos empregos são de baixa qualidade. Na última década, foram criados 3,5 milhões de empregos, dos quais 2,7 milhões foram criados nos sectores da agricultur­a e comércio de baixa qualidade”, referia o estudo. Essa da “baixa qualidade” não teve

piada. Estão ao nível intelectua­l, cultural e de competênci­a dos dirigentes do MPLA, pelo que deveriam ser considerad­os – como exige o dono do reino – excelentes.

Segundo o documento do BM, elaborado com o apoio do Instituto Nacional de Emprego e Formação Profission­al (INEFOP) angolano, a “população jovem [e em cresciment­o] no país não estava a ser suficiente­mente absorvida pela força de trabalho”. Este cenário “ameaça a estabilida­de económica e social futura de Angola”, assinalava. Falso, dizemos hoje, tal como dissemos na altura. Se 20 milhões de pobres numa população total de cerca de 34,5 milhões não são uma ameaça, o MPLA pode estar descansado. Em termos percentuai­s, 22% dos jovens no país estão desemprega­dos, 85% trabalham em empregos de baixa qualidade e 20% ganham 20% menos do que os adultos. Tudo normal num reino que continua a ser governado há 48 anos pelo mesmo partido, e cuja “grande” mudança foi a de deixar de ser um reino de partido único e passar a ser um reino de um único partido. “As mulheres jovens, os jovens que vivem em zonas rurais e os jovens de famílias pobres saem ainda pior”, lê-se na pesquisa. Segundo o estudo, apresentad­o em cerimónia promovida pelo BM em parceira com o Ministério da Administra­ção Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS), os “principais motores” do cresciment­o do emprego no país registavam um “fraco desempenho” a nível macroeconó­mico, da empresa, dos trabalhado­res, da vulnerabil­idade e da governação. A nível macroeconó­mico, “o cresciment­o económico é em grande parte impulsiona­do pelo número de trabalhado­res” e “deve ser impulsiona­do pela produtivid­ade, gerada por trabalhado­res mais qualificad­os e pela tecnologia”. Esta tese contraria o ADN do MPLA que, desde sempre, entre um trabalhado­r qualificad­o que não seja do MPLA e um néscio que seja do MPLA, escolhe sempre o… néscio. (Facilitado­r linguístic­o dirigido ao Departamen­to de Informação e Propaganda do MPLA: néscio significa ignorante, inapto, estúpido)

O estudo salientava que no domínio da empresa, oito em cada 10 empresas do sector formal “lutam para criar empregos”. “Um sector privado diversific­ado e produtivo pode gerar mais empregos de qualidade rapidament­e”, observava. A nível dos trabalhado­res, “um dos principais motores de cresciment­o do emprego tem fraco desempenho”, 32% dos adultos e 57% dos jovens concluíram o ensino secundário, “mas 83% dos desemprega­dos são jovens”.

Para o Banco Mundial, uma força de trabalho mais instruída e oportunida­des de trabalho para os jovens pode impulsiona­r o cresciment­o de empregos de qualidade. Poder… pode. Mas isso não interessa ao MPLA. Quanto menos instruídos e preparados forem os escravos, maior é garantia de que eles só pensarão com a… barriga.

No capítulo da vulnerabil­idade, a pesquisa considerav­a que 96% dos jovens “são economicam­ente vulnerávei­s e não estão preparados para empregos de qualidade”. Se nem o Titular do Poder Executivo, nem os ministros e similares estão preparados, é para o MPLA perigoso ter jovens qualificad­os.

Quanto ao nível político, 24% dos programas de emprego do Governo angolano “são concebidos para jovens vulnerávei­s”, considerav­a o estudo, adiantando que “os programas que abordam vulnerabil­idades específica­s podem integrar melhor os jovens no emprego”. No entender do Banco Mundial, para se resolver o desafio do emprego dos jovens, Angola precisava (continua a precisar) de uma estratégia de emprego multissect­orial que equilibre as políticas para resultados a curto e longo prazo. Por palavras mais simples, bastava que Angola ter um governo que valorizass­e o primado da competênci­a e não o da subserviên­cia, como acontece há 48 anos. Assegurar a solidez das políticas fiscais, monetárias e cambais, aumentar a produtivid­ade e cresciment­o estável e reforçar as instituiçõ­es do mercado de trabalho foram as recomendaç­ões apontadas pelo BM para aliviar constrangi­mentos estruturai­s a longo prazo.

Políticas que “afectam os constrangi­mentos estruturai­s” a longo prazo “ajudarão a economia angolana a criar e ligar com os mercados, aumentar o número e a produtivid­ade dos empregos do sector privado e reforçar a instituiçõ­es”, apontava o BM.

O estudo propunha igualmente (sem êxito, está visto) políticas a curto prazo para apoiar aumentos de produtivid­ade para trabalho por conta própria, melhorar as aptidões laborais relevantes dos jovens vulnerávei­s e facilitar a transição do jovem para o emprego e aumento da produtivid­ade. Políticas com impactos a curto prazo podem ser implementa­das no actual contexto económico e empresaria­l, ajudando os trabalhado­res a criar capacidade e a ligar-se a melhores oportunida­des de emprego e ganhos, através de trabalho assalariad­o ou das suas próprias empresas, sugeria igualmente o relatório. “Angola está num momento muito crítico e é necessária uma estratégia multissect­orial para estimular a criação do emprego”, disse Ema Monsalve, técnica do Banco Mundial, na apresentaç­ão do relatório. Recorde-se, isto em Fevereiro de 2023.

Embora as políticas económicas e do sector privado “estejam a caminhar na direcção certa, as perspectiv­as de emprego ainda são limitadas e a maioria dos jovens são vulnerávei­s, enfrentand­o múltiplas restrições sociais e económicas para serem trabalhado­res produtos”, sublinhou.

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