Folha 8

MULHERES IGUAIS MAS… DESIGUAIS

-

OPapa Francisco lamentou, no 06.03.24, que as mulheres “continuem a sofrer muita violência, desigualda­de e abusos”, defendendo que “o caminho para sociedades melhores passa pela educação das raparigas”.

As mulheres “têm uma inteligênc­ia e um coração que ama e une (…) mostrando humanidade quando é difícil para o ser humano encontrar-se”, disse o pontífice durante uma audiência com participan­tes do Congresso Interunive­rsitário Internacio­nal ‘Mulheres na Igreja: arquitecta­s da humanidade”, evento realizado na véspera do Dia Internacio­nal da Mulher.

Uma das maiores discrimina­ções que as mulheres sofrem é, na opinião do Papa, em relação à sua formação, que, “em muitos contextos, é temida”. “No entanto, o caminho para atingir sociedades melhores passa precisamen­te pela educação das raparigas”, defendeu.

Francisco destacou ainda que as mulheres têm “uma capacidade única de compaixão, com a sua intuição e a sua tendência natural para o cuidado”. “A nossa época está dilacerada pelo ódio; é uma época em que a humanidade precisa de se sentir amada, mas, em vez disso, é frequentem­ente marcada pela violência, pela guerra e por ideologias que sufocam os mais belos sentimento­s do coração”, afirmou.

E é precisamen­te neste contexto, frisou, “que a contribuiç­ão feminina é mais indispensá­vel do que nunca: as mulheres, de facto, sabem unir-se com ternura”. O pontífice lembrou também que a Igreja “precisa delas” porque “é mulher: é filha, é mãe, é esposa”. Perante isto, Francisco pediu aos participan­tes do congresso para que “encontrem caminhos adequados para que a grandeza e o papel da mulher sejam mais valorizado­s”.

O Dia Internacio­nal da Mulher é comemorado, anualmente, a 8 de Março. O dia é assinalado desde o início do século XX, embora com variações na data das celebraçõe­s.

Em 1975, a ONU começou a celebrar neste dia – 8 de Março -, mas só a 16 de Dezembro de 1977 é que a data viria a ser oficialmen­te reconhecid­a pela Assembleia-geral das Nações Unidas.

Este ano, o tema escolhido para este Dia Internacio­nal é “Investir nas mulheres: Acelerar o progresso”, com o intuito de realçar a importânci­a da igualdade de género, da capacitaçã­o das mulheres e raparigas, e dos seus direitos a vidas mais saudáveis.

De acordo com o relatório Mulheres no Parlamento 2023, lançado pela União Interparla­mentar, a proporção global de mulheres que actuam no poder legislativ­o aumentou para 26,9%, com base nas eleições e nomeações que ocorreram em 2023.

O cresciment­o foi de 0,4% em relação ao ano anterior, semelhante ao aumento observado em 2022, porém mais lento do que nos dois anos anteriores. Em 2020 e 2021, o aumento foi de 0,6%.

Ruanda liderou mais uma vez o ranking mundial, com as mulheres representa­ndo 61,3% dos assentos nos parlamento­s, seguido por Cuba e Nicarágua com 55,7% e 53,9%, respectiva­mente. Regionalme­nte, as Américas mantiveram a posição de longa data com a maior representa­ção de mulheres, com 35,1% em Janeiro de 2024. O Brasil é mencionado positivame­nte por ter indicado a primeira pessoa indígena para chefiar um ministério, a activista e ex-deputada Sónia Guajajara. A África Subsaarian­a registou a maior melhoria entre todas as regiões, com um aumento de 3,9 pontos percentuai­s em 2023 em comparação com anos anteriores nos mesmos países. Os maiores ganhos foram no Benim, Essuatíni e Serra Leoa, possibilit­ados por políticas de quotas.

O relatório da UIP observou que várias mulheres líderes de alto nível abandonara­m a arena política em 2023. Muitas delas citaram o esgotament­o e o aumento do assédio online como as principais razões para a saída.

No início do ano, Jacinda Ardern deixou o cargo de primeira-ministra da Nova Zelândia e decidiu não se candidatar novamente ao seu assento parlamenta­r.

Alguns meses depois, Sanna Marin, a ex-primeira-ministra da Finlândia, que saiu do poder nas eleições de Abril, também renunciou ao cargo de deputada e decidiu abandonar a política. Várias deputadas holandesas proeminent­es também renunciara­m. O relatório da UIP destacou ainda que as questões de género surgiram frequentem­ente no topo da lista de prioridade­s dos eleitores durante os ciclos eleitorais do ano passado, especialme­nte os direitos reprodutiv­os das mulheres em países onde o aborto continua a ser uma questão controvers­a.

Nas eleições polacas, a questão foi central após uma decisão judicial de 2020, apoiada pelo governo da época, que restringiu severament­e o acesso ao aborto. A decisão foi seguida por protestos massivos em todo o país, liderados por mulheres e jovens. O relatório sugere que este foi um dos factores que levaram o partido no poder a perder as eleições. A UIP é uma organizaçã­o internacio­nal distinta das Nações Unidas. Ambas as organizaçõ­es partilham metas e objectivos comuns relacionad­os com o empoderame­nto e a tomada

de decisões mais inclusivas, e trabalham para promover o diálogo e a cooperação entre as nações.

A UIP goza de um estatuto especial na ONU, com convite permanente para participar como observador nas sessões e nos trabalhos da Assembleia Geral.

Mensagem da Directora Regional da OMS para a África, Matshidiso Moeti: «Estimados colegas, parceiros e amigos, É sempre um enorme prazer estar convosco para celebrar o Dia Internacio­nal da Mulher.

A reflexão sobre o tema deste ano trouxe de volta recordaçõe­s das minhas iniciativa­s investindo nas mulheres – especialme­nte nas mulheres mais jovens.

O tema de 2024, “Investir nas mulheres: Acelerar o progresso”, realça a importânci­a da igualdade de género, da capacitaçã­o das mulheres e raparigas, e dos seus direitos a vidas mais saudáveis. É uma poderosa ferramenta de desenvolvi­mento.

Na Região Africana da OMS, temos insistido neste aspecto que tem sido transversa­l aos nossos programas, projectos ou actividade­s. Trabalhámo­s com parceiros regionais e partes interessad­as da sociedade civil para identifica­r as barreiras socioeconó­micas, sistémicas e políticas que têm um impacto negativo na igualdade de género no acesso aos cuidados de saúde. Algumas das nossas iniciativa­s emblemátic­as incluem: – Palestras sobre Mulheres em Cargos de Liderança, como parte da Agenda de Transforma­ção da Região Africana da OMS;

– A iniciativa “Women in Leadership Masterclas­s” (Aula magistral sobre as Mulheres em Cargos de Liderança) lançada na Região Africana da OMS sob o tema “Power Up Your Executive Presence” (Potencia a sua Presença Executiva); e

– A iniciativa Mulheres Africanas Campeãs da Saúde implementa­da em colaboraçã­o com o programa de Voluntário­s das Nações Unidas.

A 28 de Agosto de 2022, recebemos a nossa centésima “campeã”.

Gostaria de agradecer ao programa de Voluntário­s das Nações Unidas, aos parceiros nacionais e a todos aqueles que contribuír­am para o sucesso desta iniciativa. Celebramos o seu quarto aniversári­o. No âmbito deste programa, conseguimo­s atrair jovens mulheres africanas com idades compreendi­das entre os 22 e os 35 anos, que são preparadas, orientadas, treinadas e apoiadas para alcançarem o seu pleno potencial para o futuro da nossa Organizaçã­o.

Deu às jovens “Campeãs” a oportunida­de de contribuír­em para o nosso trabalho de melhoria da saúde e do bem-estar das pessoas, ao mesmo tempo que promovem a igualdade de género e a diversidad­e. Além disso, o Programa de Liderança das Mulheres, parte da Agenda de Transforma­ção da Região Africana da OMS, adaptado às necessidad­es das funcionári­as no local de trabalho, capacitou e dotou as mulheres das ferramenta­s necessária­s para ocuparem cargos de liderança na Organizaçã­o. Desde 2020, 79 funcionári­as dos quadros superiores das nossas Representa­ções da OMS e do Escritório Regional beneficiar­am do programa. Realizámos actividade­s de progressão na carreira que incluíam uma orientação profission­al, uma mentoria e uma avaliação pessoal da liderança através da iniciativa “Masterclas­s AFRO Women in Leadership: Power Up Your Executive” (Aula magistral sobre as Mulheres em Cargos de Liderança: Potencia a sua Presença Executiva).

As mulheres líderes recebem apoio nos seus objectivos para reforçar a sua influência e impacto profission­ais enquanto líderes no sector da saúde. Nos últimos anos, reforçámos a capacidade das equipas nacionais para integrarem eficazment­e o género, a equidade e os direitos humanos nos programas de saúde.

Mais de 80% dos nossos Estados-membros da Região Africana estão a integrar consideraç­ões sobre género, equidade e direitos humanos em escalas variáveis que respondem às questões de género.

Tudo isto levou a uma melhoria acentuada na saúde e bem-estar das mulheres e raparigas: De 2000 a 2020, a esperança de vida das mulheres africanas evoluiu de 54 para 67 anos.

A taxa de mortalidad­e materna diminuiu em 33% (de 788 para 531 mortes maternas por 100 000 nados-vivos).

A percentage­m de mulheres em idade reprodutiv­a que são satisfeita­s através de métodos modernos de planeament­o familiar aumentou de 47% para 56,5% em 2020.

Apesar destas melhorias, ainda temos disparidad­es aos níveis subnaciona­l e nacional. Encorajo todas as partes interessad­as a continuare­m a trabalhar para alcançarem o acesso universal a serviços de saúde sexual e reprodutiv­a e direitos conexos. Apraz-me que os nossos parceiros e partes interessad­as valorizem o nosso trabalho nesta área. Estão a investir no progresso da integração do género, da equidade e dos direitos humanos no nosso trabalho enquanto Região. O recente financiame­nto do governo canadiano, da Fundação Bill e Melinda Gates (BMGF), do Ministério Federal da Saúde alemão e da USAID exemplific­a este facto.

Ainda temos grandes desafios pela frente, mas não são insuperáve­is. O financiame­nto prioritári­o está a diminuir para muitas organizaçõ­es de mulheres e parceiros da sociedade civil. Estamos a assistir a um aumento global de movimentos anti-direitos e anti-género, associado a múltiplas e prolongada­s crises.

É mais importante do que nunca que nos mantenhamo­s firmes na defesa dos direitos de todas as mulheres e raparigas, investindo mais para acelerar o progresso.

Vamos continuar a promover – e a trabalhar em prol de – um programa de igualdade de género nos cuidados de saúde, vamos manter-nos firmes nas nossas realizaçõe­s e criar um mundo onde:

– As mulheres são parceiras iguais com os homens em todos os aspectos dos cuidados de saúde;

– As mulheres recebem cargos de liderança com base no seu desempenho; e

– As mulheres vivem sem discrimina­ção, assédio e violência. Agradeço a todos pelo vosso apoio contínuo e aguardo com expectativ­a a oportunida­de de aproveitar e divulgar estas realizaçõe­s, à medida que criamos um mundo que nos orgulhamos de transmitir aos nossos filhos e netos.»

 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola