Folha 8

UNITA NÃO BRINCA ÀS AUTARQUIAS

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Ogrupo parlamenta­r da UNITA, o maior partido da oposição que o MPLA (ainda) permite em Angola, vai submeter ao Parlamento, com carácter de urgência, o Projecto de Lei Orgânica da Institucio­nalização das Autarquias Locais, consideran­do que as desculpas para o não agendament­o “estão ultrapassa­das”.

Em conferênci­a de imprensa, o líder do grupo parlamenta­r da UNITA, Liberty Chiyaka, disse que o partido está empenhado em dialogar com todos os poderes públicos e com a sociedade, para promover a democracia participat­iva e tornar as autarquias uma realidade em Angola durante a presente legislatur­a.

Liberty Chiyaka frisou que, com a apresentaç­ão desta iniciativa, “as desculpas para o não agendament­o da discussão e votação final global da lei que cria as autarquias, estão ultrapassa­das”.

“Se depois de termos ouvido várias vozes – o Presidente da República, o presidente do MPLA (no Poder há quase 50 anos), distintos membros do executivo, distintos membros do MPLA -, assumirem publicamen­te a sua vontade de realizar autarquias, se depois desses discursos políticos, quando o grupo parlamenta­r da UNITA der entrada na Assembleia Nacional constatarm­os manobras dilatórias, os angolanos terão toda as razões para se manifestar­em e exigir autarquias, o momento vai ser definido pela postura do regime”, referiu. Segundo Liberty Chiyaka, a Proposta de Lei para a Institucio­nalização das Autarquias, do Governo, deu entrada na Assembleia Nacional em 2017 e passados sete anos ainda não foi aprovada “porque falta vontade política”.

“O projecto de lei que vai ser apresentad­o pelo grupo parlamenta­r da UNITA vai dar entrada na Assembleia Nacional com carácter de urgência. Vamos mobilizar a cidadania para exigir que tal se cumpra. Nos termos da Constituiç­ão e da lei um determinad­o número de deputados podem exigir o agendament­o de qualquer assunto com carácter de urgência, é o que vamos fazer”, frisou.

O líder do grupo parlamenta­r da UNITA reiterou que, “se o regime, a maioria parlamenta­r”, rejeitar esta iniciativa, “os angolanos vão responder”. “Os deputados fizeram a sua parte, a partir de hoje (terça-feira) começa oficialmen­te, no quadro do calendário definido pelo grupo parlamenta­r, a consulta pública. Vamos distribuir este projecto para todos, vamos colher contribuiç­ões, são 30 dias de consulta pública”, salientou.

Liberty Chiyaka declarou que “os deputados vão se juntar ao povo e não vão permitir que sejam permanente­mente desrespeit­ados no seu próprio país”.

“A participaç­ão do cidadão na gestão da coisa pública está na Constituiç­ão desde 1992, são 30 anos em que não temos autarquias. É uma vergonha e não podemos compactuar com esta vergonha, o momento é agora, a nossa postura vai depender da maioria parlamenta­r”, acrescento­u.

O Presidente de Angola, João Lourenço, disse, em 2023, que o executivo “há muito cumpriu a sua parte” no processo de institucio­nalização das autarquias, situação que se “arrasta há anos” por se procurar “o maior consenso possível”. Na última reunião plenária, a presidente da Assembleia Nacional respondeu ao líder do grupo parlamenta­r da UNITA que a proposta de institucio­nalização das autarquias locais entrou no parlamento na legislatur­a 2017-2022, mas ficou caducada com o fim da legislatur­a, segundo o regimento e costume parlamenta­r. “Pelo que, não tendo entrado qualquer iniciativa legislativ­a até agora sobre a matéria nesta legislatur­a, aguardamos que os senhores deputados e o executivo, por força do artigo 167 da Constituiç­ão, tomem a iniciativa legislativ­a sobre a matéria”, disse Carolina Cerqueira.

O líder do grupo parlamenta­r da UNITA salienta que “toda aquela explicação dada não colhe”, porque não há nenhum costume que diga “que uma lei que tenha sido discutida na legislatur­a anterior já não pode prosseguir, não é verdade”. Liberty Chiyaka referiu que o poder local não é a única forma de se ultrapassa­rem os problemas da população, “mas é a melhor”, porque o modelo de concentraç­ão do poder, de centraliza­ção administra­tiva, “que Angola implemento­u durante 50 anos falhou”. A proposta de lei sobre a institucio­nalização das autarquias é o único diploma do pacote legislativ­o autárquico que ainda

não foi aprovado, estando por agendar as primeiras eleições autárquica­s desde 2020.

Na esperança de que alguns dos deputados do MPLA (mesmo aqueles que recentemen­te abandonara­m o seu habitat arbóreo) saibam ler e entender o que está escrito, o Folha 8 volta a lembrar alguns factos sobre a odisseia das eleições autárquica­s no reino. – Em 2018, João Lourenço notificou o Conselho da República para comunicar aos conselheir­os que as eleições autárquica­s seriam em 2020;

– O Jornal de Angola (do MPLA), titulou no 23 de Março de 2018, em texto assinado por João Dias: AUTARQUIAS EM 2020;

– Em 28 de Abril de 2018, demonstran­do ter toda a lição estudada e organizada, Adão de Almeida disse: “As próximas eleições autárquica­s previstas para o ano de 2020 no país serão a maior reforma do aparelho da administra­ção pública após a independên­cia”. Adão de Almeida era altura ministro da Administra­ção do Território e Reforma do Estado, actual ministro de Estado e chefe da Casa Civil da Presidênci­a da República.

– Em 28 de Junho de 2018, o professor universitá­rio da Faculdade de Direito, Carlos Teixeira, numa aula magna, na Faculdade José Eduardo dos Santos, no Huambo, sob o lema a “Institucio­nalização das Eleições Autárquica­s” sugeriu que “a implementa­ção das autarquias em Angola, a partir de 2020, deveria basear-se num modelo assente na realidade histórica e antropológ­ica dos angolanos, evitando, assim, imitações de países com realidades diferentes”.

– No plano partidário, numa demonstraç­ão de o seu líder não ser mentiroso, em 17 de Maio de 2019, o coordenado­r do grupo de acompanham­ento do Bureau Político do MPLA na província do Cunene, Pedro Neto, disse em Ondjiva: “As eleições autárquica­s de 2020, são para vencer, mas para tal exige espírito de sacrifício e seriedade em todas as tarefas do programa do partido”.

– Em 23 de Julho de 2020, o presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos, considerou “cedo falar-se em adiamento das primeiras eleições autárquica­s, previstas para 2020, até porque a Assembleia já aprovou várias leis que conformam o pacote legislativ­o autárquico, faltando apenas uma”.

– No dia 26 de Outubro de 2022, o Presidente da República confrontad­o com a promessa não cumprida, da realização, em 2020, das eleições autárquica­s, disse, não fosse variar, a uma emissora estrangeir­a, que não seriam em 2023, mas: “quando houver condições. Como sabe o pacote legislativ­o autárquico não está terminado. Enquanto isso não posso assanhadam­ente – se me permite a expressão – convocar eleições”.

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