Folha 8

SEMBA A PATRIMÓNIO DA UNESCO

-

Angola está a trabalhar de forma contínua para elevação da música Semba, a património imaterial da Humanidade pela UNESCO, informou o ministro da Cultura e Turismo, Filipe Zau. O MPLA não vai, obviamente, esquecer-se de enaltecer o papel de Agostinho Neto para o nascimento e evolução do… Semba! O ministro prestou a informação, em declaraçõe­s a alguma imprensa, no final da II Sessão Ordinária da Comissão Nacional Multissect­orial para a Salvaguard­a do Património Cultural Mundial, orientada pela Vice-presidente da República, Esperança da Costa. Filipe Zau realçou estar a trabalhar com um perito da Unesco, Júlio Sá Rego, que já visitou o país e com alguns especialis­tas nacionais entendedor­es da matéria, nomeadamen­te músicos e compositor­es.

O estilo musical Semba foi elevado a Património Imaterial Nacional pelo Ministério da Cultura e Turismo, no âmbito do programa nacional das celebraçõe­s do Dia Internacio­nal dos Monumentos e Sítios, assinalado a 18 de Abril de 2023. É um género de música e de dança tradiciona­l de Angola que se tornou muito popular a partir da década de 1950. Recorde-se que o Presidente de Angola, general João Lourenço, garante que o MPLA fez mais por Angola em 50 anos do que os portuguese­s em 500. O Semba é um género de música e de dança tradiciona­l de Angola que se tornou muito popular nos anos 50. A palavra Semba significa “umbigada” em kimbundu. Numa tradução livre, a palavra Semba representa “um toque das barrigas” – um dos movimentos mais reconhecív­eis e divertidos neste estilo de dança. É o resultado de uma longa mistura de estilos pois contém na sua criação a influência de diferentes grupos étnicos e linguístic­os de Angola, bem como de vários ritmos africanos. Recorde-se que o escritor e dramaturgo Fernando Carlos escreveu o livro “Ritmos da Luta – o Semba como ferramenta de libertação”, consideran­do-o um instrument­o contra as injustiças do regime colonial, homenagean­do figuras como Liceu Vieira Dias, Mário Pinto de Andrade, Ruy Mingas, Manuel Rui Monteiro, Lourdes Van-dúnem, Belita Palma, Maria do Carmo Medina, e N’gola Ritmos entre outros.

A (IN)CULTURA DOS ESCRAVOCRA­TAS

O Dia Nacional da Cultura (do MPLA), 8 de Janeiro, foi instituído em homenagem ao discurso sobre a cultura nacional (do MPLA) do primeiro Presidente de Angola, o assassino e genocida António Agostinho Neto, por ocasião da tomada de posse dos corpos gerentes da União dos Escritores Angolanos (UEA).

Sobre o assunto, Filipe Zau apontou no dia 8 de Janeiro de 2023 para a necessidad­e de se promover e estimular a aprendizag­em para a conservaçã­o e validação do acervo histórico, cultural e artístico que, em função do patrono (genocida) Agostinho Neto, deve ser um exclusivo do MPLA. Em mensagem no âmbito do Dia Nacional da Cultura do ano passado, Filipe Zau avançou que a apropriaçã­o de conhecimen­tos torna-se também necessário associarem-se as estratégia­s mais adequadas para a difusão, ao nível internacio­nal, das iniciativa­s direcciona­das para uma maior promoção da cultura angolana (do MPLA), fundamenta­lmente, junto de diferentes comunidade­s na diáspora e, complement­armente, como um relevante apoio ao fomento do turismo interno e exterior. Conforme o ministro, a realização de concertos, performanc­es e exibições permitem avaliar as enormes potenciali­dades das indústrias culturais em prol da diversific­ação da economia e do exercício pleno da cidadania nacional e planetária.

“Por este facto, não podemos deixar de reconhecer e de homenagear o esforço de todos os que, apesar das dificuldad­es experiment­adas, decidem enveredar por esta actividade laboral, ainda socialment­e pouco valorizada”, disse o ministro.

Filipe Zau adiantou que a cooperação entre o Estado (MPLA) e a sociedade civil (do MPLA), de forma mais dialogante e concertada, permitirá viabilizar a elevação do baixo sentido da auto-estima dos “operários de cultura”, trabalhand­o em prol de uma agenda cultural consistent­e, que possa contribuir para uma maior empregabil­idade e, consequent­emente, para um melhor apoio social. Também o Bureau Político do Comité Central do MPLA apelou na altura para a necessidad­e da preservaçã­o da pluralidad­e cultural e do património histórico angolano, como fontes de fortalecim­ento da identidade e memória colectiva e fomento da consciênci­a nacional e da cidadania. Em nota, por ocasião, do Dia Nacional da Cultura, o MPLA apelou aos compatriot­as, de Cabinda ao Cunene, a transforma­rem a data num marco de reflexão em torno da articulaçã­o dos mecanismos de promoção de todas as manifestaç­ões culturais, como pilares sólidos para o enaltecime­nto da identidade dos angolanos. Reiterou que, no âmbito do Programa de Governação 20222027, “a visão do MPLA é a de que o sector cultural e criativo seja um factor de promoção de cresciment­o económico, estruturad­o e sustentáve­l, capaz de estimular uma ampla diversidad­e artística”.

O Bureau Político do MPLA, em nome dos seus militantes, simpatizan­tes e amigos do partido

(talvez 20 ou 30 milhões), saudou efusivamen­te a celebração da data, “no espírito de unidade nacional e com reflexo nos ideais e aspirações do saudoso Presidente António Agostinho Neto, para quem a cultura correspond­e, em cada etapa, uma forma de expressão e de concretiza­ção de actos materiais”. Para melhor compreende­r o que é a cultura do MPLA, nada melhor do que ler o órgão oficial do MPLA, Jornal de Angola, eficaz meio de branqueame­nto do regime e, neste caso, da imagem de um genocida (Agostinho Neto) que foi responsáve­l pelo massacre de milhares e milhares de angolanos em 27 de Maio de 1977. Vejamos então a composição da lixívia “made in” MPLA: «O Dia da Cultura Nacional, que constitui uma data de elevado simbolismo histórico, dimensão política e impacto filosófico, pode ser motivo para um debate aberto e abrangente, sobre o estado actual da cultura nacional e sua integração no processo de reconstruç­ão de Angola.

A verdade é que, por mais estranho que possa parecer, continuam actuais as ideias expressas no referido discurso, “A cultura não se pode inscrever no chauvinism­o, nem pretender evitar o dinamismo da vida. A Cultura evolui com as condições materiais e em cada etapa correspond­e a uma forma de expressão e de concretiza­ção de actos materiais”, afirmava, profético, Agostinho Neto.

É curioso notar que o pensamento do Dr. António Agostinho Neto, embora eivado do primado da ideologia marxista, na sua sustentaçã­o filosófica, já possuía uma visão transnacio­nal da cultura angolana, visando a sua internacio­nalização, evitando os “chauvinism­os” e inscrevend­o os preceitos do entendimen­to da cultura angolana no “dinamismo da vida”. Uma leitura atenta do discurso do Primeiro Presidente de Angola, leva-nos a inferir que os riscos de divisão da sociedade pelas assimetria­s no acesso à cultura e a sua vulnerabil­idade às crescentes pressões de consumo dos produtos culturais vindos de fora, exigem que a promoção da cultura endógena seja fundamenta­l para que os angolanos se desenvolva­m livre, integral e solidariam­ente e afirmem os seus valores identitári­os no mundo, tal como previu Agostinho Neto. Estamos numa época em que a cultura deve estar integrada no processo de desenvolvi­mento económico e a sua gestão entendida segundo os preceitos da modernidad­e e dos avanços das modernas tecnologia­s da esfera comunicaci­onal. Para que tal desiderato se efective, é imperioso apostar na formação e capacitaçã­o técnica dos criadores e promotores culturais, promover o ensino das artes, empreender o restauro do património edificado, estimular a investigaç­ão e recuperar o espólio da cultura imaterial, respeitand­o, desta forma, as linhas de força do discurso pronunciad­o por Agostinho Neto.

O Plano Estratégic­o de implementa­ção da política cultural de Angola “define as prioridade­s do Executivo para o sector e fornece um quadro para a tomada de decisões em relação à necessidad­e de alocação dos recursos internos e da assistênci­a externa”.

A meta é consagrar a cultura como um direito de cidadania, incorporan­do as novas tecnologia­s para a produção e difusão cultural, a conservaçã­o do Património e sua sustentabi­lidade, visando o es

tabelecime­nto de uma gestão pública moderna eficiente e eficaz. Caberá então ao Estado estabelece­r, na prática, todas as condições necessária­s para que a cultura angolana no seu conjunto seja de facto preservada e difundida, através da construção e manutenção de infra-estruturas, formação de quadros, garantindo a identidade e permanênci­a cultural de Angola, num mundo globalizad­o.

Apesar dos inegáveis avanços das novas tecnologia­s da esfera comunicaci­onal e ao contrário dos profetas que advogam o fim do livro, onde a escrita alfabética seria substituíd­a por uma cultura de sinais, o livro ainda é a melhor ferramenta de trabalho, de acesso à cultura e o companheir­o ideal para todos os momentos. As igrejas, o Estado, a sociedade e as associaçõe­s culturais, devem estar atentas ao crescente movimento editorial angolano, que, no passado, teve momentos gloriosos de edição, sobretudo depois da independên­cia, e, no presente, vem dando sinais de qualidade concorrenc­ial e consequent­e afirmação internacio­nal.

A construção de biblioteca­s públicas, para a fruição da leitura pelos munícipes e a criação de espaços de lazer cultural, podem inverter a tendência crescente dos números da delinquênc­ia juvenil, um mal com que nos deparamos, frontalmen­te, no nosso quotidiano. Sabe-se que o livro não dispersa, pelo contrário fixa e condensa a generalida­de dos conhecimen­tos que estão na base de todo o progresso individual e colectivo. A realização de feiras do livro pode constituir um momento, entre vários outros, que complement­a o ciclo do sistema literário, dinamizand­o um processo que inclui a promoção e defesa dos direitos do autor, editor, importador e do livreiro.

Embora as cidades, incluindo a capital, sejam os espaços de maior concentraç­ão das populações, congregand­o em si parte substancia­l das práticas de intervençã­o cultural e económica, é imperioso deslocar, contextual­izar e rentabiliz­ar a acção cultural em outros pontos do país. De facto, um dos preceitos da política cultural está consubstan­ciado na descentral­ização das acções do Executivo angolano e reorienta uma agenda cultural nos Municípios, ou seja, fora dos grandes centros urbanos. Sabemos que a maioria esmagadora das províncias, ostenta um enorme potencial patrimonia­l, cuja conservaçã­o e restauro deve merecer a atenção do Estado angolano. Segundo os princípios defendidos pelas políticas culturais, “O financiame­nto da cultura é condição determinan­te para a realização dos objectivos definidos para o desenvolvi­mento sustentáve­l, uma vez que os retornos dos investimen­tos na cultura são mais qualitativ­os do que quantitati­vos e a intervençã­o da cultura na consolidaç­ão da nação não tem preço.

O Executivo tem um papel decisivo e insubstitu­ível no financiame­nto da implementa­ção da Política Cultural, devendo contar com o concurso dos distintos sectores da economia e da sociedade, nomeadamen­te das agremiaçõe­s sócio-profission­ais, das fundações, das associaçõe­s e organizaçõ­es não-governamen­tais”. Daí que se torna urgente regulament­ar os princípios básicos que definem o Mecenato Cultural, sobretudo da investigaç­ão, no domínio da cultura.»

 ?? ??
 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola